Figueira Erva Venenosa


Todos sabem que Figueira
é uma grande Feiticeira, 
mas todos sabem também que 
ela foi uma moça do cabaré 
por um Tempo muito curto.
A história dela ter se tornado 
uma grande Feiticeira foi herança 
de ensinamentos místicos 
que recebeu de sua própria família, 
a qual conhecemos até hoje 
pelo sobrenome Figueira, 
agora o motivo dela ter 
entrado para o cabaré e passado 
lá tão poucos anos 
me foi revelado em uma noite 
de atendimentos em um terreiro 
aqui perto, 
Figueira reunida com 
outras identidades e conversava 
com elas sobre a época do cabaré 
até que a própria Maria Padilha 
disse que figueira não podia 
falar muito sobre como era 
a vida na prostituição pois
ela mesma tinha ficado nesta vida 
no máximo um ano, 
então a Figueira contou 
a seguinte história:

Era uma noite de sexta-feira, 
a noite mais agitada dentro 
do cabaré.
Toda noite de trabalho as moças 
se arrumavam com afinco 
mas na noite de sexta-feira 
se arrumavam ainda mais, 
isso porque era dia que os 
homens mais ricos vinham
frequentar a casa.
Naquela noite quando Figueira 
Desceu as escadas foi saudada 
por todos os clientes sentados 
às mesas no salão do cabaré, 
e seu olhar logo pousou em um, 
um homem já maduro com 
seus cabelos de costeletas 
brancas e bigode também 
rajado de grisalho, 
o olhar dela pousou nele não 
pelo rosto ou pelo cabelo e 
sim pelo fato de nos punhos 
haver três abotoaduras douradas 
em cada manga do paletó, 
e de longe Figueira sabia 
identificar quando algo
era simplesmente banhado 
a ouro ou quando era 
de ouro maciço, 
e aquilo ali era do ouro mais puro.
Sem pestanejar ela foi 
até o homem e ele a convidou 
para sentar-se ao seu lado. 
Conversa vai conversa vem 
Ele conta a ela que se chamava 
Marco e que era um oficial 
da Marinha aposentada, 
vinha de uma Nobre família 
de Portugal e que agora 
estava no Brasil pois tinha 
ficado sozinho pois em 
uma grande tragédia 
sua esposa, seus dois filhos 
e seu irmão haviam falecido 
em naufrágio.
O homem disse várias vezes 
que não costumava 
frequentar cabaré mas que 
estava tão abalado naqueles 
dias que decidiu ir 
para ver se alegrava um pouco.
Quando Figueira soube daquilo, 
quando ela entendeu que 
estava diante de um homem 
solteiro e sozinho, rico e 
emocionalmente abalado, 
rapidamente a cabeça dela 
começou a traçar um plano.
O homem não quis ter 
grandes intimidades, 
mas permitiu que Figueira 
lhe afagasse os cabelos 
e lhe beijasse no rosto 
antes de ir embora.
Assim que o homem virou 
as costas e partiu do cabaré 
Figueira também partiu do 
salão e foi para seu quarto. 
Rosa Vermelha logo foi atrás dela 
para entender porque ela 
estava ausente do salão 
já que era uma das moças 
Recém Chegadas das mais 
requisitadas da casa, 
e quando Rosa abriu a porta 
do quarto lá estava Figueira 
colocando alguns fios de 
cabelo grisalho dentro 
de uma caixinha de madeira.
Rosa vermelha não entendeu 
muito bem o que era então 
se aproximou para perguntar, 
e Figueira sorrindo disse:

— Isso aqui minha cara é o meu futuro.

Cerca de três semanas depois 
Figueira já não fazia mais 
parte do cabaré, 
fora embora e se casara com 
aquele homem que durante 
todo o tempo a havia tratado 
de maneira tão doce e 
tão romântica que mais 
Parecia um bobo perto dela.
Como aquele homem se 
apaixonou tão rapido 
naquela época 
Ainda por cima por uma 
moça de cabaré e aceitou 
se casar com ela? 
Figueira e explica isso nos 
contando que muitas vezes 
três ou quatro fios de cabelo 
colocado dentro do coração 
de um boi e enterrado 
aos pés de uma bananeira 
podem fazer milagres.
Mas como diz o velho ditado, 
não há bem que sempre dure 
e nem mal que perdure, 
então passado um ano o 
feitiço acabou 
e o velho se viu casado com 
uma mulher jovem e bela 
mas pela qual ele 
não sentia nada.
Moravam os dois em uma 
grande mansão ali 
onde hoje é o centro histórico 
do Rio de Janeiro, 
uma daquelas mansões 
que já não foram preservadas 
e que hoje tem o seu terreno 
tomado por algum prédio moderno. 
Mas foi lá dentro daquela mansão 
que o Amor e a doçura se 
inverteu para rancor e nojo.
Então um Dia após Figueira 
fazer um comentário que 
pelo marido foi considerado 
inapropriado a resposta foi 
Um tapa forte dele no rosto dela. 
Era hábito na época que 
os homens agredissem 
suas esposas e todos 
achavam normal, 
mas cegueira não era 
uma mulher normal.
Ali na mesa de jantar 
ainda com a face avermelhada 
Foi ela quem pediu perdão 
ao marido mesmo após
ter sido agredida, 
pediu perdão por tê-lo aborrecido 
e ele a olhou com desdém 
e continuou jantando 
enquanto os empregados 
serviam a mesa.
Figueira não era boba, 
se ela ficou ofendida com 
o tapa na cara? 
Nem um pouco, 
Pois ela sabia que o que estava 
prestes a fazer com aquele 
homem transformava 
o tapa na cara que ele lhe dera 
em uma compensação ridícula, 
isso porque a mão de Figueira 
é muito mais pesada
em breve ele soube disso. 
A mão que faz um feitiço faz dois, 
e ela sabia muito bem 
o que fazer pois detinha o 
conhecimento vindo 
de suas ancestrais, 
então um dia pediu permissão 
ao marido para ir passear, 
e o velho que já não ia com 
a cara dela logo permitiu 
só para que ela saísse de perto. 
Figueira não foi para as Praças 
ou para as lojas comprar 
roupas novas, 
nem tanto foi para as joalherias 
escolher presentes, 
o destino dela foi certo 
e ela foi até o porto. 
Havia ali uma senhora chinesa, 
diziam que tinha vindo 
de Macau ou qualquer 
outro lugar assim, 
a chinesa tinha uma pequena 
Taberna onde servia 
bebidas aos marinheiros 
mas todo aquele que era envolvido 
com a noite sabia que na verdade 
aquela mulher ganhava dinheiro 
era Vendendo as coisas que 
eram proibidas, 
aquela velha chinesa hoje seria 
chamada de Traficante 
mas na época era apenas 
uma contrabandista.
Figueira entrou naquela 
taberna escuroa e quando 
chegou até o balcão se inclinou 
para frente e a velha chinesa 
que percebeu que aquela a 
mulher bem vestida não 
era madame coisa alguma 
também se inclinou junto a ela 
para ouvir o pedido.

— Quero raiz de ruibarbo da China, extrato de niquim e Mercúrio.

A chinesa sorriu enquanto 
apanhava uma bolsinha 
cheia de moedas de ouro que 
Figueira me passou por cima 
do balcão então e saiu de cena,
quando voltou trazia 
uma pequena caixinha com
tudo que Figueira 
havia pedido.
Ao voltar para casa Figueira 
de um modo até mesmo belo 
e romântico decidiu antes 
de entrar na mansão ir até 
o jardim e apanhar algumas flores, 
uma flor muito bonita 
que cresce pendendo 
para baixo chamada 
saia branca.
Naquela noite enquanto 
o velho roncava e os 
empregados dormiam 
Figueira desceu até a cozinha
e um pilãozinho pequeno 
Ela bateu a raiz de ruibarbo seca
até virar um pó então 
colocou um pouquinho 
do mercúrio que de imediato 
não se misturou aquela 
massa seca, 
mas quando foi acrescentada 
a essência do veneno do 
Peixe niquim tudo ganhou 
um tom Roxo, 
E para piorar ela colocou 
no moedor de temperos 
três ou quatro flores 
de saia branca e apertou 
até que escorresse dali algumas 
gotas de seiva Dourada. 
Misturou tudo e colocou em 
um pequeno frasquinho e 
assim escondeu aquele frasquinho 
no decote de seus espartilho.

O tempo passou, 
um mês depois o médico 
foi chamado para cuidar 
do senhor Marco que estava 
passando mal.
Quando o médico chegou
a mansão encontrou o homem 
deitado na cama em plena tarde, 
estava pálido com os 
lábios arroxeados.
Figueira vestida como 
uma donzela com um vestido 
branco e rosa tal qual uma 
menininha tola segurava a 
mão do marido olhando para 
ele com o ar de preocupação 
e paixão.
O médico então perguntou 
a ela o que estava acontecendo.

— Ah Doutor eu não sei o que acontece com ele, está com uma incontinência há quinze dias ou mais, tem diarreias muito fortes e nada que come para no estômago porque agora até mesmo vomita. Não sei porque Deus Está Me castigando desta maneira pois este homem me tirou da pior situação possível e foi muito bom para mim... se meu marido morrer não sei o que será de mim...

O médico examinou o velho 
e constatou que de fato havia 
um mau funcionamento dos 
intestinos porém o veneno 
de Figueira era tão bem preparado 
com tantas substâncias juntas 
que pareceu aos olhos do médico 
que o velho Marco estava 
apenas tendo um vírus causado 
pela fragilidade de seu 
corpo envelhecido, 
então receitou alguns tipos 
de chá e alimentos fortes 
para que o homem comesse 
e recuperasse vigor 
porém de antemão 
avisou a figueira que talvez 
não desse certo porque 
as vezes o mal da diarreia 
pode ser Fatal.
Ah quando o médico disse isso 
Figueira se jogou sobre a cama 
e chorava e chorava, 
e agarrava as roupas do marido desfalecido ali gritando 
a Deus porque estava 
acontecendo aquilo 
com um homem tão bom.
O médico foi embora e passado 
três dias foi chamado 
novamente na casa e
quando chegou lá viu 
Marco na mesma cama, 
o homem estava Verde 
e respirava com dificuldade.
O médico consolou Figueira 
dizendo que era hora de rezar 
pois pelo visto Marco 
não iria sobreviver.
Figueira chorava muito e 
mostrava uma tristeza 
tão profunda que o próprio médico
acostumado com o luto 
ficou emocionado ao ver 
o pesar dela.
Assim que o médico saiu 
do quarto Figueira parou 
de chorar e sentou mais 
perto do marido, 
agarrou o queixo dele 
com a mão o fazendo 
abrir a boca e tirou do 
decote do espartilho 
aquele frasquinho.

— Só mais uma gota meu bem... só mais uma gota e tudo vai passar...

Marco ali sem forças 
abriu os olhos um tiquinho 
e não teve como reagir,
acabou engolindo a última 
gota do veneno, 
E assim a garganta do velho 
fechou e ele 
parou de respirar.
O médico já estava lá fora 
pronto para montar no cavalo 
e ir embora quando Figueira 
apareceu na janela 
gritando a plenos pulmões 
e puxando os próprios 
cabelos de desespero.

— Doutor! Doutor pelo amor de Deus ajude! Ele não está respirando!

O médico voltou para dentro 
da mansão e subiu as escadas 
correndo e quando chegou 
no quarto foi apenas a 
tempo de tocar seus dedos 
no pescoço e no pulso 
de Marco e declarar a morte.
É claro que toda a cidade 
ficou em polvorosa desconfiando 
que Figueira havia matado homem, 
mas todo o tempo Marco 
foi atendido pelo melhor 
médico do Rio de Janeiro 
e se o médico não atestou 
envenenamento então 
Figueira aos olhos da Lei 
era  incontestavelmente 
uma viúva inocente.

Assim dois dias depois 
o corpo embalsamado 
de Marco toi colocado dentro 
de um caixão e levado até a igreja 
onde os ricos eram enterrados, 
poucas pessoas apareceram ali 
já que a maioria das grandes 
senhoras da cidade tinham 
um horror por Figueira 
por saber de seu passado, 
mas alguns homens foram 
dar adeus ao velho Marco.
O que acontece é que Marco 
era sócio de vários 
Empreendimentos com 
outro homem chamado José Maria, 
este José estava ali com as mãos 
sobre o caixão se despedindo 
do amigo que logo seria enterrado 
quando o Figueira entrou na igreja 
com sua roupa de viúva 
toda negra com detalhes púrpuras, 
mas o que era mais assombroso 
na roupa de viúva era que 
por mais que fosse no tom correto 
ainda assim o decote era tão 
grande e tão profundo que 
seus seios quase 
pulavam para fora.
Quando chegou perto de José 
ele a cumprimentou sem desviar 
O olhar dos seios dela e 
disse que agora que Marco já 
não era Vivo e não tinha herdeiros 
seria agora ela a associa nos 
negócios que ele iria ter que lidar.
Figueira de um jeito muito 
emocionado segurou um das mãos 
de José e a puxou para o 
seu peito na intenção de 
colocar a mãos do Homem 
Sobre seu coração 
mas abaixou um pouco mais 
E enfiou a mão dele 
entre os seus próprios seios.

— Ah senhor José, como pudera eu uma pobre moça desamparada ser sua sócia? Eu não sei de nada... Será que eu poderia contar com sua ajuda para me orientar?

Ela afundou ainda mais 
a mão do homem entre 
suas protuberâncias e aquele 
senhor com a outra 
mão tirou um lenço do bolso 
e começou a enxugar o suor 
da testa e já brotava 
pelo nervosismo da situação, 
então José gaguejando disse:

— Claro que sim, claro que irei tomar conta...

— Promete que vai cuidar de mim?

Ela chegou mais perto dele 
com seus lábios franzidos 
em um biquinho 
e o homem muito nervoso 
e já tremendo moveu a cabeça 
de cima para baixo 
indicando que sim,
Então Figueira deu 
um grito agudo e se jogou 
para trás em um desmaio 
pela dor do luto de estar 
enterrando o seu marido,
como José era o único ali
foi ele que a amparou 
segurando-a pelas costas 
e ficando com o busto dela 
bem diante de seu rosto, 
o homem estava tão surpreso
E seduzido pela beleza 
daquela mulher que...

Que três anos depois 
Figueira estava de volta naquela 
igreja no velório de seu 
segundo marido que era no caso 
José que havia se separado 
da mulher e deserdado os filhos, 
e Figueira agora ali ainda 
belíssima com seu decote 
profundo enterrando o segundo 
marido recebeu uma visita 
inesperada, o coronel da região 
que era amigo de José e que 
por sua vez estava muito 
desconfiado daquela morte. 
Figueira então de forma
muito doce cumprimentou 
O Coronel e disse que era 
uma mulher muito de desafortunada
por ter ficado viúva de 
dois homens tão bons e 
que agora não sabia mais 
o que fazer da vida... 
então quando o coronel a
consolava ela olhou para o 
caixão de José e bambeou 
um pouco para trás e desmaiou, 
então o Coronel agarrou 
pela cintura a impedindo de 
bater contra o chão, 
e Figueira abriu os olhos desnorteada 
e abraçou o Coronel 
o chamando de José.

O Coronel ficou com 
muita pena e naquele momento 
parou de desconfiar dela 
pois via que as reações eram 
de profundo sentimento.
Mal sabia ele que no 
ato do abraço Figueira ja murmurava 
em seus ouvidos as palavras 
de Encanto.
E daqui poucos anos ela 
seria viúva de novo e de 
herança em herança ela 
se tornava cada vez mais rica.

É assim a história de Figueira, 
ela começou no Cabaré 
sendo usada pelos homens 
Mas no fim ela virou o jogo 
e passou ela mesma a usá-la. 
Um dia Figueira foi caça 
mas quando ela aprendeu 
a ser a caçadora 
a coisa ficou feia!

Depois de contar essa história 
Figueira gargalhava dizendo 
que por mais que nunca mais 
pudesse ter pisado no Cabaré 
já que as pessoas iriam comentar 
coisas maldosas caso ela 
fizesse isso, 
ainda assim sempre foi 
uma mulher da noite e 
sempre será porque 
A Figueira é verdadeira, 
porque a Figueira é brava, 
porque a Figueira é a única 
árvore que cresce no inferno 
e todos os que a tocam 
conhecem quem ela é. 

Saravá Pomba Gira da Figueira! 
Saravá a ela e a toda sua falange!


 Arte e texto por Felipe Caprini

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