RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 24 (Final)
Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS
Capítulo 24 - FINAL
"O preço"
Uma vez um ancião me disse "A Orelha não passa a Cabeça".
Na época não entendi o que significava... mas hoje entendo.
❤ - I
Veludo tremia, tremia tanto que as suas mãos tinham que ser contidas, Dama da Noite ajoelhada no chão o abraçava por trás segurando seus braços, o queixo dele batia com tanta veemência que era impossível de compreender o que queria dizer.
Quitéria olhou com atenção os cacos de louça antiga que por fora eram dourados mas por dentro possuiam um belo furta-cor, a ânfora que prendia a alma de Veludo havia sido estilhaçada com tanta violência que mais pareceu uma explosão do que uma libertação.
— Tem certeza que usou o feitiço certo? — Ela cochichou para Doralice — O homem parece sequëlado...
— Tenho, a questão é que esta urna, ou melhor, esta ânfora não foi feita para ser aberta, uma vez fechada deveria permanecer fechada eternamente. — Doralice olhava com curiosidade para o cetro Dourado em forma de serpente que trazia na mão direita — isso aqui realmente tem um poder assombroso...
Momentos antes ela havia lançado sobre a ânfora de Segi um feitiço de libertação, a alma de veludo escorreu de lá como uma água lamacenta e aos poucos a agua foi gaseificada até que o vapor foi tomando a forma de um corpo humano até chegar naquilo que estavam vendo agora, o espírito de um homem magro mas de músculos definidos, extremamente belo com olhos muito expressivos, nú com os cabelos embaraçados.
— Me deixem sozinha com ele, — pediu Dama da Noite — Não quero que fique assustado pois ele não conhece nenhuma de vocês e pode estar tendo um resquício de trauma.
— Claro que ele nos conhece! — disse Mulambo curiosa.
— O recinto está superlotado. — Dama da Noite a encarou com firmeza.
Realmente ela tinha razão, ali em um dos quartos vazios na casa de Dona Alice estavam espremidos Maria Padilha, sete saias, Maria Mulambo, cigana Sara, Maria Quitéria, Rosa caveira, rosa vermelha, cainana e Tetemburu, sem contar a presença da própria Doralice que era a única pessoa viva No recinto.
— Ela tem razão, vamos todos sair e deixá-lo à vontade. — disse Doralice com um sorriso.
Todos saíram com exceção de Dama da Noite e Tetemburu, em poucos minutos Veludo começou a controlar a tremedeira, pediu que Tetemburu se aproximasse então os três ali bem próximos puderam falar em voz baixa sem que nenhum outro ouvisse, mesmo os que estavam no cômodo adjacente ou no corredor.
— Nós temos que sair daqui, fugir o mais longe possível. — disse veludo sussurrando.
— Fugir? Veludo Você está muito assustado mas... — Dama da Noite afagando o ombro
— Eu não estou assustado, estou apavorado, aterrorizado, Helena preste bem atenção no que vou falar, o motivo de eu ter sido preso naquela ânfora foi um mal entendido, Sete Encruzilhadas achou que eu havia ido até ele para ameaçar, achou que eu iria contar a todos que ele na verdade era um anjo, mas não era o caso, na realidade eu tinha ido na intenção de avisá-lo.
— Avisá-lo? Do quê?
— Sobre os outros, os outros sabem, e ele... ele está vindo.
— Ele quem? — Dama da Noite parecia confusa.
Veludo moveu os lábios sem emitir som, mas o movimento de seus lábios revelou o nome, um nome tão antigo e aterrorizantes que Dama da Noite levou a mão a boca para conter um grito de horror.
— Você tem certeza disso?
— Infelizmente sim.
❤ - II
Doralice sentada no sofá da sala calçava um par de pesadas botas de couro marrom, estava usando um sobretudo negro e por baixo o macacão de jardineira com camisa de flanela.
— Está com medo? — Maria Padilha perguntou.
Doralice olhou para ela, sentada ali bem a seu lado em um exuberante vestido vermelho cintilante.
— Sim.
— Eu imagino. Mas se o pior acontecer... nós vamos cuidar de você.
Doralice sorriu com os lábios.
PUFF!
Todas ouviram o característico som de explosão.
Rosa Caveira a passos largos entrou no quarto antes ocupado por Dama da Noite, Veludo e Tetemburu.
— Eu sabia, a cadela enfiou o rabo entre as pernas e fugiu.
— O quê? — Sete Saias correu até ela e viu o quarto vazio, os três ocupantes haviam desaparecido.
— O moleque usou a magia de transporte. — Rosa Caveira balançou a cabeça em reprovação.
— Covardes! — Maria Mulambo berrou inconformada — ela nos usou para salvar o macho dela e depois deu no pé!
— Deixe estar, melhor a deserção antes da batalha do que a traição durante ela. — disse Sarah com calma.
— Agora somos sete, mas vamos dar conta. — disse Quitéria.
— Eu... eu estou pronta. — Doralice ficou em pé e enfiou o cetro no bolso da parte interna do sobretudo.
Saiu porta a fora caminhando com passos firmes, era uma noite fria e a lua estava grande e branca no céu sem nuvens. Quem olhasse veria apenas uma anciã sozinha na noite escura mas na verdade estava rodeada de almas, as moças iam com ela.
Estava já fechando o portão do quintal quando ouviu uma voz rouca:
— Espere, eu vou com você.
Doralice se abaixou e apanhou a pequena serpente de menos de trinta centímetros, era uma minúscula cobra-do-milho.
— Tem certeza Kainana?
— É... é por Arlete. — a serpente pronunciou com pesar.
— Sim, por Arlete. Vamos meu amigo, vamos juntos.
Doralice colocou a serpente em torno do pescoço como um colar e então seguiu pela rua até a casa de seu vizinho que possuia uma égua baia dourada muito dócil, o homem estranhou o pedido aquela hora da noite mas imediatamente cedeu, dali a pouco Doralice guiava uma pequena charrete pelas ruas de terra poerenta da antiga capital do país.
A água ia contente, puxava quase peso nenhum afinal a velha mal chegava aos sessenta quilos, as sete outras moças santadas na charrete pesavam tanto quanto o vento.
❤ - III
Não demorou muito para que chegassem diante da velha igreja, uma construção abandonada e um tanto quanto soterrada nas laterais devido ao deslizamento de uma encosta, mas ainda assim a igreja revelava que um dia havia sido um templo exuberante. Doralice ainda sobre a carruagem fez um muchocho para a água parar e olhou para ambos os lados tentando captar da onde vinha aquela energia negativa que sentia.
— O que é isso? Uma múmia? — a voz de Menina ecoou na noite.
As moças observaram com certo espanto a porta de folha dupla da igreja se abrir lentamente, ali diante dos degraus da entrada apareceu Menina, vinha vestida de negro com forte maquiagem escura ao redor dos olhos, seu vestido lolita descia apenas até o joelhos revelando pernas finas adornadas por meia-calça cinza e finalizadas com um par de sapatos de salto plataforma mais alto que o comum, couro negro no sapatos e no cinturão que envolvia sua minúscula cintura.
— Tem certeza que quer fazer isso mesmo Ellen? — Rosa Vermelha bradou em sinal de alerta.
— Agora já não tenho tanta certeza, afinal de contas seria uma covardia se nós aqui partirmos para cima de vocês e sua boneca velha.
— Está falando de mim? — Doralice franziu a testa.
— Além de velha é vítima de demência?
— Eu sou velha porque eu sobrevivi, — disse Doralice calmamente — ao contrário de você que não foi forte o suficiente para viver mais do que a tenra idade e que agora planeja essa sandice em prol de conseguir aquilo que eu tenho hoje, um corpo de carne e osso. Você pode me desmerecer o quanto quiser mas nós duas sabemos quem de nós é a rebaixada, quem foi a derrotada inconformada. Com quatorze anos eu corria pelos campos colhendo flores, e você? Jazia podre em uma cova rasa.
Os olhos de Menina se apertaram, ela nada disse mas era notório que as palavras de Doralice haviam tocado na ferida. Menina entrou novamente dentro da igreja e dessa vez quem saiu foi Sarana, havia deixado sua acostumei a túnica de lado e agora exibia um longo vestido negro com tule diáfano cobrindo a saia de seda, saia essa tão longa que não mostrava os pés quando ela caminhava, as alças do vestido eram tão finas que ao longe pareciam não existir, sarana ostentava também um par de luvas de seda Negra acima dos cotovelos e na mão esquerda chacoalhava displicentemente a colher de pau.
— Doralice vá embora, nada aqui tem haver com você, bruxas brancas essa hora deviam estar enfiadas em suas tocas fazendo garrafadas ou preparando as folhas dos benzimentos das crianças do dia seguinte, isso aqui é magia séria e você não tem nada o que fazer aqui.
Doralice desceu da charrete, afagou o pescoço da égua então caminhou alguns passos na direção de Sarana, parou bem diante do primeiro degrau da escadaria.
— Tem coisas que passam tanto dos limites até mesmo as bruxas brancas precisam intervir. Se Arlete estivesse aqui comigo ela também interviria.
— Não fale da minha irmã. — Sarana falou entre os dentes.
— Você acha o quê? Que ela seria conivente com essa situação bárbara? Se você a conhecia assim como eu a conheci sabe que os meus passos em sua direção essa noite são exatamente os passos que ela tomaria contra você estivesse entre nós.
— A única diferença é que se Arlete estivesse aqui eu teria alguma preocupação sobre interferência dela dos meus planos, já com você eu tenho apenas pena pois essa noite eu terei que finalmente acabaram com a sua vida.
— Então isso é o fim da nossa rusga familiar?
— Um Gran Finalle! O último ato das bruxas da família Salvaterra. — ela apontou a colher para Doralice mas antes que pudesse proferir a ladainha de qualquer encanto a minúscula serpente Kainana deu um bote saltando do pescoço de Doralice na direção da feiticeira, mas assim que saltou sobre Sarana ela se tortou uma pesada Python-Real de sete metros e meio, a bocarra da cobra se cravou no ombro de Sarana, a bruxa caiu deitada gritando e se debatendo enquanto a pesada cobra se enrolava em torno de sua cintura afim de quebrar-lhe os osso.
— SET! SETE ENCRUZILHADAAAA! — Sarana berrou desesperada.
De dentro da igreja veio em vôo rasante um Uraçú branco, uma ave gigantesca cujo as asas abertas tinham mais três metros de uma ponta a outra, as garras duras como aço se cravaram na cabeça de Kaiana que soltou imediatamente o corpo de Sarana e começou a se enrolar em si mesma para proteger a parte vital a ave monstruosa.
— Desgraçada! — Sarana olhava furiosa para Doralice que agora estava rodeada pelos espíritos das moças — Retalhem essa puta!
De dentro da igreja vieram quatro espíritos, kiumbas, homens de pele cinza esverdeada, espíritos de afogados que exibiam braços muito longos e bocas com dentes afiados.
O primeiro saltou como um leão sobre Doralice mas Rosa Vermelha saltou ao mesmo tempo o agarrando ainda no ar, ambos cairam no piso de paralelepípedos rolando entre rugidos, pois não era sô ele que rugia, Rosa Vermelha gritava como uma leoa rasgando as costas da Kiumba com suas unhas pontiagudas enquanto o espírito mordia parte de seu rosto com a boca arreganhada.
Sete Saias correu na direção da segunda kiumba e a empurrou para o lado, Sarah correu tomando distância percebendo que a terceira kiumba vinha em sua direção, Rosa Caveira imediatamente se tornou a temida figura de puro osso e avançou sobre a quarta, Mas uma quinta kiumba apareceu, era um homem muito alto que vinha andando caminhando como um quadrúpede, de suas têmporas brotavam imensos cornos de touro e sobre suas costas vinha menina montada como uma cavaleira em cima de um alazão.
— Deixe ela comigo. Disse Maria Padilha.
— Ótimo, Mulambo fique com Doralice, — pediu Quitéria — Eu vou achar Navalha.
Padilha entrou na igreja passando por Sarana e Doralice que se encaravam, desviou da serpente e da ave que se engalfinhavam, então chegou diante da bizarra cavaleira.
— Vamos nessa?
— Vai me peitar sozinha? Que confiante... — Menina ergueu as sombrancelha teatralmente.
— Com a cara e coragem.
Do lado de fora Rosa Caveira em seu formato de esqueleto girava feito um pião com seus braços de osso branco açoitando a kiuba que tentava se aproximar, o espírito imundo erguia os braços protegendo o rosto enquanto seu tronco se abria em cortes causados pelos dedos pontiagudos do esqueleto.
CRACK!
O som do osso quebrando a assustou e imediatamente ela tombou para o lado, a kiumba habilmente havia se abaixado e lhe mordido o osso do fémur da perna esquerda com tanta força que ele partiu ao meio.
CRACK! CRACK! CRACK!
A kiumba saltou sobre ela pisoteando-lhe as costelas que quebravam como se fossem de vidro.
— Ah pois sim filho de uma quenga! Acha que vai me reduzir a pó? OLHA ME SACODE O PÓ QUE EU SOU ROSA CAVEIRA! — Ela bateu ambas as mãos de osso no piso fazendo um estrondo oco e levantando uma nuvem de poeira.
A kiumba ganiu assustada quando a primeira mão ossuda lhe agarrou o tornozelo, Rosa Caveira bateu a mandibula de osso em uma risada ao ver a mão de esqueleto que emergia do solo agarrando a perna de seu agressor, logo o piso rachou e da terra surgiu mãos um par de de mãos, eram os esqueletos dos homens mortos que se erguiam do solo para protege-la.
— Que sorte... era dentro das igrejas velhas que os mortos eram enterrados... o que não falta neste solo é osso! — ela riu baixinho — venham caveiras! Venham!
Com um estrondo alto um esqueleto enorme saltou da terra espalhando pó e pedras por todo lado, agarrou a Kiumba por trás a imobilizando, a mão de esqueleto começou a puxar a perna da kiumba para debaixo da terra, o espírito imundo berrava percebendo que seria soterrado.
— Levem meus amores! Levem esse morto para a escuridão da terra! — Rosa Caveira gargalhava.
A kiumba foi arrastada para dentro do solo sendo seguida por aquele esqueleto que pulou para dentro da terra logo em seguida.
Rosa sentou e alcançou o femur quebrado, tentava encaixar os cacos para poder usar a perna de novo, então olhou para o lado e viu Rosa Vermelha em grande dificuldade.
— Cigana! Ajude ela! — pediu.
— Ajudar? Filha eu estou bem enrolada aqui agora! — Cigana corria em círculos com a kiumba a perseguindo.
Rosa Vermelha estava no chão, tinha sangue escorrendo pela ferida na bochecha e no pescoço, tentava focar na questão de ser uma mulher morta e por isso não deveria sangrar, mas a memória de quando era viva ainda acoava forte dentro dela a fazendo sentir dor e sangrar exatamente como um humano vivo.
— Você não tem coração batendo no peito e nem sangue correndo nas veias! — Sarah gritou vendo o apuro que a companheira passava enroscada aquele espírito imundo — Agora você é outra coisa, o que você é?!
Rosa vermelha se concentro naquelas palavras, a kiumba a mordeu novamente no pescoço a fazendo sentir uma dor lancinante.
— Eu não sou viva! Eu não sou uma mulher! — ela gritou a plenos pulmões entendendo o que de fato era agora — Eu sou uma rosa! — Ela abraçou a kiumba com os braços com força e envolveu as pernas em torno da cintura do bicho — E uma Rosa tem espinhos! — centenas de pregos de ferro enferrujado imergiram do tronco de Rosa, de suas coxas e braços, a Kiumba lergou o pescoço dela a passou a berrar em agonia ao sentir os pregos sendo cravados em seu corpo.
Rosa Vermelha apertou mais o abraço até que a kiumba ficou flacida, fechou os olhos e perdeu os sentidos.
— Eu sou foda para um caralho! — Rosa Vermelha gargalhou largando o corpo inerte daquele espírito.
Doralice sacou o cetro do bolso do sobretudo e apontou para Sarana:
— SHOGUN!
Sarana bateu contra o batente da porta mas gargalhou, o feitiço de encarceramento de Doralice prendia apenas os braços, assim com a mão abaixada ela girou a colher de pau entre os dedos e sussurrou:
— Shadon makren.
Os degraus da escada explodiram com tamanha violência que ambas as feiticeiras foram atiradas para trás, Sarana caiu de costas no corredor da igreja, Doralice do lado de fora rolou pelos paralelepípedos.
Sarana se ergueu com os braços livres, correu até a entrada da igreja, Doralice já estava lá em pé com o cetro seguro com as ambas as mãos, ambas simultaneamente apontaram as armas uma para outra e a energia se encontrou, ficaram assim paradas, quem olhasse de fora iria ver duas mulheres imóveis como estátuas mas a batalha se travava com intensidade, a energia invisivel das bruxas se enfrentavam em pancadas como dois bufalos batendo chifres um contra o outro.
Doralice vacilou, seu rosto se contorceu em uma careta então deu um passo para trás, depois outro, e mais outro, Sarana ergueu o queixo orgulhosa, estava vencendo.
Mulambo agarrou doralice pela cintura e imediatamente sumiu, entrou para dentro dela, não era uma incorporação, na verdade Doralice permanecia consciente, Mulambo estava unida a ela, então a boca de Doralice se abriu a voz de Mulambo saiu:
— Enfia essa colher no cu! — Doralice desviou para o lado rodopiando em uma finta de bailarina, Sarana ao impor extrema força diante de nada, caiu estatelada no buraco onde antes haviam os degraus.
— É assim que se fala! — Doralice comemorou com a propria voz, em seguida Mulambo falou através da boca dela — A loirona tá se achando a bocetuda, não é? Pois cai dentro cachorra!
Sarana se ergueu em um misto de furia a constrangimento.
— Incorporação? Uma técnica infame usada por bruxas fracas! Você devia ter vergonha Doralice!
— Vergonha? — a voz de Mulambo falou pela boca da anciã — Vergonha de cu é rola!
BUUUUM!
Sarana berrou e correu para fora do buraco bem a tempo pois a imensa porta igreja foi arrancada da parede e tombou naquele direção, Kainana havia inchado, era uma serpente muito maior agora, grossa como um tronco de árvore e contando com pelo menos doze metros de cumprimento, o rabo da cobra chicoteava com tanta força que havia arrancado a pesada porta de madeira maciça das dobradiças com apenas um golpe, mas mesmo assustadora e forte a serpente não estava bem, haviam dezenas de buracos minando sangue em toda extensão de seu corpo, o bico e as garras da imensa ave Uraçú controlada por Sete Encruzilhadas haviam aberto grandes feridas.
— Aberração! Mestiço! Vou lhe castigar tanto que seu pai sentirá vergonha de lhe ter criado! — A voz grave de Sete Encruzilhadas ecoava através do bico aberto do pássaro que batia as asas ameaçador.
Rosa Vermelha ouviu um ganido abafado de pavor, olhou para o lado, Cigana erguia uma carta de tarô nas mãos, a carta três de espadas reluzia como um farol, a kiumba diante dela gritava no chão com três grandes floretes ficados em seu peito, com a mão livre cigana apanhou a carta do sol, então os floretes se avermelharam em brasa, a kiumba emitiu um ganido alto e longo, depois um baixo e curto, então finalmente parou de se mover e se calou.
Cigana estava acabada, ofegante, sua saia rasgada e marca de arranhões por todo o corpo, mas ainda assim sorria pela vitória.
❤ - IV
Em meio ao grande estardalhaço das lutas acontecendo por toda parte Quitéria avançou silenciosamente para dentro da igreja, contornou até ficar bem próxima a parede e foi indo pela lateral dos bancos, ao longe já conseguia ver a figura de Maria Navalha caída no chão diante do altar, assim que se aproximou estacou o passo, seu olhar aguçado parou nas finas linhas vermelhas traçadas no assoalho, aquilo era sangue misturado a vinagre de álcool, mistura essa que faz o sangue permanecer vermelho e não emagrecer como é o costume pós coagulação, as linhas formavam um desenho curioso, era um grande círculo e em torno dele desenhados sete círculos minúsculos onde caberiam apenas uma pessoa em pé em cada.
— Eis aí a roda das princesas... — Quitéria comentou com ninguém particular — de pensar que era para eu ser usada de combustível nessa merda... que piada.
Ela sabia que não poderia pisar naquelas linhas, se pisasse ficaria tão aprisionada quanto Maria Navalha visivelmente estava, então se abaixou e tocou a linha com pontas das unhas dos dedos indicadores, fechou os olhos e começou a murmurar uma ladainha, um contrafeitiço antigo usado para quebrar qualquer demanda, uma pequena Faísca se criou entre suas unhas e a linha passou a enegrecer e a emitir fumaça, porém pela grossura da linha ela precisaria de alguns minutos até que pudesse queimar o traço por inteiro.
No centro da igreja os bancos de madeira eram estilhaçados pelos coices que a kiumba descontrolada de Menina disparava a esmo, Menina montada sobre as costas do Espírito imundo gargalhava com sua voz aguda, estava se divertindo tal qual uma criança sobre um touro mecânico.
Padilha se desviava com o máximo de agilidade que conseguia ter, os membros esguios e anormalmente compridos da kiumba tentavam alcançá-la de todo jeito, Padilha girava sobre os calcanhares, se abaixava e saltava a fim de escapar dos golpes.
Por mais que fosse muito ágil houve um momento em que a velocidade faltou, o braço dianteiro da kiumba e atingiu em cheio na barriga a arremessando contra uma grossa coluna de mármore, Padilha caiu ao chão mas rapidamente ergueu, se movia como um gato sem se deixar destabilizar, mas já estava se desviando há tempo demais e aquilo a irritava muito.
— Corra! Corra ratinha! — gritava Menina ensandecida.
— Já não é hora de correr! — Padilha se atirou sobre a kiumba e cravou suas unhas nos ombros maçudos dela, o espírito começou a saltar e se debater mas Padilha estava tão fixa naquele corpo pútrido que continuou preso a ele, então os ombros da kiumba começaram a se enrijecer e a se esbranquiçar como se estivesse se tornando pedra, o braço direito bateu contra o piso, duro, em seguida o braço esquerdo também, Menina pulou de cima da Kiumba assustada com o que estava acontecendo, a kiumba movia o pescoço de maneira robótica, estava ficando inteiramente gélida e dura.
— O que você está fazendo com ela?! — disse Menina se esgueirando para trás de uma coluna.
— Cada uma de nós tem um dom pertinente a nossas maiores qualidades, e eu me lembrei qual era a minha. Eu sou uma invejosa, Menina! — ela removeu suas garras dos ombros da kiumba e deixou o espírito cair no chão duro como se fosse um cavalo de pau — Todas as minhas conquistas foram sempre as conquistas dos outros, se eu via algo que alguém tinha eu queria ter Igual, queria ter na verdade melhor, queria ser superior para mostrar que eu era maior. Esse é meu dom menina, eu subo o que é dos outros. — Padilha abriu um Largo sorriso e mostrou a pele nos braços reluzente, todo seu corpo reluzia pois agora ela tinha em si não só sua própria força mas também toda a força que havia sugado daquela kiumba, Maria Padilha era uma Vampira de energia, uma parasita letal.
Menina Correu para junto de Sarana e de Sete Encruzilhadas que ainda lutavam na porta da igreja.
— Volte já aqui pirralha vinha de merda!
— Venha! — Sarana estendeu a mão na direção de Menina que correu na direção dela e atravessou entrando dentro de seu corpo, agora Sarana estava na mesma situação de Doralice, ela também tinha um espírito dentro de si cooperando.
— Não se esconda! — Maria Padilha gritou correndo na direção de Sarana.
— Ekço Vaá! — a bruxa loura gritou a ladainha apontando a colher de pau na direção de Padilha.
Padilha por sua vez recebeu uma pancada forte no estomago, foi arremessada para o alto dando três piruetas no ar e caindo estatelada nos fundos da igreja bem no centro do circulo de sangue.
— Que maravilha... — disse Quitéria vendo Padilha agora presa dentro do círculo.
— Puta que pariu! Caramba eu voei feito bosta de pombo!
— Calada e não me distraia, eu estou quase quebrando o circulo.
— Eu estou presa aqui?
— Já pedi para fazer silêncio. — Quitéria olhou feio para ela.
Um tapa forte dado com as costas da mão, Sete Saias caiu contra os paralelepípedos úmidos, lutava com a kiumba com dificuldades pois agia como uma mulher humana se recusando a lançar mão de quaisquer artifício sobrenatural.
Rosa Vermelha e Cigana estavam próximas, ajoelhadas no chão ajudando Rosa Caveira a se "remontar".
— Soraya, você precisa de ajuda? — Cigana Sarah perguntou vendo a sofreguidão da amiga.
— Não! — Sete Saias gritou desviando de mais um tapa — Vocês venceram seus adversário sozinhas, eu vou vencer também!
— Se ele te der mais uma bofetada eu vou intervir! — Disse Rosa Vermelha examinando uma ripa de costela na mão sem saber onde exatamente tinha de encaixa-la no corpo de osso de Rosa Caveira.
Sete Saias berrou, a kiumba havia conseguido lhe agarrar pelos cabelos com uma mão, a outra agarrou um de seus pulsos e a chacoalhou, e isso foi o estopim para Sete Saias se lembrar da noite de sua morte, da noite em que os Ciganos a mando de seu pai a amarraram e levaram como cativa, e naquela noite Sete Saias havia usado de magia antiga, a magia do fogo.
Sua expressão de dor mudou, ela fechou os olhos com força e quando os abriu novamente exibia íris vermelhas flamejantes, o tecidi de sua saia flamulou e se acendeu em labaredas. A kiumba a largou imediatamente e deu um largo passo para trás, mas Sete Saias agora reluzia como um braseiro, ergueu a mão direta sobre a cabeça e nela se viu surgir um chicote vermelho vivo queimando em chamas amarelas, ela brandiu o chicote e o estralou contra o chão.
— Venha! Venha me pegar!
A kiumba arregalou os olhos assustada, então Sete Saias a açoitou, o berro da kiumba foi ensurdecedor, quando o chicote bateu em seu braço o que foi decepa-lo, o espírito imundo agarrou o cotoco que havia sobrado e uivou desesperado, mas o segundo açoite veio tão rápido que o espírito imundo nem percebeu que estava a caminho, o chicote silvou no ar e estralou contra o pescoço do inimigo, a cabeça foi atirada diante dos cascos da água na rechete que relinchou assustada recuando, o corpo da kiumba caiu de joelhos, degolado, então tombou de lado inerte.
Sete Saias correu junto de suas amigas que já estavam ajudando Rosa Caveira a ficar em pé.
— Cuidado! — Rosa Caveira olhou para cima.
As quatro correram a passos largos para junto da charrete e observaram a torre do sino da igreja se abrir em rachaduras nas laterais, algo estava batendo nas colunas por dentro, então o estrondo veio e o som do rangido da torre de doze metros de altura se inclinar para frente e em seguida tombar se estilhaçando contra os paralelepípedos da entrada, o velho sino tilintava quicando pelas pedras do pavimento, e do buraco que restara após a demolição surgiu a enorme serpente Kainana que dando um bote finalmente abocanhou uma das asas do grande Uraçú, a ave ganiu e a serpente com tremenda força a puxou a bateu contra o chão, a ave gigantesca caiu proximo as moças que observaram com espanto kaiana se erguer em um bote e atacar o corpo da ave com duas mordidas de presas serrilhadas uma, duas, tres vezes. A ave gorgolejava sangue caida no chão, e lentamente o espírito de Sete encruzilhadas se arrastou para fora dela restejando sobre as pedras ensanguentadas.
— Você usou a ave mais bela desta terra como um fantoche nesta guerra tola... — Kaiana falava com fúria — Me fez matar um amigo de meu povo, um Uraçú... você vai pagar caro por isso!
As moças contornaram a grande serpente a correram para dentro da Igreja, lá encontraram Doralice arfando e perceberam que Mulambo estava dentro dela, Sarana do outro lado estava descabelada e segurava uma criança diante de si, uma garotinha de aproximadamente sete anos, ao lado desacordado estava outra criança, um menino da mesma idade.
— Eu vou matar ela, estou avisando — Sarana agarrando a garotinha pela nuca com uma mão e apertando a colher de pau contra a tempora dela — Um feitiço simples e vocês vão ter de juntar os miolos dela com uma pá!
— Deixe-os em paz! — gritou Mulambo através da boca de Doralice — Covarde!
— Vocês vieram aqui para salvar essas crianças não é? Dentro dessa garotinha Menina iria viver em uma reencarnação impura, e dentro daquele merdinha desmaiado ali eu iria por Sete Encruzilhadas! — Sarana rangia os dentes em fúria — Pois bem! Vocês vieram em bando para cima de mim, as covardes são vocês, mas se derem mais um passo essa criança morre!
Maria Navalha ainda desacordada foi puxada para fora do círculo por Maria Padilha e Maria Quitéria que havia quebrado a linha do feitiço, largaram Navalha sob um dos bancos e correram até onde as quatro outras moças estavam.
— O que acontecer a criança acontecerá a você. — Quitéria falou lentamente.
— Ora ora, você está dizendo que vai me torturar? Não são vocês as mocinhas? As boazinhas?
— Doralice com certeza é, já eu... — Quitéria sorriu.
— Sarah... — Padilha sussurrou no ouvido da amiga — sua aura é mais branda que a nossa, incorpore naquele menino desmaiado e o leve embora daqui, salve ele.
Cigana correu até o menino mas pouco antes de alcançar ouviu um estrondo alto vindo do lado de fora, e então teve de se abaixar pois a serpente Kainana foi arremessada para dentro com tanta vioência que ao bater contra uma coluna de mármore a pedra branca se arrebentou em varios pedaços que rolaram pelo assoalho. Sete Saias correu para junto de Kainana, a serpente estava imóvel porém ainda viva.
Todas pararam assustadas e observaram Sete Encruzilhadas entrar na igreja, caminhava devagar e suas mãos tremiam tanto que chacoalhavam.
— Isso! Isso Sete Encruzilhada! Matou a cobra maldita! — Menina falou através da boca de Sarana porem a animação amo sua voz decaiu quando percebeu que os lábios de seu companheiro tenham estavam tremendo.
Uma voz máscula e afinada gritou do lado de fora:
— Ajiliz hu úh!
Sete Encruzilhada rapidamente buscou um banco ds igreja que ainda estava inteiro e sentou de cabeça baixa ainda tremendo muito.
— O que foi que gritaram lá fora? — Rosa Caveira perguntou.
— Mandaram Sete Encruzilhadas sentar e ficar quieto, foi falado em... língua de Anjo. — Quitéria se espantou.
Um homem estonteante de tão belo entrou na igreja sorrindo. Sete Encruzilhadas se encolheu no assento abaixando a cabeça até os joelhos.
O homem que entrava era alto, louro platinado com cabelos curtos ondulados, seus olhos eram de um azul intenso, seus dentes perfeitos emoldurados por Labios rosados lhe davam um ar principesco, ele vestia uma simples camisa de seda em tom areia e uma calça de algodão branca em corte largo, seus pés adornados por um par de sandálias de tiras de lona cor de creme.
O homem olhou para todas as mulheres ali presentes, as vivas e as mortas, então abrindo mais seu sorrisos ele juntou as mãos e bateu palmas aplaudindo cada uma delas.
— Que espetáculo! Que entretenimento! Eu tenho visto tudo o que vocês vem fazendo e... nossa, foi um show de primeira! — o sorriso dele se desfez — mas agora o show acabou.
❤ - V
Veludo segurava Tetemburo nos braços, o menino havia desfalecido de cansaço após usar a magia de transporte onze vezes seguidas até conseguir levar seus dois grandes amigos a uma aldeia em El Calafate, Argentina. Eles caminhavam por uma rua branca pela constante nevasca que caia, após muito caminhar decidiram pernoitar, então entraram em um casebre de madeira vazio, Dama da Noite e Veludo colocaram Tetemburo para dormir em uma cama de criança, em um quartinho também de criança, os donos daquela casa estavam provavelmente de viajando e por isso os três poderiam permanecer ali.
— Pronto, viemos o mais longe possível, agora já é hora de você revelar porque nós fugimos. — Dama da Noite apontou para uma poltrona de amamentação encostada a parede, veludo sentou nela e Dama na Beirada da cama que Tetemburu repousava.
— Helena você sabe dos meus talentos, e sabe que o principal deles é conseguir permanecer imperceptível, afinal de contas é por isso que me chamam de Veludo, porque sou silencioso.
— Vá direto ao ponto por favor.
— Meses atrás antes de Sete Encruzilhadas me aprisionar na ânfora, eu estava cooperando com Sarana mas ainda não tinha entendido muito bem do que se tratava a tal roda das princesas, porém a ideia de voltar a viver me parecia algo muito agradável, mas como eu não compreendia comecei a usar dos meus talentos para espionar ela, colocava toda minha energia na questão de ficar absolutamente invisível, assim permanecia dentro daquela igreja durante dias e noites ouvindo as conversas dela, de Menina e de Sete Encruzilhadas. De tudo que ouvi pouquíssimo se aproveita, afinal de contas você mesma já sabe de toda a verdade sobre as intenções deles, porém eu vi algo que me deixou... com medo.
— E o que foi?
— Ouvi o momento onde tanto Sarana quanto Menina e Sete Encruzilhadas se ausentaram para ir atrás de Sete Catacumbas e eu permaneci ali dentro da igreja querendo dar uma olhada em alguma coisa que talvez não tivesse percebido, talvez ler aqueles livros de Magia tão estranhos que Sarana guarda com tanto segredo, então houve um momento em que eu ouvi movimentação, alguém se aproximando, imediatamente voltei ao meu estado de invisibilidade, encostei atrás de uma das colunas de mármore e me mantive paradinho apenas ouvindo.
— E o que ouviu?
— Alguém entrou na igreja. Não era Sarana nem Sete Encruzilhadas nem mesmo Menina, eram duas criaturas muito bonitas com aparência um tanto quanto infantil, baixinhas e gorduchas mas o que mais me chamava atenção era que ambas eram meninas loiras com cabelos compridos e de suas costas surgiram grandes asas de pássaro.
— Anjos?
— sim anjos. Elas vasculharam grande parte da igreja mas acabaram não percebendo a minha presença, então começaram a conversar em língua de anjo, e você sabe que eu sou versado em muitas línguas inclusive nesta. Entre as conversas delas... elas riam ebochadamente, comentavam sobre a questão de Sarana e Sete Encruzilhadas estarem sendo manipulados sem perceber, que o imperador deles iria conseguir os seus intentos através da roda das princesas e não nenhuma mulher morta, elas falavam que o imperador delas não possuía poder sobre aquela terra, e o Imperador delas não podia imperar em cima de solo brasileiro pois nunca havia sido dado a ele permissão, porém falavam que ele estava muito empolgado presenciando tudo o que Sete Encruzilhadas estava fazendo, e riam debochadamente ao falar que Sete Encruzilhadas, Meninas e Sarana pensavam estar se dirigindo para conquistar um objetivo próprio quando na verdade eles não sabiam mas estavam trabalhando para o tal Imperador.
— e quem é esse Imperador?
— Eu já te disse.
— Diga de novo, preciso ter certeza que não estou ficando louca.
Veludo suspirou fundo e olhos de sua companheira:
— Lúcifer.
❤ - VI
— Quem diabos é você? — Menina falou através da boca de Sarana.
— Ah que falha, eu peço mil perdoes, — o homem louro inclinou a cabeça em um gesto de simpatia — Entrei aqui tão animado que me esqueci de me apresentar. Por favor ben-dod, me apresente as belas moças, mas use a formalidade e na lingua delas para que compreendam.
Sete Encruzilhadas ficou em pé, tremia tanto que escondeu as mãos nas costas para parar de sacudir os braços, limpou a garganta e falou em tom solene:
— Este é o Príncipe deste mundo, o valente, o soberano da torre do sul, o rei entre os sabios, o filho de Geena, o Adversário do entronado, este é Heylel Ben Shahar, a estrela da manhã e a esperança dos caídos. Para nós é o imperador da terra de Tahat Balard, terra essa que para vocês é mais conhecida como Inferno, e este Imperador diante de voz aqui entre os vivos é popularmente chamado de Lúcifer, Satã, Satanás ou Diabo.
Lúcifer se aproximou de Sete Encruzilhadas e apoiou gentilmente uma mão em seu ombro.
— E esse que me apresentou com tanta elegância é Turuk-Belael, um menininho que gosta de aprontar... não é Turuk? Mas não tem problema, eu amo todos os meus priminhos, e eu vou te ajudar Turuk, o chicote trançado de pontas de prata vai por um pouco de juízo na sua cabecinha. E não se preocupe — Lúcifer o beijou na bochecha — Eu não vou desistir de você, por isso vou bater até que você aprenda a lição.
— O-obrigado senhor. — Sete Encruzilhadas engoliu em seco olhando para os próprios pés.
— Turuk-Belael assumiu um novo nome aqui entre vocês, Sete Encruzilhadas! Que nome bonito, adoro o som que as línguas latinas tem.
Lúcifer olhou para as moças que estavam caladas e de olhos arregalados o encarando.
— Ai ai ai... que cara são essas? Eu sei que causo muito espanto, afinal eu sou uma "celebridade" — ele abriu mais uma vez um largo sorriso — Mas vocês vão ver que sou muito acessível. Andem, vamos nos sentar para conversar um pouco.
De repente tres bancos da igreja se arrastaram sozinhos e formaram uma letra U, eram bancos largos então as moças de maneira temerosa sentaram dando algum espaço entre si.
— E você minha querida tenha a bondade de deixar essas crianças em paz, — ele sorriu para Sarana — sabe como é, um dos meus preciosos dizeres é "vinde a mim todos os pequeninos" ou seja deixe esses bastardos quietos e preste atenção em mim.
Sarana soltou a garotinha que segurava, ela correu para junto da outra criança desmaiada ali perto.
— Mas o que o senhor quer... — Cigana começou.
— CALE A SUA BOCA! — a face de Lúcifer se contorceu em uma máscara de maldade mas rapidamente ele levou uma mão ao rosto e massageou a testa, então retomou o tom amigável — Desculpe querida, mas isso aqui não é uma conversa aberta, se eu quiser ouvir a sua voz eu peço para que fale, caso contrário fique quietinha por favor.
Cigana assentiu assustada.
Lúcifer prosseguiu:
— Agora voces duas que estão enfiadas nessas humanas vivas, saiam para fora. Eu disse SAIAM AGORA! — Mulambo e Menina foram atiradas no chão sendo expulsa dos corpos se Sarana e Doralice — E você dormindo ai no fundo, acorde e sente-se aqui também, vejo que esta detonada mas faça um esforço pelos bons modos.
Navalha despertou, se ergueu e com passos vacilantes caminhou até os bancos e sentou ao lado de Quitéria.
— Perfeito — Lúcifer sorriu amável — o mestiço ali em forma de serpente... deixemos que durma um pouquinho, benditas sejam as criaturas da natureza. Mas vamos começar, e primeiramente eu preciso dizer que foi muito impressionante ver o despertar de vocês como almas, bruxas presas em forma espiritual no mundo dos vivos já foi algo extremamente comum, hoje em dia raramente acontece, então minhas queridas amigas vocês podem se orgulhar pois são uma espécie em extinção. E em segundo lugar em preciso perguntar uma coisa, e após a pergunta estão livres para responder. A pergunta é: Quem de vocês vai me dar esta terra?
As moças se entreolharam confusas.
— Senhor... perdão mas... acho que nenhuma de nós compreendeu a pergunta. — disse Sete Saias em tom baixo.
— Ah... é uma falha minha meu docinho, eu as vezes me precipito e faço perguntas sem antes dar qualquer explicação, mas vou explicar agora. — ele juntou as mãos como um professor que explica uma materia difícil de se assimilar — Cada parte deste planeta foi originada e organizada por algum tipo de força divina, como por exemplo as regiões da Arábia onde o meu papaizinho, aquele que vocês conhecem como Jeová, criou e reinou durante muito tempo, mas em comparação a eu posso citar a vocês as terras do Japão criadas por uma fabulosa deusa chamada Amaterasu, ou as Ilhas gregas criadas por Gaia, é claro que não vou citar todos os deuses que criaram cada pedacinho desse lugar porém este exemplo serve para que entendam que toda terra tem dono, ou pelo menos tinha. Com o passar dos milênios o povo humano foi tomando posse do lugar e os deuses de maneira muito bondosa foram abdicando da autoridade que tinham para dar autonomia aos humanos, e quando os humanos alcançam autonomia eles se tornam donos da terra, então eu me aproximo de maneira muito gentil, pois se tem uma coisa que eu tenho no meu coração é amor por todas as coisas vivas, e assim eu vou até os humanos e convenço eles a me darem um poder sobre o local que vivem. É claro que eu não posso lançar mão de nenhum tipo de coação bruta, aprendi isso com o tempo pois aqueles que eu desmembrava ou fervia em óleo acabavam uma hora ou outra gritando em alto e bom som que eu era dono da terra, mas aquelas palavras não tinham poder nenhum, aprendi que para que eu de fato tenha poder em um local esse poder tem que ser me dado por amor, eu sei que vocês devem estar imaginando que é muito difícil que alguém me ame a ponto de me dar tudo o que tem, mas sempre dá-se um jeito pois o amor não necessariamente tem de ser por mim. Esse lugar que hoje é chamado de Brasil constitui a maior parte deste grande continente chamado América Latina, continente este que eu não tenho poder algum, não domino nada aqui e para ser sincero único motivo de eu ter permissão de estar pisando aqui neste momento é o fato de que um de meus subordinados — ele inclinou a cabeça e piscou os olhos forma galante para sete encruzilhadas — estava aprontando uma pequena bagunça, e por isso eu fui abençoado com a licença temporária de entrar e resolver a questão. Porém eu devo deixar claro que eu poderia ter resolvido a questão muito antes, este que vocês chamam de Sete Encruzilhadas começou a aprontar algum tempo e quando eu percebi que ele estava em terras brasileiras eu acabei pensando comigo mesmo "será que se eu deixar ele fazer as merdas que quer isso poderá ao mesmo tempo me dar o prazer de impor a ele uma justificada punição a els e ao mesmo tempo a grandiosa oportunidade de estar pisando no Brasil em um momento muito oportuno?" pois este momento minhas amadas amigas é o mais oportuno de todos. Alguém sabe me dizer porque?
— Será que... é porque neste momento não tem nenhum Deus protegendo lugar? — Sarana comentou com certo receio.
— Você é muito inteligente meu amor, é justamente isso, durante muitos e muitos milênios Esta terra foi protegida com muito afinco pelos Deuses dos povos que vocês chamam de indígenas, principalmente por um Deus muito chato de nome Yamandú, mas neste momento os povos indígenas enfraqueceram tanto mas tanto após o genocídio que foram vitimados que os deuses estão tão desgostosos que por uma brecha temporal eles se retiraram daqui, é claro que uma hora eles irão retornar ou talvez mesmo os deuses africanos que andam migrando para cá irão tomar posse da terra, mas por enquanto nesses poucos dias essa terra é considerada terra de ninguém. Foi exatamente por isso que eu fiquei observando de longe Sete Encruzilhadas se aliar a essa tal de Menina e depois ambos se aliarem a uma bruxa viva chamada Sarana, depois eu acompanhei eles nesta aventura toda tentando usar vocês minhas gente senhoras como combustível na ferramenta chamada de roda das princesas, e eu devo deixar claro que este feitiço roda das princesas é terminantemente proibido e por isso minha querida bruxa Sarana existe grande chance de que eu também tenha que lhe castigar, mas não se preocupe porque eu sou muito gentil com as moças, quando as mergulho em óleo fervente ou mando arrancar seus dentes com alicates, acredite que dói mais em mim do que nelas — ele posicionou uma mão sobre o peito de modo dramático — porém vamos deixar isso para depois, eu não posso obrigá-las a me dar o direito à terra, e mesmo se ameaçá-las ou se por acaso neste curto tempo em que tenho permissão de estar aqui eu castigá-las com a afinco, isso não contribuirá em nada para os meus planos futuros, então eu vou perguntar uma coisa vocês, quem de vocês moças bonitas vai me dar a oportunidade de reinar neste continente?
As moças se moveram de maneira desconfortável nos bancos mas nenhuma disse nada.
— Não precisam ficar constrangidas, longe de mim constranger uma senhora ou uma senhorita, mas como vocês devem imaginar eu já sou... Como é que se diz aqui nesse lugar? Ah sim me lembrei, eu já sou "macaco velho" e por isso vim prevenido. — ele virou o rosto para a direção da porta e levou a voz porém de maneira muito gentil — por favor minha querida amiga entre aqui e traga o nosso trunfo.
As moças observaram espantada e um tanto quanto incrédulas um anjo de aparência feminina vestida com com uma túnica de tule rosa clara e ostentando longos cabelos dourados que caíam até abaixo de sua cintura e sendo o primeiro anjo que elas viam que exibia fartas asas emplumadas entrar na igreja segurando com o braço esquerdo um menino no colo e com o braço direito segurando a lapela do paletó de um homem que vinha com a roupa bagunçada e mancando de uma perna visivelmente ferido.
— Tranca Ruas... — Padilha sussurrou
— Mas quem é aquela criança no colo do anjo? — Mulambo também Sussurro.
— Pois então minhas nobres senhoras dessa vez eu não irei ficar zangado mesmo que vocês estejam sussurrando como gatinhos sem a minha permissão, sei que a visão da chegada destes tão nobres convidados assusta. Esta minha querida prima se chama Samyaza, ela traz o grande amigo de vocês, esse que vocês chamam de Tranca Ruas, e acreditem que ele deu um certo eu trabalho a Samyaza e por isso ele pode aparentar estar um pouco machucado, afinal de contas um pai faz de tudo para proteger um filho. — Lúcifer abriu um sorriso tão largo parecia que seu rosto ia rasgar, havia muita satisfação naquilo então para cabeça lentamente se virou e seus olhos encararam Maria Padilha — você é esperta meu amorzinho, agora o que eu quero saber é se o amor da mãe é tão forte quanto do pai.
Padilha imediatamente se levantou do assento e correu para junto da mulher anjo chamada Samyaza.
— Olha eu não gosto desse tipo de comportamento — Disse Lúcifer fechando a cara quando Padilha passou por ele — a boa etiqueta exige que se peça licença, mas como se trata de uma mãe eu irei ignorar a sua falta de respeito, afinal de contas não sou nenhum monstro. Pode ver o seu bebê mas não toque nele, se você colocar as mãos nele Samyaza ira fazê-lo chorar, e acredite que Samyaza tem um enorme talento para fazer crianças chorarem com motivo.
Padilha se aproxima o máximo que pode, nem sequer olhou para o rosto na mulher anjo que segurava seu bebê no colo, apenas ficou ali a pouco menos de um metro de distância fritando o rosto do menino adormecido no colo da anja, não tinha como não ser ele, aquele menininho era seu filho, era Filipe.
Os lábios de Padilha tremiam e seus olhos se dilatam como se quisesse chorar, porém há muito tempo suas lágrimas já haviam secado, que ela fez foi erguer a cabeça e encarar Tranca Ruas nos olhos.
— Você sabia esse tempo todo que meu filho havia se tornado um espírito e nunca me disse nada? — havia dor e profunda decepção em sua voz
— Eu... eu não sabia como te contar.
— Mentira! — Lúcifer se aproximou deles — o que aconteceu minha sereníssima Maria Padilha é que o seu amado Tranca Ruas foi o responsável por desgraçar o menino, Tranca Ruas é que fez isso com ele décadas atrás, interroguei uma bruxa magrela, uma tal de Miá, ela me disse tudo. E se hoje o seu filhinho está aqui as minhas garras vulnerável para que eu faça com ele o que me der vontade... só existe um culpado para isso... — Lúcifer deu um risinho baixo e olhou de soslaio para Tranca Ruas — Não se fazem mais pais como antigamente.
Padilha se afastou e de modo não natural caminhou com passos duros de volta para o assento olhando fixamente para frente mas sem pousar o olhar em algo realmente, sua mente parecia fervilhar em pensamentos.
— É muito triste quando as mães sofrem por seus filhos... — Lúcifer sorriu e foi até Samyaza, pegou o menino adormecido no colo e ninou balançando com falso carinho, então olhou para Maria Padilha — eu não quero mais causar aborrecimentos e por isso vou direto ao cerne da questão, estou indo embora agora irei levar comigo o meu priminho Sete Encruzilhadas e também irei levar comigo esse menino, não sou Moloque mas talvez eu aprenda os costumes dele.
Padilha sentiu o corpo inteiro arrepiado, se lembrou de seus estudos de magia sobre o antigo culto do Deus Moloque onde crianças eram queimadas vivas em um forno colocado habilmente no exato local da barriga de estátua de cobre representando o Deus chifrudo.
— Não por favor, deixa ele aqui. — ela pediu vacilante.
— Mas como eu poderia fazer isso? E se eu deixasse o garoto solto aqui sem ninguém para tomar conta? Seria muita crueldade da minha parte, talvez no inferno ele recebeu um tratamento melhor.
Padilha olhou para o chão por um segundo mas logo ergueu a cabeça
— Quer que eu faça um juramento, que em meu nome lhe dê liberdade para reinar nesta terra a qual eu nasci, morri e permaneci habitando após a morte? Eu farei isso.
— É claro que fará. — Lúcifer sorriu novamente.
— Mas não pense que comprará essa terra por um preço tão baixo. — Padilha ficou em pé e olhou fixamente nos olhos.
Lúcifer ergueu as sobrancelhas impressionado.
— Me desafia? Acha que pode me desafiar?
— Ela pode. — disse Rosa Vermelha ficando em pé ao lado da amiga — Eu posso não ser a melhor feiticeira, mas sou a melhor comerciante aqui, e Maria Padilha pode subir o preço.
— Você quer barganhar? — Lúcifer olhou para Padilha a medindo dos pés a cabeça.
— Você, e sim eu irei te chamar de você e não de senhor, tem meu filho no colo e ameaça leva-lo a queimar no fogo no inferno, porém você quer que eu te dê um país tão grande, um continente tão imenso que cabe dentro dele milhares de vezes o tamanho do território da sua preciosa Israel, terra a qual eu sei que o seu culto se originou, e sendo milhares de vezes maior do que a sua terra natal este lugar tem um preço milhares de vezes mais alto e se você não veio aqui disposto a pagar então veio aqui à toa. A sua missão aqui é ir embora levando a alma de uma criança humana para o inferno e mais nada? Se você Lúcifer acreditou que iria entrar nesta terra e encontrar um punhado de mulheres burras e amedrontadas você estava tão enganado mas tão enganado que eu me envergonho pela sua iniciativa tola.
— Que ousadia absurda é essa? — Lúcifer tinha no rosto uma expressão abismada com os lábios entre abertos como quem queria dizer algo mas não sabia mais o que falar.
— Se você quer o Brasil tudo bem, eu vendo você, mas como se diz aqui "vá se coçando". — Padilha o olhou de forma altiva e lindo o queixo encerrando os lábios.
— Quer dizer que eu tenho que pagar um preço justo?
— Exatamente.
— Então me deu o seu preço.
— Ru quero o meu filho, mas não quero ele para mim. Se bem me lembro você é aquele que possui as chaves da vida e da morte, purifique a alma do menino, liberte ele da vida espiritual terrena.
— Você está dizendo que eu devo mandar essa criança para o paraíso? Remover a maldição e dirigir ele para o descanso dos inocentes? — Lúcifer estava incrédulo.
— Deve. Mas é claro que eu não estou lhe obrigando a nada e nem poderia, se você quer fazer negócio você tem que estar disposto a pagar, caso contrário vai sair daqui apenas com um menino nas mãos e toda sua incursão e todo esse seu tempo de divertimento o qual não acredito nem um pouco que tenha sido divertido e sim algo de muito empenho até chegar até nós hoje, não terá valido de nada. Lúcifer você não entrou aqui para arrebanhar ovelhas perdidas ou vira-latas, você entrou aqui para lidar comigo e se eu me chamo Maria Padilha como de fato me chamo, leve as coisas que estou lhe dizendo a sério.
— E quais seriam suas outras exigências Dona "Maria Padilha a sério"?
— Se eu entregar a ti o poder sobre essa terra você deve me recompensar altura, eu quero poder e autoridade não só para mim mas para todas essas minhas amigas que estão aqui comigo hoje.
— Absurdo! — gruniu Samyaza.
— Querem ocupar um cargo, ter um título na minha corte? — Lúcifer balançou a cabeça compreendendo.
— sim, o máximo de respeito possível.
— grã-duquesas do Brasil?
— Princesas.
— Ah que piada.
— Não é uma piada e você esta entendo muito bem.
— Estou... E o que mais você quer? — o ar demagogo ou debochado de Lúcifer desapareceu e agora realmente negociava sério.
— Um acordo de que não irá cair sobre nós a sua ira após o fim dessa negociação. Sei que está extremamente revoltado com a minha postura aqui e que na sua cabecinha angelical está maquinando as maneiras de se vingar de mim e de minhas amigas, mas eu quero um acordo formal de que não levantará espada contra nós nem se vingará de forma alguma.
— Então deixe bem claro quem são suas amigas.
— Minhas amigas que eu me refiro são as que são como eu, me refiro a mim mesma Maria Padilha, as sete saias, a cigana Sara, a Rosa Vermelha, a Rosa caveira, Maria navalha, a minha irmã Maria Mulambo. E também como um ato de reparação eu estendo essa beneficie a Maria Quitéria.
— Pois então que seja, purificarei a alma do garoto e o enviarei ao lugar onde as almas das crianças descansam, em troca disso você e suas amigas terão uma posição de autoridade na minha corte, serão chamada "Princesas do Brasil" e suas opiniões serão levadas em consideração por isso, e também não irei me vingar de vocês de forma alguma, pelo menos não por um longo tempo.
— Temos um acordo? — Maria Padilha estendeu a mão para ele.
Lúcifer olhou aquele gesto com muita curiosidade.
— Curioso, a poucos anos uma princesa viva trouxe liberdade a essa nação, e hoje uma princesa morta faz o contrário. — ele estendeu a mão livre e apertou a dela. — eu aceito, o acordo está selado.
Maria Padilha soltou o aperto de mãos e esticou os braços erguendo as mãos para tocar em seu menino que ainda estava no colo de Lúcifer mas quando a ponta de seus dedos chegaram próximo a ele a figura de Filipe se iluminou e desapareceu.
— Ah eu compri a minha parte do acordo, o purifiquei e o mandei para um bom lugar. Em nenhum momento do nosso acordo você mencionou que gostaria de um tempo para se despedir do seu rebento. — Lúcifer riu cheio de maldade encarando rosto gélido de Maria Padilha
— O que importa é que ele está bem. — ela disfarçou bem a dor que estava sentindo.
— Agora faça o juramento e me conceda poder sobre essa terra.
Maria Padilha colocou a mão direita sobre o coração e começou a falar:
— Eu que quando nasci foi batizada de Suzana mas que quando me tornei uma mulher adulta escolhi o nome de Maria Padilha, nasci, cresci e morri nesta terra e por isso sou parte dela, eu assim como todos os outros milhares e milhões que nasceram cresceram e morreram aqui São donos do lugar e se eles não falam eu falo por todos eles, de acordo com as questões estabelecidas e em troca delas por nosso acordo firmado eu concedo a você Satanás o direito de ter poder aqui no Brasil e em todo o continente tal qual tu ten poder em qualquer outro lugar.
Uma brisa assoprou sobre Lúcifer como se viesse de baixo para cima inflando sua camisa e bagunçando seus Dourados cabelos, ele fechou os olhos extasiado pelo frescor que o poder lhe trazia, passado esse momento ele abriu os olhos inclinou a cabeça em um comprimento e agradeceu.
— Minha eterna gratidão minha amabilíssima senhora. Mas como a senhora sabe eu sou o diabo e a coisa que o diabo mais gosta é diversão.
— Mas e o nosso acordo?
— O acordo que eu fiz com você protege você e suas amigas, e é claro que eu não irei tocar na maldita velha — Ele olhou com desdém para Doralice — ela não me interessa tão pouco a serpente ali desacordada, mas quando você fez o acordo não incluiu proteção sobre menina e Sarana, e elas me afrontaram muito afinal de contas tentaram fazer a roda das princesas e toda essa questão aqui se deu por conta da roda das princesas, e quem tenta fazer uma roda de princesas merece... castigo.
Lúcifer ergueu a mão e apontou para o telhado da igreja, dale despencaram duas vigas de madeira as quais rapidamente flutuaram no ar e se posicionaram como uma cruz, uma atravessando a outra, então com a outra mão ele agitou o ar na direção de Sarana que deu um grito agudo e foi atirada para cima batendo contra a cruz que flutuava a cerca de um metros e meio do chão. Grandes pregos se desprenderam das vigas do telhado e flutuaram para baixo, como se fossem projéteis disparados por uma pistola eles se encravaram nos pulsos e nos pés de Sarana aprendendo na cruz, os gritos dela eram horríveis.
— Não! Nããããão! Por favoooor! Eu não vou fazer mais nada de mal! Eu juro!
— A moça bela, os cranios das crianças que voce matou estão pedindo justiça... não as ouve clamar? Pois quem se não eu, o redentor do mundo, iria fazer justiça a elas?
A cruz lentamente girou até deixar Sarana de cabeça para baixo, então o chão se abriu, o assoalho de madeira estralou um grande buraco soltando Labaredas gigantescas de fogo vermelho Apareceu à vista de todos, as moças muito assustadas não conseguiram evitar de olhar para dentro e no fundo do buraco havia um mar de fogo. Lúcifer abaixou a mão e a cruz desceu pelo buraco enquanto os gritos de Sarana eram ouvidos, em seguida Lúcifer apontou para Menina e fez um gesto de expulsão com as costas da mão, Elen foi empurrada para o buraco e caiu lá dentro, antes de cair se agarrou na borda e começou a clamar por socorro, clamava para quê Sete Encruzilhadas a ajudasse, mas Sete Encruzilhadas virou o rosto e não fez nada. Lúcifer se aproximou da borda do buraco e pisou nos dedos de Menina a fazendo soltar e despencar entre as chamas. O buraco se fechou e de forma miraculosa o assoalho voltou a estar íntegro como antes, como se jamais houvesse sido queimado ou se aberto em um portal para o quinto dos infernos. Sobre ele pousava uma colher de pau.
❤ - VII
Lúcifer fez uma reverência para as moças como se nada tivesse acontecido ignorando totalmente o fato de todas estarem tremendo e algumas paradas em posições estranhas, paralisadas pelo terror do que tinham acabado de ver acontecer.
— Agora me despeço, mas tenho certeza que em breve nos veremos de novo.
Ele virou as costas e caminhou em direção à porta da igreja , Samyaza soltou Tranca Ruas e imitou o gesto. Quando Lúcifer chegou no batente da porta e olhou para trás e fez um som com os lábios tão qual o som que se usa para chamar um cachorro, Sete Encruzilhadas abaixou a cabeça e o seguiu, os três passaram pela entrada da igreja e se retiraram desaparecendo na noite.
Doralice Correu para socorrer as duas crianças que ainda estavam ali aterrorizadas pois também haviam presenciado toda aquela cena inclusive o garoto desmaiado estava já estava acordado e tinha os olhos arregalados lacrimejando de puro terror.
Tranca Ruas se aproximou de Maria Padilha, tentou dizer algo mas ela ergueu a mão pedindo silencio.
— Sem ódio meu caro, se você pensa que eu iria te odiar está muito enganado. Mas você fez mal meu filho, e não interessa que ele também fosse seu filho, e não interessa qualquer história que você tenha a me contar dando justificativas, a única verdade aqui é que se não fosse a minha coragem é a minha inteligência o meu filho estaria nas garras do diabo, e para que eu o salvasse nem sequer pude dar um beijo de despedida. Tranca Ruas, nunca mais me toque e nunca mais se atreva a olhar nos olhos. Como eu disse, aqui não haverá ódio contra você assim como também nunca mais existir amor. Esse é o preço pago na roda das princesas.
As moças seguiram Padilha quando ela se retirou, todas caladas absurdamente impressionados com feito dela naquela noite, Kainana permaneceu dentro da igreja se recuperando pois estava tão ferido que mal conseguia se mover então Doralice ou enfeitiçou para que voltasse a ser uma serpente pequena e o colocou no bolso de seu sobretudo, recolheu também a Colher de Pau no chão e guardou no outro bolso interno da veste junto com o cetro do Dourado. Uma de cada vez ela colocou as duas crianças sobreviventes em cima da charrete, subiu nela e a égua começou a puxá-la.
Por mais que houvesse muito a se dizer pouco foi dito naquela noite pois foi sim uma noite de Vitória mas ao mesmo tempo uma noite de derrota.
E assim se encerrou a roda das princesas, mas isso não era o fim e sim o início de uma longa jornada.
— E o que será de nós agora nessa terra dominada pelo Mal? — perguntou Sete Saias em voz baixa.
— Nós vamos sobreviver, sempre sobrevivemos e agora mais uma vez nós seremos a luz na noite. — disse Maria Padilha com queixo erguido.
Doralice brecou a égua, a carruagem parou no meio da estrada, e ela ainda de costas disse para as moças que estavam todas sentadas na parte de trás:
— uma mãe que perdeu um filho hoje. Não há dor como essa, mas essa mãe tem que saber que foi Valente hoje, e tem que saber que não está sozinha.
Uma uma todas as moças se achegaram a Padilha e aquilo se tornou um grande abraço, todas juntas se embolaram e até mesmo Quitéria abraçou a todas inclusive sua grande desafeta que agora já não era mais vítima de seu ódio.
E Maria Padilha entre aquele abraço pela primeira vez em muito tempo se permitiu chorar.
Como custou caro a roda das princesas...
Fim.
❤ -
Obrigado a todos que acompanharam essa história o que finalmente foi concluída oito anos de seu lançamento original.
E todos vocês meus queridos leitores não precisam ficar preocupados ou com sensação de carência pois assim como Roda das Princesas foi reescrita agora no ano de 2021 e finalizada hoje dia 14 de janeiro de 2022, o segundo conto que é a continuação desse também será reescrito e lançado muito em breve, a linha do tempo sempre continua e essa série de contos se chama URDIDURA DAS FEITICEIRAS, Roda das Princesas foi o conto número UM e em breve o número DOIS chamado "Flor a Flora" será publicado muito em breve para o deleite de todos vocês.
Felipe Caprini
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Obrigado
Nossa me arrepiei toda me emocionou como minha rainha é uma mulher sabia e valente gratidão pela essa linda história axé
ResponderExcluirEmpolgante! Adoreiiiii! Parabéns Felipe! Agora aguardar ansiosamente a continuação. 👏👏👏👏😍
ResponderExcluireu simplesmente estou apaixonada por esse conto ansiosa pelo próximo
ResponderExcluirParabéns Felipe! Deu até tristeza de não ter mais um capítulo dessa empolgante história. Lerei tudo novamente, porque o que é bom é para se repetir várias vezes. Olorum modupé, que babá mi Exu te apresente sempre os bons caminhos da vida longa com saúde, prosperidade e muitas alegrias.
ResponderExcluirParabéns foi lindo
ResponderExcluirVc captou muito a personalidade das pombagiras,manoooo Maria padilha barganhou com o diabo ,sempre fazendo o bem sem ser o foco da ação
ResponderExcluirParabéns! Parabéns! Parabéns!
ResponderExcluirValeu o tempo esperadooo