RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 22
Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS
Capítulo 22
"Etére Mitai"
❤ - I
O gigantesco corpo da Deusa estava tombado, o pescoço aberto em um rombo se esvaíndo em sangue vermelho escuro como vinho, várias de suas enormes jóias estavam espalhadas pelo local e os dedos de suas mãos ainda tremiam em espamos. Todas as pessoas da ilha fugiram, ao ver a nova rainha cair tão facilmente os cidadãos de Shambala creram que as moças eram Deusas também, profundamente apavoradas as pessoas entraram nas construções e trancaram as portas, em segundos o lugar estava deserto. Maria Padilha das Sete Saias estava ali diante de todas que a observavam com expressões de espanto nos rostos.
Quitéria rompeu o silêncio:
— Bom, temos que sair daqui antes que a Deusa se levante, e eu não acho que vá demorar para ela se recuperar.
— Eu ainda estou atónita, nunca imaginei estar em uma situação assim... — disse Dama da Noite.
Praiana olhou em volta contando as moças.
— No meu barco não caberão todas, e ainda tem aquele menino ali. — ela apontou para Tetemburu.
— Me poe no seu colo loirona, ai eu não ocupo espaço.
— Abusado! — ela riu para ele.
Maria Padilha das Sete Saias passou as mãos pelo vestido distraidamente:
— Eu não irei no barco, apenas me aponte a direção correta e eu vou sozinha. Isso vai liberar espaço para o menino Tetemburo.
Tetemburo veio caminhando com as mãos na cintura e a barriga saliente projetada para frente com um sorriso sem vergonha no rosto.
— Na verdade eu não preciso de barco, credo credo... Se eu der um gole no sangue dessa grandona ai eu vou ter força pra viajar pra qualquer lugar com a minha nuvem de fumaça, chego inté na lua se bobear. Sangue de Deusa espalhado no chão é coisa rara de se ver.
— Então vamos nos apressar e partir. — disse Sarah ainda tremendo pelo nervoso.
— Moças... um cadinho de atenção aqui, sim? — pediu Tetemburu — Antes vocês tem que prestar atenção em mim, eu tenho uma coisa pra dizer e... Eu acho que é importante.
Quitéria andou até onde a ânfora estava caida, a apanhou do chão, assoprou as partes onde ela estava suja de pó.
— Viemos aqui pra pegar isso e nessa confusão ela quase se quebrou. Sorte ela ter caido na terra fofa, se ela tivesse batido em alguma pedra poderia ter estilhaçado e se isso tivesse acontecido o tal camurça ia ser destruído...
Dama da Noite suspirou fundo e disse com a voz irritadiça:
— Mulher pela milésima vez eu vou dizer, o nome dele é VELUDO! VE - LU -DO!
— Veludo, cetim, camurça... São tecidos bregas, ainda mais se tratando do nome dr um homem... Tanto faz.
— Não, ele tem esse apelido de veludo porquê era um ladrão, sabe a expressão "mãos de veludo" ? Então, é por isso, ele roubava sem que as pessoas dessem conta, e jamais desconfiavam dele.
— Ei! Alguém ai me ouviu? Eu disse que preciso falar uma coisa importante! — disse Tetemburu impaciente.
Dama da Noite se abaixou ao lado dele e apertou as duas bochechas do menino.
— Você foi corajoso hoje! E como está ficando forte seu lindinho! Como conseguiu trazer Sete Saias até aqui? Eu pensava que so podia fazer transporte em curtas distâncias.
Tetemburo deu uma risada alta orgulhoso de si mesmo:
— Usei aquela cova no cemitério pra dar mais força. Mas agora tenho contar uma coisa que é importante.
— Eu estou toda dolorida, odeio me transformar naquela coisa. — disse Rosa Caveira.
— Mas foi um tanto impressionante sua transfiguração em esqueleto, me deixou pasma. — Quitéria elogiou.
Tetemburo berrou a pleno pulmões:
— Malditas vacas surdas!
Todas as moças olharam para ele e Dama da Noite o repreendeu:
— Que modos são esses moleque? Não gosto desse comportamento!
Ele olhou para Dama da Noite e piscou as pestanas todo charmoso:
— Não princesa, vacas são as outras, eu nunca ia te chamar de nome feio não...
Quitéria estava de costas pro menino, ela ainda examinava a ânfora para ver se estava rachada.
— Diga logo toco de pau podre, o que é de tão importante que você tem pra falar?
— Sabe aquela mulher que anda com vocês, aquela descabelada que usa calça como se fosse um homem?
— A Maria Navalha? O que tem ela? — Dama da Noite perguntou.
— O diabrete pegou ela, ta presa em uma estrela enorme desenhada no chão. Sabe aquela igreja velha que ta abandonada faz tempos lá no morro da terra vermelha? Lá perto de onde tem o velho cemitério de escravos? Então, é lá que a moça ta presa, e ele ta judíando dela.
Todas as moças se aproximaram para ouvir melhor, Maria Padilha das Sete Saias perguntou:
— Quem é Diabrete?
— Sete Encruzilhadas. Ele não é um Exu, ele já foi um anjo há alguns milênios atrás e por isso Tetemburo sempre o chama assim, diabrete. — disse Dama da Noite.
— Se foi um anjo naturalmente ele é um demônio agora, não é isso? — Sarah perguntou.
— A coisa está se complicando. Agora uma de nós foi raptada por um demônio? Porque? Para quê? Me diga menino, como sabe disso?
— Ele me pegou também, mas eu não fico preso em estrelas desenhadas no chão. Ele me pôs em uma e eu fingi que tava sem saida, quando ele se distraiu eu viajei na minha nuvem de fumaça e me escondi. Eles acham que eu sou uma alma morta como as outras, mas eu não sou. — Tetemburu bateu no peito para mostrar que era forte.
— E como ele estava judiando dela? Como ele fazia isso? — Quitéria perguntou.
— Não era ele, ele so largou ela lá na igreja abandonada, quem judiava era uma mulher viva que fazia tudo o que ele mandava. Ela tinha uma colher de pau bem grande e talhada, eu nunca tinha visto uma colher de pau tão bonita. Quando ela apontava a colher pra essa moça de calça ela falava umas palavras estranhas e a moça berrava de dor e se contorcia como se fosse uma minhoca.
— Colher de pau... Ela era viva mas podia ver o demônio... falava palavras estranhas... — Quitéria pensou em voz alta.
Maria Padilha das Sete Saias interrompeu:
— É uma bruxa, só pode ser uma bruxa.
— Sem dúvida, e pelo visto ela estava interrogando a Navalha. Me diga menino, consegue lembrar as palavras que ela usava pra ferir a Navalha? — Quitéria perguntou.
Tetemburo pós um das mãos na testa e com o dedo indicador dava leves toques na cabeça para mostrar que estava pensando.
— Eu acho que era "lacraía intala porca"!
— O quê? — Rosa Caveira estranhou.
Quitéria entregou a ânfora para Dama da Noite e então cruzou os braços abaixo dos seios.
— O correto é "Akraía Talaiporía", e isso é um feitiço que castiga o espírito, causa dor. Se ela apontava uma colher de pau para ela, esta colher é uma matertua, uma ferramenta de bruxa pra aumentar o poder dos feitiços. Eu ja vi todo tipo de matertua, anéis, bengalas, báculos, varas, colares, cetros, coroas, mas eu nunca havia visto uma bruxa usar uma colher, deve ser para não levantar suspeitas... Vamos sair daqui, vamos voltar para o continente, abrir essa ânfora e depois ir lá libertar a Maria Navalha.
— Por favor Praiana, Me diga pra que lado devo ir, eu vou partir agora, estou começando a me dividir e quero aproveitar enquanto estou desse modo. — Maria Padilha das Sete Saias.
Praiana apontou o dedo indicador para o sul:
— Siga para lá sem desviar, vá reto e chegará na minha praia.
Maria Padilha das Sete Saias se agachou, olhou para o alto esticando o pescoço o máximo que podia e de repente deu um salto altíssimo que alcançou a cúpula de água no céu da ilha e de tão longe que subiu. Ela rápidamente desapareceu da vista das outras moças.
— É seguro ela ir sozinha? E os perigos do mar? — Dama da Noite esticou o pescoço para observar o salto daquela mulher.
— Ela não está sozinha, ela é duas em uma esqueceu? — Praiana sorriu.
— Uma legião de espíritos não é exatamente uma soma de força e sim uma multiplicação, ela gera força indeterminada, massiva e intensa de modo que alcança um novo nível. — disse Quitéria.
— Vamos logo embora, falamos mais quanto chegarmos ao continente. Tetemburo se apresse tambem, me encontre na praia. — disse Dama da Noite.
Tetemburo assentiu acenando com a cabeça, ele caminhou até um poça do sangue que escorria do corpo da Deusa, molhou um dedo no líquido, pôs na boca e se explodiu na sua costumeira nuvem de fumaça.
Dama da Noite, Quitéria, Sarah, Rosa Caveira, Tetemburo e Praiana foram para o exato lugar no qual haviam aportado e entraram no barquinho dourado. Elas partiram de volta para as terras do continente através de uma grande onda que levava as embarcações para a superfície.
❤ - II
Na Praia Sete Catacumbas surgiu de trás das pedras e marchou rumo a onde Menina estava, porém um abutre deu um razante diante delas, Menina o tocou e imediatamente foi sugada para dentro do bicho desaparecendo.
— Sete Encruzilhadas é muito habil manipulando essas aves... — Sete Catacumbas murmurou.
— Você ainda vai continuar aliada a ela? —Rosa vermelha perguntou.
Sete Catacumbas olhava fixamente para céu, seus olhos acompanhavam o abutre que ja estava longe.
— Aquela ave estava possessa por um demônio. Eu sabia que Menina estava associada a esse tipo de coisa, o que eu não sabia que ela era uma traidora.
— Pelo visto você e as suas amigas não sabiam de muita coisa.
— Quer que eu te leve até bruxa? Até a criança?
— Sim, mas não agora. Nos precisamos falar com Quitéria primeiro, e eu não sei como lidar com bruxas, quando eu era viva o meu jeito era resolver as coisas na base da bala, magias e afins eu usava de forma comedida.
Sete Catacumbas olhou para o chão e ficou em silêncio por um minuto.
— Quitéria... As coisas se complicaram...
Nessa momento um enorme estrondo ecoou vindo do mar e um vulto negro se aproximava correndo sobre as ondas em extrema velocidade.
Sete Catacumbas e Rosa Vermelha se colocaram em posição de combate, mas quando o vulto chegou na praia Rosa reconheceu a figura.
— Quem é você? Eu te conheço?
— É uma mulher... Mas quem é ela? É uma de suas amigas? — Sete Catacumbas perguntou.
A mulher chegou até a areia da praia e nada disse, apos dois passos em terra firme a pele dela começou a ficar vermelha e a rachar como porcelana se quebrando, os olhos reviraram, ela caiu ajoelhada e de repente estourou em uma explosão que causou uma onda de choque tão forte que Rosa Vermelha e Sete Catacumbas cairam para trás batendo as costas no chão.
Quando Rosa se levantou ela pode ver duas mulheres caidas no local da explosão e as identificou.
— Padilha? Sete Saias? O que aconteceu com vocês? Pra onde foi aquela mulher? Ela as atacou?
Padilha e Sete Saias estavam esbaforidas, arfavam de tão cansadas. Padilha ainda deitada na areia respondeu:
— Nós duas eramos aquela mulher...
— Duas em uma? Uma Legião? — Sete Catacumbas ajeitava o vestido ao se levantar — Nossa agora sim vocês subiram no meu conceito.
Sete Saias olhou para Sete Catacumbas e depois para Rosa Vermelha.
— Rosana o que essa cadela esta fazendo aqui?
— Nós temos muito o que conversar, mas vamos esperar as outras chegarem. — disse Rosa Vermelha.
— Onde está Menina? Ela esta bem? — Sete Saias olhou em volta como se sentisse a presença dela.
— Ela? Ela está Ótima. — Rosa Vermelha usou tom de sarcasmo.
Sete Catacumbas deu as costas a elas:
— Eu preciso ir falar com Rainha e com Figueira, elas precisam saber as coisas que eu ouvi aqui hoje.
— Mas você vai nos ajudar a encontrar a bruxa, não vai? — Rosa Vermelha perguntou.
Sete Catacumbas já caminhava em direção as ruas, ela acenou com a mão e disse:
— Sim eu vou levar você até Sarana. Mas Para enfrentar uma Bruxa viva vocês vão precisar de outra bruxa viva que lute por vocês. Comente isso com a Quitéria e ela vai explicar tudo.
— E quando nos vemos agora?
Sete Catacumbas ja estava no calçadão e respondeu gritando:
— Amanhã, assim que o sol se por nos veremos na casa de Dama da Noite. Avise as suas comparsas que eu e minhas amigas não somos mais suas inimigas.
❤ - III
A noite se foi, o dia raiou e se pôs novamente. As moças voltaram da ilha e se reestabeleceram, como Sete Catacumbas havia pedido elas se reuniram na casa de Dama da Noite no alto do morro, a única exceção foi Praiana que escolheu ficar em paz na praia e não se envolver mais nos assuntos das moças.
Então todas estavam lá e Rosa Vermelha ja havia contado sobre a traição de Menina. Quando as três chegaram elas foram recebidas com cautela, afinal ate aquele momento elas não eram consideradas de confiança.
Maria Quiteria estava se apresentou, trajada com um vestido vermelho vivo sem mangas e um espartilho de couro negro com a amarração nas duas laterais feita a fita de seda da mesma cor da saia, cabelo estava cacheado e bem volumoso, ela usava este visual quando queria se mostrar de un modo mais simples, o tecido do vestido era um comum algodão sem estampas, não usava nenhuma maquiagem além de lapis preto na linha d'água dos olhos e suas unhas eram compridas e pintadas de negro. Já Sete Catacumbas estava com seu cabelo preso em um coque no alto da cabeça com uma magnólia rosada fixada nele por um agulhão de prata, usava enormes brincos do mesmo metal em forma de triângulo, seu vestido era branco em malha fina pesada e a saia ostentava pequenos babados na barra, usava um cinto largo de couro branco na cintura e os bicos finos de seus sapatos de tom creme ficavam a mostra quando ela caminhava.
Quitéria estava sentada em uma cadeira de vime rodeada pelas outras moças também sentadas e dispostas em círculo, todas com as pernas cruzadas, nenhuma delas não fez questão de se levantar quando Sete Catacumbas e as outras duas entraram.
Maria Padilha que estava radiante em um vestido tomara-que-caia em um azul tão escuro que se confundia com o preto tomou a frente e começou:
— Ora Ora Ora... Nubia... Ouvi muitas historias sobre você quando eu era pequena. Dona Quitéria sempre a teve em grande estima.
— Nas palavras? Achei que ela só me estimava em cima da cama. — Sete Catacumbas olhava fixamente para Quitéria e mas claramente se dirigia a Padilha — Ouviu falar sobre mim? Não me espanta, afinal eu sou uma grande Bruxa, Senhora das Sete Catacumbas. E você querida, a única coisa que eu soube é que você era uma prostituta que virou churrasco, fora isso não sei nada mais.
— Falou de churrasco porque? Sua mente ja pensa logo em carne, não é? Batedora de bife! — as moças soltaram risinhos baixos desviando o olhar — Nossa onde esta aquela delicadeza que me mostrou na primeira vez que te vi? Como esta amarga, será que é ciume da sua antiga namoradinha?
Mulambo sorriu e entrou na conversa:
— Se não gosta de prostitutas... Desculpe falar mas você está no lugar errado, aqui só tem vadias.
— E cada vez chegando mais... — Disse Dama da Noite.
Todas as moças sentadas deram uma alta gargalhada com exceção de Quitéria que continuava séria.
Figueira foi até o meio do Salão:
— Vamos acabar com isso logo que estar aqui me aborrece.
— Engraçado, era isso que falavam seus clientes quando entravam com você no quarto. — disse Padilha seguida de mais gargalhadas das moças.
— Ha ha ha! Quanta graça... — Figueira entortou os lábios desgostosa — Vou contar tudo o que sabemos sobre Menina e depois vamos embora.
— Diga, comece a falar. — pediu Quitéria.
Figueira suspirou e começou o relato:
— Eu morri faz muito tempo. Rainha morreu bem antes de mim, por uma coincidência do destino nos encontramos na morte e quando nos conhecemos aqui nós passamos a andar juntas. Nós duas pesquisamos por décadas um metodo de voltar a viver, mas mulheres que usam de magia negra durante a vida ficam estagnadas após a morte, nós fomos condenadas a ser eternos fantasmas.
— Eu também fui uma bruxa meu bem, e aqui nesta sala todas tiveram algum contato com magia negra, todas nos estamos nesse barco. — disse Quitéria — Porém nenhuma de nos teve intenção de reencarnar burlando a ordem natural da Roda das reencarnações.
— Nenhuma de vocês? Tem certeza? Não se lembra que antes Helena estava do nosso lado?
Dama da Noite estava toda em dourado, seu vestido era de paetês reluzentes e o decote em forma de coração deixava seus seios maiores do que je eram.
— Figueira eu já expliquei a elas tudo o que iria acontecer, e graças a elas recuperei a anfora onde Veludo estava preso, você está aqui para falar de novidades e não para fazer suas fofocas maledicentes.
Neste momento Rainha interrompeu com uma risada de deboche e falou:
- Explicou tudo o que? Você nunca soube da profundidade da situação, você era só um joguete na nossa mão!
— Eu um joguete? Quem levou aquela surra de Quiteria ao lutar por algo que nem ao menos tinha certeza? Você! Você se gaba tanto por ter sido uma bruxa, mas eu pergunto não existe nenhum feitiços que aumente a inteligência, afinal é o que você mais precisa sua Bruxa Burra!
Rainha apontou o cetro dourado que carregava para Dama da Noite e fez menção de falar algum feitiço, mas Sete Catacumbas a empediu.
— Tenho duas perguntas a fazer, primeiro, onde está Maria Navalha e porque ela esta sendo interrogada? Segundo, eu ja tentei de tudo para abrir aquela Ânfora mas eu não consigo, como ela abre? — perguntou Quitéria.
— Não existe nenhum interrogatório, Sarana apenas esta retirando dela força necessária para dar início ao feitiço, mas se ela se recusa a entregar a seu poder então ai a feiticeira usa de meios para obriga-la. Quanto a essa ânfora, foi Sarana que fechou, so ela ou uma outra bruxa tão forte quanto poderá abrir. É necessário ter sangue correndo das veias para desfazer o que foi feito, tem uma suástica de Saraswati no interior da tampa, nos que estamos mortas não podemos com isso. — Rainha pronunciou como se aquilo fosse óbvio.
— Quem está por trás de Menina? Rosa Vermelha disse que é Sete Encruzilhadas, mas eu quero saber de uma vez por todas quem exatamente é ele e os motivos disso tudo.
— Sete Encruzilhadas... Antes ele raramente aparecía, dizia estar apaixonado por Menina e por isso a ajudava, não sei os motivos reais dele. — disse Sete Catacumbas.
Mulambo agarrou os braços da cadeira e se projetou para frente como se quisesse dizer algo. Quitéria perguntou:
— O que foi Mulambo?
— Ele veio até mim no dia em que eu acordei, foi ele que me acordou.
— Sim, Menina indicou você e a sua irmã para serem o norte e o sul, vocês seriam colocadas em posições opostas dentro da Roda das Princesas. Mas você não estava aqui, mesmo que a sua ultima vida tivesse sido conturbada e que você tivesse sim tido total contato com magia negra, ainda assim Mulambo você iria reencarnar. Sete Encruzilhada foi até você e a trouxe para cá, ele fechou as portas para a sua nova vida e te enclausurou aquí na morte junto com as demais.
Mulambo olhou para Quitéria e perguntou:
— Isso é mesmo possível? Eu estava dormindo em um lugar cheio de fogo, mas mesmo assim eu estava em paz.
— Não sei, não entendo das leis da vida, mas diga, o que ele te falou quando foi até você?
— Ele me instigou a ir atrás dela. — Mulambo apontou para Padilha.
— Exatamente como o previsto. — Sete Catacumbas falou.
— Sete Encruzilhadas é que está atrás de tudo isso, Menina não teria sabedoria para fazer tantas coisas. — Quitéria disse.
— Sim. E tem a questão... das crianças. — Disse Rainha.
— Que Crianças? — Perguntou Sarah.
As três bruxas se entreolharam.
— Sarana, a bruxa viva que está cooperando com Menina... bom, a questão de Menina reencarnar se faz necessário o uso do corpo de uma criança, neste corpo a alma de menina será inserida. — Disse Sete Catacumbas.
— Na verdade eram cinco crianças, uma para cada uma de nós. Voltariamos a viver através dos corpos delas. — Disse Rainha.
—Eram? — Sarah perguntou.
— Eram. Ontem mesmo nós espreitamos a Bruxa e...
Quitéria levantou um das sobrancelhas e disse:
- Deixe que eu advinhe... A tal Sarana testou as crianças e elas não sobreviveram.
— Restou viva uma, a que Menina iria usar para reencarnar, as outras quatro... — Figueira engoliu em seco — os testes... fizeram mal a elas, foi necessário sacrifica-las.
Todas as moças ali ficaram estarrecida com aquilo.
— Sacrifica-las? — Rosa Caveira ergueu a voz — Como se faz com um cavalo com a patas quebradas?
— Exato. — respondeu Rainha.
— Isso passa de todos os limites. — disse Maria Mulambo enojada.
— Essa Sarana... ela parece ser muito forte, precisamos de uma bruxa viva a altura para conseguir enfrenta-la, mas eu não conheço nenhuma.
— E as mães de santo? Conhecemos varias. Nenhuma delas serve? — Dama da Noite perguntou.
— Ser mãe de Santo é simplesmente ser médium e sacerdotisa, ser bruxa é algo diferente. — disse Quitéria.
— Eu conheço uma Bruxa, ela está muito velha mas ainda é forte. — disse Sarah.
— Você pode me levar até ela? — pediu Quitéria.
— Sim claro, agora mesmo.
Rosa Caveira falou agora diretamente com Sete Catacumbas, Figueira e Rainha:
— Vocês agora estão do nosso lado?
— Não. — disseram as três em uníssono.
— Nós estamos contra Menina assim como vocês, mas não lutaremos. — disse Sete Catacumbas.
— Mas... Eu vou oferecer algo a vocês que será muito útil. — disse rainha.
— E o que seria? — Sete Saias perguntou.
— Isso aqui. — Ela mostrou o cetro dourado que trazia nas mãos.
— Ah sim... perfeito. — Quitéria sorriu interessada — Você sabe onde está a original?
— Original? Como assim? — Dama da Noite perguntou.
— Este cetro aqui nada mais é que uma memória minha, — Rainha acariciou a peça — eu usava ele quando era viva e por isso carrego essa lembrança dele aqui na morte. Porém o real ainda existe, dentro dele tem pedaços do osso fêmur de sete bruxas antigas amarrados com meus próprios fios de cabelo e tudo isso foi banhado em lágrimas da uma princesa viúva antes da noite de núpcias e dormido por sete luas grandes nos olhos de Selene. A parte de fora também foi forjada para ser resistente, e estas duas pedras encravadas nele são ametistas. Se vocês realmente conseguirem uma bruxa para enfrentar Sarana, a minha matertua vai ser fundamental, a colher de pau dela não tera chance contra a minha ferramenta.
— Quem dera eu ainda tivesse a minha... — Quitéria olhou por um segundo para o dedo anelar da mão direita de Sete Catacumbas — Então Rainha, traga até nos essa arma. Enquanto isso eu e Sarah iremos até a bruxa que ela conhece, presumo que não vai ser fácil fazer uma Bruxa lutar contra outra, vou ter que usar muita persuasão.
Cada uma das moças se dispersou, tomaram seus rumos e foram se preparar para o que estava por vir, mesmo que nada fosse certo ainda elas sabiam que em breve se envolveriam em uma batalha.
❤ - IV
— AAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!
O grito agudo cheio de dor e sofrimento ecoava pelas paredes da velha igreja em ruínas.
— Você devia se orgulhar de si mesma, é muito resistente. Meus parabéns! — Sarava caminhava lentamente em torno do cirulo desenhado no chão, o som dos tamancos de madeira batendo contra o piso parecida o tic-tac de um relógio.
Ali no centro dele encolhida em posição fetal estava Maria Navalha arfando.
— Precisa mesmo disso? — Menina balançava as pernas sentada sobre o que havia sobrado do altar.
— Ela me desafia, se recusa a cooperar. Garotas malvadas merecem ser castigadas! — Sarana apontou a colher de pau para o alto — Etére Mitai!
Após a ladainha ser pronunciada
Uma luz forte como a de um relampo atingiu Maria Navalha que tremia enquanto berrava a plenos pulmões, a dor era intensa, insuportável.
— Entregue o seu coração!
— Nunca! — Navalha berrou.
— Você tem um coração de diamante... mas até os diamantes podem ser quebrados... Etére Mitai!
— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!
Envolvente como sempre! Tão vívido, que sinto estar presente. Parabéns Felipe Caprini! 👏👏👏
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