RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 19
Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS
Capítulo 19
"Já não cabe mais ser dissimulada"
❤ - I
Toda a multidão se dispersou para dar espaço a Deusa, Quitéria e Sete Catacumbas estavam em um ferrenho combate, as garras a todo momento se chocavam contra a lâmina da espada, os golpes eram poderosos, a praça perecia com muitas árvores tombadas e quase todas as placas de marmore do pavimento rachadas, porém quando as duas ouviram a voz da deusa pararam a luta.
— Quem é esta que grita? — perguntou Sete Catacumbas virando o rosto para a direção de onde vinha o som.
— É Parvati, a nova rainha desta ilha. — disse Quitéria.
Sete Catacumbas agora com uma expressao de surpresa e medo estampada no rosto perguntou:
— Parvati? Uma mulher chamada Parvati?
— Não tola Núbia, só existe uma Parvati, a esposa de Shiva e mãe de Ganesha.
— A propria? — Sete Catacumbas se desesperou.
— E ai? Vai prestar homenagens a ela?
Sete Catacumbas deu as costas e correu na direção onde estava Figueira e o corpo inerte de Rainha, pegou o corpo inerte no colo e apoiou Figueira pelo ombro para que pudesse ficar em pé.
— Não é um bom lugar, nao é uma boa hora. Quiteria estou batendo em retirada mas logo vamos nos encontrar de novo.
Sete Catacumbas correu para a colina indo em direção a praia, estava deixando a ilha, estava vergonhosamente fugindo.
Os pesados passos da Deusa foram se aproximando, os estrondos de suas pisadas no solo era assutador. Quiteria jogou a cabeça para tras e escancarou a boca novamente, introduziu a espada na garganta e a engoliu.
A Deusa chegou aos portoes da cidade e viu Quiteria sozinha ali, nisso berrou furiosa:
— Você espirito chucro! Poeira dos pés das deusas! Dalit Pradessi! Me desrespeitou no dia de minha coroação! Vou engolir voce por isso!
Quiteria cheia de temor gaguejou:
— Ma-mas Deusa e-eu... No... Desculpe...
Rapidamente Cigana Sarah surgiu voltando pelo portão, ela corria com muita pressa, ficou diante de Quitéria e se curvou em respeito a Deusa indicando que Quitéria repetisse o gesto, as duas estavam então curvadas para saudar Parvati.
— Magnanima Magnifica, vossa majestade Sereníssima, Deusa de todas as Deusas, perdoe o Barulho, eu pedi a esta minha serva que quebrasse uma parte do jardim propositalmente para que assim eu pudesse lhe oferecer um presente, o presente mais belo que eu humildemente tenho condiçoes de oferecer.
A Deusa olhou para cigana e a examinou atentamente:
— Tu és o espirito de uma Ariana nao é? A tribo do norte, povo que me adora, os antigos filhos de Saraswati, estou certa?
Cigana sorridente respondeu:
— Sim Grande Deusa, sou descendente Indo-Ariana, somos chamados tambem de Ciganos agora, e todos somos devotos de sua maravilhosa face azul, a Deusa Kali! Passamos por muitas privaçoes mas jamais nos esquecemos de Maha Kali, nossa Deusa.
Com um estrondo a Deusa sentou no chao com as pernas cruzadas em posição flor de lótus tal como os monges indianos sentam em meditaçao, ela relaxou todos os seus braços e pela primeira vez mostrou uma face serena. Se dirigindo a Cigana falou:
— Bom, eu não costumo ser paciente mas o seu povo sempre me devotou muito amor, por isso deixarei que explique o que esta acontecendo aqui.
Cigana com sua mente rapida e infalivel lábia inventou uma bela mentira:
— O que acontece é que pedi a esta minha atrapalhada serva para demolir um pedaço do jardim para que eu pudesse fazer aqui uma obra em sua homenagem, porém pedi a ela que fosse discreta mas... a senhora mais que ninguém sabe como são desleixados esses serviçais.
A Deusa anuiu:
— Mas que sentido há em destruir tão belo jardim de arvores orientais? Não sabe que nós que somos Deusas Shakti amamos as árvores? Como seria um presente para mim a destruiçao delas?
Cigana se dirigiu aos troncos das arvores cerejeiras, se abaixou ao lado de um deles e o tocou.
— O que ocorre grande Deusa é que estas arvores foram plantadas para honrar o Rei deposto, o deplorável derrotado Sanat Kumara, e sabendo que a natureza e uma grande paixão das Deusas eu pedi que a minha serva apenas abrisse espaço para plantar aqui algo em sua homenagem, algo plenamente pensado para ti.
A Deusa então anuiu mais uma vez.
— Entendo... Vá em frente e cumpra com o seu proposito.
Cigana se levantou e apanhou um pequeno estojo de couro que trazia sob o manto branco, o abriu e dele retirou seu baralho de Tarô. Nao era baralho cigano nem o de Marselha, ela curiosamente possuia um baralho incomum e muito colorido. Ela se pôs diante da Deusa e de uma forma graciosa e teatral arremeçou as cartas para cima de modo que elas se espalharam no ar e começaram a girar como em um redemoinho, com e mão direita ela apanhou apenas uma. Com a carta na mao ela gritou:
— RAINHA DE PAUS! DERRAME SUA VIRTUDE!
A carta que ela segurava se acendeu como um farol e um grande vendaval tomou conta do lugar, por toda parte que sua luz tocava se via nascer flores. Rosas, Begonias, Orquideas, Girassois, Gerberas, Margaridas, Violetas, Antulios, Cravos, Copos-de-Leite, Rosas de Pedra, Damas da Noite, Saias-de-Noiva e muitas outras flores, porem o que mais chamou a atençao foi a grande arvore Ipê amarelo que brotou bem na rachadura que Quiteria e Sete Catacumbas haviam feito no marmore. A Deusa em ver aquilo se encheu de alegria.
— As Flores! A beleza da Natureza! Que belo presente! Nunca havia contemplado uma árvore assim!
— É uma espécie do novo mundo minha senhora, do Brasil. — disse Cigana orgulhosa.
— Sim! Que seja eterno este esplendor! Felicitações minha jovem, nunca havia visto alguem manipular as cartas do Tarô com tamanha destreza.
Ela contemplou uma a uma todas as muitas especies de flores, removeu uma rosa amarela e pôs atras de sua orelha, em seguida se levantou e foi ate o Ipê, removeu um dos colares que trazia no pescoço e colocou em um dos galhos da arvore, beijou o tronco e sussurrou "A natureza é a virtude de todos nós". Sem demora ela voltou para a multidão que a celebrava na cidade.
Todas as cartas do Tarot que estavam flutuando no ar voltaram para o estojo de Cigana, e ela o guardou sob seu manto novamente.
Quiteria então pôs sua mao sobre o ombro da amiga e falou:
— Muito obrigada Sarah, você me salvou de uma situação que eu não saberia resolver. Você é muito poderosa e esperta, foi um boa escolha te trazer conosco para cá.
— Não foi nada, mas agora vamos nos apressar para nos encontrar com Dama da Noite, Padilha e Rosa Caveira.
As Duas dispararam em uma corrida em direçao ao casarão onde a ânfora de Veludo estava guardada e ao chegar lá viram as moças diante do portão da casa.
— Porque nao entraram? — Perguntou Quitéria.
— Olhe, espie dentro da casa e vai saber o motivo. — disse Padilha.
Quiteria espiou por uma fresta no portão de madeira, e quando viu quem estava la dentro ela falou para as moças:
— Quem vigia a anfora é Ganimedes.
— Mas quem é Ganimedes? — perguntou Rosa Caveira.
— Um dos poucos Semi Deuses que eram assumidamente homossexuais. — disse Padilha.
— Malakói. — Falou Quitéria.
— Isso, nos textos sagrados o chamam de malakói, que é o mesmo que homossexual. Ganimedes é o homem que aparece carregando o jarro no emblema do signo de Aquário. — disse Padilha.
Rosa Caveira falou em um tom desanimado:
— Ah... Esse é o tal "Aquariano que odeia mulheres" é ele...
❤ - II
Sete Encruzilhadas estava em um casarão abandonado, estava acompanhado de Menina.
Era uma casa enorme, dessas mansões vazias que abrigam andarilhos e marginais, estava em pessimo estado mas era cheia de energia antiga, a casa guardava muito do passado que suas paredes presenciaram.
Ela deitada em um divã velho parecia um tanto vulgar. Ele sentado em uma poltrona colonial, parecia um tanto displicente.
— Então, como anda sua ligaçao com a bruxa humana?
— Sarana? — Menina respondeu com desdém.
— Sim, sabe que se ela nao conseguir um corpo para que voce ocupe nao sera possivel a reencarnaçao impura e a Roda das Princesas nao surtirá nenhum resultado.
— Eu sei, mas a casa dela, ou melhor a "igreja" dela tem três ou quatro pirralhas adequadas, uma há de servir bem.
— Eu estou na expectativa do garoto dela, o bebê que a velha rezadeira está criando, o menino assim que for maior será meu receptáculo. — disse Sete Encruzilhadas orgulhoso.
— Então vigie o garoto, soube que Doralice anda entuxando nele tudo que engorda, vai virar uma almôndega humana deste jeito.
— É eu vou ficar de olho. — Sete Encruzilhadas riu.
— Agora me diga, que boato e este de que a Roda das Princesas vai "desestabilizar" todo o sistema do mundo espiritual?
— Não se preocupe com isso meu bem... Nao há nada a temer, o impacto espiritual não existe. Bom, pode haver certo impacto político, sabe.. as vezes me pergunto como elas nao desconfiam de voce minha flor...
— Pessoas prepotentes não olham para o chão. Elas sempre me trataram assim desde a época que éramos vivas, para elas eu sou a pobre e estúpida adolescente de sempre. As madames desconsideram o fato que uma pequena pedra no caminho pode lhes causar uma fatal queda.
— Fato. Mas me diga outra coisa, o que devo fazer com o moleque e com Maria Navalha?
Menina sentou de supetão:
— Você já capturou Navalha e Tetemburo?
— Sim, e usei um feitiço para que fiquem inertes, como se estivessem dormindo. Para onde devo levar os dois?
— Traga os dois para mim, eu vou adorar ver a cara de Navalha quando ela me ver e saber quem eu sou...
Sete Encruzilhadas deu uma alta gargalhada.
— Quero ver a cara de Rainha, Figueira e Sete Catacumbas quando souberem que somente existe vaga para um reencarnação...
— Sim, so uma vaga, e ela ja é minha.
❤ - III
Rosa Vermelha estava na beira da Praia. Usava um vestido estilo sereia, justo ao corpo e que abria em plissados soltos na altura dos joelhos, era em tecido negro coberto de paetes reluzentes, o vestido possuia mangas longas que acabavam em uma ponta triangular sobre as costas da mãos e se prendiam ao dedo médio através de uma fita de cetim. Ela usava muitos anéis, jóias de pedras escuras e metais prateados. Seu cabelo estava preso em um coque alto enfeitado com uma rosa rubra, vermelho escuro, usava Mlmaquiagem pesada, lábios extremamente vermelhos e cílios tão grossos pageados com kajal e sombra negra que mal se viam as iris de seus olhos.
Ela estava uma expressão serena, olhava as ondas batendo nas rochas, a ouvia o burburinho do mar.
De vez em quando olhava para o céu e via um abutre negro que sobrevoava o lugar em círculos.
O som do mar então foi interrompido por gemidos e lamentos, Rosa virou seu rosto para a parte mais longínqua da faixa de areia e viu sair da água três mulheres em péssimas condições.
Sete Catacumbas, Figueira e Rainha haviam fugido da ilha de Shambala sem nenhum barco, atravessaram os perigos do oceano sozinhas até chegar em terra firme.
Rainha ainda estava desacordada e era carregada por Figueira que estava péssima, e Sete Catacumbas que estava visivelmente cansada.
Rosa Vermelha esboçou um sorriso para elas, mas não ouve confronto, Rosa nunca foi uma mulher covarde, não atacaria um inimigo que não está em condições de se defender. Ela se aproximou das três, Sete Catacumbas se levantou em posição defensiva.
— Não precisa se alarmar, não vou atacar vocês. — disse Rosa suavemente.
— Então... então nos deixe passar! — Sete Catacumbas tinha a voz trêmula.
Rosa Vermelha se aproximou mais:
— Não, na verdade eu gostaria que você ficasse aqui por mais um momento. As suas companheiras devem partir, não estão em condições de nada, porem não se preocupe pois não há em mim quaisquer motivação violenta.
— Quer que eu fique com que propósito? — Sete Catacumbas se ressabiou.
— Você está sendo enganada e eu posso provar. Só preciso que você fique aqui escondida entre as rochas. Uma pessoa virá ate mim e eu quero que você escute a nossa conversa.
Sete Catacumbas levantou uma das sobrancelhas:
— Não entendi. Porém... Não tenho nada a perder... Então... farei o que esta pedindo.
— Não deixe que a percebam, mantenha-se com os olhos e ouvidos bem abertos. — disse Rosa já virando as costas.
Figueira se retirou carregando Rainha para longe, Sete Catacumbas ssentou entre as pedras alguns metros a diante de onde Rosa estava e ali ficou aguardando.
❤ - IV
Na ilha as moças estavam prestes a entrar na casa de Ganimedes, o Aguador da constelação de Aquário.
Era uma espécie de casarão antigo, pintado de cal da mais pura brancura e com telhas de barro marrom avermelhado. Ganimedes estava bem no salão de entrada deitado em uma espécie de espreguiçadeira de madeira dourada, por uma fresta no portão de ripas as meninas viram ele ali deitado, pomposo. A ânfora estava do lado dele servindo de mesinha, um garrafão de vinho e uma taça sobre ela.
Ganimedes era loiro, seu cabelo era o como o dos anjos, comprido até a altura dos joelhos e preso em um rabo de cavalo, seu rosto era fino mas com maxilares bem marcados, os lábios estavam vermelhos pelo vinho. Usava uma túnica branca simples que deixava a pele das pernas totalmente a mostra, suas sandálias subiam até os joelhos em tiras estilo gladiador característico de sua cultura, para completar usava muitas pulseiras e braceletes dourados justos aos braços.
Quitéria, Padilha, Dama da Noite, Rosa Caveira e Cigana estavam ali reunidas no portão decidindo o que fazer.
— Bom vamos entrar lá e falar com ele? — disse Padilha em tom baixo.
Quitéria mordeu os lábios em dúvida:
— Oh... Penso que é melhor não. Ele não gosta de mulheres, causou uma revolta entre os deuses, roubava os maridos das deusas e até conseguiu tomar o posto de uma delas, ele não fará nada de bom conosco...
— Se ele é a síntese dos aquarianos do sexo masculino é evidente que ele não presta... E por isso podemos barganhar com ele. — disse Cigana.
— Barganhar com o que? Que moeda de troca nos temos? — perguntou Dama da Noite.
— Lua Branca! — Cigana deu soltou um risinho.
— Quem é? — Perguntou Padilha.
— É um espírito indigena, caboclo. — disse Rosa Caveira.
— Na verdade Lua Branca me revelou que no passado era chamando de Rudá. — disse Cigana.
— Rudá, antigo Deus das terras que ocupamos hoje? — perguntou Quitéria?
— "Terras que ocupamos hoje"? Qual o seu problema em falar o nome "Brasil" Quitéria? — Perguntou Padilha.
— Sou apátrida querida. Por mais que eu ame mais o Brasil do que a minha terra natal eu sou apátrida, sem raiz, e nisto não é de meu costume falar o nome de países ou de reinos.
— Vamos nos ater ao assunto por favor, — pediu Dama da Noite — Sarah desenrole.
Sarah continuou:
— Pelo que entendi de nossas coversas, Rudá já teve um flerte com Ganimedes, esse abusado adora os Deuses.
— Pelo que parece, você também... — Padilha a alfinetou.
Cigana Sarah mostrou as faces coradas:
— Não é porque morri que eu virei santa meu bem, e não é porque a sua vida amorosa é uma tragédia que a minha tem que ser também. Invejosa.
Padilha deu de ombros.
— Mas como pretende usar Rudá se ele não está aqui? — disse Dama da Noite.
— Ele esta aqui sim, olha ele ali! — Cigana apontou o dedo bem no rosto de Rosa Caveira.
Rosa com a voz grave respondeu.
— Não.
— Não entendi, como assim Rosa é Rudá? — Quitéria perguntou.
— Todas nos temos os mesmos dons, mas cada uma desenvolve níveis diferentes de poder e pode executar de maneira particular. Rosa é uma personificadora. — disse Cigana.
— Personificação? Você é uma Transformista? — Padilha perguntou.
— Tem os poderes de uma sucubu? Nossa você esconde o jogo mesmo... Pode assumir a aparência de alguém por completo? — perguntou Quitéria.
Rosa visivelmente incomodada respondeu com outra pergunta:
— Vocês querem que eu assuma a aparência de Rudá e seduza o sodomita ai dentro da casa? É isso mesmo?
Todas em coro responderam:
— Isso mesmo!
— E não fale de sodomia com desdém, todas nos aqui já... — Padilha fechou os dedos de um mão sobre o dedo indicador da outra.
— Deixe de ser depravada... — Dama da noite riu.
— Certo... Mas e depois? Eu entro lá e engano ele... E como eu saio de lá? — Rosa Caveira perguntou.
— Bom, seria melhor fazer ele ficar inerte... Sarah seu baralho pode ser útil, existe alguma carta que provoque sono? —
— Sim... dormir pra sempre, dez de Paus é a exaustão. — Cigana deu tapinhas sobre a bolsinha onde guardava o baralho.
— Uma carta mortífera... Ganimedes é imortal, a carta não fará mal real a ele mas poderá fazer com que durma.
Sarah abriu sua bolsa onde guardava ae cartas, pegou a referida e entregou a Rosa Caveira:
— Rosa Coloque essa carta próximo ao rosto dele, o rapaz irá dormir imediatamente, daí entramos na casa, pegamos a Ânfora e damos no pé!
— Bom... Vamos lá. — Rosa Caveira deu de Ombros
❤ - V
Rosa Vermelha prosseguia na Praia, olhava sempre para o céu, aquele abutre voando lhe tirava a paz.
Foi então que Menina chegou, ela vinha pelo calçadão de pedra portuguesa, andava em passos largos esvoaçando a saia de seda rosa e mostrando de relance seus saltos de veludo branco. Menina veio dançante, pisou na areia e alegremente bailou até Rosa Vermelha, ao se aproximar ela abraçou Rosa que correspondeu ao abraço.
— Ellen... Ellen qual o motivo dessa felicidade?
— Nada de mais, é só o meu jeito mesmo. Me diz Rosana, nem sinal delas? O que está acontecendo?
Rosa Vermelha insistiu, agora com as sobrancelhas levantadas:
— Ellen minha querida, qual o motivo dessa felicidade?
— A noite esta linda não esta? — Menina sorriu — Mas me diz, as moças ainda não voltaram da ilha?
— Ainda não Menina, elas estão ocupadas tentando desfazer as bobagens que você fez. — Rosa sorriu de volta.
Menina deu dois passos pra trás e abaixou os olhos.
— Do que esta falando? Eu não entendo... Eu não fiz nada.
— Você veio até aqui pra me pegar, tal como fez com a Navalha. Eu sei de tudo. Meu bem eu sou Rosa Vermelha, eu fui a maior das donas do cabaré, você achou que uma rameirazinha ia me enganar por quanto tempo?
— Rameirazinha? — Menina usou da voz de choro e então olhou de relance para o abutre no céu, depois se voltou para Rosa — Não te entendo... O que esta acontecendo?
— Você tem enganado muita gente... Mas você não vai me pegar.
Menina ainda com a voz embargada choramingou:
— Rosa você está me assustando!
— Já não cabe mais ser dissimulada Ellen!
Menina ergueu o queixo e olhou nos olhos da outra, agora com a testa franzida e uma expressão de ódio.
— Como assim? Como "pegar você"? Eu não estou entendendo.
Rosa Vermelha apontou o dedo para o céu onde havia um abutre sobrevoando a praia.
— Aquele pássaro esta sob possessão de Sete Encruzilhadas. Ele vai me atacar e tentar me enfeitiçar a qualquer momento não é? Voce só está aqui pra me distrair e fazer mais fácil a minha queda. Como você é sonsa Ellen, eu devia saber, você sempre foi uma putinha ordinária.
Menina ergueu o queixo cheia de impafia:
— Sonsa? Só porque você era dona do cabaré isso não te faz melhor que suas funcionárias. VOCÊ É UMA PUTA MISERAVEL! Triste e vazia rejeitada por todos que ama. E EU VOU TE USAR COMO COMBUSTIVEL PARA MINHA VITÓRIA!
Rosa Vermelha nessa hora esticou seu braço direito com uma extraordinária velocidade e agarrou o pescoço de Menina, apertando com força, Menina de imediato apanhou o pulso de Rosa tentando se soltar, Rosa então a suspendeu no ar, Menina por ter baixa estatura ficou com os pés fora do chão enquanto Rosa a erguia o mais alto que podia.
— Você é uma traidora. O Destino dos traidores é a destruição.
O abutre desceu das alturas em um vôo rasante, vinha com as garras afiadas em riste, mas Rosa foi esperta, girou nos calcanhares e usou corpo de Menina como escudo, o abutre não teve tempo de desviar e acabou por ficar as garras nas costas da garota.
Menina berrou de dor, Rosa a arremessou para atrás a fazendo cair sobre a ave.
— Eu vou me retirar por agora mas... eu vou voltar e te fazer engolir essas palavras. — riu de Menina.
— Vai se retirar? ONDE VOCÊ PENSA QUE VAI? — a miúda de forma atrapalhada tentava se desvencilhar do pássaro e ficar em pé.
Rosa Vermelha olhou para baixo encarando Menina e com um sorriso sádico:
— Você pretende fazer a reencarnação impura usando o feitiço Roda das Princesas, eu sei.
Menina ainda no chao enrugou os olhos com ódio.
— Sim, e dai?
— Para reencarnação impura você precisa de um acordo, da ajuda uma bruxa viva e além disso usar um corpo humano com alma fraca. Você pretende incorporar nesse humano de modo definitivo e assim ser de fato uma reencarnação impura. A essa altura esse humano ja recebeu os encantos e passou pelos processos que permitirão essa imundice não é?
— Como você sabe? Ah não importa, diga logo onde você quer chegar?
Rosa vermelha arregalou os olhos:
— EU VOU MATAR ESSE HUMANO! Aliás, as três bruxas mortas que te auxiliam sabem que só existe um chance de reencarnar? Elas sabem que só você vai poder viver de novo?
— Saber? São todas estúpidas tal as suas amiguinhas, elas pensam que também terão avatares vivos em carne e osso... Mas elas também serão combustível no meu feitiço. Todas elas serão e você também será!
— Você não tem nenhum remorso em usar elas? De fazer Sete Catacumbas, Figueira e Rainha de fantoches?
— Se elas tivessem algum intelecto não seriam tão manipuláveis. Gente assim existe pra servir de degraus pra pessoas como eu!
Rosa endureceu o maxilar por um segundo, em seguida gritou:
— Sua imunda, eu vou acabar com as suas chances. Mais do que isso Ellen, eu vou substituir você por outro espírito. Farei outra Pombagira Menina e você será esquecida. Eu vou achar essa bruxa, vou matar esse humano e atrasar seus planos, nisso eu volto até você e te faço virar pó.
Menina zombou, deu uma alta gargalhada.
— Impossível você achar ela, impossível! Procure o quanto quiser.
Sete Catacumbas então saiu de trás das rochas. Com os punhos cerrados e trêmula de ódio.
— Rosa Vermelha, saiba você que o nome da Bruxa é Sarana. Eu te levo ate ela.
Menina lentamente virou o rosto para onde estava Sete Catacumbas, pasma, ela arregalou os olhos e murmurou:
— Diabo... Agora a merda esta feita...
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