Cacurucaia
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Existe o boato de que
Todo mundo tem Entidade,
Que todas as pessoas do planeta
Possuem um casal de Exu e Pombagira
Bem como também possuem
Seus orixás e etc, e isso é claro
É uma grande mentira.
Cada indivíduo nesta terra tem
A sua espiritualidade como algo único,
É exatamente por isso que existem
Tantas religiões e cultos por aí,
Todas as religiões sendo sempre
Todas muito diferentes
Servem para atender a cada tipo espiritual,
A cada necessidade das pessoas.
É por que eu estou falando isso?
Porque eu em uma atitude tola
Tentei mudar a minha natureza espiritual,
Coisa que realmente não deu certo.
Minha mãe era mãe de santo,
Dona Claudinei de Oxum,
Ela possuía a Pombagira mais
Bonita que eu já vi em terra,
Aquela era dona Cacurucaia,
Uma pomba gira que pertencia
A minha avó e passou a minha mãe
E como prometido um dia
Habitaria em mim.
Mas eu naquelas bobagens
Da Juventude me casei com um rapaz
Que era evangélico,
Então decidi que toda a história que
Eu tinha vivido dentro da Umbanda
Era errada e que eu devia ser
Uma mulher da fé cristã,
Devia largar tudo e seguir meu marido,
E para fazer isso eu precisei ir até
Dona Cacurucaia.
Eu já tinha tido experiência de
Ter a incorporação algumas vezes
Mas para conversar abertamente
Com ela eu escolhi um momento
Em que ela estava incorporada
Em minha mãe, assim poderíamos
Prosear livremente.
Fui até ela em uma noite no
Terreiro e falei tudo o que sentia
E tudo o que queria,
Disse a ela que eu iria agora
Me casar e que ela já não cabia
Mais na minha vida,
Nem ela nem nada a respeito
Da espiritualidade não Cristã.
Eu com minha mente ingênua
Imaginei que ela iria argumentar,
Que iria me pedir para pensar melhor,
Mas a única coisa que ela fez foi
Erguer uma das sobrancelhas
E me perguntar:
— Tem certeza disso?
— Tenho. — responde segura de mim.
— Pois que assim seja, você não é mais bem vinda na minha casa nem na minha presença.
Ela deu meia-volta e foi conversar
Com outras pessoas que estavam
Ali no terreiro e me deixou para trás.
Confesso que fiquei surpresa até
Um pouco magoada pois achava que
Era alguém importante para ela,
Mas as entidades enxergam longe
E sabem muito bem o que valhe a pena
E o que não valhe.
Então eu me casei, me tornei uma
Missionária na igreja evangélica,
Vivi lá por sete anos até que descobri
Que meu marido não era um homem Santo,
Descobri que a igreja não era
A casa de Deus,
E descobrir que eu havia cometido
Um grande erro em
Desprezar a fé na qual tinha sido criada.
Prontamente voltei para casa
De minha mãe, tentei retomar
A minha fé umbandista
E de fato consegui com a maior parte,
Os orixás nunca viram as costas
Para ninguém,
A maioria das entidades também não,
Mas quem tem pombagira sabe
Que não são dóceis e nem perdoam tudo,
Então sempre que havia
Uma gira de esquerda na casa
Dona Cacurucaia incorporado
Em minha mãe passava por mim como
Se eu não fosse nada,
Como se eu fosse invisível.
Em 2003 minha mãe faleceu e
Eu herdei o terreiro,
Mas mesmo agora eu sendo a
Mãe de santo da casa não conseguia
Trabalhar com a pombagira do terreiro,
Eu fazia pessoalmente o culto de
Todas as linhas de entidades
E também dos orixás,
mas a de esquerda não.
Então eu fiquei grávida
E tive um menino, Jorge.
Certa vez quando ele tinha
Cinco aninhos de idade o levei a praia
E lá no meio das brincadeiras
Com as outras crianças Jorge sumiu,
Era uma tarde nublada e ventava muito,
Logo anoiteceu e eu procurando ele por todo o lado inclusive tendo avisado o salva-vidas
De que ele poderia ter se afogado,
Ninguém conseguiu achar o menino,
E eu ja enlouquecendo desesperada
Até que eu do nada olhei para cima
E no topo de um dos rochedos
Estava ele parado com uma postura
Muito estranha olhando para o mar,
mãos na cintura e o corpo inclinado
Para trás.
Subi até o rochedo e quando cheguei lá
Tentei agarra-lo pelo braço para faze-lo descer,
Mas no momento em que toquei
No braço dele levei um choque
Como se o menino fosse
Um fio desencapado,
Foi tão forte que eu caí ajoelhada
Ao lado dele,.então ele simplesmente
Virou o rosto para mim,
A pele do rosto infantil estava vincado
De marcas de expressão naturais de
Pessoas idosas, da boca dele saiu a voz dela
— O que quer comigo? Não vê que eu estou ocupada?
Eu não precisei perguntar quem era
Pois sabia que era dona Cacurucaia.
Minha mãe tinha dito que aquilo acontecia,
Que algumas entidades incorporavam
A primeira vez com a intenção de ajustar
As coisas, de tornar o corpo do médio
Favorável a elas, incorporações que
Duravam algum tempo onde
A entidade não falava nada
Apenas ficava ali, por fora parecia que
Estava inerte mas por dentro
Ela estava trabalhando muito.
Passado algum tempo
Meu filho me olhou com cara de
Espanto perguntou como havia chegado
No topo daquele Rochedo,
Eu expliquei para ele o que havia
Acontecido e ele me pediu ajuda,
Me pediu que vai ajudasse a respeito
Daquilo pois ele não entendia nada,
Era muito pequeno para entender,
Mas como eu poderia ajudar se
Não tinha nenhum contato com
Aquela pombagira?
Decidi que era o momento
De consertar as coisas,
Que eu iria trazer dona Cacurucaia
De volta minha vida.
A primeira coisa que eu fiz foi ir
Até uma velha amiga de minha mãe,
Uma senhora que incorporava Exu Tiriri,
Tiriri me ensinou como consertar as coisas.
Durante a conversa que tive com ele
Recebi um "passo a passo" do que fazer,
Primeiramente eu ouvi e aquilo e
Me pareceu a coisa mais louca
Do mundo mas eu estava disposta
A tudo então anotei o que ele
Me disse e logo coloquei em prática.
Era uma sexta-feira, duas e meia
Da madrugada eu e todos os meus amigos
E filhos de santo do terreiro nos dirigimos
Até a estrada mais distante que
Conhecíamos, uma que era a última
E mais próxima da Serra da Cantareira
Aqui em São Paulo,
Um lugar onde é mata fechada,
No meu carro no banco do passageiro
Ia meu filho segurando uma
Enorme da galinha vermelha no colo,
Então quando chegamos fizemos
Todos os preparativos,
Amarrei um saquinho no pescoço
Da galinha com as joias
Mais caras que meu dinheiro
Pôde comprar, ou sejam eram
Bijuterias bem bonitas,
Afinal de contas eu não sou rica,
Borrifei perfume na galinha toda
Então coloquei ela segura em baixo
Do meu braço,
Fiz todas essas coisas Tiriri que
Havia mandado fazer,
Colocamos no chão algumas garrafas de bebida para Dona Cacurucaia e para
Os outros espíritos da Mata,
Apanhei um saco cheio de moedas
De 10 centavos que havia trocado
Mais cedo no mercado,
Saí atirando as moedas
Para todo lado no meio do mato,
E assim nós fizemos uma fila,
Todos de braços dados,
Começamos a cantar para ela,
Eramos treze pessoas só,
Quatorze se colocarmos em conta meu filho,
E ali cantávamos os pontos dela
Dançando dois passos para frente
e dois para trás,
Cantávamos animados os
Pontos que minha mãe
Havia me ensinado
E que eu cantei durante
Toda Minha Juventude.
Quando o relógio bateu
As três horas da manhã exatamente
Coloquei a galinha na beira da estrada
E ela imediatamente correu
Feito um Corisco para o
Meio do mato.
Ficamos em silêncio olhando,
Então do nada meu filho
Correu para o meio do mato também,
É claro que eu corri atrás dele
Pois aquilo era mata fechada,
Podia ter ali cobras e aranhas venenosas,
Mas assim que dei alguns passos
Para dentro do mato
Ouvi a voz do meu filho perguntando
Onde eu estava indo,
E quando olhei para trás ele ainda
Estava perto do meu carro
Junto com as outras pessoas,
Ou seja ele nunca havia
Entrado no mato,
Achei muito estranho e dei
Um passo para voltar a estrada
Mas de repente algo agarrou
Meu pulso e eu senti-me puxar,
Então todos que estavam na estrada
contam que eu sumi
Na escuridão da Floresta.
Ficaram ali muito apreensivos me esperando,
E na realidade eu não sei dizer muito bem o que aconteceu,
Só sei dizer que de alguma
Forma eu conversei com ela.
Dona da curucaia apareceu
Para mim no tronco de uma árvore,
Seu rosto esculpido em madeira,
O rosto de mulher madura
De olhar pesado e sinistro.
Me lembro de conversar com ela
Mas não me recordo das palavras exatas,
E me lembro de um dos
Galhos daquela árvore tocar o meu ombro
E eu imediatamente adormecer.
Acordei no banco do carro já com a luz do Amanhecer irrompendo no céu.
Me disseram que eu fiquei
Dentro do mato por poucos instantes
Mas que quando voltei estava incorporada,
E quando eu voltei eu era ela e ela era eu.
Todos a receberam com muita alegria
E ela lhes disse que agora voltaria para casa.
Eu não estava em condições de dirigir
Então pedi que um dos meus filhos de Santo
Assumisse a direção,
Fui para o banco de trás e quando
Ele manobrou o carro e fez a curva
Para irmos embora,
Por um instante olhei para a floresta
E vi uma grande árvore que
Se destacava no meio das demais,
Em um dos Galhos dela
Sentada de maneira pomposa estava
Uma galinha vermelha com um
Colar de pedras verdes no pescoço.
Desde então eu trabalho com
A pombagira Cacurucaia,
Como minha avó fez,
Como minha mãe fez,
Como um dia meu filho fará.
Pomba Gira não é coisa barata
Que todo mundo tem,
Pomba Gira é um mistério
Muito grande que nós mesmo
Quando prestamos muita atenção
Conseguimos entender apenas
Um pouquinho,
Mas entender completamente não.
Saravá a pombagira Cacurucaia!
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Contos de Terreiro, Arte e texto por Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!
Não copie o texto ou reposte a arte sem dar os créditos! Seja Honesto!
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Obrigado
Que texto lindo!
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