RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 18

 Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS 


Capítulo 18
"O jardim das cerejeiras"







❤ - I 

Maria navalha estava no cemitério, ela gostava de se deitar sobre a tumba de seu irmão. Era um tumulo simples, mármore branco em formas retas. Na lapide uma caricatura do rapaz, um jovem pálido com aquelas enormes bochechas. Ela estava deitada de bruços com os braços cruzados sob os seios olhando para a foto do menino quando sentiu uma mão tocar seu ombro. Ela virou o rosto para ver quem era, logo reconheceu a figura e o cumprimentou:

— Roberto, que saudades de você! — dando um Salto de onde estava deitada ela ficou em pé e abraçou o homem o agarrando com força. 

— Roberto? Só você mesma pra desenterrar esse nome!  


Maria Navalha sorriu.

— Eu sei que todo mundo te chama de Capa Preta, mas eu não sou todo mundo.

— O medo também trás respeito, meu amor... Roberto é o nome de um homem, e eu já não sou mais um homem. Eu agora sou o que sou.

— Mentira Roberto, você mente. Você assim como todas nós é um saudosista. Me diga, o que conta de novo?


Capa Preta era alto, pele clara, parrudo com peito e os braços peludos e uma espessa barba, usava uma calça negra dobrada ate os joelhos revelando panturrilhas musculosas e belos pés descalços, ele usava a calça e a capa, uma bela capa negra de algodao grosso e forro de seda. Era calvo e com belos e expressivos olhos castanhos parecia intimidador.

— Depois que você morreu ele durou quanto tempo?


Maria Navalha sentada sobre o tumulo do menino passou a mão sobre o tampo de marmore como se estivesse acariciando. Ela Respondeu:

— Três meses. Enfiaram ele em um hospício mas ele fugiu. Morreu quando caiu em um córrego enquanto vagava por ai me procurando. Ele achava que ia me achar em algum bar da cidade, não acreditava quando diziam que eu estava morta. 

— O que ele tinha de fato?

— Era Mongolóide, demente. Eu imagino que hoje em dia nao se chame mais doentes mentais desses nomes horríveis... Mas na nossa época era assim... Os medicos me disseram que era vitma de loucura, de atraso... Ele tinha problemas. Com trinta  e três anos ele se comportava como uma criança de Sete. 

— Voce teve a chance de ve-lo quando ele morreu? 

— Sim. Foi surpreendente... Eu ja estava morta mas não tinha ainda descoberto os meus poderes.  

— Ah... Sim você passou por aquela fase em que o morto pensa que é um fantasma, acha que é um espectro impotente... Eu tambem passei por isso, fiquei igual um idiota vagando sem rumo por mais de um ano.

— Sim... Fase terrivel... Eu vi ele morrer, eu depois que morri fiquei grudada nele, sempre perto dele. Porem eu não pude interferir em nada... quando ele caiu no rio eu tentei puxar ele, segurar ele pelas mãos... mas eu nao consegui, eu atravessava a a matéria como fumaça. Quando ele finalmente morreu eu vi a alma deixar o corpo... o corpo dele era de adulto, mas a alma que saiu era pequenina... uma alma de criança. Piccolo...  Ele me viu, sorriu pra mim, mas logo desapareceu.  

— Que inveja eu tenho destes sortudos, recolhidos para o reencarne, voltou para a roda das encarnaçoes...   

— Me diga Roberto, — Navalha aproximou o rosto ao dele — o que anda fazendo? Você nunca foi vagabundo e por isso eu sei que toda vez que te vejo voce está maquinando, trabalhando em algo. 

— Sou um espião agora. 

— Está nos espionando? A mando de quem?

— Sabe tal de "Roda das Princesas" deixou a Anjinha curiosa.

— Anjinha? De quem está falando? 

— De gente graúda, você não conhece.

— Que bobagem, essa tal roda das princesas nem aconteceu, e um monte de vadias falando sobre enquanto ninguém fez nada a respeito, nada. 

— A Roda das Princesas ja esta acontecendo, você pode pensar que não mas para os do alto e os de baixo a coisa já é como certa.


Maria Navalha se aprumou, Capa Preta pigarreou.

— É Jibrille? Ela quem te contratou? 

— Jibrille? Não, quem me enviou foi a senhora dos espelhos.

— Não conheço mesmo. O que a interessou no nosso caso?

— Bom, o que acontece e que uma bruxa viva tem um acordo com uma de vocês, nesse acordo ela se comprometeu a conseguir os receptáculos humanos. 

— Com uma de nós? Se refere as nossas adversárias?


Capa preta meneou.

— A Roda das Princesas será consumada e a tal reencarnacao impura vai ocorrer de fato.

— Sabe que eu detesto mensagens pela metade Roberto... — Navalha fez um beicinho.

— Laço de fita... não se deixe enganar.

— Laço de fita? Eu não entendi.

— Pense meu amor, pense... — Ele deu as costas e se afastou desaparecendo no breu na noite.


— Laço de Fita... laço de fita... — Navalha repetia para si mesma, então seus olhos se arregalaram em surpresa — MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA! É ela! É Ellen que está por trás disso tudo!




❤ - II

Uma questão muito curiosa é o fato das bruxas gostarem de igrejas. É muito comum vê-las lá, perceber a presença delas naqueles locais.

Aquilo era uma igreja abandonada, parte do teto já havia cedido mas a antiga abóboda ainda permanecia cheia de seus entalhes de madeira de lei.

Sarana morava lá, o fato de morar em uma igreja em ruínas não era devido à falta de recursos financeiros pois dinheiro ela tinha de sobra, a escolha de estar ali era muito mais por suas crenças.

No sótão da igreja ela mexia a colher de pau em uma panela de ferro colocada sobre a boca de um fogão a lenha, do conteúdo da panela com certeza não era nada de bom. Ela parou de mexer quando ouviu o som do motor do automóvel, aquilo era um carro modelo Ford B, um dos primeiros a serem importados para América do Sul. Ela foi até o vitral quebrado espiou por um rombo no vidro o carro estacionar bem diante do que um dia havia sido a porta principal do templo.

Sarana bufou desgostosa e revirou os olhos, desceu a escadaria lá embaixo abriu a grande porta de folha dupla e saiu, diante dela estava o automóvel e ali sentado na direção um homem Ruivo com barba espessa e ao lado dele uma garota de aproximadamente 9 anos de idade com seu cabelo negro cumprido e a franja reta cobrindo toda a testa.

— Jorn, que surpresa! — ela o cumprimentou.

— Minha amiga, nós viemos te convidar para a festa que vamos fazer mês que vem lá em casa. — Jorn era um homem de aparência muito bondosa, quando sorria seus olhos ficavam miudinhos tal qual um Papai Noel de porta de loja.

— Jorn eu lhe agradeço muito pelo convite mas a que se refere essa festa? — perguntou Sarana olhando para o homem mas ignorando totalmente a presença da menina.

— Mamãe, é a minha despedida, eu vou estudar em uma escola preparatória da faculdade de Coimbra por algum tempo e...

— Como ousa falar comigo? Não tome liberdades comigo pirralha. — Sarana falou com a voz seca.

A menina se encolheu no banco escondendo o rosto no braço do paletó do pai.

— Se não quer ir não vá, mas não precisa tratar Beladona dessa forma. — disse Jorn acariciando o topo da cabeça da menina.

— Você é meu grande amigo e eu com certeza iria por consideração a ti mas não traga essa criança para perto de mim, ela me irrita profundamente.

— Mas ela é sua filha.

— Não é porque eu parei ela que tem obrigação de aturar, e agora que eu saiba ela é sua filha, é o sobrenome da sua família que ela usa, tudo certinho diante da lei dos homens. Eu sou Sarana Salvaterra e ela é... 

— Milena Diva Belladonna di Gilli e Agrippa von Nettesheim. — ele pronunciou orgulhoso.

— Puta merda, é sério? Seis nomes? Credo.

— É tradição na Alemanha que todos os nomes da família estejam em seus descendentes.

— Sorte a dela ter sido adotada por você Jorn. — Sarana virou as costas e já se encaminhava para dentro da igreja quando Jorn ouviu o riso de crianças vindo no interior da construção.

— Você está fazendo o quê eu acho que está fazendo? — ele arregalou os olhos horrorizado.


Ela o encarou.

— Eu faço aquilo que devo fazer para me manter jovem e bela, e não use essa expressão de surpres, você é tão bruxo quanto eu e já fez coisas muito piores.

— De tudo que eu já fiz nada foi tão longe quando machucar crianças.

— Você sempre teve uma queda pelos pequeninos, já eu enxergo as questões com muito mais objetividade do que sentimentalismo.

— Eu não vou interferir no que você faz porém deixo claro que isso me enoja.

— Tudo bem, Você deixou claro, tem mais algo a dizer?

— Sim, é sobre o menino, Henrique.

— O que tem ele?

— Eu gostaria de saber se poderia levar ele comigo para Portugal, Belladona vai estudar lá e eu irei cuidar dele para que também tenha um bom futuro.

— isso você tem que ver com Doralice, dei a criança para ela então ela agora que é mãe daquela coisa. Vai lá, se ela permitir que você leve o garoto pode levar até para o inferno que eu não ligo.


Sarana deu meia volta e entrou na igreja batendo as grandes portas com força, ficou parada ali do outro lado até que ouviu o motor do carro ligar e o veículo e ele se afastando.



❤ - III

Impressionate ilha!

Praiana ficou no barco, usava um vestido de rendas vazadas em linha branca e lilas, cheia de pusseiras tilintantes, ostentava unhas longas pintadas de azul claro, um anel de prata no dedo médio da mão direita. Ela prendeu o cabelo em um coque e ainda com os braços erguidos arrumando o penteado disse:

— Vão com cuidado, se não voltarem em três horas eu vou embora. É perigoso ficar muito tempo aqui.  


As demais moças desembarcaram e caminharam na praia de areia branca. Maria Quiteria assim que pisou em terra firme se virou para agradecer Praiana.

— Fique em paz, não iremos demorar.


Dama da Noite olhou em sua volta reconhecendo o local, apontando o dedo indicador na direçao de uma casa distante cujo dali somente eram visíveis os telhados de telhas barro.

— É lá, dentro daquele casarão que está a anfora onde prenderam Veludo! 

— Sinto uma grande agitaçao por aqui, — Rosa Caveira olhou em volta — é melhor irmos ate lá devagar, vamos com calma. 


De repente sons de trombetas começaram a ecoar e elas ouviram uma multidão gritar, era como um milhão de vozes vibrando em conjunto. Elas subiram em uma colina proxima e do alto dela puderam observar o que acontecia.

Elas viram a multidão, todos vestidos com túnicas brancas, as pessoas vinham percorriam ruas a vielas entre as construções até chegar em um praça, lá muitos já estavam pageando um enorme elefante que trazia atado no lombo uma vermelha em modelo similar as liteirias dos tempos do império. Toda a multidão carregava bandeiras brancas com longas hastes de bambu, havia muitos tambores e instrumentos de cordas também, o elefante cinza claro parecia assustado, se movia incerto fazendo tremer a cabine vermelha que em suas costas.

As meninas se sentiram perdidas, não esperavam chegar no meio de uma festa.

Dama da Noite fechou os olhos e enviou uma pergunta em telepatia para Tetemburo:

— "Tetemburo o que esta acontecendo aqui?"


Ele Mentalmente ele enviou a resposta:

— "Ah sim... a ilha recentemente perdeu seu regente, Sanat Kumara foi banido para o Inferno. Parvati é quem vai assumir a ilha, provavelmente é ela que está em cima do elefante. Cuidado com ela, se ela se tranformar em Kali ela... bom, Kali come espiritos."


Dama da Noite abriu os olhos e disse em voz baixa para Padilha, Quiteria, Rosa Caveira e Cigana:

— Aquela que está na cabine sobre o lombo do elefante é Parvati, a nova Rainha desta ilha. 


Padilha e Cigana Sarah arregalaram os olhos e se olharam, e depois falaram em um tom de voz muito perturbado:

— Maha-Parvati é terrivel! — Disse Padilha.

— Temos de ter muito cuidado, ela pode acabar conosco em um piscar de olhos... — falou Cigana.


Rosa Caveira olhou para a multidão e ate esticou um pouco o pescoço para observar melhor. 

— Seria deveras prudente se trocassemos nossos vestidos por tunicas brancas como aquelas.

— Sim, nossos vestidos coloridos vão destoar demais, — Quiteria olhou para sua saia púrpura — vamos nos adequar.


Toda elas giraram em torno de si mesmas e logo seus vestidos de cores fortes deram lugar a Sarees, roupas femininas indianas de tecido branco simples e sem adornos, e Rosa caveira agora havia tornado todo o seu rosto humano, camuflando entao sua meia face de cranio. 

Agora com todas vestidas iguais elas desceram, colina abaixo elas foram atravessar a multidao para assim chegar ao casarão, que era o seu real destino.

Desceram a longa colina de grama verde e flores silvestres, usavam um véu sobre a cabeça para que seus rostos não fossem notados se alguem as visse. Passaram da colina e sairam em uma escadaria de degraus de pedra bruta que as levou finalmente para a entrada da cidade. 

O povo todo gritava "OOOM SHAKTI! OOOM SHAKTI!" E elas prontamente ergueram as mãos e passaram a gritar essas palavras também para assim se misturarem a turba.

Chegaram a uma especie de pátio pavimentado em grandes placas de marmore branco fosco onde haviam centenas de arvores cerejeira em canteiros enfileirados que espalhavam as petalas cor-de-rosa de suas folhas como uma chuva graciosa no ar. O portão que dava entrada para a cidade era logo a diante, mas antes que pudessem chegar ate ele as ouviram uma voz que chamava:

— Katherine! Katherine Madame Dragon! Se esqueceu de mim?!


Maria Quiteria rapidamente voltou sua cabeça para trás e ao ver a mulher que lhe chamava por seu nome mortal ela sentiu o um calafrio percorrer a coluna.

— Núbia... 


Todas as meninas pararam ali no meio do patio e também olharam para trás, viram tres mulheres também vestidas de branco, no meio estava Núbia que agora era chamada de Sete Catacumbas, na direita Regina tambem chamada de Rainha, na esquerda estava Lorena chamada também de Figueira.  

Sete Catacumbas deu um passo para frente.

— Quiteria... O que conta de novo? não nos vemos a o que? duzentos anos? Ah mas você está muito bem conservada... 

— Grata pela parte que me toca, mas agora já não posso dizer o mesmo de ti... você esta diferente. Na verdade não te reconheço mais Núbia. 


Sete Catacumbas respondeu:

— Núbia está morta, apodreceu na barriga de uma cobra. Eu sou Sete Catacumbas. E não venha me falar de diferenças, a mulher que um dia você foi já não existe mais, Maria Quiteria voce é agora outra pessoa.

— Eu não mudei, eu me aperfeiçoei. 

— Devo eu por este aperfeiçoamento a prova?

— Núbia eu senti muitas saudades suas minha querida, mas todo amor que tive por ti nao me empede de te atacar. Pense bem, se está aqui com este propósito vai se arrepender.


Figueira interrompeu:

— Atacar? Atacar? Vagabunda prepotente, acha que sozinha pode com nos três juntas?


Maria Padilha tambem interrompeu e dando dois largos passos para frente:

— Ela não está sozinha, somos cinco e vocês são três.


Quiteria falou em voz alta:

— Sim eu estou sozinha! — olhou para trás — Vocês quatro vão logo resgatar Veludo, não se esqueçam que Praiana vai partir em menos de três horas, vão logo e eu as encontro em breve, deixem essas três comigo.


Rosa Caveira que mesmo com aquela situaçao estava serena, disse:

— Tem certeza disso? Se afirmar que pode com as três entao nos iremos sim prosseguir com a nossa missao aqui.

— Sim eu garanto. Agora vão, não há tempo a perder. 


Assim Dama da Noite, Padilha, Cigana e Rosa Caveira prosseguiram deixando Quiteria para trás, logo que passaram pelos portoes da cidade, Rainha com sua costumeira arrogância disse:

— Vamos velhota, vamos que chegou a sua hora.


Quitéria apoiou as duas mãos na cintura e ergueu o queixo de forma altiva.

— Venha, venham as três, eu sou Maria Quiteria! Eu me basto! 


Sete Catacumbas sorriu.

— Que triste reencontro meu amor...



❤ - IV

Meia Noite estava caminhando, amava cemitérios novos, aquele era o recém construído cemitério do Caju, as lápides e mausoléus ainda brilhavam de novos, bem como as estatuas todas ainda incorruptas.

Em sua caminhada algo começou a deixa-lo inquieto, olhando em torno não viu nada de suspeito mas ainda assim começou a desconfiar que estava sendo seguido. Olhava para trás mas nao via ninguem, porem ele sentia a presença que o cercava. 

A cada lapide que passava, a cada mausoléu do caminho ele sentia mais a sensaçao de perigo.

Prosseguiu sua caminhada, mas avistou adiante no meio do cruzeiro das almas a figura de um homem envolto em uma capa de tecido negro parado no meio do Cruzeiro das Almas, o homem gritou para ele:

— Meia Noite! Apresse o passo, senao ele vai te pegar!


Meia Noite respondeu gritando:

— Capa Preta?! Do que esta falando?!

— Olhe para trás homem! 


Meia Noite olhou novamente e viu se aproximando uma coruja rasgadeira, a coruja branca das bruxas, porém está não era como as normais, essa era anormalmente grande e suas asas abertas de ponta a ponta ultrapassavam os quatro metros de envergadura, vendo aquilo ele passou a correr desesperado.

Do outro lado Capa Preta gritava com sua voz grossa:

— Anda-lhe! Anda-lhe! Se está miséria lhe pegar vai lhe carregar pra longe! 


Antes que a enorme coruja pudesse agarrar Meia Noite ele conseguiu chegar ate Capa Preta que ergueu a mão e exibindo entre os dedos uma pluma branca disse:

— Arreda! Eu venho com a proteção de Samyaza!


Assim que ele disse estas palavras o Cruzeiro das Almas, que é a principal encruzilhada das vias dentro do cemiterio acendeu seu solo com se luz viesse do chao formando um grande triângulo iluminado. A coruja veio diretamente para pegar Meia Noite mas ao se aproximar foi empurrada para trás como em uma corrente de vento contrario. Varias vezes a coruja tentou chegar a eles mas nao pode, entao desistiu e foi embora.

— Onde aprendeu esse feitiço? — Meia Noite se impressionou.

Capa Preta suspirou profundamente.

— Tenho andado muito com demonios nos últimos anos, aprendo rápido.

— Foi uma sorte você estar por perto. Mas quem enviou essa Coruja Rasgadeira? 

— Aquilo era Sete Encruzilhadas.

— Ele mandou a coruja?

— Ele era a coruja. Sete Encruzilhada é um Anjo caído e por isso pode incorporar em animais, coisa que nós não podemos. Ele pretendia te levar pra algum lugar. 


Meia Noite respondeu com um sorriso nos labios:

— Isso so confirma o que eu pensava, descobri a vadia que esta por tras dessa tal Roda das Princesas, usando todas as outras como marionetes ela acha que vai se dar bem...  

— O problema é que de tudo que ela fizer, nos tambem seremos culpados. Muito me Admira Sete Encruzilhadas estar ajudando ela... 

— Uma mulher quando sabe usar os dotes que tem pode manipular qualquer um.

— Sim... — Capa Preta suspirou mais uma vez com ar de cansaço — Mas com as algumas moças em Shambala, um processo de reencarnaçao impura acontecendo, um anjo caido envolvido... toda essa agitaçao vai atrair os olhares de todos, inclusive os que podem nos prejudicar muito.

— Eu ja imaginava...  Mas como? Como contar a todas as outras que é aquela Pombagira que as esta manipulando? É capaz de nem sequer crerem em minha palavra. — Meia Noite franziu a testa.

— O guri, precisamos falar com o menino que serve Dama da Noite, ele nos fará ter contato com as meninas que estão na ilha e as alertar sobre isso. Elas precisam saber a verdade. 

— Então vamos juntos, nós juntos poderemos achar o menino Tetemburo. 


Capa Preta e Meia Noite foram de encontro a Maria Navalha, eles sabiam que ela conhecia um método de encontrar Tetemburo mas por toda parte a procuraram e nada de a encontrar. Maria Navalha havia desaparecido.



❤ - V

Na ilha, Maria Quitéria com os olhos baixos demonstrava estar com os sentimentos contrariados. Com a voz um pouco embargada ela perguntou:

— Núbia, porque está fazendo isso?


Sete Catacumbas ficou em silêncio por mais de um minuto. Ela queria responder com empáfia, mas preferiu ser sincera:

— Quitéria por favor não me chame de Núbia. O porquê de eu estar nessa jornada é simples... dói muito estar morta. Eu morri de um modo... o seu envenenamento, e sim eu sei da sua história, não foi nada em comparação com a forma que eu morri. Estou cansada de sofrer. Por todas as nossas questões de bruxaria nós não podemos rreencarnar de forma natural mas ainda assim eu desejo ser viva, ser humana uma vez mais.


Quitéria olhava fixamente para Sete Catacumbas, as pétalas rosadas dos pés de cereja caiam no ar, o local onde elas estavam era lindo, mas o clima era tenso.

— Bom, Sete Catacumbas... Eu não sinto dor nenhuma em estar morta. Eu entendo que jamais iremos reencarnar, estamos paradas no tempo eterno. Mas isso pra mim é nada além de destino.

— Destino? — Figueira deu um passo a frente — Pode ser o seu, mas não será o meu. Todas as bruxas da Figueira se tornaram espíritos, guias espirituais e essa papagaiada toda, mas eu não quero isso para mim. Não serei como todas, eu quero viver.

—  Compreenda Quitéria, — Rainha se aproximou de Núbia — não somos de todo malvadas, mas você está no nosso caminho. Temos de lhe parar, afinal sem você as demais ficarão desnorteadas e vamos poder prosseguir com nosso plano.

— Quitéria em nome de toda a vida que tivemos juntas, passe para o nosso lado. Seria uma imensa alegria reencarnar contigo. — disse Sete Catacumbas.


Quitéria com a voz firme respondeu:

— A resposta de sua pergunta tu já sabes que é não. Se a mãe natureza nos colocou nessa posição é porque não devemos voltar a ter carne e osso. E se para o seu plano se concretizar vocês precisam usar as moças, entao eu lhes digo que eu Quitéria vou impedir que a sua meta se conclua.


Quitéria abriu a boca o máximo que pode, escancarou a mandibula de uma maneira sobre humana, o som dos ossos do seu maxilar estalando era alto, ela exibia agora a boca aberta, carne rosada, do fundo de sua garganta brotou a cabeça de uma serpente negra.


Rainha com uma expressão de nojo perguntou:

— Sete Catacumbas, o que ela está fazendo?

— Ela está desembainhando sua espada.


A serpente saiu da boca de Quitéria e caiu no chão, era uma Mamba negra de um metro e meio de comprimento. O rosto de Quitéria voltou ao normal, ela se abaixou e apanhou a cobra pela cabeça, em seguida a sacudiu no ar, a cobra se tornou rija e em seguida ela se metamorfoseou em uma espada de longa de aço negro.

—  "L'épée de la Reine du Serpents"... — Figueira se impressionou — é a famosa espada da serpente rainha, a tal cobra negra que se alimenta de outras cobras. Me surpreende que Quitéria, sempre me surpreende...


Sete Catacumbas olhou para a espada na mão de Quitéria sorrindo amargamente.

— Eu sabia, antes de morrer eu dei por falta dessa espada e você disse que não sabia onde estava. Você tinha engolido ela sua Bruxa perversa! A minha espada!


Quitéria se pós em posição de ataque.

— Uma lâmina venenosa que pode ferir até almas... venham provar!


Sete Catacumbas olhou para suas comparsas e viu que estavam tambem em posiçao de ataque.

— Não se precipitem, não façam nada sem pensar.


Tarde demais.

Rainha empunhou seu cetro de ouro e partiu ao ataque, correu sobre Quiteria que desviou, fez uma segunta tentativa mas Quitéria foi mais veloz, quando Rainha ficou bem proxima e se curvou para cortar-lhe a barriga ela deu um salto para trás, mas atrás dela já estava Figueira que a segurou pelos braços tentando imobilizar Quitéria enquanto rainha novamente investia contra ela.

Quitéria foi novamente veloz, ela girou seu corpo e deu um tranco forte trazendo Figueira para frente e se desvenciliando dela sendo que Rainha não teve tempo de parar o ataque e acidentalmente cravou o cabo de seu cetro no peito de Figueira. Um terrivel engano.

Figueira caiu ajoelhada, no mesmo instante ja se sentiu fraca, seus poderes lhe faltaram. Ela puxou para fora o cetro e todas puderam ver o buraco escuro que ficou no seu peito proximo a clavicula esquerda.

Ela estava sem folego e de imadiato havia impalidecido, perguntou a Rainha:

— Regina tem veneno nesse cetro?

Rainha constrangida pelo erro respondeu:

— Tem mas não se preocupe, é so pra enfraquecer e dura pouco.


— Que piada... — Quitéria gargalhou.

Rainha se distraiu e nisto Quitéria atacou, puxou o cabelo vermelho de rainha por trás a fazendo erguer o pescoço e projetar a cabeça para as costas, e com agilidade Quitéria passou a lâmina da sua espada bem abaixo do queixo, abrindo um corte largo. Rainha caiu, seu corpo bateu no chão desacordado, inconsciente.


Quitéria olhou para Sete Catacumbas cheia de orgulho pelo que tinha feito.

— Não se preocupe, eu não posso matar quem já está morto. Esse corte vai cicatrizar em alguns dias, menos de um mês eu creio, mas ela ira ficar apagada por todo esse tempo.


Figueira sem fôlego tentou gritar, mas sua voz saiu rouca:

— Ela vai ficar um mês apagada?!


Sete Catacumbas irritada falou:

—  É o que ela merece, e você também. Como puderam atacar sem a minha ordem? Vocês não conhecem Quitéria. Olha agora, caidas ao chão, patéticas...

— Figueira pegue sua amiga e saia daqui, eu e Sete Catacumbas vamos entrar em combate. — Quitéria empunhou a espada novamente.


Sete Catacumbas ergueu as duas maos as movendo sinuosamente no ar, nisto as suas unhas das mãos cresceram, saltaram como garras de gato, unhas douradas com as pontas curvadas com cerca de 8 centímetros cada.


Quitéria olhou para as garras douradas e falou:

— Então será a minha espada contra as garras de um gato preto?

— Não, esta espada nao é sua, é uma arma roubada, mas sim, agora vamos brigar como antigamente.

— Não, não como antigamente. Desta vez nao havera risos no final. — Quiteria deixou escapar a melancolia.


Sete Catacumas rugiu como uma onça, um rugido tão alto que fez o mármore do pavimento vibrar, correu na direçao de Quiteria que por sua vez vibrou a espada de cima para baixo no sentido do pescoço de Sete Catacumbas, mas a lamina foi travada pelas garras douradas, o impacto gerou faiscas, Quiteria foi empurrada com tamanha força que bateu as costas em uma das arvores fazendo o tronco da cerejeira estralar e uma chuva de pétalas rasadas cair sobre elas.



❤ - VI

Maria Padilha e as meninas estavam no meio da multidão que cercava o Elefante da deusa Parvati, iam calmas tentando atravessar sem serem percebidas mas a multidao silenciou quando0 ouviram o som de um rígido que vinha da direção da praça das cerejeiras. A voz potente da Deusa parvati foi ouvida de dentro de sua cabine de cortinas de seda vermelha.

— Que rrruidos son estes? O que ocorrrre? — Ela falou com forte sotaque hindu.


Um dos seus lacaios respondeu:

— Shakti-Devi-Maha-Parvati, parece que há uma estranha movimentaçao no Jardim das arvores rosadas porém creio apenas ser a animação do povo que está vindo lhe saudar.


A deusa ficou em silencio enquanto o lacaio a apaziguava mas novamete se ouviu outro rugido seguido de um estrondo algo e todos puderam ver ao longe que uma das copas de arvore cor de rosa desaparecendo, tombando.

A deusa removeu a cortina de tecido vermelho na lateral de sua cabine e pôs para fora sua cabeça olhando para os portões da cidade.

Outro estrondo se ouviu e desta vez duas arvores foram ao chao. A Deusa se sentia agora desrespeitada.

— Como pode que no dia da minha coroação como Rainha desta ilha eu seja tratada assim? Os espiritos que estao lutando ali não vieram me adorar, nem sequer me cumprimentaram.


O lacaio respondeu:

— Maha Parvati, infelizmente pelo que se parece ali estão espiritos rebeldes, sem respeito.


A deusa abriu a porta  de sua cabine e saltou para fora ficandoo em pé diante de todos, era enorme com mais de tres metros de altura, possuia Seis braços e era adornada com muito ouro, o sua veste vermelho escarlate era bordada com muitas flores de Lotus em linha dourada, as suas muitas mãos estavam desenhadas com hena, usava uma grande coroa de ouro maciço e o cabelo liso e solto de tao comprido arrastava no chao, seus labios vermelhos contrastavam com seus olhos pintados com Kajal, na testa usava uma joia de pedra jaspe, nas mãos aneis e ate nos dedos dos pés trazia joias, mas o mais impressionantes era a cor de sua pele, a deusa era uma mulher amarela, o tom similar a casca de banana. Olhando na direçao da entrada da cidade ela gritou com sua voz sobrehumana:

— Espíritos que lutam nos portoes de Shambala! Venham prestar homenagens e render graças a mim ou eu irei engoli-los um a um! 


elipe Caprini

RODA DAS PRINCESAS 


Capítulo 18

"O jardim das cerejeiras"



❤ - I 

Maria navalha estava no cemitério, ela gostava de se deitar sobre a tumba de seu irmão. Era um tumulo simples, mármore branco em formas retas. Na lapide uma caricatura do rapaz, um jovem pálido com aquelas enormes bochechas. Ela estava deitada de bruços com os braços cruzados sob os seios olhando para a foto do menino quando sentiu uma mão tocar seu ombro. Ela virou o rosto para ver quem era, logo reconheceu a figura e o cumprimentou:

— Roberto, que saudades de você! — dando um Salto de onde estava deitada ela ficou em pé e abraçou o homem o agarrando com força. 

— Roberto? Só você mesma pra desenterrar esse nome!  


Maria Navalha sorriu.

— Eu sei que todo mundo te chama de Capa Preta, mas eu não sou todo mundo.

— O medo também trás respeito, meu amor... Roberto é o nome de um homem, e eu já não sou mais um homem. Eu agora sou o que sou.

— Mentira Roberto, você mente. Você assim como todas nós é um saudosista. Me diga, o que conta de novo?


Capa Preta era alto, pele clara, parrudo com peito e os braços peludos e uma espessa barba, usava uma calça negra dobrada ate os joelhos revelando panturrilhas musculosas e belos pés descalços, ele usava a calça e a capa, uma bela capa negra de algodao grosso e forro de seda. Era calvo e com belos e expressivos olhos castanhos parecia intimidador.

— Depois que você morreu ele durou quanto tempo?


Maria Navalha sentada sobre o tumulo do menino passou a mão sobre o tampo de marmore como se estivesse acariciando. Ela Respondeu:

— Três meses. Enfiaram ele em um hospício mas ele fugiu. Morreu quando caiu em um córrego enquanto vagava por ai me procurando. Ele achava que ia me achar em algum bar da cidade, não acreditava quando diziam que eu estava morta. 

— O que ele tinha de fato?

— Era Mongolóide, demente. Eu imagino que hoje em dia nao se chame mais doentes mentais desses nomes horríveis... Mas na nossa época era assim... Os medicos me disseram que era vitma de loucura, de atraso... Ele tinha problemas. Com trinta  e três anos ele se comportava como uma criança de Sete. 

— Voce teve a chance de ve-lo quando ele morreu? 

— Sim. Foi surpreendente... Eu ja estava morta mas não tinha ainda descoberto os meus poderes.  

— Ah... Sim você passou por aquela fase em que o morto pensa que é um fantasma, acha que é um espectro impotente... Eu tambem passei por isso, fiquei igual um idiota vagando sem rumo por mais de um ano.

— Sim... Fase terrivel... Eu vi ele morrer, eu depois que morri fiquei grudada nele, sempre perto dele. Porem eu não pude interferir em nada... quando ele caiu no rio eu tentei puxar ele, segurar ele pelas mãos... mas eu nao consegui, eu atravessava a a matéria como fumaça. Quando ele finalmente morreu eu vi a alma deixar o corpo... o corpo dele era de adulto, mas a alma que saiu era pequenina... uma alma de criança. Piccolo...  Ele me viu, sorriu pra mim, mas logo desapareceu.  

— Que inveja eu tenho destes sortudos, recolhidos para o reencarne, voltou para a roda das encarnaçoes...   

— Me diga Roberto, — Navalha aproximou o rosto ao dele — o que anda fazendo? Você nunca foi vagabundo e por isso eu sei que toda vez que te vejo voce está maquinando, trabalhando em algo. 

— Sou um espião agora. 

— Está nos espionando? A mando de quem?

— Sabe tal de "Roda das Princesas" deixou a Anjinha curiosa.

— Anjinha? De quem está falando? 

— De gente graúda, você não conhece.

— Que bobagem, essa tal roda das princesas nem aconteceu, e um monte de vadias falando sobre enquanto ninguém fez nada a respeito, nada. 

— A Roda das Princesas ja esta acontecendo, você pode pensar que não mas para os do alto e os de baixo a coisa já é como certa.


Maria Navalha se aprumou, Capa Preta pigarreou.

— É Jibrille? Ela quem te contratou? 

— Jibrille? Não, quem me enviou foi a senhora dos espelhos.

— Não conheço mesmo. O que a interessou no nosso caso?

— Bom, o que acontece e que uma bruxa viva tem um acordo com uma de vocês, nesse acordo ela se comprometeu a conseguir os receptáculos humanos. 

— Com uma de nós? Se refere as nossas adversárias?


Capa preta meneou.

— A Roda das Princesas será consumada e a tal reencarnacao impura vai ocorrer de fato.

— Sabe que eu detesto mensagens pela metade Roberto... — Navalha fez um beicinho.

— Laço de fita... não se deixe enganar.

— Laço de fita? Eu não entendi.

— Pense meu amor, pense... — Ele deu as costas e se afastou desaparecendo no breu na noite.


— Laço de Fita... laço de fita... — Navalha repetia para si mesma, então seus olhos se arregalaram em surpresa — MENINA BONITA DO LAÇO DE FITA! É ela! É Ellen que está por trás disso tudo!




❤ - II

Uma questão muito curiosa é o fato das bruxas gostarem de igrejas. É muito comum vê-las lá, perceber a presença delas naqueles locais.

Aquilo era uma igreja abandonada, parte do teto já havia cedido mas a antiga abóboda ainda permanecia cheia de seus entalhes de madeira de lei.

Sarana morava lá, o fato de morar em uma igreja em ruínas não era devido à falta de recursos financeiros pois dinheiro ela tinha de sobra, a escolha de estar ali era muito mais por suas crenças.

No sótão da igreja ela mexia a colher de pau em uma panela de ferro colocada sobre a boca de um fogão a lenha, do conteúdo da panela com certeza não era nada de bom. Ela parou de mexer quando ouviu o som do motor do automóvel, aquilo era um carro modelo Ford B, um dos primeiros a serem importados para América do Sul. Ela foi até o vitral quebrado espiou por um rombo no vidro o carro estacionar bem diante do que um dia havia sido a porta principal do templo.

Sarana bufou desgostosa e revirou os olhos, desceu a escadaria lá embaixo abriu a grande porta de folha dupla e saiu, diante dela estava o automóvel e ali sentado na direção um homem Ruivo com barba espessa e ao lado dele uma garota de aproximadamente 9 anos de idade com seu cabelo negro cumprido e a franja reta cobrindo toda a testa.

— Jorn, que surpresa! — ela o cumprimentou.

— Minha amiga, nós viemos te convidar para a festa que vamos fazer mês que vem lá em casa. — Jorn era um homem de aparência muito bondosa, quando sorria seus olhos ficavam miudinhos tal qual um Papai Noel de porta de loja.

— Jorn eu lhe agradeço muito pelo convite mas a que se refere essa festa? — perguntou Sarana olhando para o homem mas ignorando totalmente a presença da menina.

— Mamãe, é a minha despedida, eu vou estudar em uma escola preparatória da faculdade de Coimbra por algum tempo e...

— Como ousa falar comigo? Não tome liberdades comigo pirralha. — Sarana falou com a voz seca.

A menina se encolheu no banco escondendo o rosto no braço do paletó do pai.

— Se não quer ir não vá, mas não precisa tratar Beladona dessa forma. — disse Jorn acariciando o topo da cabeça da menina.

— Você é meu grande amigo e eu com certeza iria por consideração a ti mas não traga essa criança para perto de mim, ela me irrita profundamente.

— Mas ela é sua filha.

— Não é porque eu parei ela que tem obrigação de aturar, e agora que eu saiba ela é sua filha, é o sobrenome da sua família que ela usa, tudo certinho diante da lei dos homens. Eu sou Sarana Salvaterra e ela é... 

— Milena Diva Belladonna di Gilli e Agrippa von Nettesheim. — ele pronunciou orgulhoso.

— Puta merda, é sério? Seis nomes? Credo.

— É tradição na Alemanha que todos os nomes da família estejam em seus descendentes.

— Sorte a dela ter sido adotada por você Jorn. — Sarana virou as costas e já se encaminhava para dentro da igreja quando Jorn ouviu o riso de crianças vindo no interior da construção.

— Você está fazendo o quê eu acho que está fazendo? — ele arregalou os olhos horrorizado.


Ela o encarou.

— Eu faço aquilo que devo fazer para me manter jovem e bela, e não use essa expressão de surpres, você é tão bruxo quanto eu e já fez coisas muito piores.

— De tudo que eu já fiz nada foi tão longe quando machucar crianças.

— Você sempre teve uma queda pelos pequeninos, já eu enxergo as questões com muito mais objetividade do que sentimentalismo.

— Eu não vou interferir no que você faz porém deixo claro que isso me enoja.

— Tudo bem, Você deixou claro, tem mais algo a dizer?

— Sim, é sobre o menino, Henrique.

— O que tem ele?

— Eu gostaria de saber se poderia levar ele comigo para Portugal, Belladona vai estudar lá e eu irei cuidar dele para que também tenha um bom futuro.

— isso você tem que ver com Doralice, dei a criança para ela então ela agora que é mãe daquela coisa. Vai lá, se ela permitir que você leve o garoto pode levar até para o inferno que eu não ligo.


Sarana deu meia volta e entrou na igreja batendo as grandes portas com força, ficou parada ali do outro lado até que ouviu o motor do carro ligar e o veículo e ele se afastando.



❤ - III

Impressionate ilha!

Praiana ficou no barco, usava um vestido de rendas vazadas em linha branca e lilas, cheia de pusseiras tilintantes, ostentava unhas longas pintadas de azul claro, um anel de prata no dedo médio da mão direita. Ela prendeu o cabelo em um coque e ainda com os braços erguidos arrumando o penteado disse:

— Vão com cuidado, se não voltarem em três horas eu vou embora. É perigoso ficar muito tempo aqui.  


As demais moças desembarcaram e caminharam na praia de areia branca. Maria Quiteria assim que pisou em terra firme se virou para agradecer Praiana.

— Fique em paz, não iremos demorar.


Dama da Noite olhou em sua volta reconhecendo o local, apontando o dedo indicador na direçao de uma casa distante cujo dali somente eram visíveis os telhados de telhas barro.

— É lá, dentro daquele casarão que está a anfora onde prenderam Veludo! 

— Sinto uma grande agitaçao por aqui, — Rosa Caveira olhou em volta — é melhor irmos ate lá devagar, vamos com calma. 


De repente sons de trombetas começaram a ecoar e elas ouviram uma multidão gritar, era como um milhão de vozes vibrando em conjunto. Elas subiram em uma colina proxima e do alto dela puderam observar o que acontecia.

Elas viram a multidão, todos vestidos com túnicas brancas, as pessoas vinham percorriam ruas a vielas entre as construções até chegar em um praça, lá muitos já estavam pageando um enorme elefante que trazia atado no lombo uma vermelha em modelo similar as liteirias dos tempos do império. Toda a multidão carregava bandeiras brancas com longas hastes de bambu, havia muitos tambores e instrumentos de cordas também, o elefante cinza claro parecia assustado, se movia incerto fazendo tremer a cabine vermelha que em suas costas.

As meninas se sentiram perdidas, não esperavam chegar no meio de uma festa.

Dama da Noite fechou os olhos e enviou uma pergunta em telepatia para Tetemburo:

— "Tetemburo o que esta acontecendo aqui?"


Ele Mentalmente ele enviou a resposta:

— "Ah sim... a ilha recentemente perdeu seu regente, Sanat Kumara foi banido para o Inferno. Parvati é quem vai assumir a ilha, provavelmente é ela que está em cima do elefante. Cuidado com ela, se ela se tranformar em Kali ela... bom, Kali come espiritos."


Dama da Noite abriu os olhos e disse em voz baixa para Padilha, Quiteria, Rosa Caveira e Cigana:

— Aquela que está na cabine sobre o lombo do elefante é Parvati, a nova Rainha desta ilha. 


Padilha e Cigana Sarah arregalaram os olhos e se olharam, e depois falaram em um tom de voz muito perturbado:

— Maha-Parvati é terrivel! — Disse Padilha.

— Temos de ter muito cuidado, ela pode acabar conosco em um piscar de olhos... — falou Cigana.


Rosa Caveira olhou para a multidão e ate esticou um pouco o pescoço para observar melhor. 

— Seria deveras prudente se trocassemos nossos vestidos por tunicas brancas como aquelas.

— Sim, nossos vestidos coloridos vão destoar demais, — Quiteria olhou para sua saia púrpura — vamos nos adequar.


Toda elas giraram em torno de si mesmas e logo seus vestidos de cores fortes deram lugar a Sarees, roupas femininas indianas de tecido branco simples e sem adornos, e Rosa caveira agora havia tornado todo o seu rosto humano, camuflando entao sua meia face de cranio. 

Agora com todas vestidas iguais elas desceram, colina abaixo elas foram atravessar a multidao para assim chegar ao casarão, que era o seu real destino.

Desceram a longa colina de grama verde e flores silvestres, usavam um véu sobre a cabeça para que seus rostos não fossem notados se alguem as visse. Passaram da colina e sairam em uma escadaria de degraus de pedra bruta que as levou finalmente para a entrada da cidade. 

O povo todo gritava "OOOM SHAKTI! OOOM SHAKTI!" E elas prontamente ergueram as mãos e passaram a gritar essas palavras também para assim se misturarem a turba.

Chegaram a uma especie de pátio pavimentado em grandes placas de marmore branco fosco onde haviam centenas de arvores cerejeira em canteiros enfileirados que espalhavam as petalas cor-de-rosa de suas folhas como uma chuva graciosa no ar. O portão que dava entrada para a cidade era logo a diante, mas antes que pudessem chegar ate ele as ouviram uma voz que chamava:

— Katherine! Katherine Madame Dragon! Se esqueceu de mim?!


Maria Quiteria rapidamente voltou sua cabeça para trás e ao ver a mulher que lhe chamava por seu nome mortal ela sentiu o um calafrio percorrer a coluna.

— Núbia... 


Todas as meninas pararam ali no meio do patio e também olharam para trás, viram tres mulheres também vestidas de branco, no meio estava Núbia que agora era chamada de Sete Catacumbas, na direita Regina tambem chamada de Rainha, na esquerda estava Lorena chamada também de Figueira.  

Sete Catacumbas deu um passo para frente.

— Quiteria... O que conta de novo? não nos vemos a o que? duzentos anos? Ah mas você está muito bem conservada... 

— Grata pela parte que me toca, mas agora já não posso dizer o mesmo de ti... você esta diferente. Na verdade não te reconheço mais Núbia. 


Sete Catacumbas respondeu:

— Núbia está morta, apodreceu na barriga de uma cobra. Eu sou Sete Catacumbas. E não venha me falar de diferenças, a mulher que um dia você foi já não existe mais, Maria Quiteria voce é agora outra pessoa.

— Eu não mudei, eu me aperfeiçoei. 

— Devo eu por este aperfeiçoamento a prova?

— Núbia eu senti muitas saudades suas minha querida, mas todo amor que tive por ti nao me empede de te atacar. Pense bem, se está aqui com este propósito vai se arrepender.


Figueira interrompeu:

— Atacar? Atacar? Vagabunda prepotente, acha que sozinha pode com nos três juntas?


Maria Padilha tambem interrompeu e dando dois largos passos para frente:

— Ela não está sozinha, somos cinco e vocês são três.


Quiteria falou em voz alta:

— Sim eu estou sozinha! — olhou para trás — Vocês quatro vão logo resgatar Veludo, não se esqueçam que Praiana vai partir em menos de três horas, vão logo e eu as encontro em breve, deixem essas três comigo.


Rosa Caveira que mesmo com aquela situaçao estava serena, disse:

— Tem certeza disso? Se afirmar que pode com as três entao nos iremos sim prosseguir com a nossa missao aqui.

— Sim eu garanto. Agora vão, não há tempo a perder. 


Assim Dama da Noite, Padilha, Cigana e Rosa Caveira prosseguiram deixando Quiteria para trás, logo que passaram pelos portoes da cidade, Rainha com sua costumeira arrogância disse:

— Vamos velhota, vamos que chegou a sua hora.


Quitéria apoiou as duas mãos na cintura e ergueu o queixo de forma altiva.

— Venha, venham as três, eu sou Maria Quiteria! Eu me basto! 


Sete Catacumbas sorriu.

— Que triste reencontro meu amor...



❤ - IV

Meia Noite estava caminhando, amava cemitérios novos, aquele era o recém construído cemitério do Caju, as lápides e mausoléus ainda brilhavam de novos, bem como as estatuas todas ainda incorruptas.

Em sua caminhada algo começou a deixa-lo inquieto, olhando em torno não viu nada de suspeito mas ainda assim começou a desconfiar que estava sendo seguido. Olhava para trás mas nao via ninguem, porem ele sentia a presença que o cercava. 

A cada lapide que passava, a cada mausoléu do caminho ele sentia mais a sensaçao de perigo.

Prosseguiu sua caminhada, mas avistou adiante no meio do cruzeiro das almas a figura de um homem envolto em uma capa de tecido negro parado no meio do Cruzeiro das Almas, o homem gritou para ele:

— Meia Noite! Apresse o passo, senao ele vai te pegar!


Meia Noite respondeu gritando:

— Capa Preta?! Do que esta falando?!

— Olhe para trás homem! 


Meia Noite olhou novamente e viu se aproximando uma coruja rasgadeira, a coruja branca das bruxas, porém está não era como as normais, essa era anormalmente grande e suas asas abertas de ponta a ponta ultrapassavam os quatro metros de envergadura, vendo aquilo ele passou a correr desesperado.

Do outro lado Capa Preta gritava com sua voz grossa:

— Anda-lhe! Anda-lhe! Se está miséria lhe pegar vai lhe carregar pra longe! 


Antes que a enorme coruja pudesse agarrar Meia Noite ele conseguiu chegar ate Capa Preta que ergueu a mão e exibindo entre os dedos uma pluma branca disse:

— Arreda! Eu venho com a proteção de Samyaza!


Assim que ele disse estas palavras o Cruzeiro das Almas, que é a principal encruzilhada das vias dentro do cemiterio acendeu seu solo com se luz viesse do chao formando um grande triângulo iluminado. A coruja veio diretamente para pegar Meia Noite mas ao se aproximar foi empurrada para trás como em uma corrente de vento contrario. Varias vezes a coruja tentou chegar a eles mas nao pode, entao desistiu e foi embora.

— Onde aprendeu esse feitiço? — Meia Noite se impressionou.

Capa Preta suspirou profundamente.

— Tenho andado muito com demonios nos últimos anos, aprendo rápido.

— Foi uma sorte você estar por perto. Mas quem enviou essa Coruja Rasgadeira? 

— Aquilo era Sete Encruzilhadas.

— Ele mandou a coruja?

— Ele era a coruja. Sete Encruzilhada é um Anjo caído e por isso pode incorporar em animais, coisa que nós não podemos. Ele pretendia te levar pra algum lugar. 


Meia Noite respondeu com um sorriso nos labios:

— Isso so confirma o que eu pensava, descobri a vadia que esta por tras dessa tal Roda das Princesas, usando todas as outras como marionetes ela acha que vai se dar bem...  

— O problema é que de tudo que ela fizer, nos tambem seremos culpados. Muito me Admira Sete Encruzilhadas estar ajudando ela... 

— Uma mulher quando sabe usar os dotes que tem pode manipular qualquer um.

— Sim... — Capa Preta suspirou mais uma vez com ar de cansaço — Mas com as algumas moças em Shambala, um processo de reencarnaçao impura acontecendo, um anjo caido envolvido... toda essa agitaçao vai atrair os olhares de todos, inclusive os que podem nos prejudicar muito.

— Eu ja imaginava...  Mas como? Como contar a todas as outras que é aquela Pombagira que as esta manipulando? É capaz de nem sequer crerem em minha palavra. — Meia Noite franziu a testa.

— O guri, precisamos falar com o menino que serve Dama da Noite, ele nos fará ter contato com as meninas que estão na ilha e as alertar sobre isso. Elas precisam saber a verdade. 

— Então vamos juntos, nós juntos poderemos achar o menino Tetemburo. 


Capa Preta e Meia Noite foram de encontro a Maria Navalha, eles sabiam que ela conhecia um método de encontrar Tetemburo mas por toda parte a procuraram e nada de a encontrar. Maria Navalha havia desaparecido.



❤ - V

Na ilha, Maria Quitéria com os olhos baixos demonstrava estar com os sentimentos contrariados. Com a voz um pouco embargada ela perguntou:

— Núbia, porque está fazendo isso?


Sete Catacumbas ficou em silêncio por mais de um minuto. Ela queria responder com empáfia, mas preferiu ser sincera:

— Quitéria por favor não me chame de Núbia. O porquê de eu estar nessa jornada é simples... dói muito estar morta. Eu morri de um modo... o seu envenenamento, e sim eu sei da sua história, não foi nada em comparação com a forma que eu morri. Estou cansada de sofrer. Por todas as nossas questões de bruxaria nós não podemos rreencarnar de forma natural mas ainda assim eu desejo ser viva, ser humana uma vez mais.


Quitéria olhava fixamente para Sete Catacumbas, as pétalas rosadas dos pés de cereja caiam no ar, o local onde elas estavam era lindo, mas o clima era tenso.

— Bom, Sete Catacumbas... Eu não sinto dor nenhuma em estar morta. Eu entendo que jamais iremos reencarnar, estamos paradas no tempo eterno. Mas isso pra mim é nada além de destino.

— Destino? — Figueira deu um passo a frente — Pode ser o seu, mas não será o meu. Todas as bruxas da Figueira se tornaram espíritos, guias espirituais e essa papagaiada toda, mas eu não quero isso para mim. Não serei como todas, eu quero viver.

—  Compreenda Quitéria, — Rainha se aproximou de Núbia — não somos de todo malvadas, mas você está no nosso caminho. Temos de lhe parar, afinal sem você as demais ficarão desnorteadas e vamos poder prosseguir com nosso plano.

— Quitéria em nome de toda a vida que tivemos juntas, passe para o nosso lado. Seria uma imensa alegria reencarnar contigo. — disse Sete Catacumbas.


Quitéria com a voz firme respondeu:

— A resposta de sua pergunta tu já sabes que é não. Se a mãe natureza nos colocou nessa posição é porque não devemos voltar a ter carne e osso. E se para o seu plano se concretizar vocês precisam usar as moças, entao eu lhes digo que eu Quitéria vou impedir que a sua meta se conclua.


Quitéria abriu a boca o máximo que pode, escancarou a mandibula de uma maneira sobre humana, o som dos ossos do seu maxilar estalando era alto, ela exibia agora a boca aberta, carne rosada, do fundo de sua garganta brotou a cabeça de uma serpente negra.


Rainha com uma expressão de nojo perguntou:

— Sete Catacumbas, o que ela está fazendo?

— Ela está desembainhando sua espada.


A serpente saiu da boca de Quitéria e caiu no chão, era uma Mamba negra de um metro e meio de comprimento. O rosto de Quitéria voltou ao normal, ela se abaixou e apanhou a cobra pela cabeça, em seguida a sacudiu no ar, a cobra se tornou rija e em seguida ela se metamorfoseou em uma espada de longa de aço negro.

—  "L'épée de la Reine du Serpents"... — Figueira se impressionou — é a famosa espada da serpente rainha, a tal cobra negra que se alimenta de outras cobras. Me surpreende que Quitéria, sempre me surpreende...


Sete Catacumbas olhou para a espada na mão de Quitéria sorrindo amargamente.

— Eu sabia, antes de morrer eu dei por falta dessa espada e você disse que não sabia onde estava. Você tinha engolido ela sua Bruxa perversa! A minha espada!


Quitéria se pós em posição de ataque.

— Uma lâmina venenosa que pode ferir até almas... venham provar!


Sete Catacumbas olhou para suas comparsas e viu que estavam tambem em posiçao de ataque.

— Não se precipitem, não façam nada sem pensar.


Tarde demais.

Rainha empunhou seu cetro de ouro e partiu ao ataque, correu sobre Quiteria que desviou, fez uma segunta tentativa mas Quitéria foi mais veloz, quando Rainha ficou bem proxima e se curvou para cortar-lhe a barriga ela deu um salto para trás, mas atrás dela já estava Figueira que a segurou pelos braços tentando imobilizar Quitéria enquanto rainha novamente investia contra ela.

Quitéria foi novamente veloz, ela girou seu corpo e deu um tranco forte trazendo Figueira para frente e se desvenciliando dela sendo que Rainha não teve tempo de parar o ataque e acidentalmente cravou o cabo de seu cetro no peito de Figueira. Um terrivel engano.

Figueira caiu ajoelhada, no mesmo instante ja se sentiu fraca, seus poderes lhe faltaram. Ela puxou para fora o cetro e todas puderam ver o buraco escuro que ficou no seu peito proximo a clavicula esquerda.

Ela estava sem folego e de imadiato havia impalidecido, perguntou a Rainha:

— Regina tem veneno nesse cetro?

Rainha constrangida pelo erro respondeu:

— Tem mas não se preocupe, é so pra enfraquecer e dura pouco.


— Que piada... — Quitéria gargalhou.

Rainha se distraiu e nisto Quitéria atacou, puxou o cabelo vermelho de rainha por trás a fazendo erguer o pescoço e projetar a cabeça para as costas, e com agilidade Quitéria passou a lâmina da sua espada bem abaixo do queixo, abrindo um corte largo. Rainha caiu, seu corpo bateu no chão desacordado, inconsciente.


Quitéria olhou para Sete Catacumbas cheia de orgulho pelo que tinha feito.

— Não se preocupe, eu não posso matar quem já está morto. Esse corte vai cicatrizar em alguns dias, menos de um mês eu creio, mas ela ira ficar apagada por todo esse tempo.


Figueira sem fôlego tentou gritar, mas sua voz saiu rouca:

— Ela vai ficar um mês apagada?!


Sete Catacumbas irritada falou:

—  É o que ela merece, e você também. Como puderam atacar sem a minha ordem? Vocês não conhecem Quitéria. Olha agora, caidas ao chão, patéticas...

— Figueira pegue sua amiga e saia daqui, eu e Sete Catacumbas vamos entrar em combate. — Quitéria empunhou a espada novamente.


Sete Catacumbas ergueu as duas maos as movendo sinuosamente no ar, nisto as suas unhas das mãos cresceram, saltaram como garras de gato, unhas douradas com as pontas curvadas com cerca de 8 centímetros cada.


Quitéria olhou para as garras douradas e falou:

— Então será a minha espada contra as garras de um gato preto?

— Não, esta espada nao é sua, é uma arma roubada, mas sim, agora vamos brigar como antigamente.

— Não, não como antigamente. Desta vez nao havera risos no final. — Quiteria deixou escapar a melancolia.


Sete Catacumas rugiu como uma onça, um rugido tão alto que fez o mármore do pavimento vibrar, correu na direçao de Quiteria que por sua vez vibrou a espada de cima para baixo no sentido do pescoço de Sete Catacumbas, mas a lamina foi travada pelas garras douradas, o impacto gerou faiscas, Quiteria foi empurrada com tamanha força que bateu as costas em uma das arvores fazendo o tronco da cerejeira estralar e uma chuva de pétalas rasadas cair sobre elas.



❤ - VI

Maria Padilha e as meninas estavam no meio da multidão que cercava o Elefante da deusa Parvati, iam calmas tentando atravessar sem serem percebidas mas a multidao silenciou quando0 ouviram o som de um rígido que vinha da direção da praça das cerejeiras. A voz potente da Deusa parvati foi ouvida de dentro de sua cabine de cortinas de seda vermelha.

— Que rrruidos son estes? O que ocorrrre? — Ela falou com forte sotaque hindu.


Um dos seus lacaios respondeu:

— Shakti-Devi-Maha-Parvati, parece que há uma estranha movimentaçao no Jardim das arvores rosadas porém creio apenas ser a animação do povo que está vindo lhe saudar.


A deusa ficou em silencio enquanto o lacaio a apaziguava mas novamete se ouviu outro rugido seguido de um estrondo algo e todos puderam ver ao longe que uma das copas de arvore cor de rosa desaparecendo, tombando.

A deusa removeu a cortina de tecido vermelho na lateral de sua cabine e pôs para fora sua cabeça olhando para os portões da cidade.

Outro estrondo se ouviu e desta vez duas arvores foram ao chao. A Deusa se sentia agora desrespeitada.

— Como pode que no dia da minha coroação como Rainha desta ilha eu seja tratada assim? Os espiritos que estao lutando ali não vieram me adorar, nem sequer me cumprimentaram.


O lacaio respondeu:

— Maha Parvati, infelizmente pelo que se parece ali estão espiritos rebeldes, sem respeito.


A deusa abriu a porta  de sua cabine e saltou para fora ficandoo em pé diante de todos, era enorme com mais de tres metros de altura, possuia Seis braços e era adornada com muito ouro, o sua veste vermelho escarlate era bordada com muitas flores de Lotus em linha dourada, as suas muitas mãos estavam desenhadas com hena, usava uma grande coroa de ouro maciço e o cabelo liso e solto de tao comprido arrastava no chao, seus labios vermelhos contrastavam com seus olhos pintados com Kajal, na testa usava uma joia de pedra jaspe, nas mãos aneis e ate nos dedos dos pés trazia joias, mas o mais impressionantes era a cor de sua pele, a deusa era uma mulher amarela, o tom similar a casca de banana. Olhando na direçao da entrada da cidade ela gritou com sua voz sobrehumana:

— Espíritos que lutam nos portoes de Shambala! Venham prestar homenagens e render graças a mim ou eu irei engoli-los um a um! 


Comentários

  1. Quitéria, digo: "És tu, senhora Orochimaru?" rsr

    Tá maravilhosa ♥️

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  2. Gente eu tô apaixonado pela Quitéria, ela cospe fogo do inferno, ela cospe serpente q vira espada,bruxaaaaaaaa

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