RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 13
Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS
Capítulo 13
"Fala Demónio!"
❤ - I
Quitéria se calou. Havia uma expressão de espanto em sua face. Alguns minutos houve silêncio ali. Ela pôs aos mãos juntas sob o queixo e disse:
— Eu não entendo. Eu não entendo o que está acontecendo aqui. Como você pode afirmar isso?
— Eu vi ela. — Padilha falou.
— Mentirosa! Você nem sabe como ela é.
— Negra, olhos grandes, ombros arredondados... ela mesma se anunciou para mim na praia, disse com a própria boca quem era.
— É impossível, Núbia... Núbia não pode estar entre nós.
Foi então que vozes de mulheres se fizeram ouvir, eram risos que pareciam estar se aproximando por dentro da mata.
Figueira veio andando calmamente entre as sombras das árvores chorão, usava um belo vestido inteiriço extremamente justo com uma gola que ia desde o pescoço, mangas longas que se prendiam aos dedos das mãos e uma barra que praticamente arrastava no chão de tão longa, o tecido era algodão simples negro mas tinha um ar muito sofisticado junto ao longo rabo de cavalo que pendia do alto de sua cabeça e a forte maquiagem escura com unhas negras pontiagudas.
Ela se aproximou até estar no meio da roda junto a roseira branca, deu um giro para ver a face de todas as moças.
— Mentiras... Muitas mentiras contadas aqui. Dama da Noite está mentindo.
— O quê? — Dama se espantou.
— Sim, ela é que queria matar vocês pra resgatar o namoradinho que caiu no cântaro, ela é que quer...
Figueira foi calada com um chute em suas costas que a fez desequilíbrar, Quitéria a golpeou.
— Dama da Noite nada! Fale! Fale logo! Onde onde está Núbia! E que DESGRAÇA é essa que vocês estão fazendo?!
Figueira franziu a testa em ódio e avançou sobre Quitéria lhe dando uma bofetada no rosto, mas antes que a mão tocasse na face da inimiga ela recebeu uma "peitada" de Maria Mulambo que jogou seu corpo contra o de Figueira a fazendo cair sentada no chão.
— Se é pra descer a porrada em filha da puta é comigo mesmo! — disse Mulambo flexionando os braços.
Figueira foi se levantando ainda meio torta.
— Vocês tem certeza querem partir para esse lado? Querem uma guerra com todas nós? Acham mesmo que nos três vamos deitar para megeras como vocês?
— Três? — Menina perguntou.
— Sim, nós somos três, e juntas somos mais que vocês dez! Droga eu não tenho mais paciência pra aturar nenhuma de vocês!
— Se são tão fodasticas, se mostrem. — disse Rosa Caveira.
Uma voz de mulher se ouviu vindo da floresta, uma voz aguda como de uma cigarra. Ela ria, zombava.
— Eu me mostro sim, muito prazer a todas.
Todas as moças pararam para ver a mulher quem chegava, passo a passo ela caminhava e mesmo no escuro o reflexo de suas jóias já a denúnciava.
Ao entrar na clareieia ela se mostrou, era ruiva com os cabelos alaranjados como fogo, usava uma roupa clássica colonial, a saia era de camurça bordô e cheia de babados que na metade do comprimento davam lugar a rosas bordadas em vermelho vivo, o espartilho marrom era muito afunilado fazendo sua cintura finíssima, o corte reto do decote fazia os fartos seios praticamente saltarem para fora, os braços adornados por mangas três quartos de renda vermelho transparente, ela usava muitos anéis e em destaque um grande anel de pedra vermelha. O mais chamativo era uma pequena tiara dourada em sua cabeça e um cetro real de ouro em forma de dragão em sua mão.
Todas as moças em uníssono perguntaram:
— QUEM É VOCÊ?
— Porque está fantasiada? — Mulambo fez uma careta de desaprovação.
Quitéria gruniu em total reprovação ao ver aquela pessoa.
— Regina...
— Olá Quitéria... como tem passado?
— Pessimamente. Moças essa é Regina, a Feiticeira mais vadia que já existiu... Tão promíscua que até os capetas com ela tinham desfrute.
Regina sorriu com seus labios vermelhos.
— Desgraça é o meu sobrenome. Porem ultimamente os vivos me chamam de POMBAGIRA RAINHA.
❤ - II
Ela estava ali em frente a um bar, sentia cheiro de álcool e tabaco. Seus olhos estavam vermelhos como sangue.
Sete Catacumbas as vezes tinha acessos de fúria. Ela olhava para os homens ali bêbendo cerveja sentados nas cadeiras, homens barrigudos, sujos, eram seres repugnantes e a desejava que eles estivessem mortos. Era um desejo de ódio tão grande, massivo, que de repente gritos se ouviram, um som de vidro quebrando, sem motivo algum estorou uma briga, berros, barbárie, homens se digladiando com cacos de vidro, garrafas quebradas por todo lado, sangue no chão, sangue nas mesas...
É a maior força do mundo, a força do desejo do coração, e o coração dela sentia ódio. Os homens se voltaram uns contra os outros por desejo dela.
Ela sorriu, literalmente arreganhou seus labios fartos ao ver um deles morto com um caco de vidro cravado no pescoço, o corpo ali caído na sarjeta, mas ela foi embora antes da alma abandonar a carne.
Pensou "menos um pra fazer merda".
Sete Catacumbas era Núbia, mulher que por conhecer o lado negro da humanidade passou a odiar tudo que vem dela.
Se vestia como uma noiva, toda de branco, mas não como uma noiva românica, não tinha véu.
Apesar da beleza, na verdade Sete Catacumbas era extremamente macabra.
Era um belo vestido de saia justa estilo sereia agarrado ate os joelhos e então se abria como um leque, os largos quadris davam um ar de mulher da noite. O busto do vestido era tomara que caia bordado em arabescos prata com lantejoulas estilo vintage, usava uma echarpe de seda branca brilhante nos ombros, longos brincos em forma de âncoras prateadas cravejadas de minúsculos brilhantes.
Andava em uma rua do subúrbio, no céu se via poucas estrelas pela fumaça que saia da chaminé de uma fábrica na vizinhança. Ela olhava as charretes passando e toda aquela gente barulhenta, vozes de muitas pessoas, ruídos de música, barulhos e mais barulhos, a cada passo ficava mais horrorizada com tudo aquilo, aquela agitação noturna.
Ao passar em frente a um salão ela ouviu o ápice da loucura. Olhando para dentro ela viu a balbúrdia, era um salão como que uma igreja, mas era feio demais para ser uma. Sete Catacumbas ergueu os olhos e leu na placa acima da entrada "Igreja Evangélica Luterana - Convenção Batista Brasileira", então deixou escapar de seus labios:
— Não é que esse lixo é mesmo uma igreja?
Ela entrou e sentou em um das cadeiras duras e muito desconfortáveis. Olhou para o púlpito e viu aquele altar envelopado com carpete cinza de baixa qualidade e sobre ele o pastor, um homem de estatura baixa e um tanto gordo usando um bigode e um terno da mesma cor que o carpete, coisa que o deixava parecendo um mágico de circo.
Ela ficou assustada quando ouviu pastor gritar:
— AGORA VAMOS EXPULSAR OS DEMÔNIOS QUE ASSOLAM OS ENDEMONINHADOS!
Ela ficou passada com o berro do homem, aquilo não era em teoria um lugar santo? Então porque ele estava berrando como um porco na hora do abate?
Sete Catacumbas se inclinou para frente muito interessada com as palavras do pastor, pelo que parecia um Demônio se manifestaria ali.
Uma mulher jovem com um vestido longo preto muito démodé foi até o púlpito. Ela estava meio bamba, murmurava palavras desconexas e revirava os olhos. Quando o pastor começou a orar e a gritar suas palavras de ordem a mulher caiu no chão, se contorcendo e babando, gemendo como uma epilética.
Sete Catacumbas se levantou e se aproximou para ver. Ela foi até o púlpito e se inclinou sobre a mulher, a observou e logo constatou que não havia nenhum demônio ali, nem um tipo de força sobrenatural. Na verdade era só uma encenação.
Ela se indignou! Haviam cerca de cinqüenta pessoas sentadas naqueles bancos assistindo a palhaçada, todas sendo enganadas.
O pastor gritava:
— FALA DEMÔNIO! FALA! ME DIGA QUEM VOCÊ É!
Nesse momento uma senhora passava uma cestinha entre os presentes, a cesta chamada "salva", um recipiente onde as pessoas depositavam notas, cédulas em doação.
Quando Sete Catacumbas olhou para as pessoas dentro da igreja ela viu que uma mulher lhe encarava, a mulher podia enxergar espíritos. Na hora percebeu que a mulher era uma médium, só os médiuns podem ver o que está alem do material.
Sete Catacumbas andou até ela e observou a mulher tremendo de medo ao ver ela se aproximar. Era uma mulher jovem, vinte anos mais ou menos, usava um casaco de tricô branco muito mais largo do que devia, uma saia de flanela marrom que mesmo parecendo ser nova era no estilo "mendiga" de tão brega e um tipo de sapatilha de couro preto, os longos cabelos presos em um coque envolto com uma rede enfeitado com um pavoroso laço preto. Ela estava ridiculamente vestida como "crente pentecostal".
Sete Catacumbas estava ali na terceira fileira de cadeiras em frente a aquela pobre moça, e decidiu se apoderar dela.
— Meu bem, eu gostaria de falar com seus irmãos e irmãs de fé. Vou tomar sua boca emprestada. Espero que não se importe.
A moça aregalou os olhos e só teve tempo de gritar "Jesus!", nisso Sete Catacumbas a abraçou, a envolveu com tanta força que foi para dentro dela. Naquele momento Sete Catacumbas estava em terra.
Possessão. Absoluta possessão.
Ela colocou as mãos na cintura e deu uma gargalha tão alta que a encenação que ocorria no púlpito parou e todos voltaram a atenção para ve-la.
A moça que o estava sob possessão de Sete Catacumbas começou a de despir, arrancou a blusa e a camisa que tinha por baixo, tirou a sapatilha, soltou o cabelo e o sacudiu para deixar armado. Ela ficou somente com um sutiã preto simples e a saia, mas Sete Catacumbas fez questão de abrir um rasgo na vertical da saia até meio palmo antes da virilha deixado um racho extremamente vulgar. Deu um tapa na perna da moça e gritou:
— Do que adianta ser peituda e coxuda se ninguém vê... Olhem aqui um belo par de tetas! — ela balançou os ombros fazendo os seios chacoalharem.
Todos os crentes perceberam que ali era um espírito de verdade, então ao invés da costumeira bagunça de gritarias exorcistas eles na verdade se afastaram dela, todos dando um passo para trás com os olhos arregalados.
Sete Catacumbas foi andando em direção ao púlpito, ergueu a mão apontando para o pastor.
— Estou pronta!
O pastor respondeu meio assustado:
— Li-Liliane o que está fazendo? Ponha suas roupas! E está pronta para que???
Sete Catacumbas percebeu na hora que aquela moça que estava incorporada era a filha do pastor.
— Meu nome não é Liliane... Você disse que queria falar comigo, você gritou "fala demónio, diga quem você é", pois bem, aqui estou eu e vim dizer quem sou.
O pastor agarrou a bíblia com força e a mulher que fingia ali estar endemoniada se levantou e saiu do altar correndo o mais rápido que pode.
— O DEMÔNIO SE MANIFESTOU NA MINHA FILHA! — o partor berrou em um misto de teatralidade mas também de medo.
— Olha o respeito! Demônio não! Pra você é senhorita diaba.
Sete Catacumbas andou na ponta dos pés como se usasse sapatos de salto alto, subiu pelos degraus na lateral do altar e ficou ali diante de toda a igreja e lado a lado com o pastor. Ela se aproximou de onde estava o púlpito com a uma grande bíblia e um castiçal com sete velas acessas, do lado um móvel coberto com uma toalha de rendas brancas e sobre ele uma jarra com suco de uva e pão. Era dia de Santa Ceia.
Ela se aproximou da bíblia e correu o dedo indicador em uma página qualquer fingindo ler, se aproximou mais do livro e então falou:
— Eis que de verdade em verdade vos digo, não serás filho da puta, não serás vadia de esquina e nem se apaixonaras por fumador de erva nem serás viado enrustido. Palavras do senhor. Amém. — ela gargalhou achando realmente muita graça.
Uma senhorinha gritou ao fundo:
— Blasfémia!
— Blasfémia? — Sete Catacumbas a ergueu as sombrancelhas — Blasfémia é você gastar montes de dinheiro com seus malditos gatos e não dar um pão sequer pros seus vizinhos que são pobres! Velha vagabunda!
O burburinho tomou conta da multidão.
O pastor tocou a palma da mão no meio das costas dela e gritou:
— PÕE A MÃO PARA TRÁS CAPETA! TÁ AMARRADO EM NOME DE JESUS!
Sete Catacumbas virou e o encarou.
— Tá é Fudido em nome de sete viados! — Ela agarrou o homem pelo colarinho e o arremessou para o meio do corredor na nave da igreja, o pastor literalmente voou até cair no chão batendo contra o piso como um saco de batatas.
Ela deu outra grande gargalhada e voltou para perto do livro sagrado, apoiou as duas mãos no pulpito e começou a falar em voz alta para que todos ouvissem:
— DIABO! Vocês falam do diabo e de demônios. Vocês descrevem o Diabo como FALSO, MENTIROSO, MESQUINHO, PERVERSO, INIMIGO DOS HOMENS, AUTOR DE GRANDES MALDADES. Bom senhoras e senhores, devo dizer que essa igreja está cheia de Diabos então, já que essa mesma descrição que vocês dão ao demônio cabe perfeitamente em cada um de vocês, malditos crentes. Vocês são FALSOS, MENTIROSOS, MESQUINHOS, PERVERSOS, INIMIGOS DOS HOMENS, AUTORES DE GRANDES MALDADES e PERVERSORES DA PALAVRA DE DEUS. De verdade e em verdade voz digo que Satanás perto de vocês é santo, já que existem pecados sobre vocês que ele jamais cometeu. Ele nunca foi PRECONCEITUOSO, nunca roubou dos pobres, ele sempre foi SINCERO. Pela sua sinceridade é que foi expulso do céu. Vocês meus caros são piores que qualquer deidade das trevas, e eu imagino aqui que se vocês tivessem algum tipo de poder o usariam nessa maldita guerra santa. A única fé que salva é a sua? A quando vocês morrerem vão ter uma surpresa...
Sete Catacumbas pegou a grossa bíblia e com uma grande força rasgou ao meio atirando os pedaços sobre o pastor.
— E ESSE LIVRO FOI ESCRITO PELAS MÃOS DOS HOMENS E NÃO PELA MÃO DE DEUS! Malditos manipuladores de cabeças fracas!
Uma das crentes ali na platéia gritou:
— Ela é o Dragão do Apocalipse!
Sete Catacumbas ao ouvir aquilo deu outra gargalhada espalhafatosa.
— Dragão? Dragão não que ai você me ofende, me respeite! Vocês acham que espíritos tem rabo, chifre, pele vermelha não é? Tolos! Espíritos como eu usam salto dezesseis! Usam vestidos de veludo e jóias de rainha. Eu sou um MONSTRO! Um monstro de pele sedosa e perfumada, com a cintura fina e os labios vermelhos, eu sou gostosa pra caramba! Digo isso pra vocês verem que nem mesmo os espíritos são tão ridículos como vocês. Joguem a essa bíblia fora e vão em uma modista, comprem uns trapos novos, uma costureira fará mais por vocês que esse pastor estúpido!
As pessoa ouviam aquilo tudo caladas, atônitas. Não acreditavam no que estava acontecendo.
Sete Catacumbas encheu uma taça com o suco de uva que estava ali do lado do púlpito e deu um grande gole, em seguida cuspiu no chão enojada.
— Credo! O que é isso? Água suja? Não galera, assim enfraquece a amizade... — Ela encheu novamente a taça com aquele suco roxo e espesso e assoprou sobre ele dizendo a palavra "Rubrum".
O suco de uva se tornou vermelho como sangue e o perfume de vinho se espalhou no local.
Ela bebeu, havia transformado o suco em vinho.
Ela arremessou a taça no pastor, ele conseguiu segurar antes que caísse no chão, ela desceu do altar ainda andando na ponta dos pés, foi para o meio da igreja.
— Senhoras e senhores muito obrigada, vocês divertiram minha noite. Agora eu vou embora. Vamos lá, estendam suas mãos na minha direção e gritem "Sai Diaba!"
Todos ali ainda que acanhados fizeram o que ela mandou, ergueram as mãos e disseram "Sai Diaba".
Ela olhou para o Povo com uma cara de deboche.
— Olha, desse jeito nem zombeteiro sai. Vamos lá! Mais energia!
O povo gritou novamente, dessa vez mais alto "Sai Diaba". Ela gargalhou.
— Ui ui ui! Olha que eu to quase saindo hein! De novo!
O Povo então gritou o mais alto que pode: SAI DIABA!!!!
— O que vocês me pedem sorrido que eu não faço chorando? Boa Noite!
A moça caiu desfalecida, Sete Catacumbas havia deixado o corpo dela. Ela saiu da igreja enquanto a confusão ali continuava, mal podia se conter de tanto rir. Pensou consigo mesma "Sou maldita, sou nojenta... E não gosto de vocês."
Então foi dançando pela rua, girando como uma bailarina. Ela realmente era terrível.
❤ - III
Na reunião na mata, quando Rainha se apresentou causou surpresa em todas as moças com exceção de Quitéria que já era uma velha conhecida.
Ela era uma mulher diferente, uma espécie de Elizabetana meio depravada meio classuda.
Diante de todas Rainha falou:
— Garotas vamos parar por aqui. Pelo visto não deu certo o que nos pretendiamos fazer, isso é realmente uma pena, mas a participação de Dama da Noite era apenas o plano A, e nós ainda vamos fazer o que pretendemos só que de outra forma, temos um plano B. Mil perdões por fazer vocês todas perderem seu tempo, porém não haverá mais Roda das Princesas. Não envolvendo vocês. Enquanto a você Helena... Seu namoradinho já era, sinto muito, vamos dar um jeito de ele nunca mais ser livre.
Dama da Noite engoliu seco.
— Eu vou fazer o que for preciso, me aguardem.
— E não fiquem tão animadas, assim que eu encontrar Sete Catacumbas vou dar um jeito de parar esses planos estúpidos. — disse Quitéria.
— Ora essa, você pode impedir o sol de nascer? A lua de minguar? Empáfia não resolve nada. — disse Figueira.
— Quitéria somos três e você é uma, como pode dizer que vai nos deter? Vai usar esse exército de vadias? Ora essa... me economize. — disse rainha.
— Sim vou usar esse exército de vadias, e elas não são somente vadias, são VADIAS LOUCAS, elas vão fazer um belo estrago. E além disso eu tenho uma carta na manga...
— Carta? — Figueira perguntou.
— Ora essa Regina, você sempre foi poderosa na execução das magias, mas só reproduzia feitiços já criados por outros. Você é burra como uma porta, então é claro que não é você a cabeça de nada. Você é mais um peão do jogo, e eu vou descobrir quem está por trás disso e vou cortar o mal pela raiz.
Rainha gritou o nome "Mirian" e logo surgiu uma menininha branca e loira do tamanho de Tetemburo, ela usava um vestindo rosa e o cabelo preso em um coque, a menina tomou Figueira e Rainha pelas mãos e as três explodiram em fumaça vermelha, assim como Tetemburo a pequena Mirian eram um espírito "mirim" e podia usar a magia de transporte.
— Fugiram... — Rosa Caveira falou.
— Só eu que estou confusa aqui? — perguntou Menina.
— Imagino que todas vocês estão cheias de perguntas a fazer, mas antes, em primeira questão nos vamos libertar o tal "Veludo". Dama da Noite me mostre onde ele está. Sigam me as Diabas! — disse Quitéria.
❤ - IV
Eram como raposas, deixavam um rastro como flash vermelho, elas corriam com suas saias levantadas as pernas se movimentavam com afinco e delicadeza correndo com seus sapatos de salto alto, se um humano pudesse contemplar pensaria que aquilo era uma miragem, um sonho, elas eram tão lindas que até as ninfas teriam inveja.
A noite havia sido agitada, nenhuma delas estava entendendo o motivo do levante de três mulheres tao assombrosas contra elas. Figueira, Sete Catacumbas e Rainha eram totalmente a parte, não eram envolvidas com nenhuma delas e ainda assim eram agora uma ameaça. Mas porque isso?
Entre casas, arvores, vielas, estradas e por toda a parte elas correram, marcharam rumo a praia, seus cabelos ao vento e seus gestos delicados as faziam semelhantes a seres míticos.
O sol ia logo surgir, o alaranjado da manhã já tocava as nuvens. elas estavam quase na praia mas Quitéria as fez parar na serra do mar para esperar o dia passar.
Todas juntas ali, no rosto da maioria se via uma expressão de duvida, incerteza por não saber direito o que estava acontecendo.
Elas ficaram nas sombras das folhas de palmeira, a serra era úmida, os animais fugiam da presença delas, para os animais o sobrenatural era sempre algo a se temer.
Elas se sentaram nas pedras limosas , todas em silencio com o olhar baixo.
Eram mulheres magras, todas juntas pareciam uma pintura de Michelangelo.
Quitéria se levantou, como dia nascendo ela achou melhor trocar de roupa, girou na pontas dos pés e seu vestido tomado por uma luz forte se transformou em uma leve camisola de seda purpura que ia pouco acima das coxas e com um laço de cetim negro abaixo dos seios, era um belo vestidinho de dormir, ela também usava sandálias com correias de tecido negro com um salto baixo deixando seus dedos a mostra, suas unhas sem esmalte mas muito bem cuidadas, o cabelo ela prendeu em um coque que pendia para o lado, usava grandes brincos de argola. era um visual para dias a beira mar, seguindo ela todas tambem passaram a vestir roupas leves.
Quitéria chamou Menina:
— Vamos conversar, imagino que todas tem muitas duvidas, não é mesmo?
— Sim. O que aquelas três querem? — Navalha perguntou.
— Exatamente o que querem eu não sei, mas posso garantir que não e nada de bom. — disse Quitéria.
— Mas porque temos que nos meter nisso? — Maria Padilha perguntou.
— Sim, se Dama da Noite ja explicou tudo, porque temos de continuar nesta história? — Sete Saias perguntou.
— Deixe que eu mesma respondo, — Dama da Noite se dirigiu a todas — essa tal Roda das Princesas seria feita sacrifícando sete de vocês, ou seja o processo já seria um ataque, agora imagem se esse feitiço for de fato concretizado? Se elas usaram outros sete espíritos e fizerem a Roda das Princesas e ela der certo elas irão querer repetir, e se a cada vez precisarem de sete espíritos poderosos...
— Uma hora elas virão atrás de vocês. — disse Menina.
— De nós, você é uma de nós, não é Menina?
— Claro, me expressei mal. — Menina sorriu com os olhos.
— Moças não tenham medo, nos quando éramos vivas lutamos incessantemente contra as repressões, e não vai ser agora na morte que vamos passar a vítimas. Vamos dar um jeito nessas piranhas. — disse Quitéria.
— Quitéria se você nos abandonar nós estamos perdidas. não somos páreo para elas.
Quitéria ficou pensativa e por alguns instantes andou de uma lado para o outro com a cabeça baixa, ela estava organizando os pensamentos.
— Velhota, ensine a elas o que sabe. todas tem o mesmo potencial aqui, e só você passar as informações de como usar a própria força para elas e todas terão poder pra enfrentar as bruxas. — Disse Maria Padilha.
Quitéria respondeu impaciente:
— Você diz "elas" se excluindo do grupo? Você acha ser melhor que elas em algo? Se elas não tem conhecimento sobre o seu real potencial, você também não.
— Eu não estou me excluindo de nada, — Padilha levantou — não queira manipular as minhas palavras. Sua revolta comigo e pela humilhação de sua derrota vergonhosa, não envolva sua frustração com a atual situação.
Quitéria já levantado a voz falou:
— Humilhação? Humilhação foi você ter construído sua vida sobre a minha. O Cabaré, o dinheiro, a posição, tudo era meu e você somente se apropriou, roubou. Você nunca foi uma mulher de verdade, tudo que você pensa que é na verdade são somente sobras de quem eu fui.
— Eu construí o meu caminho, eu venho de longe. Eu nunca fui uma sombra sua, até porque viver como uma megera sozinha e odiosa nunca fez o meu perfil. você nada mais era do que uma mulher infeliz. Me lembro bem de você, amarga como um limão... Sua vida podia ter sido melhor aproveitada se seus devaneios e ilusões não tivessem tomado conta de ti. Desculpe meu bem, mas você não era mais que uma velha louca que foi morta com a mesma arma a qual dizia dominar.
Quitéria foi na direção de Padilha com olhos vermelhos de ódio, mas Maria Mulambo a segurou pelo braço.
— Não é hora disso. Vocês duas tem a eternidade pra resolver suas picuinhas, nós temos tempo, mas no momento preste atenção no que realmente importa.
Quitéria parou e respirou fundo. e
— Pois bem. bom, falem de alguma coisa, arranje um assunto pra me distrair antes que eu me atraque com essa puta.
Padilha respondeu com sarcasmo:
— Puta não, pra você é senhora puta.
Todas as moças gargalharam.
— É sério — bufou Quitéria — Minha cabeça fica fervendo quando me lembro de certas traições. Me distraiam, assim eu vou desanuviar a cabeça e pensar em algo útil.
— Vamos fofocar... — disse Cigana Sarah — Mulambo nós sabemos como foi sua vida, mas não como foi a sua morte.
— Mas que assunto mais baixo astral... — disse Mulambo.
— Sim Mulambo, conte pra nós a sua historia, como se findou... Eu estava lá, mas gostaria que você contasse do seu ponto de vista. Aquele dia foi... inesquecível.
Amei a parte da sete catarumbas no salão evangélico...kkkkk que lição bem dada,aliás que divinamente escrito cada frase,cada detalhe descrito!!!! Parabéns divino iluminado Caprini🌹❤️
ResponderExcluirSe bem que me lembro, a morte da Mulambo foi "babadeira"
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