RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 12

 Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS 


Capítulo 12
"Você Vai Pagar Caro Por Isso"





❤ - I 

Padilha estava sozinha, durante o dia havia se refugiado do sol nas sombras das árvores da mata atrás do morro, já era noite alta e ela devia ter saído para ir encontrar suas iguais no terreiro, mas de tão perdida em pensamentos ela permaneceu ali.

Ela estava vestida de branco, um vestido de rendas que na brisa pareciam nuvens flutuando. Sua maquiagem era simples, apenas os olhos pintados de sombra azul cintilante e nada mais, usava uma pulseira de pedras verdes no pulso esquerdo e alguns anéis dourados.

Ela olhava para o nada, os olhos fixos no horizonte. Cruzou os braços sobre o peito apoiando uma das mãos sob o queixo. As unhas compridas reluziam os feiches de luz do sol que escapavam entre as folhas das copas das árvores. Algumas pétalas de flor caiam e eram levadas pelo vento. Padilha suspirava e dava passos chutando as pedras que estavam no chão, brincava de mover a matéria, as pedras rolavam para lá e para cá. Ela estava sem paz pois naquele momento pensava em sua irmã, e em um fatídico dia onde tiveram uma dura conversa... Ela fechou os olhos e reviveu em sua mente as memórias daquele dia.

Elas ainda eram vivas, Coronel Antenor que hoje é chamado Tranca ruas havia acabado de informar a Maria Mulambo que pretendia ficar com Suzana, a Maria Padilha. Ele iria se casar com ela.


O ano era 1763.

Era pouco mais de sete da manhã e Padilha estava em seu quarto, o mesmo aposento que um dia havia sido de Quitéria. Estava sentada em sua penteadeira vestida em um hobby de seda negra com os cabelos presos em uma tradicional touca de grampos, coisa comum da epoca. Estava se mirando no espelho e pintando os labios com um rouge que acabara de chegar de Paris, veio no contrabando de Zé Pelintra. Padilha sempre gostava de testar as maquiagens antes, então costumava passar os dias de folga completamente maquiada a fim de verificar se todos os produtos que usavam no rosto não lhe dá uma alergia e, só depois com segurança que passava a usá-los em seu trabalho à noite.

Algumas meninas do Cabaré já estavam de pé, era dia de passar os vestidos e deixar tudo pronto.

Um som de tropeu rompeu o silêncio daquela manhã.

Padilha foi até a janela e afastando o tecido vermelho da cortina ela viu Mulambo totalmente desmazelada montada em um cavalo negro. O cavalo tinha o símbolo da família Serafin, isso significava que pertencia a Samuel, o Meia Noite.

Totalmente descontrolada ela desceu da sela e passou a bater na porta no Cabaré, ela esmurrava e gritava palavras baixas direcionadas a Padilha.


  — SUA PUTA! CADELA DE BEIRA DE ESTRADA! TRAIDORA! VACA! VADIA!


Rosa Vermelha, entrou de supetão no quarto, vestia uma camisola perolada até os pés e sua face estava branca em uma máscara de cremes usados para hidratar a pele.

— Padilha me perdoe por não bater mas... Ela esta bêbada. Se ela entrar aqui ela vai quebrar tudo. Da última vez que ela entrou na casa assim nos deu um prejuízo gigantesco, quebrou aquela estátua de mármore que teria comprou dos Italianos, e ainda roubou um monte de garrafas da cozinha.


Padilha revirou os olhos de aborrecimento.

— Ah Virgem Santa... Que cruz eu carrego... Rosana peça para a dona Lurdes abrir a porta.

— Dona Lurdes? Mas ela é velha... Será que é seguro? Vai que Mulambo senta o braço nela...


Padilha foi novamente até a janela e viu Mulambo correr ao jardim, tomar nas mãos uma pedra e atirar na mansão estourando a vidraça do salão. O estrondo foi grande e algumas meninas gritaram de susto em seus aposentos. 

— É melhor que seja ela que é velha. Não vou arriscar que nenhuma das minhas meninas trombe com essa louca. Ela pode marcar a cara de uma delas e isso seria péssimo pros negócios, não posso perder dinheiro... Vá e peça que a dona Lurdes para que abra a porta. Depois diga as moças para se trancarem em seus quartos, e você faça o mesmo, sei que você é bem valentona mas seu rosto é bonito demais para se arriscar diante daquela lunática.


Momentos depois Dona Lurdes, a idosa cozinheira do cabaré abriu a porta e em segundos Mulambo entrou correndo, atravessou o salão, passou o palco e subiu as escadas com as botas sujas de lama, rapidamente ela estava abrindo a porta do quarto de Padilha. Entrou e viu a irmã sentada na penteadeira removendo os grampos da touca.

Padilha se virou para ve-la e notou o estado suado e ofegante que Mulambo se encontrava, os cabelos despenteados e as roupas sujas de barro. Ela exalava odor de álcool.

Meio cambaleante Mulambo foi se aproximando então se abaixou para ficar na mesma altura de Padilha. Seus olhos estavam vermelhos e revelavam a embriaguez.

Padilha sequer a encarou, ela passou a vasculhar uma das gavetas da penteadeira procurando alguma coisa. Longos minutos de silêncio se seguiram até que Padilha achou a escova de cabo de madre perola que tanto amava e passou a pentear os cabelos, ainda sem olhar para Mulambo.

— Até que horas você vai ficar aí me olhando?  


Mulambo olhou para ela como uma expressão revoltosa e com uma voz embargada, cheia de emoção, ela começou a falar.

— Eu não entendo o porque você faz isso comigo. Sempre se fazendo de superior e agindo como se fosse uma deusa e me reduzindo a uma serviçal. Você o motivo de todos os infortúnios que eu já tive...

 — Eu sou o motivo de seus infortúnios? — Padilha se mostrou impaciente — Depois que a mãe morreu eu poderia ter te abandonado. Você era só uma criança e eu ainda assim nunca te deixei. Você talvez não se lembre ou se importe mas eu fiz muitos sacrifícios pra que a senhorita pudesse ter uma chance de sobreviver. Onde eu fui eu te levei junto. Agora você diz que eu sou uma desgraça na sua vida? A sua ingratidão é nítida. Você não passa de escoria Francisca, e o pior e que você é que se coloca nessa posição sempre. Se você não gosta de ser tratada como inferior, seria melhor parar de cair bêbada nas sarjetas. Você está se acabando...


Mulambo chorava em silêncio, seus olhos pareciam cachoeiras de tantas lágrimas que vertiam. Ela tentou falar algo mas não conseguiu.

Padilha se levantou e foi até uma grande cômoda de mogno com puxadores doutorados, abriu a primeira gaveta e apanhou uma caixa de ferro cor de chumbo que fez um alto estalo ao ser aberta, dentro dela haviam muitas cédulas de alto valor. Ela voltou a penteadeira e apanhou uma sineta de cobre e a balançou. Em instantes a velha Lurdes apareceu na porta do quarto e ela ordenou que a velha fosse chamar o vidraceiro, que ele fizesse o concerto na vidraça antes do meio dia.


Padilha voltou e se sentou na beira de sua cama, passou a fazer massagem nas solas dos pés ja que em breve calçaria seus sapatos de salto agulha e ficaria sobre eles o dia todo. Ela olhou para Mulambo e disse:

— Hoje é quinta-feira. Hoje o Cabaré de Fogo não abre as portas, então faremos faxina e cuidaremos de nós mesmas para abrirmos amanhã a noite em grande estilo. E você Mulambo? O seu Cabaré como anda? Você tem deixado tudo na mão da Angela Rosa Negra não é? Ela parece mais dona do Cabaré Boca da Mata do que você. Que desperdício... Se aquela mansão fosse minha ela daria muito mais lucro do que tem dado nas suas mãos...


Da repente Melambou berrou a plenos pulmões:

  - VOCÊ PODE PARAR DE FALAR ESSAS MERDAS E ME DIZER O QUE PRENTENDE COM ANTENOR?!!!


Padilha ficou em pé, o sol refletia no vidro da janela trazendo muita luz ao quarto. Ela olhou nos os olhos de Mulambo.

— Você só bebeu ou também fumou os cigarros de ervas da Índia Irani? Você está péssima... Quem nos vê juntas jamais saberia que você dinheiro... Iriam pensar que voce e só uma lavadeira... Eu não entendo como voce rica desse jeito se veste assim, cheira assim, se comporta desse modo.


Mulambo apoiou a mão na penteadeira e com uma certa dificuldade ela se levantou ficando face a face com a irmã.

— Suzana pare de fugir do assunto. O que Você quer com ele?


Padilha deu dois passos a frente se aproximando mais de Mulambo. 

— Ele me ama.

— Não, não, eu amo ele e ele me ama! Eu conheço ele já a dez anos, você acabou de ser apresentada a ele e já o enfeitiçou, você usou um coração de Boi, fez amarração! Você amarrou ele eu sei!

— Se você crê nisso, creia. Eu não fiz nada. Você sabe que amarração dura somente sete anos, mas ele não veio para mim assim. Ele me ama de verdade.


Mulambo voltou a chorar, se curvava para frente e cobria a boca com mãos enquanto as suas lágrimas encharcavam seu busto.

—  Eu sou uma Cafetina. — Padilha apanhou um leque sobre a penteadeira e começou a se abanar — Ele me ama mesmo assim. Eu ando juntando tanto dinheiro quanto eu posso, mas o meu dinheiro não pode comprar amor. Nada pode comprar amor. Ele me ama. Ele me amará ate quando eu não for mais jovem e bonita. Ele me amará quando eu perder esse meu rostinho, quando eu perder tudo e não tiver mais nada. Eu não posso deixar ele, não posso negar o meu amor por ele só porque você também o ama.


Mulambo se ajoelhou e agarrou o tecido do robe da irmã.

— Suzana... Suzana eu te imploro! Eu te imploro! Não tire ele de mim! Eu... Eu não tenho como competir com você nesse caso... Eu sei que ele te ama... Ele até falou o seu nome enquanto dormia... Eu imploro, não tire ele de mim! Suzana esse seu capricho vai destruír a minha vida... Você pode escolher qualquer homem, qualquer um, então não fique com ele. Eu preciso dele...


Padilha deu um puxão nas vestes, foi até a porta do quarto e a abriu.

— Vá embora. Eu vou ficar com ele. Mulambo você sobrou nessa história. O tal magnata Samuel Meia Noite não e doido por ti? Até os cavalos dele você usa. Vá viver a sua vida e pare de ser sempre uma pedra no meu sapato. Eu já fiz demais por você, e eu não vou perder a única chance de ser feliz só para te agradar.

 

Mulambo se levantou e enxugou as lágrimas com as costas dad mãos tentando se recompor. Foi até a porta e antes de sair parou bem perto de Padilha.

— Você vai pagar caro por isso. Eu vou ser o seu pior pesadelo.


Ela desceu as escadas e está foi a última conversa que Suzana e Francisa ou Maria Padilha e Maria Mulambo tiveram em vida.


Padilha votou de suas lembrança ao ouvir a voz de Tranca Ruas que chegava entre as sombras das árvores. Ele estava com sua barba negra e espessa, uma calça negra sem bolsos, camisa vermelha com os botões abertos até o meio do abdômen, usava um anel de ouro no dedo médio.

Ele foi até ela e lhe abraçou por trás.

— Minha Rainha, você estava distraída com oque?

— Com o passado... — Ela disse vagamente.

— O passado e um tanto cruel, melhor não pensar nele.


Padilha se aconchegou mais no abraço, ele a beijou no pescoço. Ela olhou para o horizonte e em tom baixo perguntou:

— Tranca Ruas o que nós somos agora?


Ele deu uma pausa para pensar.

— Somos tudo. Somos nada. Eu não sei. Só sei que eu não quero ficar longe de ti nunca mais...


❤ - II

Era uma clareira na mata, a serra atrás do morro era fechada e por ser próximo ao mar o clima mantinha aquele clima úmido de selva porém aquela clareira era bem fresca.

Era toda rodeada por árvores "chorão", que faziam seus ramos penderem como cortinas. No centro da clareira uma linda roseira selvagem, eram rosas brancas respigadas de orvalho, e quando a lua da primeira hora da madrugada se pôs a reluzir sobre as flores elas brilharam como estrelas.

Dama da Noite já estava ali sentada sobre um tronco tombado. As corujas já saíam para caçar, e ao sobrevoar a clareira as aves entortavam seus pescoços para observar aquela linda mulher.

Dama da Noite estava vestida como uma nobre francesa. Usava um espartilho negro cujo as amarrações eram na parte da frente, vestia uma saia armada como um " bolo do casamento ", a saia em tecido nobre cheio de ondas feitas em alfinete e as barras em rendas douradas. Usava luvas negras acima dos cotovelos, os brincos eram grandes em forma de Gotas douradas que na ponta revelavam esmeraldas encrustadas. Em seu busto ela trazia uma correntinha fina de ouro que caia e se perdia entre os seios, e seu cabelo estava preso em um coque banana. Por estar sentada era possível ver os seus sapatos, eram peep-toes meia 0ata de couro negro, o salto fino dourado e as unhas dos dedos que apareciam nas fendas eram pintadas de preto.

Dama da Noite esperava ali sentada com as pernas cruzadas balançando o pé que estava elevado mostrando estar impaciente.

Já era a hora marcada e as moças já deviam estar ali.

Uma a uma elas foram surgindo entre as árvores e se aproximando. A primeira foi Menina, usava um vestido amarelo claro preso no busto e solto até os pés, tinha uma echarpe branca brilhante nos ombros e os cabelo preso em um coque simples, seus sapatos eram brancos como a echarpe com bicos redondos e um lacinho cor de rosa no calcanhar sobre os altos saltos de madeira envernizada.

Em seguida apareceu Rosa Vermelha com uma espartilho negro e uma saia vermelha bordada com grandes caveiras negras, usava botas de cadarço com salto quadrado, o cabelo solto com uma grande rosa vermelha atrás da orelha.

Chegaram também Maria Padilha e Sete Saias, Padilha de vermelho dos pés a cabeça, as unhas compridas em cor de sangue, o decote do seu vestido permitia que os seios se movessem conforme ela andava, a saia era no estilo sereia, justa até os joelhos e se abria nas panturrilhas, seus sapatos só apareciam os bicos, eram sandálias de tiras finas negras cheias de pedrinhas reluzentes.

Sete Saias estava vestida toda de negro, os sete barrados de sua saia de cetin tinham rendinhas e babados, seu espartilho começava abaixo dos seios, seu busto era protegido por bustiê de decote coração que na conjunto Saia espartilho e bustiê pareciam ser uma só peça, seus sapatos eram vermelhos dando um incrível contrastre, eram sandálias de salto agulha.


As mulheres se cumprimentaram e se dispuseram em círculo.

Rosa Vermelha olhou para Sete Saias.

— Onde a senhora estava? Sumiu...


Sete Saias pôs as mãos na cintura e agitou a cabeça de modo a por os cabelos em ordem. Ela respondeu:

— Tenho trabalho a fazer, vivo ocupada. Me tornei guia espiritual de uma jovem feiticeira.


Padilha arqueou uma das sombrancelhas.

— Feiticeira? 

Sete Saia sorriu e balançou a cabeça afirmando.

— Jovem feiticeira? Quem ela é? — Menina quis saber.

— É a prima em segundo grau da velha Doralice, tem um nome exótico, Belladonna. — Sete Saias falou.

— Ah... — Menina fez uma expressão de decepção.

— Que foi essa cara? Já conhece a garota? — Sete Saias perguntou.


Menina não respondeu, ninguém reparou na ausência de resposta pois Mulambo apareceu, vestida em cetim azul marinho, o vestido sem mangas tinha em toda sua lateral um bordado vermelho um tanto extravagante. Com um jeito de deboche ela chegou.

— Todas as vadias juntas? Que delícia... quem vai ser a primeira a abrir as pernas? — Mulambo riu com seus estardalhaços costumeiros.


Sete Saias passava os dedos da mão direita na sua gargantilha de ouro, ela abaixou o olhar revelando belos cílios longos. Ela respondeu sarcástica:

— Diga você, ainda esta cobrando cinco tostões por uma foda no beco? 

Todas as moças gargalharam.

— Diga você, como estão papai e mamãe? Ainda fedendo a churrasco? — Mucambo perguntou.


Sete Saias deu uma alta gargalhada, pôs as mãos sob os seios os apertando para cima, se inclinou e franziu os labios enviando um beijo na direção de Mulambo.

— Diga você, ainda anda chorando pelo macho das outras? Talarica safada!


 Mulambo já elevando a voz respondeu:

— Mas é puta mesmo... Puta até depois de morta... Você lave sua boca pra falar de mim!

— Você lave sua boca pra falar de qualquer um, bafo de cachaça!


Todas as moças gargalharam.

Maria Quitéria estava logo atrás de Mulambo e chegou dizendo:

  - A galinhada está cacarejando alto hoje... 


De imediato todas se calaram. Quitéria sempre causava temor.

Quitéria estava vestida em preto, o cabelo preso com um coque na nuca e usava uma mini cartola presa com grampos no cabelo de modo que o chapeuzinho ficava elegantemente torto, uma renda presa ao chapéu caia sobre o rosto dando-lhe um ar burlesco e teatral, usava um terninho curto com as mangas arregaçadas próximas aos cotovelos e seu vestido era simples negro e liso, os sapatos eram botas negras de couro cru escuro e saltos grossos, usava unhas compridas negras lixadas de forma a parecerem garras.

Ela se dirigiu a Dama da Noite.

— Qual o motivo dessa reunião?

— Vamos esperar as demais moças e então falo com todas vocês juntas.


Elas esperaram por algum tempo, conversavam sobre frivolidades para o tempo passar.

chegaram então Cigana Sarah e Rosa Caveira, seguidas por Maria Navalha.

Eram então dez mulheres ali, Dama da Noite, Menina, Rosa Vermelha, Maria Padilha, Maria Mulambo, Sete Saias, Maria Quitéria, Maria Navalha, Rosa Caveira e Cigana.

Todas em torno daquela magnífica roseira branca. A lua já revelava que já passava das duas da manhã.

Dama da Noite se levantou de onde está a sentada e finalmente se pronunciou.

— Agora que estamos todas aqui vamos começar.

— Mas e Figuera? Ela não vem? — Menina perguntou.

— Ela não foi convidada.

— Mas ela não era sua melhor amiga? Aconteceu algo entre vocês?


Dama da Noite suspirou profundamente.

— Bom... ela é sim minha amiga. Porém ela também é aliada daquela mulher.

— Quem é essa tal mulher? — Quitéria quis saber.


Dama da Noite olhou em volta, então começou:

— A verdade é que eu não fui a primeira a acordar da morte. A primeira foi Sete Catacumbas, a Segunda foi Figueira, eu fui a terceira. Nos somos todas iguais, temos a mesma força, porém o maior tesouro é o saber.

— O saber? O que significa isso? — Menina perguntou.

— Significa que não adianta ter forças se não houver ciência. No caso somos realmente todas iguais, mas o que nos torna fortes é saber manipular nossa energia, e nem todas sabem. As que sabem se tornam assombrosamente poderosas, as que não sabem se tornam obsoletas. Aquelas que foram espíritualistas, feiticeiras ou que tinham algum tipo de ligação sobrenatural em vida vão ser espíritos mais fortes, exatamente por que sabem como as coisas funcionam.

—  É a síntese da evolução, — Quitéria falou — a sabedoria não lhe faz ser maior mas lhe faz ser melhor.

—  Exatamente isso. — Dama concordou.


Padilha com uma expressão tensa questionou:

— Diga de uma vez qual o sentido da RODA DAS PRINCESAS? Quando você nos reuniu aqui foi para que esse feitiço feito em conjunto pudesse dar a todas nos poderes maiores e assim controlar os espíritos sem luz, isso é verdade ou não?

— Dama da Noite, desde o seu incidente com Rosa Caveira não se vê nenhum espírito sem luz por aqui, parece que as kiumbas desistiram.

— O intuito da Roda das Princesas era matar todas vocês. Os espíritos eram só uma distração, um pretexto, foram invocados para distrai-las mas a verdade é que são inofensivos.


Maria Navalha riu, em seguida todas as moças riram após ela.

— Helena a parte das kiumbas serem lorota todas nós ja tinham quase certeza, mas sobre este feitiço nos matar... não sei se pode reparar, mas nós todas já estamos mortas. Mortinhas da Silva. Não há como nos matar novamente.

— Não não, matar é possível em todos os mundos. — Quiteria deu um passo a frente — No mundo dos vivos matar e simples, é fazer o coração parar de bater e assim desativar o corpo libertando a alma. No mundo dos espíritos matar é retirar a consciência suprimindo a personalidade e as memórias, com isso nos tornamos irracionais e uma hora ou outra nos deixamos de existir. Isso é muito raro mas pode ser feito.


Todas as moças olharam com uma expressão de espanto para Dama da Noite, Rosa Caveira furiosa apontou o dedo indicador para ela e gritou:

— Sabia! Essa puta queria ferrar com todo mundo! Maldita...

— Rosa Caveira, está mais do que óbvio que Dama da Noite não sabe como se compõe a Roda das Princesas. Ela é a marionete de alguem. — disse Quitéria.

— Eu... Foi um acordo. Não, na verdade foi uma chantagem. Se eu atraísse vocês para cá ela me daria de volta alguém que eu perdi. Quando eu acordei na morte, Veludo estava aqui e ele esteve comigo. Mas ele se foi. Veludo está preso em um vaso, um tipo de jarro que foi feito pra prender espíritos. Veludo foi selado lá e eu não sei como libertar ele, mas ela sabe.

— Olha... Isso tudo ta tão confuso... Não dá pra simplificar? O que realmente significa isso tudo? Quem é essa Sete Catacumbas? — Cigana perguntou.

— Sete Catacumbas precisava matar vocês e assim absorver a energia dos seus espíritos para usar na roda das Princesas. Ela assim realizaria esse feitiço cujo a natureza eu não sei o que do se trata, só que para fazer isso ela precisava de muita força.

— Mas eu sei do que se trata. — disse Quitéria.

 

Todas as moças moças olharam para ela e perguntaram se ela pedindo explicações.

— A Roda das Princesas é um feitiço de transferência de alma, uma alma ocupando um novo corpo. Poucas bruxas vivas ousaram fazer isso, mas se essa tal Sete Catacumbas é morta como nós... acredito que ela quer reencarnar.

— Ela... isso é possível? — perguntou Menina.

— Sim provavelmente. É como se ela estivesse fazendo um sacrifício e vocês eram as galinhas que ela iria degolar. Provealmente ela não contava que seria descoberta. Só falta Dama da Noite nos dizer quem é essa tal Sete Catacumbas. — disse Quitéria.

— Como assim Quitéria? Você conhece Sete Catacumbas, aliás de todas aqui você é quem melhor conhece ela. — Disse Maria Padilha.

— Que mentira é essa? Explique logo cadela!


Padilha pôs as mãos na cintura.

— Sete Catacumbas é ninguem menos que Núbia, sua amiga... irmã... amante... ou sei lá o que mais. É ela.


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