RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 7

 Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS 


Capítulo 7
"Fada Madrinha"





❤ - I 

Sete Saias, Cigana, Giramundo, João Caveira e Figueira chegaram a casa de Dama da Noite, demoraram na viagem Por que preferiram pousar em um casebre abandonado porque só ele em plena luz do sol, afinal de contas nem todos eram Destemidos como Rosa caveira.

A chegada foi muito alegre, cheia de felicitações e abraços, principalmente entre será que sai assim Maria Padilha que em Vida foram grandíssimas amigas.

Mas na mesma noite o clima do terreiro mudou, o ar de confraternização e união foi abalado graças a uma desconfiança.


Rosa caveira esperou que todos se cumprimentarem entre si, deixou a conversa rolar solta até a alta madrugada, mas houve um momento em que ela decidiu que era propício falante, afinal quase todas as entidades estavam reunidas.

— Por favor, sei que estão todos muito animados pelos reencontros mas eu gostaria de fazer uma pergunta. —  ela se levantou e se colocou no meio do salão.

— Tudo bem, faça. — respondeu Tranca Ruas.

— Eu gostaria de saber o que exatamente está acontecendo aqui.

— Como assim? — sete saias perguntou.

— Eu vim para cá junto com tiriri, viemos porque soubemos que aqui nesta casa estavam se realizando os feitiços que vocês chamam de assentamentos viemos também porque nos disseram que as tais kiumbas estavam nos ameaçando. Mas a realidade é que desde que cheguei aqui ninguém tocou ou citou nada referente a esses assentamentos, e a verdade é que as tais kiumbas tão perigosas só se manifestam em momentos muito pontuais, geralmente quando Dama da Noite está por perto. Não é engraçado que quando ela se ausenta as kiumbas também fogem?

— Não estou compreendendo onde você quer chegar. — Dama da Noite se aproximou dela — se você tem algo para dizer diga de uma vez.

— Sem Rodeios?

— Sem Rodeios. — Dama da Noite encarava Rosa Caveira com as sombrancelhas arqueadas.

— Longe de mim aborrecer Mademoiselle, mas sinto um cheiro estranho nessa tal Roda das Princesa. Viemos aqui para juntas derrotar os espíritos desencarnados, as tai kiumbas, mas ele agem estranhamente.

— faça o favor de definir esse "Estranhamente".

—  Sem problemas, eu vou definir com claresa. Entenda, quando nos estávamos ainda separados, os espíritos malignos sempre espreitavam, eram agressivos e se moviam em bando, agora raramente se vê um, eles ficam em torno da casa so de vez em quando.


Dama da noite sentiu presenças se aproximando e disse para Rosa Caveira:

- Quer saber o motivo do comportamento incomum das kiumbas? Venha comigo.


Elas seguiram para fora da casa e pararam no topo da escadaria. Dama da noite apontou para baixo.

— Pergunte a elas que notícias trazem.


Rosa Caveira olhou para baixo na base da escadaria ela viu três moças subindo, eram Maria Navalha, Rosa Vermelha e Menina.

Dama da Noite as comprimentou mas logo perguntou:

— Os pressentimentos de Maria Padilha tem fundamento? A Diaba Velha acordou?

— Sim, Maria Quiteria despertou, nos a vimos pessoalmente. —  Rosa Vermelha Respondeu.

— Ela fez ameaças a Maria Padilha, aposto que não irá demorar muito e ela vai aparecer por aqui. — Menina falou.

— Hum... então você esta dizendo que Maria Quitéria, a dona do Cabaré de Fogo está vindo pra cá e que esse é o motivo das kiumbas estarem anormais? — Rosa Caveira perguntou.

— Exatamente. Quitéria é extremamente poderosa, é a energia dela que está incomodando as almas pardidas. Está convencida agora? — Dama da Noite falou sem esconder o aborrecimento.


Rosa caveira a encarou por alguns segundos, não respondeu nada mas lentamente moveu sua cabeça de um lado para o outro indicando que não havia acreditado naquela história.

— Mas nós a vimos — disse Rosa Vermelha — ela estava liberta do poço onde Padilha a prendeu. Não sabemos como ela se soltou, mas ela estava lá, radiante e odiosa. Ela manifestou desejo de ver Padilha, então com certeza ela esta vindo para cá. A energia daquela mulher é inacreditável.


Dama da Noite olhou para Rosa Caveira e sorriu cinicamente. Ela passou a mao nós cabelos os penteando com os dedos. Ela suspirou e então disse:

—  Voce deve não deve se lembrar muito bem da força de Quitéria, por isso essas suas dúvidas. Tudo muda quando ela se aproxima. Suas perguntas de agora pouco estão respondidas, a causa é o despertar de Maria Quitéria.

—  Se você está dizendo... — Rosa Caveira se afastou e entrou novemente na casa.


As três moças também entraram, Dama da Noite ficou mais um pouco do lado de fora antes de entrar olhou de relance para Rosa caveira se encontrava um lugar para sentar lá dentro, então os murmurou:

— Isso está mais perigoso do que eu imaginava.



❤ - II

Dama da noite respirou fundo e atravessou todo o salão até ir para os fundos da casa onde havia a trilha para descer até a Cascata onde a velha Catarina sempre estava, mas ela não foi ali para descer já trilha, apenas atravessou o pequeno Jardim e entrou no mato, então sussurrou baixinho:

— O que eu faço agora? Surgiram desconfianças a...


Ouvir o som de farfalhar de asas, uma voz masculina respondeu:

— Se surgiram dúvidas de eles explicações. Não necessariamente as explicações reais mas sim qualquer coisa que os entretenha. Fale sobre a roda das princesas, eles vão gostar de ouvir.


Mulambo voltou para dentro da casa e se dirigiu ao salão, os humanos vivos que eram ali filhos de Santo estavam em suas funções mas não conseguiam perceber a presença de nenhuma das entidades, havia até mesmo uma moça sentada no chão próxima a eles enquanto trançavam um contregum com palha da Costa, por mais que aquele povo fosse espiritualizado eles não conseguiam enxergar nada a respeito dos Espíritos.


— Bom meus amigos já que estamos todos reunidos aqui eu gostaria de explicar algumas coisas, — ela se dirigiu a todos — vocês vieram para cá por que sentiram o poder dos assentamentos, porém eles são só a primeira parte do meu plano o que eu quero fazer é um feitiço chamado Roda das Princesas.

— E o que é exatamente esse feitiço? — perguntou Menina.

— Sei que alguns tiveram algumas explicações mas eu gostaria de explicar pessoalmente, como sou eu que pretendo fazer essa questão eu gostaria que ouvissem da minha boca. Todos vocês já sabem, ou pelo menos eu imagino que saibam, que eu fui a primeira entre nós acordar. Entre a minha morte e o meu despertar como espírito passaram-se apenas sete anos, e nesse longo período estive sozinha. Nesse tempo eu vi coisas acontecerem, Principalmente um fato me chamou atenção... eu vi espíritos conscientes se transformando em kiumbas.

— Espírito similares a nós? — perguntou Tiriri.

— Sim infelizmente espíritos idênticos a nós. Temi que isso acontecesse comigo também, fui atrás de compreender o que ocasionava a mudança, tentar compreender porque um espírito plenamente consciente acabava se transformando em uma daquelas coisas. Me informei muito e estudei o quanto pude até descobrir que era um fator extremamente simples que condena as almas a se transformarem em kiumbas. É simplesmente o tempo. Quanto mais tempo nós permanecemos presos aqui na terra em forma de espíritos maior é a chance de nos transformarmos naquilo.

— E não existe nenhuma maneira de evitar isso? — perguntou Maria Mulambo.

— Existe sim, eu me lembro de ter te explicado em particular anteriormente.

— Explicou sim Dama, mas naquela hora eu não estava muito afim de bater um papo então acabei não dando a menor atenção. Não lembro de nada o que você disse. — Mulambo falou um pouco constrangida enquanto vários de seus companheiros davam risadinhas baixas.

— Não tem problema, agora ele explicar para todos e você faz favor de prestar atenção. A única maneira de impedir que isso aconteça conosco através de um feitiço chamado roda das princesas, e este  feitiço consiste em sete espíritos femininos que durante a vida tenham conhecido a magia profunda, esses espíritos se reúnem em um círculo de junto com alguns ingredientes envocam na presença do Deus maior.

— Você me garante que nós espíritos vamos conseguir atrair a presença do Deus Criador? — Rosa caveira perguntou em um tom de voz frio.

— Pelo que eu soube esse feitiço não pretende atrair a presença dele de modo completo, apenas um milésimo de segundo já é o suficiente, se a graça dele nos atingir por esse breve momento nós já seremos energizados, energia durará dentro de nós durante alguns milênios e assim nos salvará de ter qualquer destino cruel.

— E o que está faltando para iniciar esse feitiço? — Cigana Sarah perguntou.

— Nós precisamos primeiro identificar quais de nós são as mais adequadas para fazer parte da roda, sete de nós precisam ser perfeitas para isso.

— E como nós sabemos quais de nós são essas? — perguntou Sete Saias.


Dama da Noite não conseguiu prosseguir com explicação, ela e todos os outros em um movimento conjunto e involuntário moveram as cabeças para esquerda na direção da porta de entrada do terreiro.

Uma voz rouca e elegante se veio de fora.

— Estão falando de magia? As Vagabundas vão virar Capetinhas de Grimório? "


Ali na entrada surgiu ela, Maria Quitéria, estava belíssima com vestido frente única preto em seda reluzente, nos braços mangas três quartos em renda Negra que permitiram suas longas unhas despontarem das pontas dos dedos, a saia do vestido se abrirá em uma fenda na coxa revelando uma de suas pernas bem torneadas e também o seu sapato de salto agulha e bico fino em couro enegrecido, a maquiagem era muito pesada com batom extremamente vermelho e os olhos contornados de preto intenso, conforme se movia seus cabelos negros encaracolados balançavam suavemente e seus brincos informatos de aranhas cravejados com pequenos cristais brilhavam refletindo a luz.

Diante de sua presença todos se levantaram e a encararam temerosos.

—  Vão ficar ai calados me olhando com esses olhos de peixe morto? Onde esta a educação de vocês? Não me convidam para entrar? —  ela atirou a cabeça para trás e gargalhou.


Quitéria caminhou para dentro do terreiro estalando os saltos finos de seus scarpin's enquanto cantarolava:

"La donna è mobile, qual piuma al vento, muta d'accento e di pensiero... Sempre un amabile, leggiadro viso, in pianto o in riso, è menzognero... La donna è mobil, qual piuma al vento,

muta d'accento e di pensier! e di pensier!"


Todos permanecerem calados sem reação, assim ela caminhou até ficar a meno de um metro de Dama ds Noite.

— Hum... Sê Bem vinda Maria Quitéria.

— Ainda lembra de mim Helena? — Quitéria abriu um sorriso simpático.

— Claro.

—  Também lembro de você, na época que era viva é claro. Era uma menina mimada, uma megera. E veja só, você não mudou nadinha...

— Sim eu continuo exatamente a mesma. — Dama da Noite manteve o queixo erguido.

— Fico feliz por você. Veja só, Lorena também está aqui... — Quitéria sorriu para Figueira.

— Conhecendo você como eu conheço, muito me espanta que não tenha chegado quebrando tudo. — Figueira respondeu.

— Quebrando tudo? — Quitéria arregalou os olhos em falso espanto — Eu nunca fui uma pessoa dada a rompantes violentos.

— Sim claro, eu bem me lembro. — Dama da Noite cochichou.

— Em nome do nosso senhor e salvar Jesus Cristo... — Quitéria fez o sinal da cruz enquanto seu rosto se tornava uma careta de horror — Rosário.... Rosário meu bem... o que aconteceu com seu rosto?

— O diabo comeu metade. — Rosa Caveira respondeu seca.

— Pare de enrolar, diga logo a que veio. — Maria Padilha falou.


Os olhos de Quitéria flamejaram em direção a ela, por um breve momento a teatralidade de seus atos cínicos desapareceu e ela demostrou uma expressão ameaçadora. Mas logo voltou a sorrir.

— Ah eu soube que estão pretendendo montar um clube para garotas, não é? Vão fazer uma "Roda das Princesas" e eu quero participar.

— Sem essa, você não vai entrar. — Rosa Vermelha falou.

— Espere um momento, Quitéria você sabe o que é a Roda das Princesas? — Dama da Noite perguntou.

— A pergunta sou eu que faço, você Dama da Noite Sabe o que é isso? Pois pelo que ouvi antes de entrar aqui você pretende realizar esse feitiço apenas com base em teoria. 

— E por acaso você quando era viva teve a prática? Você já fez uma Roda das Princesas?

— Porque você acha que eu morri com quase cem anos e com a pele mais viçosa que a sua quando tinha quinze? Meu amor você só ouviu falar mas... — ela ergueu as mãos — esseas mãos já realizaram coisas que você e suas rameiras nunca tiveram capacidade sequer de imaginar.


A sala ficou em silêncio.

— Deixa ela participar. — Menina disse.

— Não fale asneiras! — Maria Padilha a repreendeu.

— Eu não vou servir de cobaia para experiências, Quitéria é a única que diz ter feito isso, e nós não temos que duvidar dela neste aspecto, afinal foi nos livros dela que todas nós aprendemos a fazer bruxaria. — Menina cruzou os braços — Eu só topo participar desse treco se Quitéria estiver junto.

— É... desculpe Dama da Noite — Figueira deu um passo a frente — Mas eu ao contrario da maioria de vocês venho de uma família de feiticeiras, e eu sei que um feitiço mal executado pode ser desastroso. Eu gostaria que Quitéria participasse.


Quitéria abriu um largo sorriso.

— E eu imagino que Maria Padilha não vai aceitar estar em uma empreitada onde a minha presença é bem aceita.

— Da ultima vez que estivemos juntas em uma empreitada foi algo extremamente prazeroso... pelo menos para mim. — Padilha sorriu cheia de deboche — Quer mais uma fatia de bolo, vovó?


Quitéria travou o maxilar, assim evitou de falar o que pensava.

— Eu não sou sua avó, se bem me lembro a sua avó foi quem mandou açoitar a sua mãe até a morte e não eu.

— Calma! Vamos manter a classe por favor. — Dama da Noire interrompeu.

— Amanhã eu retornarei para conversar sobre algumas questões não muito esclarecidas. Boa noite a todos. — Quitéria se retirou da sala sem olhar para trás.



❤ - III

Era madrugada e o lumineiro ia passando pela rua.

Por mais que o Rio de Janeiro houvesse recebido instalações de rede elétrica a mais de 40 anos, somente os bairros mais Nobres possuíam rede de energia, ali em um bairro de operários o lumineiro ainda vinha portando uma vara de mais de três metros de altura cuja ponta era acesa em fogo, ia passando de poste em poste acendendo grandes velas que ficavam dentro de luminárias espelhadas, era assim que a iluminação pública acontecia.

O jovem rapaz parou diante de um poste pronto para realizar seu trabalho  quando de repente se assustou com a figura da mulher parada bem ao lado, era loura de cabelos enrolados e muito bonita, porém invés de um vestido ela usava uma túnica que ia até os pés, o tecido azul da veste estampado com desenhos de nuvens, no pescoço muitos Colares.

— A Senhora está bem?

A mulher mantinha o olhar fixo na janela de uma casa do outro lado da rua.

— Estou ótima, por que a pergunta?

— É que já passa das duas horas da manhã e a senhora... a senhora está de camisola.


A mulher desviou o olhar da janela e olhou para as próprias vestes.

— Isso não é uma camisola e sim um kaftan, e custou mais caro do que o seu salário mensal garoto. Agora olhe para mim...


O rapaz olhou nos olhos dela, belos olhos grandes de Iris azuis como Pedras safiras, imediatamente tomado por um grande terror ele atirou a vara para longe e saiu correndo em disparada, não se sabe bem dizer aquilo que ele viu nos olhos da mulher mas com certeza não foi nada agradável.

Ela conteve um riso levando a mão a boca, então atravessou a rua até chegar na porta daquela casa a qual havia vigiado por horas. Retirou do bolso de seu kaftan uma colher de pau de cerca de quarenta e cinco centímetros e colocou aponta sobre o buraco da fechadura, girou a colher de pau e de uma maneira sobrenatural os ferrolhos por dentro da fechadura se moveram, ouviu-se um estalo e pronto, ela puxou a maçaneta e a porta se abriu.

Entrando na casa reparou que era muito humilde porém extremamente limpa, atravessou uma sala minúscula onde sofás encapados dos com mantas de tricô cheiravam a lavagem recente, entrou por um corredor onde passando pela primeira porta viu um casal dormindo abraçados na cama, depois seguiu para o segundo quarto onde ali havia duas camas infantis com crianças adormecidas sobre elas. A mulher se aproximou da primeira cama, nela havia uma menina de cabelos loiros com os dela, ela se inclinou e farejou a testa da criança como um cão que fareja uma presa, recuou fazendo uma careta de nojo, então se encaminhou para a segunda cama onde havia uma outra criança um pouco mais nova de cabelos castanhos, era outra menina que dormia abraçada a uma boneca. A mulher se abaixou e farejou a testa dessa, quando se ergueu estava sorrindo em aprovação. 

Ela olhou bem para a boneca que a criança tinha nos braços, era uma boneca de porcelana com asas de borboleta nas costas.

— Gosta de fadas? Que coisa linda... — ela sussurrou.


Ela ergueu a Colher de Pau acima da cabeça então abaixou o braço com velocidade apontando a Colher de Pau para o chão, derrepente sua roupa estava diferente, ela usava um vestido cor-de-rosa em tecido gliterinado, a luz dos postes que entrava pela janela incandescência nas purpurinas, a saia era armada e cheia de babados, o decote era adornado por rendas brancas, ela usava luvas em tom rosa claro até os cotovelos, os brincos eram pequenas pérolas e na testa usava uma tiara estilo diadema com um cristal transparente incrustado no centro, sua maquiagem era leve com batom rosado e nos olhos uma sombra perolada, nas bochechas o Rouge intenso, o cabelo  mais curto em caichinhos bem organizados, a colher de pau em sua mão havia se tornado uma varinhq de condão com uma Estrela Dourada na ponta mas o mais impressionante de sua figura eram as grandes asas de borboleta furta-cor que brotavam de suas costas.

Ela se inclinou acima da menina adormecida e com grande gentileza a cutucou no ombro.

— Acorde meu amor, acorde...


A menina lentamente abriu os olhos mas assim que focalizou aquela majestosa figura ela se arregalou e sentou na cama maravilhada.

— isso é um sonho?

— Não minha querida, você sabe quem eu sou?

— É a minha fada madrinha? Como na história da Cinderela?

— Sim meu anjo, eu me chamo Sarana, mas vamos logo meu bem se levante.

— Me... me levantar? Para quê? — a menina olhou em volta percebendo pela primeira vez que o quarto estava escuro pois ainda era madrugada.

— Para o baile meu bem, existe um príncipe encantado querendo lhe conhecer, foi por isso que eu vim te buscar, venha logo meu bem pois se não iremos chegar atrasadas.

— Mas e se a minha mãe não me deixar ir?

— Não precisamos contar a ela, vamos sair em silêncio e você voltará antes do Amanhecer. Vamos logo meu bem lá fora está minha carruagem com o seu belo vestido esperando.

— um vestido novo para mim?

— Sim um vestido azul como o da Cinderela.


A menina se levantou da cama e segurando a mão daquela fada permitiu ser levada para fora da casa. Logo cedo os pais deram por falta da filha, perguntaram para os vizinhos, foram até a delegacia, procuraram por meses.

Por anos mantiveram a esperança de um dia reencontrá-la, mas a menina nunca mais retornou.



❤ - IV

Quitéria estava na base da escadaria dia quando escutou passos rápidos vindo logo atrás, imediatamente se virou pronta para o combate acreditando ser sua grande inimiga a seguia, porém a pessoa que estava ali e era outra.

— Mulambo?


Maria Mulambo desceu o último degrau até ficar cara a cara com a sua antiga protetora. Com uma expressão cheia de mágoa ela começou a falar:

— Eu fui até lugar onde me mandou ir, eu consegui a flor, mas eu não percebi que a égua que peguei estava prenha, ela se recusou a correr, acabei largando ela no meio do caminho para voltar mais rápido e corri com as minhas próprias pernas o máximo que pude, havia muita lama na estrada Então me atrasei ainda mais. Quando eu cheguei você já estava morta. Eu investiguei por 10 anos todas as mulheres que trabalhavam na casa mas nunca consegui identificar nenhuma delas como sua algoz. Eu nunca imaginei que seria Padilha a culpada. — os olhos de Mulambo se encheram de lágrimas que logo começaram a rolar por suas bochechas — eu sei que se tivesse prestado mais atenção teria percebido, se eu tivesse ficado ao seu lado aqueles dias eu com certeza teria evitado, e eu acordei recentemente como espírito, se eu tivesse acordado antes teria ido até aquele poço, eu juro que teria ido...


A expressão feroz de Quitéria se desvaneceu e ela envolveu Maria Mulambo em um apertado abraço, com o rosto enterrado em seu pescoço começou a falar:

— Achou que eu estava brava com você? Eu sei muito bem do seu coração Mulambo, você é a mulher mais inconsequente que já conheci, porém eu nunca duvidei do seu sentimentos por mim, nós sempre seremos amigas. Eu nunca em nenhum momento te culpei por nada, sei que se você tivesse tido a chance de perceber antes teria me salvado, nunca duvidei de você, sei que você pode ser desonesta para muitas coisas mas os seus sentimentos são sempre verdadeiros, isso porque você é como eu.

— Me perdoa?

— Não há do que perdoar, eu apenas fico triste de você não ter alcançado a sua felicidade quando eu sei que merecia. Mas agora nós estamos despertas e temos uma nova chance. Sempre que você quiser me ver ou falar comigo sabe onde me encontrar.


Quitéria se desvencilhou do abraço e limpou as lágrimas de Mulambo com as costas das mãos, deu-lhe um beijo na bochecha e partiu.



❤ - V

Todos estavam ali no salão do terreiro repercutindo a chegada de Maria Quitéria entre eles, cada um tinha opiniões mundo diferentes sobre o que a presença dela traria, mas no meio do assunto Rosa Caveira se levantou e sem se despedir de ninguém começou a ser dirigir para a porta.

— Onde a senhora está indo? — Dama da Noite perguntou erguendo o queixo para observar melhor.

Rosa caveira se virou lentamente e com sua frieza costumeira respondeu:

— Estou indo averiguar algumas coisas, minha cabeça anda cheia de dúvidas e eu gosto de ter certeza de tudo o que faço, então se me dá licença estou de partida. Mas Para sua alegria em breve volto.


Assim que Rosa caveira se retirou Dama da Noite correu para o fundo da casa, desceu pela trilha de terra na mata e la dentro ela estalou os dedos sete vezes.

—  Mas o que é? — uma voz infantil em tom preguiçoso respondeu e de repente a figura de um menino negro surgiu logo atrás dela.

— Tetemburu siga Rosa Caveira, preste atenção e depois me conte os lugares onde ela foi, com quem teve contato e principalmente escute com atenção cada palavra que ela proferir.

— Ai que coisa chata... 

— Faça isso por mim que depois eu faço o que você quiser.

— Ai Dona Moça o que você não me pede sorrindo que eu não faço chorando... — o corpo do menino explodiu em uma nuvem de fumaça escura e ele desapareceu.




Comentários

Postagens mais visitadas