RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 6
Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS
Capítulo 6
"O fundo do Poço"
❤ - I
Tranca Ruas e Maria Padilha estavam dentro da casa de Dama da Noite junto com os demais. A propria Dama da Noite estava ausente ja algum tempo e todos a aguardavam.
De repente Padilha se ressabiou, endireitou a postura e começou a olhar para todos os lados.
— Está tudo bem? — Tranca Ruas perguntou.
Padilha continuou procurando por algo, olhava curiosa para todos os cantos do ambiente.
— Quem me chamou? Ouvi alguém dizer meu nome.
— Eu Não ouvi nada. — disse Tranca Ruas.
Padilha levou as mãos a cabeça e cobriu os ouvidos, então gritou:
— EM NOME DA CABRA PRETA MILAGROSA!
— Mas... mas que foi? — Tranca Ruas perguntou preocupado.
— Eu ouvi uma gargalhada.
— Eu também não ouvi isso...
— Eu sei, o som foi apenas dentro da minha cabeça. E eu acho que reconheci a voz... mas não é possível...
— De quem era essa voz? — Tranca Ruas quis saber.
— Meu querido me dê licença um segundo, sim. — Padilha deu-lhe as costas e saiu apressada.
Dama da Noite vinha subindo a escadaria, em um vestido negro de mangas três quartos com a barra desbotada em tons vivos de amarelo, e decote canoa e o pescoço adornado por uma gargantilha de pérolas, ela subia os degraus de cabeça beixa enquanto movia os lábios lentamente totalmente distraída.
— Esta falando sozinha?
Dama da Noite levantou os olhos e pode ver Padilha ali no alto da escadaria proxima a porta da casa. Padilha era deslumbrante, usava um corpete vermelho escuro e uma saia negra com minúsculas lantejoulas bordadas por toda parte lhe dando um brilho furta cor, o cabelo preso em um coque alto e grandes brincos de argola emoldurando sua face. Mas a expressão no rosto de Padilha não era boa, havia algo lhe perturbando.
Dama da noite levantou sua saia a segurando com as pontas dos dedos para poder continuar a subir os degraus, porém deixou a parte de trás do vestido arrastando, e assim foi de encontro a Padilha, mas não se aproximou demais, permanceu alguns degraus abaixo.
— Gosto de conversar comigo mesma. Aconteceu algo? Você parece preocupada.
— Sim aconteceu, eu acho... não, eu tenho certeza que Maria Quitéria despertou.
— O quê? Mas isso é impossível, você mesma me disse que o cadáver dela foi enfeitiçado afim do espírito dela não despertar nunca!
— Sim, e eu te disse a verdade! Não sei explicar o que aconteceu, mas eu sei que ela está acordada.
— Mas... mas se ela se voltar contra nós... Temos alguma chance de derrota-la?
— Ela sabe de todos os nossos segredos, mas nós não sabemos nada das forças dela. Se houver combate não sobrará pedra sobre pedra.
— Ela te odeia não é? Te odeia de verdade. Mulher, o que fez com Quitéria?
Padilha preferiu se calar, apenas virou as costas e voltou para o terreiro.
Dama da Noite esperou até ter certeza que estava só, então voltou a mover os lábios enquanto girava o corpo lentamente. Ela não estava falando sozinha, esse nunca foi um de seus hábitos.
— Você realmente conseguiu acordar ela... eu achei que não ia conseguir...
Logo atrás de Dama da Noite oculto por sua silhueta estava uma criança, um menino negro de menos cerca de noventa centímetros de altura, era gordinho com uma barriguinha proeminente, a cabeça era grande e um tanto desproporcional ao resto do corpo, vestia apenas uma bermuda vermelha e trazia um colar de contas de miçangas vermelhas e pretas no pescoço curto.
vestia apenas uma
— Duvida di eu Dama... entendo do riscado. — disse com sua voz infantil.
❤ - II
Para compreender o destino é necessário se examinar o passado, porém a vida de Maria Quitéria é tão densa e intrigante que para contá-la de modo detalhado seria necessário escrever um livro dedicado apenas a essa senhora, como isso não é possível peço desculpas aos leitores mas o que vão ler sobre Maria Quitéria dentro deste conto é apenas um pobre resumo sobre a sua jornada na terra.
O ano era 1716, a cidade era a antiga São Paulo, que na época era praticamente uma vila de tão pequena.
Quitéria havia passado por Salvador, Ouro Preto, Rio de Janeiro então decidiu construir seu cabaré em São Paulo.
Vinda da Europa, onde havia se consolidado como uma grande cafetina, ela tinha Fé que esta nova Terra seria um lugar propício para viver em paz.
Quitéria era francesa, mas da vida na Europa se tornou insustentável, principalmente para mulheres como ela.
As fogueiras viviam acesas queimando as pobre Coitadas que eram acusadas de bruxaria, e para ela isso era extremamente perigoso pois ela sim era uma bruxa de verdade.
Mas a história dela começa um pouco antes quando Quiteria sai da França após ser ameaçada pela inquisição, assim ele decide ir para a Espanha, mas no fim acaba indo parar na cidade do Porto em Portugal. É lá ela conhece uma moça que tinha dons similares aos dela, seu nome era Núbia.
Núbia era uma mulher negra, o que na época a faria ser escravizada, mas ela tinha dons especiais, era também uma poderosa feiticeira, usando de magia ela enganava os olhos de todos para que as pessoas a enxergassem como uma mulher branca.
Foi Núbia quem batizou Quitéria com este nome. Ora, ela não se chama assim, na verdade seu nome de batismo era Katherine (se pronúncia "catrine"), nome muito popular entre as francesas, mas Núbia sabia que no Brasil se falava o português de Portugal, assim Katherine Fountainne mudou seu nome para Maria Quitéria Garcia Mendes, todos nomes muito portugueses e isso seria bom para não levantar suspeitas.
Núbia e Quitéria eram grandes amigas, e mais que amigas elas eram amantes. Sim, Bruxas não reconhecem regras no amor, para elas o amor é um sentimento que não se explica e que não segue regras, assim se amaram por muitos anos.
Mas um dia, logo que chegou ao Brasil, Núbia sumiu, desapareceu.
Bom, era Núbia quem possuia grande fortuna e os documentos falsos que ela comprou para viajar de navio diziam que Quitéria era sua irmã.
Núbia sumiu, foi dada como morta.
Quitéria ficou rica.
Foi então que encontrou o terreno perfeito em São Paulo, era bem afastado da cidade mas possuia uma estrada de ligação direta, então era perfeito para construir um Cabaré, os homens viriam a cavalo e a igreja não criaria caso.
Com o dinheiro de Núbia Quitéria construiu um Casarão de dois andares que contava com sótão espaçoso e um porão gigantesco, tinha seu próprio poço de água, própria estrebaria e também contava com um grande Jardim onde plantou uma horta e algumas árvores frutíferas. Ela mandou que pintassem todo o casarão de vermelho vivo e nas noites de serviço ela costumava acender tochas em volta de toda a casa, dessa forma ao longe era possível ver aquele ponto Vermelho luminoso, o qual quando as pessoas se aproximavam conseguiam contemplar uma casa que brilhava a no escuro das madrugadas refletindo luzes quentes e vermelhas em suas paredes rubras, e assim aquele cabaré foi conhecido como "o cabaré de fogo"
O cabaré era um sucesso, Quitéria gerenciava com maestria, e conforme os anos passaram a fama da casa só crescia, muitas moças cairam na "vida fácil" ali.
No ano de 1728 duas crianças apareceram no salão do Cabaré, eram duas meninas que pediam emprego, comida e um teto, eram as meninas Suzana e Maria Francisca, filhas de uma escrava que havia sido morta, então eram órfãs as garotinhas. Sozana era branca de cabelos negros e lisos, Francisca era negra de cabelos crespos, a única similaridade entre as irmãs era o fato de ambas terem herdado os olhos verdes do pai.
Por mais que Suzana fosse lindíssima, a combinação da cor da pele de Francisca com o tom verde mel dos olhos a tornavam absurdamente bela.
Naquela Época não se imaginava que aquelas pobres crianças um dia seriam as majestosas Maria Padilha e Maria Mulambo.
Francisca de algum modo se parecia muito Núbia, assim foi a que mais ganhou a simpátia de Quitéria.
Pobres meninas soltas no mundo, sozinhas sem pai nem mãe... é de dar pena, não é?
A resposta é não! Duas cobras Amaldiçoadas, é isso que elas eram. Em dez anos elas dominaram tudo.
Sim, a princípio Quitéria empregou as duas como ajudantes, camareiras, mas logo um ano depois quando completou quinze anos Suzana se tornou prostituta assumindo a identidade de "Maria Padilha", já francisca demorou quatro anos para cair na vida mas logo se tornou "Maria Mulambo".
Padilha em pouco tempo demonstrou um grande talento para os negócios, dessa maneira Quitéria pode delegar a ela algumas funções ara que assim tivesse mais tempo para si, porém com o passar dos anos a confiança de Quitéria em Padilha cresceu tanto que ela oficializou Maria Padilha como gerente do cabaré.
Mas por mais que houvesse muita confiança profissional, entre as duas não havia nenhum tipo de carinho ou amizade, na verdade Quitéria reconhecia Padilha como a mais valiosa das ferramentas, uma mulher que era bonita e que assim a traia clientes de toda parte, uma mulher que também era extremamente inteligente e boa com os números para lidar com dinheiro, principalmente Quiteria reconhecia em Padilha uma mulher de autoridade que conseguia pôr ordem nas outras moças da casa. Ter Padilha ali era maravilhoso para ela.
A relação com Mulambo era ótima, Mulambo sempre foi uma pessoa fácil de se gostar, era espontânea e extrovertida, muito engraçado e positiva, dessa maneira Quitéria sempre a mimava e talvez até a considerar-se como uma filha, por isso fazia vista grossa para todos os excessos que ela cometia.
O tempo continuou correndo, chegou um ponto em Quitéria de tanta confiança em Maria Padilha parou de revisar as os ganhos da casa, e foi aí que Padilha começou a agir, ela enfiava o máximo de dinheiro podia nos bolsos, roubava o cabaré de maneiras tremendas porém sempre com inteligência para que nunca fosse perceptível.
Mesmo com roubo o cabaré permanecia em constante progresso chegando ao momento da casa ser ampliada, um anexo ser construído para abrigar as mais de 40 moças que trabalhavam lá.
Por mais que Quitéria tivesse grande carinho e até mesmo um verdadeiro amor por Maria Mulambo Ela jamais quis que ela substituísse Padilha na direção da casa, ela amava mas não confiava.
Porém um dia Mulambo contou a Padilha queria pedir um empréstimo a Quitéria para abrir seu próprio cabaré na região de Santos, e claro que Padilha caiu na gargalhada pois Quitéria não fazia empréstimos a ninguém. É bem verdade que essa altura a relação das irmãs já não era mais como antes, questões de um triângulo amoro as separaram, porém Padilha muito se surpreendeu quando Mulambo mostrou a ela a escritura do terreno que havia comprado com o dinheiro que Quitéria havia concedido, e Padilha ficou ainda mais surpresa Quando soube que Quitéria não havia feito um empréstimo a irmã, ela na verdade havia presenteado Mulambo com uma grande quantia em dinheiro para a construção daquele que um dia seria conhecido como "cabaré Boca da Mata".
Foi aí eu ressentimento começou.
É claro que Maria Padilha nunca se iludiu achando que seria tratada da mesma maneira que Mulambo, mas ainda assim ela acreditava em algum momento teria reconhecimento. Pelos quinze anos que estava na casa ela não havia recebido nenhuma bonificação, todo o valor que recebia de Quitéria era um salário contado, cada centavo que recebia era de acordo com o trabalho que fazia e nunca houve nenhum tipo de presente, nenhum tipo de agrado, Quitéria em nenhum momento demonstrou gratidão e algumas vezes de modo sutil deixava claro que Padilha nunca fazia mais do que a obrigação.
Assim começou a inveja entre as irmãs, elas sempre invejaram uma outra de maneira leve mas a partir desse momento a inveja aumentou muito, Mulambo invejava Padilha pelo fato dela ter conseguido o homem que queria, por ter conseguido boa fama e por de alguma maneira ter conseguido juntar dinheiro o suficiente para viver com luxo sem ter de pedir ajuda a ninguém, do outro lado Padilha invejava Mulambo por conseguir tudo com facilidade, por sempre ser perdoada, por sempre ser querida por todos sem precisar fazer nenhum esforço para isso. É notório que ambas tinham visões muito deturpadas uma para com a outra, é claro que Mulambo era esforçada, tudo que conseguiu na vida foi com próprio esforço, e é claro que Maria Padilha era merecedora de tudo que tinha, porém a inveja em algo que cega, algo que faz as pessoas enxergarem coisas que não existem, A inveja é a mãe que gera e dá a luz ao filho chamado ódio.
Maria Padilha convenceu-se de que era merecedora demais, mas não demais dinheiro ou de mais reconhecimento, ela acreditou que era merecedora de tudo, ela acreditou que o seu destino era substituir Quitéria.
Desse modo invés de apenas se ater aos papéis e comandas relacionados aos ganhos da casa ela começou a investigar todos os documentos, procurava dentro do quarto de Quitéria, procurava dentro do escritório, procurava em todas as estantes, escrivaninhas e gavetas da casa alguma pasta onde estivesse guardada a escritura da propriedade. Após vasculhar tudo, examinar O casarão de cima a baixo e não encontrar nada, Maria Padilha se lembrou da pequena porta sob a escada da cozinha, é uma pequena porta de madeira que dava para o porão e que era proibida para todas as moças da casa, inclusive para ela mesma, a única pessoa que podia descer até o porão era a própria Quitéria que tinha a chave daquela porta.
A desculpa de Quitéria é que no porão ficava uma Adega com vinhos e licores muito caros e que por isso não confiava que ninguém ficasse entrando lá pois o valor das bebidas era inestimável, mas Padilha sempre estranhou o fato de Quitéria permanecer no porão por tempo demais quando descia para lá, sempre que ia trancava a porta ao entrar e só saía depois de muito tempo. Não foi necessário muito para destrancar a fechadura usando truques simples com ferrolhos, Padilha aproveitou um dia onde todas as moças estavam dormindo e a própria Maria Quitéria não estava em casa pois havia indo a modista encomendar novas vestidos, abriu a porta do porão e desceu. O que ela encontrou lá foi absurdamente Fantástico, de fato havia uma pequena Adega com vinhos muito caros mas o que se encontrava depois era algo que ela nunca imaginou, haviam muitas estantes com centenas de livros, livros estes que Padilha reconheceu apenas pelo fato de mensalmente vir da Europa encomendas para o cabaré que nunca tinham o seu conteúdo revelado, caixas e mais caixas pesadas que chegavam e agora Maria Padilha entendia que o conteúdo delas era feito de papel.
O trabalho começou, ela passou a examinar os livros um a um, não afim de ler seu conteúdo mas de encontrar qualquer papel que estivesse escondido entre suas páginas, e de fato ela encontrou um documento que lhe chamou muito atenção, era um documento originário, documento que hoje que nós chamamos de "certidão de nascimento" mas que antigamente era algo usado para declarar uma pessoa como cidadã de determinado lugar e assim conferir a ela direitos e deveres, era um papel muito velho e já muito amarelado redigido em francês, Padilha leu e estranhou que o nome, a pessoa descrita era "Katherine Isabelle Miranda du Sannois Fountainne" originaria da cidade de Toulouse na França. Mas a parte mais estranha era o fato dessa Katherine ter nascido no ano de 1663, e a parte mais bizarra era a assinatura da dona do documento, a assinatura era com a exata caligrafia de Quitéria.
Era Claro e óbvio os documentos portugueses de Quitéria eram falsos, a própria Padilha muitas vezes já havia detectado um sotaque diferente na forma dela falar, um sotaque francês, mas não era possível que Quitéria fosse a tal Katherine pois se fosse ela teria na época oitenta e dois anos de idade, isso não fazia o menor sentido pois Quitéria não aparentava ter nem mesmo quarenta.
Então Padilha continuou a ler os livros, foi folheando um a um, eram enormes livros de capa de couro, alguns Padilha entendeu que eram encapados com couro de porco mas outros eram visivelmente encapados com pele humana. A princípio os livros pareceram grandes tolices, por exemplo no início de um deles Maria Padilha leu um texto sobre a questão da Via Láctea ser uma galáxia gêmea e que a sua igual era a Galáxia de Andrômeda, que eram duas galáxias espelhadas e que haviam sido criadas quando um Deus supremo chamado Sékrum fora atacado por seus próprios filhos divinos, o choque do ataque criou algo incrível dando origem então a dois universos similares, esse grande Deus Criador havia se dividido em duas formas distintas, Sé governaria a galáxia de Andromeda e Krum governaria a Via Láctea, então o livro ensinava uma maneira de abrir um portal entre as duas galáxias e e conseguir passar entre os dois planetas Terra que existiam nelas pois segundo o texto o planeta terra na Via Láctea possuia um irmão gêmeo identico em Andrômeda e que tudo que acontecia em um mundo acontecia no outro, e é claro que Maria Padilha achou isso uma maravilhosa história de fantasia e não levou a sério, porém conforme foi folheando as páginas os assuntos ficavam muito mais intensos e ela chegou numa parte onde haviam feitiços.
Ela foi lendo as receitas indicações descritas ali, tudo era muito absurdo então fechou este livro e abrir o outro, mas neste segundo livro assim que o tomou nas mãos e ele próprio abriu sozinho em uma página, isso era sinal que a lombada do livro estava viciada naquela parte pois alguém havia aberto naquela mesma página muitas e muitas vezes. O título do enunciado era "Toujours Jeune", ou seja "sempre jovem" e a forma de se obter a juventude era algo grotesco, porém Padilha entendeu algumas coisas ao ler aquilo já que Quitéria havia deixado pistas em seu comportamento.
Ela passou por outros livros e viu ali coisas fantásticas então entendeu que Quitéria era de fato uma bruxa.
A primeira coisa que pensou foi chamar o padre e mostrar a ele aquelas coisas pois isso levaria Quitéria direto para fogueira, mas depois pensando melhor percebeu que se fizesse isso ela não iria sozinha pois a igreja não teria nenhum problema em acender fogueiras para todas as moças daquela casa inclusive para a próprias Padilha, então ela tomou uma atitude, decidiu que invés de condenar Quitéria por bruxaria ela iria compactuar do mesmo credo, Maria Padilha decidiu que também seria uma bruxa.
Criou-se assim este hábito, sempre que Quitéria não estava em casa Maria Padilha descia ao porão e apanhava algum dos livros, lia o quanto podia e aquilo que lhe interessava ela mesma copiava em um caderno, e logo Maria Padilha tinha grandes anotações, e logo Maria Padilha deixou a teoria e começou a prática.
Muitas vezes ela mesmo achou que estava ficando louca pois os feitiços que praticava começavam a de fato acontecer, e toda bruxa iniciante sempre acha que os milagres que presencia são sempre ilusão da própria mente, porém Padilha parou de praticar milagres e começou a praticar maldades. Quando uma maldade acontece é muito mais fácil da pessoa tomar o crédito do que quando ela faz uma simples bondade, a bondade é algo que o destino pode trazer então isso gera dúvida, porém é maldade executada da exata maneira que a pessoa deseja é sempre passível de um autor.
Não foi de mediato, esse aprendizado e prática de Maria Padilha duraram 8 anos, ela sempre estudava e praticava, e ela sempre aprendia coisas novas.
E aqui Quitéria comete um grande erro, ela sempre foi muito esperta, se fosse em outras épocas teria reconhecido imediatamente os traços e pistas de magia negra sendo praticada por outra pessoa debaixo de seu teto, porém um grande erro de Quitéria foi o orgulho, ela passou a se ver como a maior de todas as bruxas, como a grande invulnerável Senhora de todas as magias, e é claro que quanto mais alto maior a queda.
Foi no ano de 1753 quando Quitéria começou a ficar doente. Em poucos meses ela ficou tão adoecida que mal conseguia levantar da cama, e ela não compreendia o que estava acontecendo, passou acreditar que os seus poderes estavam falhando pois os seus feitiços de invulnerabilidade pareciam ter perdido o efeito. A doença era tão forte que Quitéria passava dias sem se alimentar, vivia a base de charutos e conhaque. Em dois meses perdeu mais de vintequilose e ficou praticamente pele e osso.
Mas ao contrário do que se imaginava, Maria Quitéria não manteve o seu segredos longe dos Olhos de todos, houve apenas uma única pessoa a qual ela ensinou magia. É claro que para essa a pessoa ela não ensinou nada de muito grandioso, porém os feitiços básicos conseguiu transmitir. Certo dia Maria Mulambo saiu do cabaré Boca da Mata e veio visitar sua amada amiga no cabaré de Fogo. Assim que passou pela porta Mulambo já sentiu aquele cheiro, era um cheiro estranho misturado de rosas e enxofre, era cheiro de magia.
Ela sempre foi muito simpática mas naquele dia não cumprimentou ninguém, assim que chegou subiu as escadas correndo para o andar de cima e entrou no quarto de Quitéria sem ser anunciada.
— O que está acontecendo aqui? — Mulambo olhava de um lado para o outro totalmente aflita.
Quitéria estava deitado na cama, seu rosto encovado demonstrava tanto cansasso que as olheiras a deixavam similar a uma caveira.
— Mulambo? O quê? O que está fazendo? Do que está falando?
Mulambo olhou para a mulher frágil na cama e percebeu que era dali que vinha aquele cheiro, mas não de Quitéria e sim de algo sob o leito, então ela agarrou os pés da cama e puxou para o lado com toda força dando um tranco tão forte que Quitéria quase caiu.
— Por Deus! O que pensa que está fazendo?! — Quitéria se assustou.
— Não foi você que me ensinou a identificar feitiçaria? Foi você que me ensinou a identificar quando alguém está enfeitiçado. Olhe para essa merda! — Mulambo apontou para o chão, para o local onde antes estava a cama.
Quitéria inclinou o pescoço para o lado então seus olhos se arregalaram quando ela viu o chão, ali estava desenhado com uma cor de marrom escuro o símbolo de Astaroth.
— Eu não sei Que desenho é esse mas ele foi feito com sangue e dele sai um cheiro horrível de magia negra. — Mulambo falou.
— Não acredito, não acredito nisso... eu... eu estou sendo enfeitiçada dentro da minha própria casa?
— Obviamente!
— Isso é o símbolo de um Deus muito antigo, coisa da Babilônia, é magia, magia negra poderosa... eu estou... meu Deus eu estou completamente surpresa...
— Mas Quitéria como você não percebeu? Eu não venho aqui faz 3 meses e de repente quando volto essa casa inteira está vibrando a feitiçaria — Mulambo girou o corpo olhando em todas as direções do quarto, caminhou até o espelho da penteadeira e com um soco o estilhaçou, os cacos de vidro caíram para todos os lados revelando que atrás do espelho, na madeira que os sustentava, estava desenhado outro símbolo com o mesmo sangue.
— Veja aqui, encontrei mais um.
— Não... Isso é o selo de Murmur, eu não acredito... como alguém conseguiu fazer isso dentro do meu quarto e eu não percebi? — Quitéria demonstrava tanto a surpresa que os seus olhos estavam arregalados de fúria e medo.
— Eu não sei como você deixou isso passar mas vamos logo, levante daí e vamos investigar essa maldita pocilga até encontrar qual dessas cachorras está te malejando!
— Sim, mas antes disso eu preciso retomar as minhas forças. Mulambo, eu preciso da sua ajuda, preciso que você desça até a vila de Grumari, Você se lembra daquele Senhor, o velho Adinael?
— Claro que me lembro.
— Então, eu preciso que você anote em um papel o nome SILFO, é uma flor amarela que só cresce nas regiões litorâneas nos vãos entre os rochedos, Adinael tem um arbusto de silfo perto da casa que mora, somente essa flor pode restaurar os meus poderes imediatamente, caso contrário mesmo que eu quebre todos os feitiços feitos para mim irei amargar um sofrimento horrível durante pelo menos um ano até que me recupere, por favor Mulambo não falhe. Isso é questão de vida ou morte.
— Mas você vai ficar aqui sozinha? Até Grumari demora pelo menos uma hora de viagem a cavalo então eu com certeza em ida e volta irei demorar pelo menos duas horas e meia, você consegue ficar sozinha aqui mesmo com o perigo dentro da sua casa? — Mulambo alertou.
— Eu vou ficar bem, mas por via das dúvidas desça até o escritório e peça para sua irmã vir ficar comigo, Maria Padilha não entende nada de magia mas é boa com um punhal, se alguém entrar no quarto para me atacar ela tem condição de me defender.
Assim Mulambo fez, avisou a irmã e depois montou em um cavalo e Partiu para Grumari.
Padilha Subiu até o quarto de Quitéria, viu a cama arrastada para o lado e viu o espelho estilhaçado, observou os desenhos na parede e no chão. Sentou ao lado de Quitéria calada sem dizer nada, apenas afagou-lhe a testa com um gesto carinhoso.
Quitéria sorriu mas logo sua atenção foi capturada pelos sons de passos no andar de baixo.
— O que está acontecendo? Que barulheira toda essa?
— Eu disse as meninas o que você me mandou dizer a elas. — Padilha sorriu apertando os olhos.
— O quê? Mas eu não lhe dei ordem de dizer nada, do que está falando?
Padilha abre um Largo sorriso, um sorriso que ela raramente mostrava pois sempre que sorria era de modo comedido sem mostrar muito os dentes.
— Eu disse a elas que você estava tão doente que tinha o pressentimento de que iria morrer a qualquer momento, e que mesmo gostando muito de todas elas você queria fazer a sua passagem para o outro mundo em paz, por isso você abriu os cofres do cabaré e deu a cada uma das quarenta e oito moças uma generosa bonificação para que elas pudessem passar três dias longe se divertindo em algum lugar enquanto você morria em paz. Acho que a maioria vai visitar a família ou algum namorado. Sabe Quitéria elas já estão rumando para cidade agora.
— Você ficou louca? — Quitéria estava perplexa.
— Sabe Quitéria... não foi difícil aprender o que significa um selo de Astaroth e um selo de Murmur.
Quitéria ficou boquiaberta.
— Foi você...
— É claro que fui eu. Sabe, quando você me ensinou a ler francês e a ler latim eu sei que a sua intenção era que eu tivesse desenvoltura para lidar com a papelada que vinha do governo e para compreender os dizeres nos envelopes de propina que pagamos ao clero, ler todos os documentos de importação e exportação de tecidos e bebidas, mas você não esperava que eu iria usar esse conhecimento para ler aquelas merdas que você esconde no porão, esperava?
Quitéria puxou o ar em um som de susto.
— Sua desgraçada! Desgraçada! Mulambo está voltando e ela vai matar você, eu era a única coisa que eu pedi a ela de tirar da sua vida, sua porca suja! Mas agora eu vou ser a primeira encorajar ela a cortar esse seu pescocinho imundo.
— Você sabe muito bem que a minha irmã é distraída, na hora de sair ela estava tão afobada que pediu um cavalo qualquer, e é claro que eu preparei uma égua prenha para ela montar. Você sabe muito bem que éguas prenhas não correm, elas não galopam, vão lentas para proteger o ventre. E contando ainda com o fato de ontem ter caído um temporal e as vias estar em todas abarrotados de lama... Mulambo só vai voltar aqui à noite, quando ela voltar você não vai estar aqui para ver.
Quitéria estava em choque, de todas as pessoas no mundo ela jamais desconfiou daquela mulher.
Padilha levantou da cama e saiu do quarto, logo em seguida voltou com algumas folhas de papel, um livro grosso e um castiçal com uma vela de Cera vermelha.
— Reconhece estes elementos? Os papéis eu comprei mas tanto o livro quanto o castiçal e a vela são seus, aquele porão guarda coisas fantásticas... — ela colocou o livro no colo de Quitéria e sobre ele e os papéis, então acendeu a vela na chama de outra que estava acesa no criado-mudo, entregou a Quitéria uma pena carregada com tinta — Eu ainda não pensei nos termos que irei redigir sobre o seu testamento, eu irei escrever ele nessas folhas, era para eu ter deixado tudo pronto porém eu não contava que você iria descobrir os feitiços tão cedo... mas não tem o menor problema, eu posso escrever depois que você assinar, então assine na base de cada uma das folhas, você vai assinar o seu nome.
— Acha mesmo que eu vou fazer uma coisa dessas sua tola? Mesmo que você me mate eu prefiro que todas as minhas propriedades sejam absorvidas pela Coroa portuguesa do que dar um centavo meu a você.
— Nossa mas como você é egoísta... porém não vou levar essas suas palavras em consideração, afinal de contas você está muito doente e não sabe o quê diz. — Padilha ficou em pé e começou a girar com o movimento dos braços o castiçal em cima de onde que Quitéria estava deitada — celestis pater angelis cantare, celestis pater angelis cantare, celestis pater angelis cantare...
Os lábios de Quitéria começaram a tremer, ela sabia que aquele livro no qual estava apoiado os papéis eram grande livro de feitiços que havia herdado de sua antiga companheira Núbia, ela sabia que aquele castiçal havia sido roubado de uma catedral na Espanha, ela sabia que aquela vela havia sido feita com a gordura do corpo de um homem inocente condenado a forca, e principalmente ela sabia que aquela ladainha que Padilha estava entoando enquanto girava a vela sobre si era um feitiço para obrigar alguém a fazer algo.
A mão direita de Quiteria começou a tremer e de forma involuntária ela agarrou a pena e sua mão se posicionou sobre a primeira das folhas de papel, sem que ela conseguisse ter controle sobre aquilo observou sua mão graciosamente se mover assinando o seu nome, então a mão esquerda também se moveu e removeu essa primeira folha a colocando delicadamente ao lado enquanto a mão direita assinava Na segunda folha de papel, e dessa maneira vinte e duas folhas em branco foram assinadas vinte e duas folhas que no futuro dariam origem a documentos de doação da propriedade para Maria Padilha, o documento de autorização para que Maria Padilha pudesse gerenciar a partir dali as contas no Banco, o documento de permissão para que Maria Padilha pudesse se tornar sua legítima herdeira diante da Justiça.
Os olhos de Quitéria se encheram de lágrimas, mas ela não chorava de tristeza, o ódio era tamanho que seu coração não foi capaz de conter e as lágrimas escorriam pelas bochechas encovadas.
— Veja só que boa menina, assinou tudo e ainda usou uma caligrafia muito bonita, é ou não é para dar os parabéns? — Maria Padilha falou cínica.
— Se for me matar faça isso logo, eu não quero mais ouvir a sua voz sua puta escrota.
— Não, é claro que eu não vou cometer uma falta de educação tamanha, pensou o quê? Que eu ia enfiar uma faca no seu peito? Claro que não.
— Então o que? — Quitéria falou entre os dentes.
— Sabe a Letícia, sim aquela moça gordinha que não consegue muitos clientes então acaba trabalhando na cozinha? Ontem eu pedi que ela preparasse para você a sua sobremesa preferida. Ela fez aquele delicioso bolo de creme inglês com morangos. Eu tive o prazer de ajudá-la a preparar, afinal de contas você sabe que eu adoro trabalhos manuais, tive o prazer imenso inclusive de descer a seu porão e pegar alguns dos seus frascos, alguns com rótulos escritos... Ah eu não me lembro o nome do que estava escrito neles mas não... não me parecia nenhum tipo de tempero. Porém acredito que acabei me confundindo e coloquei dentro da massa do bolo algumas gotas dessas coisas, Espero que não faça mal. — Padilha mantinha um sorriso cínico, uma máscara de falsa simpatia.
Quitéria sorriu para ela de volta, as lágrimas ainda escorrendo pelos cantos de seus olhos.
— Acha que eu vou gritar e espernear? Não meu anjo, não precisa usar nem essa vela em cima de mim, traga o bolo.
Padilha se ausentou um instante e logo voltou com uma belíssima bandeja de prata, sobre ela um delicado prato de porcelana com uma fatia de bolo e um garfo com cabo de madrepérola, era uma sobremesa muito Apetitosa e servida de maneira tão classuda e delicada parecia até mesmo uma pintura de tão bela. Ela colocou a bandeja no colo de Quitéria entregou em sua mão o talher.
— Coma, não precisa se fazer de rogada, eu sei que você quer, está uma delícia.
Quitéria indireitou a coluna e sentou com as costas retas, deu uma garfada no bolo mastigou e engoliu.
— Você não perde por esperar... — falou com enquanto se reclinava na cama.
— Não perco? Sabe qual é o seu maior problema? Você sempre me julga como burra. É claro que eu sei que você me acha extremamente inteligente para lidar com as questões práticas, é claro que eu sei que você me vê como uma funcionária valiosa, mas para todas as outras coisas você continua me vendo como burra. Acha que eu não sei que uma bruxa quando morre tem o seu espírito preso a terra? Acha que eu não sei que depois de morta você pode vir atrás de mim e de uma maneira tremenda me destruir? A questão Maria Quitéria é que eu não vou permitir que o seu espírito ande por aí, a sua alma vai permanecer presa dentro dos seus ossos para sempre.
Foi então que Quitéria finalmente se desesperou , Maria Padilha saiu do quarto, Quitéria extremamente fraca e já sentindo o efeito dos venenos que havia ingerido naquela fatia de bolo tentou sair da cama mas não teve tanto sucesso, deu alguns passos cambaleantes e teve que se apoiar na penteadeira e depois no batente da porta, ela observou Padilha descendo as escadas e tentou ir atrás, não sabia exatamente o que faria para impedir aquilo mas precisava tentar alguma coisa, com muita dificuldade desceu a grande escadaria que dava no salão do cabaré, desceu degrau por degrau apoiada no corrimão e quando chegou na parte de baixo viu Padilha em pé com um carretel de linha vermelha na mão.
— Que é isso? — perguntou amedrontada.
— Sabe, uma das coisas que eu nunca gostei de fazer foi trabalhar com linhas. A costura, o croché, o tricô, tudo isso para mim é insuportável, porém em um dos seus livros eu aprendi um modo de trabalhar com a linha de uma maneira que acabei gostando. Venha cá!
Quitéria tentou fugir mas obviamente Maria Padilha a alcançou em um segundo, ela amarrou a linha no pescoço de Quitéria e começou a enrolar por todo o corpo enquanto rezava "a linha vermelha afasta quebranto, a linha vermelha que tece o manto, a mãe é bondosa e quer proteger, dentro de casa a filha vai manter, a menina rebelde sempre diz que não, com força e fúria quer arrombar portão, mas a linha vermelha com sangue tingida, remove da filha a chama da vida, firmada e feita a fechadura está, a linha vermelha não lhe deixa escapar".
Não era possível saber quantas voltas Padilha deu no corpo de Quitéria com aquele carretel, mas de maneira misteriosa após dar o último nó a linha Foi absorvida para dentro do corpo, não restou nenhum resquício visível dela. Quitéria caiu de joelhos enquanto tremia convulsivamente. Padilha se ajoelhou ao lado dela e de um modo até mesmo gentil ajudou a deitado no chão. Quitéria já não conseguia mais falar nada, sua boca soltava apenas gemidos incoerentes enquanto olhava para Padilha com os olhos miúdos repletos de tanto ódio que suas íris se tornaram negras.
— É melhor você ir em paz, e não se preocupe pois eu sei que esse feitiço da linha vermelha tem uma segunda parte, eu irei fazer sem nenhum problema.
Quitéria agonizou por mais alguns segundos até Que a luz dos seus olhos apagou e ela faleceu. Quando Mulambo chegou já era à noite , encontrou Padilha sozinha em casa chorando copiosamente aos pés da cama onde já dizia o cadáver da morta.
O enterro foi feito, mas enterraram apenas um caixão cheio de Pedras. A segunda parte do feitiço para aprisionar o espírito dentro do cadáver era atirar o corpo em um poço. Maria Padilha enrolou o cadáver de Quitéria em um lençol Preto e usando mais linha vermelha amarrou de cima a baixo e jogou dentro do poço de água no jardim dos fundos.
Não demorou muito e água se tornou venenosa, o poço foi condenado e lacrado com uma tampa de pedra.
Mulambo por muitos anos investigou todas as moças do cabaré, investigou até mesmo todas as desafetas ou inimigas de Quitéria na cidade, mas ela nunca investigou Maria Padilha e assim jamais encontrou um culpado.
Padilha por sua vez entregou as autoridades os documentos assinados por Quitéria, assim o tabelião comparou as assinaturas do testamento e de todos os outros documentos com as outras assinaturas que ele mesmo guardava em seus arquivos de outros termos que Quitéria havia assinado no passado, constatou que eram assinaturas originais.
Maria Padilha se tornou dona de tudo aquilo que Maria Quitéria construiu.
Maria Padilha a substituiu em tudo.
❤ - III
Voltando para 1907.
Quitéria estava morta a mais de 150 anos, permanecia com seu espírito preso dentro dos ossos de seu esqueleto atirados no fundo do poço seco. Ela sabia que Maria Padilha havia acordado na morte, mesmo sem poder sair dali ela sentia tudo. Um belo dia uma criança a tampa de pedra foi quebrada e um espírito de um garoto morto saltou para dentro do poço.
Quitéria sentiu a presença dele ali, porém com o decorrer das décadas sentiu a presença de muitos espíritos passando pela região e assim não criou caso com isso. Porém o garoto parecia ter sido orientado por alguém, com as mãozinhas pequenas ele foi fazendo um movimento de enrolar bem acima do crânio do esqueleto. Quitéria sentiu naquele garoto cheiro de uma mulher que conhecia, uma mulher que trabalhou para ela na época do cabaré, uma tal de Helena que era conhecida como Dama da Noite.
Aquele espírito infantil parecia ter muito poder, não muito conhecimento mas sim poder bruto. Suas mãozinhas pequenas começaram a fazer movimentos mais rápidos girando uma em cima da outra como se estivesse de fato enrolando algo, e assim os dedos do menino começaram a puxar uma linha vermelha. Quando ele acabou de enrolar tudo simplesmente deu um salto para cima e desapareceu.
Foi desta forma que que ela acordou. Foi desta forma que Quitéria abriu os olhos em sua forma espiritual.
Foi desta forma fica Quitéria ficou em pé no fundo daquele poço e pela primeira vez em mais de cento e cinquenta anos ela gargalhou cheia de ódio e desejo de vingança.
Aí tô amando já quero muitos e muitos capítulos.
ResponderExcluirTo aqui alucinada pelo próximo capítulo!
ResponderExcluirHistória muito convence nós pequenos detalhes. É de uma realidade fascinante.
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