RODA DAS PRINCESAS 2021 - CAPITULO 5
Felipe Caprini
RODA DAS PRINCESAS
Capítulo 5
"Ruínas"
❤ - I
O caminho parecia ter ficado mais longo, Figueira já estava impaciente com o falatório de Cigana.
Após terem saído na casa de Doralice ela não parou de falar nenhum segundo, Lua Branca a havia deixado fascinada, mas Giramundo estava tentando convencê-la a não se envolver com um indígena, ele temia que o rancor daquele povo recaisse sobre a sua amiga.
Já Sete Saias, romântica como sempre, encorajava a amiga a tentar qualquer forma de felicidade.
Kainana e Lua Branca permaneceram na casa de Doralice enquanto Figueira, Sete Saias, Gira Mundo e Cigana estavam rumo a casa de Dama da Noite.
Invés de percorrerem as ruas e estradas eles decidiram cortar caminho pela Floresta pois era uma viagem muito mais curta.
Passavam por um descampado, uma campina verde, a grama refletia a luz pálida da Lua. Mas assim que deram alguns passos perceberam que havia alguém adiante, um homem parado.
Usava um terno negro, muito bem alinhado com abotoaduras douradas, uma cartola negra revestida de seda, estava apoiava em uma bengala de marfim, mas quando eles se aproximaram perceberam que o rosto do homen era um cranio de osso branco reluzente.
Cigana o conhecia bem, aquele homem era perigoso demais para se confiar.
— O que é aquilo? — Sete Saias perguntou.
— Ah sim, Aquele é João virou o velho João Caveira. — Disse Giramundo.
Figueira orientou que todos ficassem para trás enquanto ela se dispunha a ir ate ele para saber se passariam em paz ou haveria conflito.
Assim que ela chegou perto ele galantemente a cumprimentou.
— Salve os que vem de longe, salve e os que vem de perto.
Ela respondeu a saudação com um aceno de cabeça.
— Então você é João Caveira?
— Fico feliz que uma moça tão bela tem ouvido falar de mim. E quem seria a senhorita?
— Eu sou Figueira.
— Hum... um belo nome para uma bela moça. — mas após dizer isto ele se enclinou para poder ver Cigana que estava um pouco atrás, assim levantou a mão direita, uma mão delgada feita de apenas ossos, com um aceno ele e a saudou — Namastê... Gitana...
Cigana o encarou com os olhos cheios de ódio.
— Namastê, que haja paz em seu coração.
Sete Saias estranhou muito a expressão da amiga, Cigana muito raramente demonstrava algum sentimento negativo ela sempre era muito gentil, Sete Saias mesmo convivendo com ela há décadas nunca havia visto uma expressão tão séria naquele rosto.
— Sarah... você está bem?
— Não. Este homem... este desgraçado... foi ele quem me matou.
❤ - II
Foi uma vida difícil, mas muito feliz. Eram tres irmãs, Samira, Súria e Sarah, filhas de Cigano Ahamaduke Ygor.
Cigano Ygor era o chefe do acampamento, uma familia de descendência hindu, com seus pais ele percorreu toda a Europa e então chegou as Américas. Sarah e suas irmãs nasceram aqui, no Brasil.
Sendo Indiano de nascença, Ygor e sua esposa Safira mantinham sua fé original, ao contrário da maioria dos outros ciganos que eram ou cristãos ou muçulmanos eles preferiram permanecer sendo fiéis a fé hindu.
Todos os filhos que tem sua Raiz no Sangue de Kali são morenos e de cabelos negros. Safira já havia parido duas filhas, Samira e Suria eram típicas jovens Ciganas, de pele morena e olhos Verdes. Mas então Safira engravidou novamente. Por todo tempo que esteve gravida, Safira sonhava com sua Deusa de Devoção, Lakshimi, a Deusa do Amor.
No primeiro mês de gestação Safira sonhou que estava deitava em sua cama, e diante dela estava Lakshimi, linda, com sua pele Branca e suas joias. Como de costume dos deuses indianos, Lakshimi se apresentava com quatro braços e com olhos maiores do que os dos humanos.
No segundo mês Safira tornou a sonhar, desta vez Lakshimi lhe apareceria dentro de uma lagoa de agua cristalina boiando em uma flor de lótus lilás, banhava uma criança tão branca quanto ela.
Então Safira decidiu que era hora de abrir seus Tarô e saber o que se passava. Ela ja estava com 35 anos, sua pele era da cor de canela e seus cabelos do mais reluzente castanho claro. Acendeu os incensos e entoou as rezas no dialeto madhya, língua dos indianos. Os Deuses se fizeram presentes ali, na revelação das cartas. Por tres vezes Lakshimi respondeu. Sita, a esposa de Rama lhe disse que a criança seria abençoada. Rukmini, esposa de
Krishna respondeu que a criança teria sorte, e por fim Aiswarya Lakshmi respondeu que a criança seria poderosa.
Todos do acampamento se alegraram, a família Ahamaduke seria agraciada pelos Deuses.
O parto foi difícil, Safira sofreu por horas, as ciganas rezavam para as Deusas. Então a mãe de Ygor, Cigana Zoraide apanhou agua fresca de um rio, e lavou a barriga de Safira rezando para a Deusa Ganga, rainha das Águas.
Assim a criança nasceu, veio ao mundo albina, branca e loira, com os olhos azuis como diamantes.
Era sim totalmente diferente dos demais ciganos. Foi chamada Sarah, filha de Lakshimi, pois era a imagem da Deusa.
O tempo passou e e Sarah se tornou uma mulher belíssima, uma verdadeira princesa. Aprendeu os segredos das magias, a arte ler as mãos, a arte de ler as cartas, a arte de se comunicar com os animais e todos os outros segredos obscuros de seu povo.
Uma noite enquanto eles se aqueciam em volta da fogueira Ygor explicou a diferença da sua familia com as demais famílias ciganas. Olhando para a fogueira ele começou a falar:
— Minhas filhas, não somos como os outros ciganos... a maior parte dos ciganos tem fé em Santa Sarah Kali, uma santa católica que tem parte com a família de Jesus Cristo. Nós não temos essa fé. Somos filhos de Kali, mas não de "Santa Kali". Somos descendentes de Hindús, é da india que viemos, e somos filhos da Deusa Parvati. Parvati é a grande Shakti, a mãe divina que nos guia. Parvati é a esposa de Shiva, e quando adorada como deusa dos tempos e dos caminhos ela recebe o nome de Kali. Somos filhos de Parvati Kali. Nossa adorada Kali tem muitos nomes, é conhecida como Maheswari, Kaumari, Varahi, Vaishnavi, Chamundi, Durga, Bhuvaneswari, Mathangi, Lalitha, Annapurani, Rajarajeswari, mas nós somos filhos de Parvati Kali! Somos ligados a india, nossa raiz é a Índia, porem carregamos conosco um pouco de cada lugar que estivemos. Então eu lhes saúdo, Namastê (o Deus que habita em mim saúda o deus que habita em você)... eu lhes saúdo, Thie Aves Thiatlô Lom, Manrô Tai Sunkai (Que você seja abençoado com o sal, com o pão e com o ouro)!
Certo dia o acampamento de Ygor recebeu a visita de um grupo de ciganos mestiços vindos da França, ciganos de sangue impuro que pediam esmolas nas ruas, roubavam, bebiam, não sabiam falar os idiomas primais, não sabiam nada da raiz. Eram pessoas assim que manchavam a reputação dos ciganos.
Eles solicitaram entrar na familia de Ygor, mas ele negou. Como poderia se misturar aquelas pessoas sem classe? Jamais. Houve uma grande briga entre Ygor rechaçou os ciganos sujos.
Estes ciganos sentiram-se muito ofendidos e juraram vingança.
Este ciganos franceses podiam sim ter falta de classe e bons modos porém o que eles faltava de educação lhe sobrava em dinheiro, não foi difícil encontrar alguém disposto a sujar as mãos de sangue, o um golpe de azar foi o fato de estar passando pela região um famoso matador, um homem que tinha aterrorizado por anos na região de Cananéia e que havia ganhado fama por ter mandado para o inferno mais de quinhentas Almas com as próprias mãos. Este era João das Almas.
Os ciganos encheram os bolsos de moedas de ouro e deram o endereço, João acompanhado de seus capangas organizaram a emboscada.
Em uma noite sem lua os ciganos dormiam enquanto o primo de Sarah, cigano zafir, vigiava o acampamento. Sorrateiramente João de Deus matou Zafir, o esfaqueou pelas costas. Era assim que ele agia, na base da covardia. Os capangas não estavam dispostos a perder a noite inteira matando um a um daqueles inocentes, então decidiram agir de forma silenciosa trancando todas as carruagens pelo lado de fora, os ciganos que dormiam no interior dos carros não teriam como escapar. Assim João ordeou que óleo fosse jogado por cima de cada uma, a após isto feito ele ateou fogo no acampamento, nenhum cigano escapou, todos queimaram até as cinzas sem ter chance de defesa.
A família de Sarah encontrou descanso nos braços da Deusa Parvati Kali, mas Sarah não. Ela ficou, ela preferiu ficar. A maioria das entidades que está na terra dos vivos está aqui não porque quer e sim porque está presa, mais Sarah era uma das poucas que permaneceu por pura escolha.
João das Almas tambem encontrou a morte, e por ter sido amaldiçoado tantas vezes ele agora era chamado João Caveira. Por ter tirado tantas vidas ele possuia a aparência da própria morte.
❤ - III
Tranca Ruas subiu degrau por degrau, finalmente chegou, estava ali parado na porta da casa Dama da Noite. Era possível sentir a movimentação das kiumbas no entorno da casa, eram muitos, mas a atenção de Tranca Ruas no momento era uma só, ele esperava por ver Maria Padilha.
Parou sob o batente do porta, suas mãos tremiam e suavam.
Ele não precisou chamar, não precisou dizer nada, ela simplesmente apareceu no salão e foi na direção dele. estava linda em um vestido vermelho com bordados em dourado, seu cabelo negro solto estava jogado sobre um ombro só, as suas joias em pedra esmeralda cintilavam, os olhos estavam com um pesado contorno negro, os labios rosados lhe davam uma expressão gloriosa, era a mais bela das mulheres.
Padilha caminhou como uma modelo que desfila em passarela, se estava nervosa ou insegura isso em nenhum momento transpareceu.
De repente estavam cara a cara, olhos nos olhos.
Ela levantou a mão e acariciou o rosto de Tranca Ruas, seus toque suave percorria a face e a barba.
Sem pronunciar uma palavra sequer ele a abraçou, com uma mistura de desespero e saudade acumulada ele a apertou contra seu corpo, ele sendo muito maior teve de se encurvar para abraça-la, porém pela excitação do momento acabou por suspende-la no ar apertando ainda mais os braços em torno dela. Não queria ficar longe de sua amada nunca mais.
Padilha exibia dois comportamentos, o mais comum era cinismo, na maior parte do tempo ela se comportava de maneira altiva e ácida como mecanismo de defesa, sempre exibindo expressões sensuais no rosto, mas o segundo comportamento revelava quem ela era, este ela reservava para as pessoas que amava, e só para elas Padilha exibia um sorriso largo e a expressão doce, e era essa expressão que tinha quando olhava para aquele homem.
A cena foi dolorosa de se ver. Mulambo sentiu como se uma faca rasgasse o seu peito, era dor, a dor de ver o homem que amava nos braços de sua irmã novamente. Estava ali logo atrás deles escondida na escuridão da noite, não queria ser vista, tinha vergonha, mas ainda assim precisava ver. Era como se estivesse impondo a si mesma uma penitencia. Mesmo que mais de um século tivesse passado ela nunca havia tido a chance de pedir perdão pelo que fez.
Padilha sentiu a presença da irmã, sobre o ombro de Tranca Ruas elas olhou para fora e a viu, então beijou aquele pescoço masculo, fez isso pois o amava, mas também fez isso para mostrar a Mulambo que naquele jogo só havia uma unica vencedora.
Padilha tomou Tranca Ruas pelas mãos e o levou para o interior da casa. Estavam no salão Rosa Caveira, Meia Noite, Tiriri e Sete Encruzilhadas.
— Eu não acredito... — Meia Noite abriu um sorriso a ver seu antigo amigo.
— Eis aqui Tranca Ruas, o unico homem que tem a minha total confiança. O único homem que amei na vida. — Disse Maria Padilha permitindo que Tranca Ruas a envolvesse em mais um abraço.
❤ - IV
Navalha, Rosa Vermelha e Menina estavam seguindo seu caminho, poderiam ir mais rápido se menina não fosse tão lenta.
— Ellen se continuar assim eu vou te por nas minhas costas e te carregar feito uma mochila! — Navalha ralhou irritada pela vagareza.
— Não me chame de Ellen! Eu odeio esse nome! — Menina gritou com sua voz aguda.
— shiiii... façam silêncio... — Dama da Noite pediu.
— Algum problema? — Navalha olhou para ela.
Dama da noite ergueu o braço e apontou para um corvo de porte médio empoleirado em um galho logo acima.
— Que tem o pássaro? — Navalha perguntou.
— Está nos seguindo, ele consegue nos ver. Eu acho que não é um corvo normal, sinto magia nele.
— Será? Ellen, use seus dons no bicho, você tem tino pra essas coisas, não é? — Navalha pediu.
— Eu não lido com bichos, meus dons são sérios. — Menina se recusou.
— Por favor Ellen, esse pássaro está nos seguindo já faz meia hora, está anormal. — Rosa Vermelha falou.
— Vocês não me respeitam mesmo, me fazer usar os meus dons em um urubu...
— É um corvo. — Navalha corrigiu.
— Tanto faz! — Menina se irritou.
Ela ergueu a cabeça e olhou para o pássaro. A feição do rosto de Menina era sempre a mesma, sempre parecendo uma adolescente tola, mas isso era somente fechada, quando ela fixou o olhar no pássaro sua expressão mudou, seus olhos se arregalaram e suas iris ficaram minúsculas, ela abaixou as sobrancelhas e apertou os lábios, seu rosto se transfigurou em uma máscara assustadora.
O pássaro como que tomado por um choque caiu do galho e bateu contra o chão, ele se contorcia e grasnava desesperado, as asas batendo de forma desordenada, era evidente que estava em agonia.
Isso durou poucos segundos, Menina fechou levou ambas as mãos a boca contendo um grito de horror, assim que seus dons cessaram o corvo aproveitou para fugir desesperado.
— Que foi? O que você viu? — Navalha perguntou.
Menina gaguejou algo ininteligível.
— Calma, sei que seu dom de detectar feitiçaria é pasado... — Rosa Vermelha afagou-lhe as costas — Mas diga o que viu naquela ave.
Menina respirou fundo algumas vezes.
— Era uma ave enfeitiçada, uma espiã...
— Espiã? — Navalha perguntou.
— Isso é comum das bruxas, enfeitiçar pássaros para eles vigiem alguem. — Rosa Vermelha explicou.
— Mas quem enviou esse pássaro até nós? — Navalha perguntou.
— Foi... foi a Madame. — Menina disse assustada.
— Madame? Que Madame? — Rosa Vermelha perguntou.
Menina moveu-se até olhar nos olhos de Rosa.
— Madame... a única Madame que nós tivemos o azar conhecer. É ela Rosa, eu não sei como mas ela está acordada. É ela... é Quitéria.
❤ - V
João Caveira não era de todo ruim. Pelo menos não era mais.
Cigana caminhou até ele, assim viu de perto aquela imagem pavorosa, por de baixo do paletó de veludo púrpura estava um esqueleto completamente branco de tão velho. Mesmo que o crânio sem pele não pudesse esboçar expressão alguma, o remorço de João era sentido no coração de todos. Era notório que seus crimes não lhe trouxeram benefício algum.
— Você quer me dizer algo? — Sarah perguntou.
— Sim. Eu sempre quis... bem... eu... você deve imaginar...
— Não se preocupe, eu o perdôo.
O maxilar do crânio se abriu em surpresa e João ficou sem saber o que dizer.
— É... eu achei que senhorita me odiasse...
— E eu odeio. Mas o ódio não é um sentimento que eu gosto de cultivar, por isso lhe dou meu perdão. Vejo pelo seu estado que a sua morte foi muito mais cruel que a minha, então a justiça já foi feita.
— Sim, há verdade em suas palavras.
— Pois que fique em paz.
Cigana começou a caminhar, Sete Saias e Giramundo vieram logo atrás a acompanhando, mas Figueira antes de prosseguir voltou-se para João.
— Estamos indo para a casa de Dama da Noite. Imagino que ja tenha ouvido falar da nossa reunião.
— Então é verdade que estão se reunindo? Por qual motivo?
— Se quiser descobrir, venha conosco. Sempre tem lugar para mais um. Você se opõe a isso Sarah?
— Não. — Sarah respondeu.
— Vê? Venha conosco, já não é mais tempo de ficar só. — Figueira sorriu para ele e voltou a caminhar.
João ficou parado pensando mas antes que sumissem de vista ele se moveu e começou a segui-los.
❤ - VI
Navalha, Rosa Vermelha e Menina prosseguiram o caminho de forma mais atenta, sempre olhando para todos os lados, a tensão e a sensação de perigo eram grandes.
Não demorou muito para que avistassem um segundo corvo pousado no galho de uma goiabeira, este claramente vigiava os passos das três.
— Outro... — Navalha sussurrou.
— Hum... esse é diferente... — Menina o examinou.
— Diferente como? — Rosa Vermelha perguntou.
Menina apertou os olhos encarando o bicho.
— Não é um espião, é um mensageiro. Ele quer me mostrar algo.
— É seguro? — Navalha perguntou.
— Vou descobrir já. — Menina arregalou os olhos e usou novamente seus dons na ave.
Nos olhos do corvo ela viu refletir algo, então uma visão surgiu em sua mente, viu um poço abandonado no meio de um jardim mal cuidado, os tijolos do poço completamente verdes de limo. A visão se ampliou, ela viu logo diante do poço uma mansão em ruínas, dois andares, as vinhas tomando conta das paredes externas. A visão focou novamente no poço e Menina viu uma mulher surgir de dentro dele, cabelos negros e a pele branca como papel, tinha um vestido púrpura rasgado e gasto, as mãos da mulher seguraram as bordas do poço, as unhas negras compridas e pontiagudas, a mulher sorriu mostrando dentes podres, um sorriso cheio de malignidade, movendo os lábios ela pronunciou algo.
O pássaro voou, Menina arfou assustada enquanto piscava os olhos despertando da visão.
— O que você viu? — Rosa Perguntou.
Menina relatou os detalhes da visão para elas.
— Mas o que ela disse no final? Você conseguiu compreender? — Navalha perguntou.
— Sim, disse "Me lembro de ti Ellen, e sei que lembra de mim. Se deseja me ver chegue um pouco mais perto..."
— O poço e o casarão que você descreveu... é o Cabaré de Fogo, não é? — Rosa Vermelha perguntou.
— Não tenho dúvidas, é sim. — Menina afirmou — E ela nós quer lá.
— Sim, ela nao teria mostrado a localização atoa. — Navalha falou.
— Pois eu vou, vou ver o que Maria Quitéria quer. — Rosa Vermelha farejou o ar e imediatamente virou o corpo para o leste — é por ali, e não é longe.
— Você ficou louca?! — Eu não vou me meter com aquela vaca louca, ela é perigosa, você não se lembra? — Menina temeu.
— Eu vou com a Rosa, e se você não quiser ficar sozinha no meio do mato é melhor vir conosco. — Navalha se moveu junto com Rosa Vermelha.
Menina temendo ficar sozinha resmungou mas as seguiu.
As três percorreram cerca de vinte quilômetros, talvez um pouco mais, e desta vez Maria Navalha de fato levou Menina nas costas para que assim ela e Rosa pudessem correr, e elas correram como o vento até o local indicado.
Entraram no Jardim e chegaram diante do poço.
Navalha mirou o casarão caindo aos pedaços.
— Está abandonado a pouco tempo e já esta assim... que tristeza.
— Eu fechei as portas deste Cabaré a mais de setenta anos, a natureza sempre derruba o que foi erguido pelas mãos dos homens. O belo Cabaré de Fogo agora não é mais nada. — Rosa lamentou.
uma gargalhada aguda se ouviu, as moças foram surpreendidas por uma visão aterrorizante, das ruinas do casarão ainda se erguia uma venha e apodrecida chaminé, algo que se tornou uma espécie de torre de doze metros de altura, e no topo dela estava a mulher, e ela estava ali observando já a algum tempo sem que ninguém a tivesse notado.
— Então é isso! Acordou finalmente, Maria Quitéria! — Rosa Vermelha a encarou sem medo.
— Ah... Rosana... me lembro de você... me lembro do tempo que eu enchi meus bolsos de dinheiro com seus serviços, você abria as pernas como ninguem. — Maria Quitéria gargalhou novamente, sua risada era má.
— Se lembra disso? Pois eu lembro dos anos que passei governando a casa que você construiu, usando as suas jóias, bebendo o seu champanhe e dormindo na sua cama, tudo isso enquanto seu cadaver apodrecia dentro deste poço! — Agora foi Rosa vermelha quem gargalhou.
O sorriso de Quitéria se desfez.
— Azar o seu que eu não estou mais dormindo.
— Não baixem a guarda, esta mulher é mais forte do que nós três juntas. — Navalha falou.
— Ah olha só, a mulher macho também está aqui... me lembro de voce Analia, uma puta esgueirando o cais atrás de fazer negócios, contrabando... comprei muitas garrafas de Whisky das suas mãos. Ficou feliz em me ver de novo?
— Estou tão feliz quanto um pinto no lixo, — Navalha zombou — Agora diga logo o que quer, você nos guiou até aqui por um motivo claro, não foi?
Quitéria saltou do alto da chaminé e caiu em pé diante delas, sua aparência putrida foi sendo substituída por beleza, sua pele ganhou viço, os cabelos se ergueram em um penteado clássico, um coque banana, o vestído podre e rasgado se transformou em um modelo novo, um vestido sem mangas justo ao corpo em tecido em púrpura com pequenas pedras granadas encrustadas no corpete, ela de repente ficou mais alta revelando que sapatos de salto alto haviam surgido nos pés, mas o mais marcante de sua nova aparência era a maquiagem, Quitéria usava batom preto como o carvão e os olhos com sombra tão negra que seu olhar se tornou profundo e assustador.
— O destino das vagabundas é ser usada, não é? Então eu também quero usar. Chamei vocês aqui para que avisem Maria Padilha, digam a ela que eu retornei, que finalmente me libertei da prisão que ela me impôs. Digam a Maria Padilha que eu vou fazer com ela todas as atrocidades que tiver vontade. Eu vou me vingar, e ela não tem como escapar de mim.
Comentários
Postar um comentário