Roda das Princesas 2021 - Capitulo 1
Roda das Princesas foi uma novela publicada no ano de 2014, porém alguns problemas acabaram impedindo que tivesse um final.
Agora em 2021 decidi reescrever toda a história, para finalmente trezer o desfecho.
Para os leitores é necessário que saibam que Roda das Princesas é o primeiro de uma série de contos da série "Urdidura das Feiticeiras".
Felipe Caprini, 2021
Roda das Princesas - O Reboot
❤ - I
A arte da Bruxaria é... bom, na verdade é uma baita confusão.
Bruxas são sempre alguma coisa fantástica, mas sempre sofrida.
Vermelho... Vermelho...
Ela não via mais nada, somente um mar de fogo. Engolia em seco olhando para todos os lados mesmo de olhos fechados. Ela estava no meio das chamas. Vermelho... seu corpo estava vermelho, mas ela não se queimava nas chamas, pois ela mesma era uma labareda.
Magia é uma coisa muito Bizarra.
De repente sente uma presença, alguém tambem estava ali, entre as chamas.
Vermelho... so se via o mar vermelho...
Ela era uma belíssima mulher de pele negra, os cabelos armados em ondulações dos fios rebeldes, lábios grossos pintados de vermelho vivo, olhos com cílios tão longos que faziam seus olhos tal qual os de uma raposa.
Uma voz áspera e grossa surge entre o fogo:
— Quem é você que resiste as chamas?
Ela então responde:
— Eu sou Maria. Me diga que lugar é esse cheio de fogo?
O homem lhe diz:
— Este lugar Maria, é o teu Coração. Voce esta morta, mas não extinta.
Era então hora de voltar a si.
Com uma chuva torrencial o fogo se apagou, o vapor subia em uma névoa acinzentada, mas ali ela pode ver o Homem. Era forte e alto, bonito, mas havia algo de anormal em sua aparência. Talvez por estar tanto tempo sofrendo as dores de estar nessa jornada.
Antes que ela abrisse a boca ele disse:
— Sete. Não me chame pelo nome de batismo, isso me enfraquecerá. Não conte aos outros o meu nome Maria.
— Ela semicerra os olhos e percebe que sabia o nome original dele, o nome verdadeiro, mas não podia dizer.
O homem sorri:
— Eles na terra dos viventes agora me chama de Sete Encruzilhadas. É melhor assim, que eu leve em mim o nome de meu lar.
— E eu? Eu ainda sou Maria Francisca?
— Maria Francisca é o nome escrito na pedra da sua lápide.
— Eu não tenho lápide.
— Não tem. Mas seu corpo de carne e osso se acabou sob a terra, isso você se lembra, não?
— Lembro. Morri faz uma semana? Ou a um mês?
O homem ri.
— Você morreu no ano de 1774. O mundo girou Maria, estamos em 1907.
— Estou morta a cento e doze anos? — Ela grita espantada.
— Na verdade cento e trinta e tres. Você ainda é péssima em fazer contas. Vá até lá, va ver os vivos e eles lhe darão um novo nome.
— Os vivos? Mas como eu vou até lá?
— Se lembra quando era viva e magia? Se lembra qual era o segredo para fazer os maiores feitiços?
— Não pensar?
— Não pensar.
Ela então cai dentro de si mesma, e ao se jogar em sua própria força, ela olha em volta e se vê cercada por tres saídas. Encruzilhada de tres pontas!
Ela ja estava na Terra dos vivos, alias, ela nunca havia saido totalmente daqui.
Era uma rua escura em um bairro afastado. Na porta de um bar se houve gritos, como uma grande briga:
-VAGABUNDA! IMUNDA!
Um homem bêbado cambaleante, ameaçava esbofetear sua mulher, lhe acusando de infidelidade. A pobre mulher só sabia chorar.
A humilhação era grande demais.
Maria Francisca foi até a pobre coitada, e a viu com a sua roupa rasgada e o cabelo desmantelado.
Em um momento de desespero a mulher grita aos céus, clamando que alguem lhe ajudasse.
Maria Francisca sussura no ouvido da mulher, como uma mosca que faz seu suave zumbido.
- Eu lhe Ajudo.
A mulher então passa a agir como se fosse influenciada pela voz que ouviu.
Começa a ranger os dentes, e a desejar do fundo do coração a morte de seu agressor.
O homem poe a mão sobre o peito, derruba seu caneco de bebida no chão, a encara e grita:
- Voce nem sequer se parece com uma Mulher! Seu Mulambo!
E é ai que a coisa acontece, o espírito de Maria Francisca arregala os olhos e como se um raio atingisse seu corpo ela se lembra, aquele sim era seu nome de verdade, quando era viva sua mãe a batizou Maria Francisca, mas o povo a nomeou... Maria Mulambo.
E agora sabendo quem é ela aponta para o homem e de repente um mal súbito, um enfarte ou algo corriqueiro... O homem pisa em falso, sente os braços flacidos, formigando, e sem perceber que perecia ele tomou para trás, seu corpo fazendo um som de baque seco contra a terra. Ele caiu morto no chão, e Maria Francisca tambem deixou de existir ali, ela era agora novamente Maria Mulambo.
A Maldição de muitos e a Salvação de outros.
Mulambo...
Que ao respirar fundo fez um vendaval, e seu vento rodopiou, um redemoinho quente na madrugada. Ela não mandava no vento, Ela era o vento.
Mas ainda lhe faltava estar na companhia dos seus iguais. Como um cão ela farejou o ar e sentiu o cheiro deles. Ela não estava pensando em homens ou em um Companheiro.
A voz de Sete Encruzilhadas ecoa novamente:
— É na tua irmã que tu pensa?
Ela olha para o alto tentando visualizar onde ele estava, mas nada vê. Então responde a esmo:
— Imagino o nome pelo qual ela atende agora...
Ele lhe responde:
— O mesmo de Sempre.
— Suzana?
— Claro que não, ela não responde pelo nome que sua mãe lhe deu, ela responde pelo nome que escolheu. Se lembra? A velha Quitéria que sugeriu, um nome de Rainha...
Mulambo por um momento pensa se realmente quer ouvir esse nome. Ela sabe que se ouvir o nome elas iriam se ver novamente. Talvez fosse bom... talvez não. As coisas não estavam bem resolvidas, havia rancor, havia remorso.
Mulambo pergunta:
— Eu... eu não me lembro, que nome é este? Por qual nome aquela mulher responde?
Em suspiro longo, como quem está saboreando uma doce lembrança, Sete Encruzilhadas pronuncia com suavidade uma rima:
— Dia negro, dia da maldição que a alma consome... foi este pesado dia que a moça Suzana escolheu Padilha como nome...
Maria Mulambo entorta os lábios em um "Q" de asco e pronuncia o nome de sua irmã mais velha:
— Maria Padilha!
❤ - II
Ele é muito velho. Ele é antigo.
Poucos sabem da sua real natureza, em cada época ele atuou como um personagem distinto, em cada vez teve um nome. Ele dizia que estava morto, e isso não era de todo errado. O coração não bate, não há sangue pulsante nas veias. Então está morto.
Mas a morte não é um sono profundo. A morte é somente uma porta para outro lado.
Sete encruzilhadas sabe bem o que faz.
No telhado de uma casa abandonada um homem sofria em silêncio. E por Deus, como ele era bonito... seus cabelos negros se moviam com o vento enquanto ele sentado encarava os próprios sapatos, perdido em pensamentos.
Helena... ele sabia que ela ja não atendia por esse nome. Mas seu coração clamava por Helena. A dor maior era de estar morto a mais de dois séculos longe de sua amada.
Eram Vinte e um. Vinte e um que se conheciam, que faziam coisas... coisas prodigiosas. Feiticeiros velados. Vinte e um que morreram mas não descansaram.
Eram nove homens e Doze mulheres.
E este espírito que sofria a cruel dor da saudade agora era chamado Meia Noite. Ele mesmo tinha dificuldades em lembrar do nome batismo, mas Meia Noite estava bom.
Ouviu um sussurro, um chiar como de um gato. Ao olhar para baixo ele viu a rua vazia mas ao mesmo tempo ouviu uma voz de homem falar:
— O nome dela agora também acaba no escuro.
Meia Noite de imediato reconhece a voz do homem.
— Sete encruzilhadas... seu filho de uma puta...
— Ora ora, que agressividade é essa?
— Eu ja estava me esquecendo de ti, afinal ja fazem decadas que não te vejo, décadas que você prometeu me ajudar...
— Eu faço muitas promessas, nem sempre as cumpro. Mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa...
— Apareça de uma vez, eu não vou ficar falando com o nada feito um idiota.
Então Sete Encruzilhadas aparece sentado ao lado de Meia Noite, sorri, e diz:
— Amigo... não é curioso que sua amada use o seu sobrenome?
— O quê? Você sabe o nome que Helena usa agora?
— Sei sim, ela se auto intitula "Dama da Noite".
Meia Noite suspira dolorosamente e fala:
— Que merda... ela usava esse epíteto quando era viva, como eu pude esquecer?
— A morte tem dessas coisas, os mortos esquecem dos detalhes. Mas ela esta bem, se tornou uma celebridade entre os vivos.
— Por mais que os vivos a chamem de Dama da Noite, eu só a reconheço como Helena. Puta merda, eu daria tudo pra fumar um cigarro agora.
Sete Encruzilhadas da uma Forte Gargalhada e fala:
- Enquanto voce sofre por ela, ela está se tornando um Deusa. Os vivos agora a chamam de "Pambujila", de "Elegbara"...
— E que diabo é isso? — Meia Noite se espanta.
— Os vivos atribuem nomes de deuses Africanos a ela, a veneram. Eu mesmo quando me fiz presente na casa dela tomando um cavalo, fui aclamado um Exu.
— Absurdo! Helena, ou Dama da Noite... Ela não é africana, porque aceita ser comparada a Deuses do outro mundo? Porque você não explicou as pessoas que nem sequer conhecemos esses deuses?
— O povo lá tem cérebro pra entender essas coisas? Eles vão na onda, aceitam besteiras como se fossem verdades absolutas. Mas em todo caso, é bom ser Adorado. Dama da Noite ajudou as negras que sabiam fazer os feitiços. Essas negras são poderosas, elas deram Barro, ferro, ervas, pedras, ouro e sangue para Ela. Eles chamam esse feitiço de "Assentamento", um coisa copiada do culto dos Orixás, com isso Dama da Noite está cada vez mais forte. Mais forte até que eu. Eu tenho pensado seriamente a me juntar a ela. Você sabe que a Maria Padilha já esta com ela? E a Figueira também.
— Estão se reunindo?
— Sim, e na casa de Dama da Noite... de Helena... Está um parente seu, um rapaz vivente. Descendente de sua sobrinha, se lembra do nome dela?
Meia Noite fecha os olhos tentando lembrar, mas sem sucesso.
— Não consigo mais saber dessas coisas.
— Tudo bem, mas saiba que este rapaz... nenhum espirito o pega, ele não da passagem para as outras forças. Um pássaro preto me disse que ele só receberá a ti.
— Não tenho interesse em ter cavalos.
— Mas tem interesse em fumar? Em beber? Através de uma incorporação isso é possível para nós que estamos mortos.
Meia noite instintivamente leva a mão ao bolso da camisa, onde guardava os cigarros quando era vivo.
— Certo, Vamos juntos ver isso.
— Vamos sim, Talvez Dama Noite nos ajude a... completar a nossa jornada.
Uma voz de mulher ecoa logo atrás deles.
— Me leve junto. Helena tem muito a me ensinar.
Meia Noite se espanta ao olhar para trás e reconhecer a figura da mulher:
— Maria Francisca! Desde a sua morte que eu não ouço falar de você!
Ele vai até ela e a abraça. Ela então responde:
— Não meu amor, faz favor de nunca mais pronunciar esse nome. Eu sou Maria Mulambo.
Nas penas da asa de um abutre, no brilho da lua, no pó so solo... os tres se puseram a correr... correr como leopardos, com força. Sobre os telhados das casas eles correram, o destino era uma casa de madeira, na encosta irregular de uma colina. Um lugar pobre, onde na entrada estava uma estátua de gesso, de uma mulher branca com um longo vestido negro. E no pé da estátua se lia pintado com tinta dourada o nome "Pomba Gira Dama da Noite".
❤ - III
A vida é tão curta quanto um piscar de olhos.
Ela olhava para aquela multidão e seus pensamentos se perdiam. As vozes dos corações ecoavam em sua mente. Um dom dos espíritos femininos é ouvir o coração dos vivos. Não se engane, não é como telepatia, elas não podem ler mentes, o que fazem e escutar os desejos e anseios dos corações.
Estes viventes ofereciam uma festa a ela. Ela estava confortávelmente instalada dentro de uma Mulher de carne e osso, a qual a multidão chamava de mãe. Era uma Mãe de Santo, que servia de Cavalo para o espírito.
Então ela sente a presença de alguns conhecidos, e logo fica impaciente, odiava visitas inesperadas. Ela olhou para a multidão e disse:
— Moças acendam mais 3 velas, Sete encruzilhadas voltou e trouxe seus comparsas...
As tais moças eram uma coisa chamada "cambone", gente que serve nos ritos. Cantigas e saudações foram entoadas e a mãe de Santo que estava possuida pelo espírito se pôs a dançar ao som dos Tambores, Atabaques...
Sete encruzilhadas caminhou pela sala totalmente invisível a olhos humanos, foi até Dama da Noite, e em seu ouvido sussurrou:
— Podes me dar um pouco de atenção, meu anjo?
Ela respondeu
— A festa acabará logo, assim que eu soltar esta minha filha eu os encontro.
— "minha filha"? — Sete Encruzilhadas achou graça.
— Não zombe de meus novos costumes. Quem mais veio? Com você trouxe?
— Maria Mulambo e Meia Noite.
— Mari... Mulam... Espere ai, é a irmã de Padilha? Aquela criminosa?
— Deixe o passado para trás, você também não era nenhuma santa quando estava viva.
Sete Encruzilhadas se retirou do Salão junto com Meia Noite e Mulambo. Eles esperaram do lado de fora o fim da festividade.
Os tres aguardavam anciosos, pois sentiam que a Feitiçaria que ocorria dentro da casa era poderosa, Meia Noite olhava desgostoso para dentro da casa através da porta.
— Porque essa cara? — Mulambo perguntou.
— É a única que eu tenho.
— Não é não, você esta fazendo uma careta como se estivesse sentindo o cheiro de bosta fresca.
Meia noite suspirou:
— É que eu não aprovo isso, esses tambores africanos, e... essas roupas exageradas, e...
Mulambo riu:
— Os tambores dão poder, em todo o mundo, toda fé poderosa usa tambores.
— Eu sei disso. É que esperava que as festas de Dama da Noite fossem como eu me recordava.
— Está falando das festas onde haviam violoncelistas e cantores líricos? Com garçons servindo canapés?
— Sei que parece ridículo mas... sinto saudade dessa época.
— Saudade é uma coisa boa... — disse uma voz masculina aguda.
Os tres obsevaram um homem vestido com roupas femininas passar pelo portão em direção a eles. Um jovem magro, com um turbante vermelho e uma saia da cor de sangue reluzente em seda andava calmante até o trio. Ao olhar nos olhos do rapaz Sete Encruzilhadas reconheceu aquela força, e então disse:
— Como tem passado Maria Figueira?
O rapaz estava com os lábios imóveis, mas ainda assim era possível ouvir a voz dela, o espírito estava dentro dele.
— Corte esse "Maria", já temos Marias demais, não acha? Me chame só de Figueira. Boas Noites meus amores...
Mulambo não acreditava no que via, assim indagou:
— Eu me lembro bem de você, Lorena. Aliás perdão, seu nome agora é Figueira não é mesmo?
— É sim.
Meia Noite não disfarçou o espanto:
— Que monstruosidade é essa? Voce é uma mulher, como habita dentro de um homem?
— Monstruosidade é você ter esse comportamento de machão sendo que seu pinto apodreceu a sete palmos de terra quando você morreu.
Mulambo gargalhou com o comentário, mas também quis saber.
— Mas diga Figueira, como isso é possível?
— Meu Amor... quando eu quero algo não há nada que me impeça. Eu desejei estar neste corpo, e aqui estou. Nenhuma Mulher pode me suportar, elas todas não me aguentam, sou... densa demais. Porem este macho me suporta sem dificuldades. Mas sem mais delongas, Dama da Noite está chamando vocês lá dentro, eu vou soltar esta criança e logo os encontro.
Ao entrar na sala o trio encontrou Dama da noite em sua forma espiritual sentada em sua cadeira de veludo negro, e ao seu lado estava outro espírito, um homem de pele vermelha, indígena com cocar de penas de arara.
Dama da Noite fez então as apresentações.
- Meus senhores, minha Senhora, este é Sete Flechas, o Dono desta casa.
Sete Flechas respondeu em tom de descontentamento falando com forte sotaque de sua língua original:
— Do que me adianta ser o de Dono do chão desta casa se este lugar é conhecido como "Casa da Dama da Noite"?
Ela respondeu:
— Força e carisma são coisas diferentes meu caro amigo, não se pode negar que tu é dono de grande poder, mas seria mais apreciado se viesse dançar, beber um pouco... fazer presença para o povo ver.
Sete flechas resmungou algo em sua língua nativa, tirou seu cocar de penas da cabeça, o agitou no ar e em um instante seu corpo inteiro se transfigurou em um passarinho, que saiu voando porta fora.
Meia Noite então pergunta:
— Você agora se associa a essa gente? A esses aborígenes?
Dama da Noite o encara enquanto balança lentamente a cabeça em reprovação:
— Aborígenes são nativos da Austrália, aqui temos ameríndios. E não fale essas asneiras preconceituosas aqui, não tolero isso.
Ela entoa um cântico em uma lingua primal e todas as velas da casa de ascendem sozinhas, então volta a falar:
— Há muito o que se aprender. Hoje sou a mais forte entre os vinte e um da nossa sociedade, isso é exatamente por que me associei a quem podia me fortalecer. Ando com os Negros feiticeiros, com os Indios, com os Ciganos... e agora tenho minha própria força. Quem de vocês pode me derrubar?
Um grito se ouve:
— EU POSSO!
Mulambo olha para trás e finalmente a vê. Era ela, entrava no salão em um vestido vermelho sem mangas justo ao corpo , sua pele clara e rosada estava brilhante, ela não parecia estar morta, seus cabelos negros esvoaçantes hipnotizavam os olhos de todos. Maria Padilha ainda se mantinha no patamar de a mais bela de todas.
Dama da Noite revirou os olhos de aborrecimento.
— Se podes... tente.
Padilha da uma gargalhada afetada.
— Pra quê tentar? Não tenho motivo para isso, afinal nós somos todas da mesma família.
Ela move a cabeça lentamente para o lado, olha para Mulambo e finge não conhece-la, o olhar de ambas se encontram por um segundo mas depois ambas se ignoram. Padilha senta em uma cadeira vaga ao lado de Dama da Noite e acena com a cabeça para que ela continue.
Dama da Noite suspira mais aborrecida ainda.
— Quando eu morri, depois de poucos anos acordei dentro de minha própria cova, sozinha. Eu não sabia que eu era um espírito, que tinha força. Então eu andei por toda essa terra, e não encontrei ninguém que me desse respostas. Uma noite eu senti uma força muito grande que vinha do Norte. Caminhei por dias e cheguei até lá. Era um porto desativado, beira mar. La eu conheci a mulher que abriu os meus olhos para tudo isso... Ana. Ela é poderosa, vive entre forças inimagináveis. Ana Paulina é seu nome, ela e suas iguais se auto intitulam "mestras". Então eu por muito tempo andei com ela, e tudo aprendi.
— Aprendeu sobre o motivo de nós, exatamente nós, termos voltado a terra como espíritos errantes? — Meia Noite perguntou.
— Claro que descobri.
— Então fala, porra! — Mulambo se broquiou.
— Não falo, e não falo porque não quero. Eu volto a perguntar, quem de vocês tem força para me obri...
Padilha interrompe:
— Sim Helena... Dama da Noite... você tem muita força, e que Deus a abençoe, mas meu nome tem mais peso. Tudo que aprendi eu fiz. Tambem sei do motivo e não precisei ir mendigar informações as mestras de Jurema. Eu sempre soube. Tanto que agora eu tenho três casas em minha homenagem.
Meia Noite se aproxima dela e pergunta:
— Como é possivel reinar em tres casa Maria Padilha?
— Ela tem escravas. — Dama da Noite ri de desdém.
— Não são escravas, são falangeiras. — Padilha responde.
— E o que é isso? — Meia Noite pergunta.
— Bom, criei duas meninas, Alice e Tamara. Elas haviam morrido e tinham peculiaridades... vagavam por ai sem rumo. Alice agora se chama Padilha do Cruzeiro, e Tamara passou a se chamar Padilha do Cabaré. São subordinadas a mim, que sou chamada Maria Padilha das Almas.
Pombogira Padilha das almas...
— Não quero ser chamado de Exu. — Meia Noite interrompe — Eu não sou um Deus Africano, não quero esse nome. Você tambem não devia se auto intitular "Pambujila ou Pombogira". Voce não é da familia deles.
— E daí? O nome para nos não tem nenhum sentido, mas para os vivos sim. Somos os Deuses desta terra agora. Ainda mais agora que acontecerá algo ruim com todos nós. Devemos nos unir...
— Então o Boato é Real? — Sete Encruzilhadas pergunta.
Neste momento Figueira entra na Sala, ja fora do corpo de seu Cavalo ela se mostra uma mulher magra com o seu cabelo castanho preso em um coque alto, e seu vestido negro de duas camadas sendo a de cima esvoaçante. Ela diz:
— Sim, os boatos são reais. Por mais de uma vez nos tivemos de guerrear nas portas desta casa, para que aquelas coisas não entrassem. Eles sentem o cheiro da magia e do sangue, e querem roubar aquilo que nos pertence. São quase como animais, ferozes.
— Como está la fora Figueira? — Dama da Noite pergunta.
— Até o momento... calmo.
Dama da Noite se levanta anda em direção a porta.
— Na realidade um so deles é facilmente esmagado. Mas o problema é que eles aparacem todos de uma só vez, centenas e centenas de criaturas bizarras.
— Mas que criaturas são essas que pelejam contra vocês?
— Não sei direito, os filhos dos que foram escravizados os chamam de Kiumba. Devido a matança que fizemos hoje nesta casa... acredito que tentarão algo contra nós. Esses bichos querem lamber a magia feita aqui. Esta noite será longa...
(Continua...)
Maravilhoso aguardando o próximo
ResponderExcluirPerfeito aguardo ansiosamente o próximo e tomara q tu coloque no you tube foi lá q conheci seu trabalho e virei fã
ResponderExcluirQuer me enlouquecer?
ResponderExcluirFelipe Caprini?
Eu amooo essa história,espero ansiosamente pelo final.
Conto com você para acabar com esse sofrimento.
Te admiro muito.
Obrigado por escrever histórias que nos faz ficar tão perto desse mundo sobrenatural.
Cadê a continuação ????
ResponderExcluirPerfeito
ResponderExcluirObrigado a todos
ResponderExcluirAguardando anciosa ❤️❤️
ResponderExcluir❤️❤️❤️❤️❤️❤️❤️
ResponderExcluirParabéns pelo talento!
ResponderExcluir