Xango é Pai

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Em 1987 meu filho foi preso.

Ele havia pego o carro de um

Amigo emprestado, foi parado

Pela policia.

Na blitz os policiais o informaram

Que ele seria levado a delegacia,

Então meu filho acabou se

Desesperando e estupidamente

Tentou fugir correndo da policia.

Eu recebi a ligação e fui

Correndo para a delegacia.

Meu filho tinha 21 anos

E estava ali acusado de

Furto de um veículo e

Resistência a prisão.

Ficou dois meses na delegacia

E eu fazendo de tudo para

tentar tirar ele de lá,

Tentei fazer o amigo falar,

Mas o amigo era um rapaz

De classe media, branco de 

Olhos azuis, filho de um 

Gerente de banco,

e meu filho um menino preto,

Pobre, filho de uma diarista.

Eu tentei sim provar a inocência

Mas na época era muito difícil,

Eu não tinha dinheiro

para pagar advogado e a

Defensoria pública era

péssima.

Então um dia a advogada

Da defensoria me telefonou

Avisando que meu menino

Havia sido julgado, assim do nada,

Sem ninguem avisar,

Condenado a 6 anos de reclusão

E que iria ser encaminhado

no mesmo dia para o presídio.

Eu perguntei qual seria

E ela me disse "a casa de detenção de São Paulo"

E eu perguntei onde ficava isso.

Lembro da voz da mulher mudar

No telefone, ela mesma falou

Cheia de pena 

"é o Carandiru senhora, ele vai cumprir a pena lá."

Naquele momento eu senti

O peso real da situação.

Até quis que meu filho fosse

Mesmo um bandido, pois

Se fosse poderia sobreviver

dentro daquele inferno.

Mas um rapaz inocente no

Carandiru era... era o mesmo

Que uma sentença de morte.

Iam matar meu filho la dentro.

Eu estava afastada do meu Axé

Nesta época, mas voltei até lá

para pedir ajuda de meu zelador.

No dia que eu cheguei no terreiro

Ele me recebeu e entendeu a 

Situação, então jogou búzios

para mim e no fim falou:


👳 — Você vai fazer doze amalás para Xango, um por dia, e então vai ter a sua resposta.


E assim eu fiz, dentro

Na minha casa eu fiz

Os amalá todos os dias

Pedindo justiça.

Eu fiz aqueles amalá

Com tanta fé que vocês

não tem idéia.

Então no último dia

Eu estava tão cansada

Que arriei o amalá 

E depois fui dormir.

Naquela noite eu tive

Um sonho, sonhei que

Estava em uma festa no

Terreiro e que Xango estava

dançando seu rum.

Mas então Xango parava

E vinha andando na minha

Direção, andava gingando 

Como desses meninos metidos

A malandro. Ele chegou perto

De mim e disse de forma mola

 "qual foi tia?"

E então ele me mostrava o braço

onde estava tatuado um machado.

De repente a voz de Xango

Mudou e ficou grave, quase como

Um trovão e disse "diz a ele que se ajudar o inocente eu o aceito de volta."

E ai eu acordei achando o sonho

Muito esquisito porém

Sentindo no fundo do peito

Que havia sido importante.

Passaram duas semanas

e eu fui visitar meu filho

No presídio. 

Passei por todas aquelas revistas

Humilhantes e entrei,

Vi meu filho ao longe

No pátio

Encostado a uma parede,

Estava cheio de hematomas

No rosto e nos braços.

Fui na direção dele mas 

Acabei esbarrando em um

Homem, um sujeito parrudo

Que parecia perigoso.

Ele me olhou torto

E disse "qual foi tia?"

E então saiu andando cheio

De gingado.

De imediato meu olhos se fixaram

No braço dele, e lá estava

A tatuagem de machado.

Invés de ver meu filho,

Eu feito uma louca segui o

Homem, nem sei o que me

Passou pela cabeça, eu

Apenas corri atrás dele

e quanto ele sentou

Em uma daquelas mesas

De cimento eu sentei na frente

Dele e contei tudo, despejei

A história toda nele, 

Sobre meu filho ser inocente

E sobre o sonho que eu tinha

Tido.

O homem me olhava com 

Uma expressão esquisita,

Entortada os lábios,

provavelmente me achando

Completamente louca.

Mas no fim falou"

"Minha mãe era mãe de Santo sabia? Ela me iniciou pra Xango quando ainda era menino. Antes de morrer ela conseguiu vir aqui uma ultima vez e me disse que... bom, ela disse que Xango não tem filho bandido. Mas disse que se eu provasse a ele que eu ainda era bom, ele ia me aceitar de volta. Sabe tia, Nessa vida eu não tenho medo de nada, só tem uma coisa que eu tenho medo. Eu temo que no dia que eu morrer, meu pai Xango não venha me buscar. Fica tranquila tia, ninguem vai mexer com seu filho aqui dentro." 

Eu chorei muito ao ouvir aquilo,

Chorei de alívio.

Esse homem se chamava 

Antoninho, e me acompanhou

Até onde meu filho estava.

Quando cheguei perto do meu

Menino eu vi porque ele estava

Em pé encostado na parede.

Havia uma mancha de sangue

Na parte de trás da sua calça.

E vocês podem imaginar o

Que haviam feito com ele.

Antoninho me prometeu que

Iria dar um jeito de mudar

meu filho para o pavilhão dele,

Ele era influente la dentro

e conseguiria fazer qualquer coisa.

Na semana seguinte

Fui no dia da visita.

Encontrei meu filho limpo,

Sem novos machucado,

Ali sentado na mesa de Antoninho.

E assim foi durante quatro anos.

Antoninho não deixou nenhuma

facção aliciar meu filho, e

Ninguem jamais bateu nele novamente.

No final de 1992 meu filho

Ganhou a liberdade condicional,

E em 1993 foi de fato liberto

Por bom comportamento.

Mas eu continuei indo toda semana

Ir ver Antoninho.

Ele estava na casa dos 30 anos

Mas eu o adotei como um filho.

Fiz para ele os fios de conta 

De Xango e de Oyá, que eram

Seu Orixas, levei o jumbo 

Para ele até 1998, quando

Ele finalmente ganhou a liberdade.

Mas quando ele saiu

Não tinha para onde ir,

Os irmãos não queriam nada

Com ele e a casa da mãe

havia sido vendida.

Eu fui buscar ele na porta

Do Carandiru e trouxe

Para minha casa.

Montei uma beliche

no quarto do meu filho

E Antoninho passou a ser

Da nossa familia.

Arrumou trabalho em uma

Oficina mecânica e passou

A viver honestamente.

Levei ele para meu terreiro

e lá ele renovou a aliaça 

Com o Orixá.

Antoninho era um homem

Grande e com cara de mal,

Mas chorou feito uma criança

no dia que meu pai chamou

Xango na cabeça dele e

Xango veio.

Era lindo, o Xango dele dançava

no salão com a panela de fogo

na mão, era... era fantástico.

Mas um dia os antigos

Parceiros de bandidagem

Encontraram a nossa casa.

Eles foram lá falar para

Antoninho voltar, precisavam

Dele para fazer algum maldade.

Mas ele recusou.

Por uns três meses esses

Homens iam até a porta de

Nossa casa e ameaçavam ele

Dizendo que na facção que faziam

parte a pessoa entra, mas

Só sai morta.

Antoninho resistiu, não

aceitou voltar de jeito nenhum.

Sexta feira, dia 21 de setembro

de 2001, era oito horas da noite 

Quando ouvi o som dos tiros.

Sai para ver o que era.

Antoninho estava caído

na portão de casa, ainda com

A chave na mão.

Alguém em um carro

Havia disparado três vezes

Nas costas dele.

Chamei um vizinho

E rapidamente levamos ele

Para o hospital do Cachoeirinha

E lá os médicos fizeram

Todo o possível mas

O estado era crítico.

Então me deixaram entrar

no quarto, pois eu aleguei

Que Antoninho era meu filho

E eles me deram o direito

de ve-lo.

Ele estava lá, pálido,

E pediu para que eu tirasse

A mascara de oxigénio de seu

Rosto pois ele queria falar.

Ele me agradeceu por tudo,

E eu o agradeci muito de volta.

Era uma despedida, nos dois

Sabíamos que ele não ia sair

Daquele leito.

Então ele de repente sorriu,

Abriu um sorriso largo, tão

largo que mostrou todos os 

Dentes.

Apertou a minha mão com força 

E sussurrou pra mim:

"Tia... tia ele veio, ele veio me buscar..."

E eu a princípio não entendi,

Olhei em volta e não havia ninguém.

Mas então veio o calor.

Eu senti como se do outro lado da

Cama houvesse uma fogueira

Acesa, emanou um calor

Tão intenso que senti a pele

do corpo arder.

Eu não vi ninguém,

Mas eu sabia que havia

Um Orixá naquele quarto

Junto conosco.

Então abaixei a minha

Cabeça, encostei a testa

Na mão de Antoninho e cantei

Baixinho a cantiga que nós

Entoamos em agradecimento ao Rei.


"A w'adupé o, Obá dodê, adupé o, Obá dodê..."


E assim a mão de Antoninho

Que segurava a minha com 

Força, aos poucos afrouxou,

E então a mão esfriou.

E Antoninho se foi.

E eu ali diante do corpo

daquele homem prometi

A Xango que ele não iria

Partir desse mundo como

Um bandido.

Com o pouco recurso que tinha

E com a ajuda de meu pai

Nós fizemos o Axexê,

Tiramos o caixão pela janela

Do terreiro e tudo mais.

Hoje eu sou uma mulher

muito velha, ja aposentada.

Meu filho se casou e eu

Agora tenho até netos.

Tudos graças a Xango,

Tudo graças a Antoninho.


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Memórias de Terreiro, Arte e texto por Felipe Caprini 





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Espero que tenham gostado

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