Oxum e os Ibeji

Anos atrás fui covidado
Para um terreiro,
Era uma festa de Ibeji.
Na hora de cortar o bolo
O Pai de Santo chamou
Uma senhorinha pra rezar,
Era ela Dona Vera de Oyá
Que então rezou para Oxum,
Era algo como
"Maroin ô, maroin ô"
E na época fiquei confuso
Pois não entendi a relação
de se rezar pra Oxum
No bolo de Ibeji.
Um ano se passou
E fiz amizade com dona Vera,
Ela então me chamou para
Ir a casa dela ajudar a fazer
O bolo de Ibeji.
Não era Mãe de Santo nem nada
Mas entendia muito
Das coisas dos Orixas,
E todo ano fazia um baita bolo
Pra distribuir para as
Crianças da rua no dia
27 de Setembro.
Minha ajuda foi
A de lavar a louça,
E ali na pia enquanto
Eu lavava ouvi dona Vera
Cantarolar a reza de Oxum
Novamente enquanto alizava
O chantilly em cima
Daquela gostosura.
Como sou muito curioso
Perguntei porque ela rezava
A Oxum em cima do bolo,
E ela sorrindo me contou
Uma história:


"Oyá tem um ventre muito
Abençoado, pariu tantos filhos
Que ninguém ate hoje sabe
Dizer quantos.
Dentre esses muitos filhos
Nasceu um casal de gêmeos,
Tayó e Kehindê.
Oyá é mãe que dá tudo para
O filho em questão de necessidade,
Filho dela não passa fome
Nem sede, nem fica sem proteção,
Mas... Ela não é dada a
Ficar de chamego com seu ninguém.
Essa história de pegar no colo,
Ficar beijando, mimando criança,
Ah isso não é com ela.
Então um dia Oyá foi visitar Oxossi,
Que é um Orixá muito seu amigo,
E junto levou os gêmeos.
Chegando lá, Oxum também estava.
Oxum imediatamente se apaixonou
Por aquelas crianças,
Eram lindos e muito espertos,
pois como bem disse antes
Oyá deixava as crianças muito
Bem cuidadas.
Mas Oxum percebeu que Oyá
Não dava lá muita atenção
Aos pequeninos, ela os tratava
Como se fossem gente grande,
Conversava com eles sem ficar
De adulação.
Oxum imediatamente ficou brava
Pois gosta que criança seja
Tratada com dengo.
Oyá riu-se dessa conversa de Oxum
E disse:
🌸 — Mulher, se quer que eles sejam tratados como pintinhos de galinha, leve pra sua casa!
E Oxum fez o quê?
Levou.
Coitada de mãe Oxum,
Ela não sabia o mal negócio
Que era!
Levou os gêmeos para seu
Palácio e passou a trata-los
A pão de ló.
Mas os dois eram endiabrados,
Quebravam tudo, comiam tudo,
Atormentavam os criados,
Saiam por ai correndo no mato
Se sujando,
Faziam barulho, algazarra,
Não importava se Oxum
Os vestisse com Ouro,
Dali a pouco estavam pretos
De terra e lama,
Caiam no meio do rio,
Caiam no meio dos ninhos das aves,
Subiam em árvore,
Eram um aperreio sem fim.
Oxum observava aquilo
Muito atenta, e por mais
Que seja um Orixá impaciente,
Com aquelas crianças ela
Tinha toda a paciência do mundo.
Nisso, ela que é cheia de sabedoria
Entendeu que havia uma perturbação
Dentro daqueles gémeos,
E foi até Orunmilá para entender
O que fazer.
Orunmilá jogou seus búzios
E soube que era um espírito
De morto que atormentava os gêmeos.
Contou a Oxum que eles na verdade
Eram trigêmeos na barriga de Oyá,
Mas que na hora de nescer
Eram muitos e o ar iria faltar,
Perigava dos três morrerem.
O terceiro irmão, chamado de
Idowu, ou de Doum,
Amava muito os outros dois,
E por isso decidiu deixa-los
Nascer primeiro,
Kehinde nasceu, Tayó nasceu,
Mas Idowu ficou sem ar
E antes de nascer, morreu.
Mas o que havia morrido
Foi seu corpo, sua alma
Ainda estava ali bem viva.
Ele tentava falar com os irmãos
Mas os gémeos não entendiam,
Então Idowu os atormentava,
Ora entrava na cabeça de Tayó,
Ora na de Kehindê
Os deixando malucos.
Oxum decidiu que ia cuidar
Também de Idowu,
E Quando chegou em casa
Cozinhou seu amado feijão fradinho,
Cozinhou Karuru de quiabo,
Fez tudo que criança gosta,
E na hora de servir
Fez três pratos, um de Kehindê
Um de Tayó e um de Idowu.
Assim Oxum apaziguou Idowu
E salvou os Ibeji.
Os gêmeos agora tinham paz
E decidiram sair pelo mundo,
Mas nunca se esqueceram de Oxum,
E Quando a vêem, beijam-lhe
Os pés e a chamam de mamãe.
Por isso se reza para Oxum
E todas as comidas de Ibeji,
Pois a primeira comida abençoada
Que eles comeram
Foi ela quem fez."
Enquanto contava a história
Dona Vera tinha acabado
De confeitar o bolo,
E ali me chamou para
Me ensinar a rezar,
Ergueu a mão sobre o bolo
E com muita doçura na voz
Ela rezou:


MAA OLOYIN O
(Senhora dona do Mel)
MAA OLOYIN O
(Senhora dona do Mel)
E NJÍ TENU MA MI O
(Vós que gentilmente me dá muitos presente)
TENÚ MAMA YA
(Calmamente sem aflição)
IYÁ IBEJÍ DI LOGUN OMI O
(Mãe dos gêmeos, mãe de Lógun, suas são as águas)
IBEJÍ K'ORI KOJO
(Adorna a cabeça dos gémeos)
AYABÁ MA PAKUTÁ MALA GE SÁ
(Rainha que cozinha em panelinhas com deslumbrante corte de espada)
O YEYÊ MI IPONDÁ
(Minha mamãe Ipondá)
MAA OLOYIN O
(Senhora dona do Mel)
MAA OLOYIN O
(Senhora dona do Mel)


E assim aprendi
Sobre Oxum e os Ibeji.
Que nossa mãe Oxum
Abençoe a todos
E que cuide de nós
Como cuidou dos gémeos.
Ore Yeye o!




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Felipe Caprini, Mitos dos Orixás
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Espero que tenham gostado!
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