Aganju, o Rei

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Sabe o que é um Deus 

Morrer de tristeza?

Essa é a história de Aganjú.


No Brasil se fala uma besteira

De que Orixás são apenas 

Elementos da Natureza,

Mas isso é falso.

Orixás são ancestrais,

Viveram em corpo de carne

E osso como nós.

E uma vez houve em Shaki

Um rei e uma rainha

Que eram Orixás.


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Aganju acordou disposto

Como fazia todos dias.

Era jovem, um moleque,

Mas grandalhão como um

Gigante, seus músculos

Eram surpreendentes.

Se lavou e pretendia

Começar o dia,

Ia fazer sabe-se-lá o quê.

Aganju tinha sangue Real,

Mas por percalços da vida

política de sua família

Ele vivia despreocupadamente

Como se fosse um homem comum.

Se vestiu e foi para 

A entrada da casa, 

Ali pendurado perto da porta

Estava uma túnica velha,

Roupa de um Homem já falecido.

Aganju beijou a túnica,

Era roupa de Dada, seu

Falecido pai.

Beijou em respeito

Aquele homem que tanto

Amava.

Abriu a porta para sair

E ficou espantado pois

Diante de sua casa havia 

Uma multidão.

Doze anciãos se dirigiram a ele,

E o mais velho falou:


— Xangô está morto.


Aganju boquiabriu-se,

Seu tio Xango estava morto?

Como? Ele era jovem, forte,

E todos sabiam que o espírito

Dentro de seu corpo

Era maior do que o dos demais.

Olhou para o velho e perguntou:


🐅— Ancião, quem sucede meu tio?


O ancião pigarreou

E explicou:


— A Rainha Obá não gerou filhos. Oxum não gerou filhos. Oyá não gerou filhos. Não há sangue de Xangô em criança alguma. 


Aganju arregalou os olhos

pois entendera quem era 

O novo rei.

O ancião se ajoelhou diante 

Dele e disse:


— Tú é filho de Dadá, tu é sobrinho de Xangô. Tú é o herdeiro. Kabiyesi! Kabiyesi Aganjú Solá Rei de Oyó!


Como uma onda

Toda a multidão se abaixou

Até deitar no chão,

Batiam cabeça a ele,

Aganjú, o novo Rei.

Tomaram-lhe pelas mãos

E o foram levando

Para o palácio

Onde foi sentado no trono

E coroado soberano.


Aganju aceitou a coroa

E se tornou o Rei,

Mas não quis aquela casa,

Não reinaria naquele palácio.

Aquela era a casa de Xangô

E ele sabia que o nome

Do tio era grande demais

Para ser superado.

Mudou-se para outra cidade,

Uma cidade que também fazia

Parte do império,

Foi ali na cidade de Shaki

Que ele se tornou o famoso

"Okerê Aganjú Sola".

Por obrigação se casou,

Não queria seguir o exemplo

Do tio e deixar a dinastia sem herdeiro,

Mas sua primeira esposa não era

O amor que ele esperava.

Aganjú sempre foi muito grato

A ela por ter lhe dado um filho,

Seu amado príncipe Lubego.

A rainha faleceu logo

E Aganju e Lubego continuaram

A vida monarquica sozinhos.

Os anos passaram, Lubego 

Se tornou homem e Aganju

Amadureceu se tornando

Um terrível guerreiro

E amável soberano.

Passava os momentos

De lazer domesticando leopardos,

Pois esses eram os animais

Que sempre tinha por perto.

Um dia correndo pela mata

Atras de um dos felinos

Ele acabou indo longe demais

E sem perceber cruzou a fronteira

Para o reino vizinho.

Ali em território de outro

Ele achou o que buscava,

Achou seu leopardo,

Mas quando estava para

apanhar o bicho

Ouviu um som que não

esperava ouvir na mata,

Ouviu um riso de mulher.

Imediatamente, como que

Por encanto esqueceu do

Leopardo e começou a seguir

Aquele voz.

Chegou as margens de um rio

E viu ali mergulhada

ate a cintura nas águas

A mais bela mulher

Que seus olhos contemplaram

Em toda a vida.

Aganju não sabia,

Mas aquela mulher humana

Era uma encarnação da deusa

Yemanjá.


As damas de companhia

Na outra margem

gritaram assustadas ao ver

Aquele homem enorme

em pé encarando a que se banhava.

Uma delas gritou:


— Seu bastardo! O rei vai te degolar por isso! Como ousa espiar a princesa?!


O Rei? 

Aganju ficou confuso pois

O Rei era ele,

Mas então percebeu

Que estava em terras estrangeiras.

Se ajoelhou sob uma perna

E sorrindo falou com a moça

Dentro da água:


🐅 — Me perdoe, eu acho que saí de meu reino sem perceber. Eu sou Aganjú Solá, Rei de Oyó, Shaki e todos os demais reinos sob a aliança...

🐋 — Eu sou Iyayun, princesa desta terra, filha de Onisambo. — ela o interrompeu — Na sua terra é comum ficar encarando os peitos de uma mulher nua? Porque na minha isso é uma grosseria.


Aganju fingiu cobrir os olhos

Com as mãos mas espiava

Por entre os dedos.


🐅 — Me perdoe por isso. 


Iyayun riu. 

Ele ficou encantado

Pela beleza e pela postura

Daquela mulher,

Pois mesmo com ele ali

A observando ela não

saiu gritando e se cobrindo

Como as outras faziam,

O que fez foi continuar em

Seu banho se lavando

Despreocupada deixando claro

Que Aganju para ela

Não significava nada,

E que ela não iria deixar 

De finalizar o banho 

Por conta da presença dele.


Aganju se retirou dali

E voltou para casa,

Mas não conseguia parar de pensar 

Naquela moça.

Na manhã seguinte mandou

Um mensageiro para as terras

De Onisambo com um convite

Para uma celebração de amizade.

Aganju organizou um jantar

Suntuoso como só Reis podem fazer

E recebeu Onisambo, a Rainha e 

A princesa em seu palácio.

O jantar foi muito amistoso,

Onisambo se demostrou amável

E inclinado a alianças,

Mas tudo mudou quando durante

A ceia Aganju fez a pergunta:


🐅 — Onisambo, acredito eu que sua filha está na idade de se casar, não esta?


🏹— Não. — Onisambo respondeu secamente.

🐅 — Mas não seria bom...

🏹 — Não.

🐅 — Me deixe concluir, eu gostaria de me casar com...


🏹 — NÃO! — Onisambo se ergueu furioso — Foi pra isso que me chamou aqui? Para negociar minha filha? Pois saiba que Iyayun é uma deusa em corpo humano, ela nasceu em minha casa, em minha família, ela honra as terras de meu reino e não honrará as suas jamais!


Onisambo virou as costas,

Chamou a família e juntos 

Foram saindo do salão

Em um rompante dramático.

Aganjú se ergueu furioso,

Era um extremo desrespeito

Deixar a mesa do Rei sem

A permissão dele.


🐅 — Você vira as costas para mim na minha casa? Você sai da minha mesa sem a minha bênção?

🏹 — Saio. —  Onisambo respondeu sem se virar.

🐅 — Espero que saiba que isso é motivo de guerra.

🏹 — Guerra? Você travaria guerra comigo por conta de eu lhe virar as costas ou por saber que nunca terá Iyayun como sua esposa?


Aganju olhou para Iyayun, 

Que devolveu o olhar com 

Um certo ar de deboche

Como quem o desafia.

🐅 — Eu Aganju, Alaafin de Oyó e Okerê de Shaki, declaro guerra a ti Onisambo, e faço isso por Iyayun.


Iyayun abriu um sorriso

E saiu sendo puxada pelo pai

Que bufava de ódio.


Onisambo reuniu uma aliança 

Com os Reis Onitede, Onimeri

E Alagbona.

Aganjú empunhando lança, espada

E machado liderou a tropas

E atacou um a um.

Onitede caiu.

Onimeri caiu.

Alagbona caiu.

A guerra durou 

Um longo período mas no fim 

Os quatro exercitos juntos foram

Dizimados pelas forças de Aganju.

Ele entrou triunfante no palácio

de Onisambo, o Rei derrotado

E totalmente impotente viu a filha ir 

Embora de sua casa montada

No cavalo de Aganjú Solá.


Aganjú e Iyayun se casaram

E foram muito felizes,

Ela o amava e o admirava,

Ele a amava tanto que

Praticamente a cultuava.

Mas... Na casa de Aganju

Havia outro homem interessado

Por Iyayun.


Certa feita Aganju teve de viajar

Para averiguar suas fronteiras,

Antes de concluir a viagem

Recebeu uma mensagem urgente,

O mensageiro muito constrangido

Informou que a Rainha Iyayun 

Havia sido estuprada.

Aganju voltou para o palacio

Rápido como um raio,

Foi ver Iyayun, que estava

acamada mostrando no corpo

Os sinais da violência.

Ele perguntou a Iyayun

Quem havia sido o autor

Daquela atrocidade,

Mas ela nada disse.


Um dos conselheiros do reino

Veio até Aganju junto

Com uma comitiva de nobres

E na sala do trono disse:


— Kabiyesi! Nós sabemos quem fez mal a rainha, nós o capturamos. Esperávamos o senhor para decidor a punição.

🐅 — Punição? É claro que é a morte! Traga ele a mim, quero que morra na minha frente!


Os olhos de Aganju de

Cheios de fúria passaram

A incredulidade

Quando os guardar trouxeram

Um homem acorrentado

Diante dele, e aquele homem

Era o príncipe Lubego.


— Pai! Pai! Me perdoe, eu... eu vou embora daqui, eu juro! Mas por favor não ordene a execução! Por favor pai!


Aganju se virou sem dizer nada

E correu até o quarto de Iyayun.


🐅 — Foi Lubego quem fez isso? Diga Iyayun! Foi meu filho?!


Ela finalmente falou,

Mas a palavra que disse

Foi a que Aganju não 

Queria ouvir.

Iyayun disse "sim".


Voltou para a sala do trono

E encarou novamente todos

Os nobres ali presentes.

Sabia que o crime era imperdoável,

Mas queria perdoar.

Ele era pai, e um pai

Nunca aceita a morte de um

Filho por pior que ele seja.

Porém a palavra do Rei é irreversível

É irrevogável.

Ele havia dito que o estuprador

Deveria ser executado,

E agora ele não podia

Desfazer isto.

Um dos nobres voltou a 

Perguntar:


— Qual a condenação meu senhor?


Aganju sentou no trono,

Ergueu a cabeça e olhando

Para um ponto fixo acima

Da cabeça de todos

Disse outra vez:


🐅 — A condenação é... a morte.


Lubego começou a berrar

Em desespero, pedia clemência,

Jurava amar o pai, implorava

Por perdão.


Aganju ouvia aquilo 

Com uma expressão dura no rosto

E sem olhar para o filho.

Por dentro estava se remoendo,

Em sua mente vieram as lembranças,

Lubego recém nascido,

Lubego criança brincando

Pelos corredores do palácio,

Lubego adolescente ganhando

A primeira espada...

Os berros de Lubego continuavam,

Então um soldado se aproximou,

Desembainhou a espada,

Outro guarda puxou a cabeça

do príncipe para trás expondo 

O pescoço.


Aganju fechou os olhos,

Ele era forte, mas

Aquilo não poderia ver.

Com os olhos fechados

ouviu o som de metal

Cortando carne,

Lubego silenciou, 

E então o som do baque surdo 

Da cabeça decepada batendo

contra o chão.


A Lei é a lei.


Aganju se ergueu do trono

E se retirou.

Entrou no quarto 

E se atirou sobre Iyayun.

Ela não entendeu o que

Estava acontecendo,

Pois Aganju tinha enfiado

O rosto entre seus seios.

Mas logo ele entendeu.

Aganju tremia, seu corpo

Enorme tremia completamente,

E ela o abraçou pelo pescoço

Entendendo que ele estava

Chorando.

Ninguém pode ver um Rei chorar

Então nos seios dela ele

Ocultou o rosto.


O tempo passou, 

Aganju tentou se animar,

Fingir que havia superado.

Mas não superou.

Iyayun fez de tudo para

Ajudar, para animar,

Mas nada o animou.

Ela engravidou e achou

que um novo filho daria

Motivos ao marido para

Seguir em frente.

Mas nem isso ajudou.

Aganju começou a definhar,

Sua aparência imponente

Desapareceu,

A melancolia era o

Que dominava seu semblante.

Passava os dias deitado,

Não comia, não falava.

Foram meses assim.

Uma noite Aganju dormiu

E não acordou.

Iyayun entendeu que ele

No ápice do desgosto ele

Desistiu da vida.

Aganju morreu, 

Não de espada, não de 

Nenhuma doença do corpo.

Aganju morreu de tristeza.


Um mês depois Iyayun deu

A luz a seu filho, 

Esta criança foi Kori,

Que quando adulto foi

Coroado como sexto Rei de Oyó.

Iyayun brilhantemente

Atuou como rainha regente

Durante a juventude de Kori,

E naquela mundo misogino

Ela se impos como soberana

Mostrando a força de ser a 

Encarnação de uma deusa.

Mas não teve felicidades depois

da morte de Aganju,

Pois ela sentia que toda

A felicidade havia sido enterrada

Junto com ele.


Quando Iyayun morreu

Ela se tornou novamente Yemanjá.

Ela e Aganju se reencontraram 

E há quem diga que até hoje

Estão juntos na terra

Dos Orixás.






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Mitos dos Orixás, Dramatização: Felipe Caprini

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