Lucifer Smeraldina Capítulo 20 - FINAL
Capítulo 20
"A Era de Zelena"
I
Jeová abriu a boca e a moveu repetidas vezes, porém não havia som, estava tão surpreso e perdido que lhe faltaram as palavras.
— O que foi? O gato comeu a sua lingua? — Smeralda perguntou risonha.
— Eu... eu...
— Você não esperava, não é? Acredito que a sua mente tacanha analisou diversas possibilidades, mas nenhuma delas era referente a seu pai estar vivo, e que ele me daria tudo o que eu mais sonhava.
— Você se tornou uma deusa a um minuto e já acha que pode me enfrentar? — Jeová sorriu tentando mostrar desprezo porém o que transpareceu foi a insegurança.
— Ah um sorriso amarelo... Você sente, sei que pode sentir o poder que está dentro de mim. Pelo meu plano de consumir almas eu me tornaria uma deusa mediana, algo como uma Atena ou uma Morrigan, mas nesse momento o nosso querido amigo retornado dos mortos me presenteou com uma força tão grande que eu nunca imaginei que teria.
— Te tornou uma deusa de quinta categoria?
— Deusa não, Deusa soberana, melhor que você.
— Ora essa, me poupe.
Smeralda deu um pulo curto e quando seus pés tocaram o solo novamente um raio se ergueu do chão abaixo de Jeová o eletrocutando com violência, o Deus soltou um gemido agudo e caiu ajoelhado com o corpo fumegando.
— Argh... o que foi isso?
— Isso é uma demonstração do que posso fazer, eu posso ferir você.
Jeová olhou para ela com um ar de profundo desespero, seus olhos em seguida encontraram os de Tiago.
— Pai... Você deu a ela condição de fazer isto? Comigo?
— Sim. — Tiago respondeu em voz baixa.
— Eu tenho poder para te dilacerar, más você sabe que eu sou uma mulher de atitudes, então gostaria de demonstrar isso. Vamos brincar?
Jeová nada respondeu, envolveu os braços no próprio corpo como um abraço em si mesmo e em um piscar de olhos desapareceu.
— Ele fugiu... viram a cara dele? A expressão cheia de medo? Que delicia... — Smeralda comemorou.
— Este lugar, o inferno, foi feito para ser imune aos poderes dos deuses primordiais, para Jeová ter se teletransportado daqui ele com certeza usou muita energia.
— Então significa que ele agora está fraco?
— Acredito que sofrerá de estafa, fraqueza momentânea. Acho que é hora de começar seus planos. Mas antes faça o que te pedi, se puder. — Tiago pediu.
— Ah sim, tudo bem vovô. Tifarael eu como sua dona e proprietária decido e confirmo que daqui por diante você é um ser livre, não é mais escrava minha ou de qualquer outro.
Tifani piscou os olhos lentamente em surpresa.
— Puxa... obrigad...
— Não se deve interromper deuses. — Smeralda usou um tom frio e incisivo.
Tifani fez uma vênia rapida e deu alguns passos para trás.
— E o que mais? — Tiago perguntou.
— Ah sim... Lucifer, meu querido... — ela se proximou do demônio que a obserava ligeiramente assustado e pousando a mão sobre o ombro dele falou — Eu confirmo que te amei no passado, porém nosso elo de amor já não existe. Eu não o amo, você também não me ama, por este fato eu desfaço nosso compromisso, não há mais casamento, a partir de agora somos apenas pessoas que um dia viveram a mesma vida, isso será nada além de uma lembrança.
Lucifer anuiu lentamente em concordância, porém se manteve em silêncio.
— O que mais tenho que fazer? — Smeralda perguntou.
— Partir, ir rumo a realização de todos os seus sonhos e vontades. — Tiago sorriu.
— Ok Vovô, só espero que não se arrependa e tente me parar depois.
— Lhe dou minha palavra que jamais farei isso.
— Eu vou, mas antes... Eu acredito que quem decide o nome de um Deus é aquele que o cria, então eu pergunto a você, poderoso Sé, que nome me dará?
— Quer que eu te batize como uma deusa?
— Sim, se faz necessário, meus outros nomes são todos referentes a minha existência krilen, e eu não sou mais anjo.
— Pois bem, eu a nomeio... Zelena Smeraldina, a deusa cujo a cor verde de seus olhos iluminará a nova era deste universo.
— Zelena? Sinceramente eu amei este nome. Que o mundo trema sob o peso do meu olhar. — Smeralda gargalhou em pleno contentamento e então explodiu em uma nuvem de poeira cintilante esverdeada desaparecendo diante de todos.
— Para onde ela foi? — Ferrabraz perguntou.
— Foi ser quem ela é. — Tiago sorriu gentilmente para ele.
— Pai... — Murilo deu dois passos para frente e se curvou em reverência.
— Uraganzmej, meu filho. — Tiago flutou até pisar no chão e então abraçou Murilo, em seguida o beijou na testa — Você sabe que eu sou o verdadeiro senhor da criação, não sabe?
— Sim pai, eu sei.
— Pois bem, eu sou o maior entre os maiores, mas... Não sei o que teria feito sem você, sem a sua ajuda. Só eu sei como você, meu amado filho, foi fiel e valente por todos esses milênios.
— Só fiz a minha obrigação pai.
— Não, a sua obrigação como Zmej era apenas construir um ecossistema para mim, nada alem disso. Tudo o que vez em prol da minha sobrevivência e de meu retorno foi excedente, algo que não era da sua competência, mas ainda assim você fez. Não tem ideia de como sinto grato e profundamente orgulhoso. Me diga, o que quer em troca? Me peça qualquer coisa, me peça um milhão de coisas das mais preciosas e impossíveis que eu as farei e as darei a você.
— Eu... deveria dizer que não quero nada pai...
— Tolice, todo mundo sonha com algo.
— Sim... na verdade... quero uma coisa.
Tiago virou o rosto lentamente e fitou Ferrabraz.
— Só isso?
— Só isso? O senhor já sabe o quero? — Murilo perguntou.
— Tenho uma intuição. Seu desejo e deixar de ser parte dos nove Zmej, ser transformado em um humano, então poder viver seu amor eterno com este demônio, é isso?
— Nossa... meio que é isso sim.
— Você continuará sendo a força geradora do vento, não hei de remover seus poderes, mas concedo que viva a partir de agora em forma humana. Agora você não é mais Uragan, seu nome é de fato Murilo, não fingirá ser homem, de fato será. Eu te rebatizo, não mais deve ser chamado de Uragan nem de Zmej, agora você deve ser chamado Murilo Vetre.
O corpo de Murilo resplandeceu por um segundo e então estava feito.
— Pai... será que, e eu realmente não quero abusar...
— Hum... quer algo mais?
— Sim. Poderia consertar Ferrabraz?
— Consertar? — Tiago mirou Ferrabraz de cima a baixo.
— Me consertar? Mas eu não estou quebrado. — Ferrabraz respondeu.
— Eu quis dizer, fazer ele deixar de ser demônio. — Murilo falou.
— Eu não posso. — Sé meneou.
— Não... pode? Mas pai... o senhor pode todas as coisas, não é?
— Ele era para ser um humano, um homem comum, o que ele é agora é uma corrupção do que deveria ser. Ele se tornou um ser muito poderoso, porém a sua natureza humana está alquebrada. Ele não é mais um homem. Eu tenho total domínio sobre as coisas que fiz, mas eu não criei demônios, não fiz estas abominações, não tenho como manjear quaisquer coisa dentro de um ser assim.
— Ok, obrigado pela parte que me toca. — Ferrabraz respondeu ríspido.
— Não quis ofender. Mas prosseguindo, eu tenho duas opções, o meu poder é o maior de todos, mas ele não funcionará em você querido, pense assim, é como se eu tivesse uma chave de fenda extremamente poderosa, porém você não dispõe de parafusos para serem apertados ou destarrachados. O que eu posso fazer é, ou lhe destruir, afinal toda a materia e energia que o compõe vieram de mim assim como todas as coisas e nisso eu tenho autoridade para por fim, fazer você se tornar uma nuvem de pó, ou... mudar seu núcleo de energia para algo diferente, algo mais limpo.
— Eu com certeza não gostaria de ser destruído. — Ferrabraz deu um passo para trás.
— O que seria essa mudança de núcleo? — Murilo perguntou?
Tiago olhou nos olhos do garoto e sorriu.
— Melhor falar disso mais tarde.
— Ja posso ir embora? — Danusa perguntou ríspida.
Tiago a olhou, abriu a boca mas fechou sem dizer nada, então anuiu.
— Eu realmente espero nunca mais ver você ou qualquer um de vocês enquanto existir.
— E eu espero que seu rancor não seja eterno minha irmã.
— Não sou sua irmã. — Ela fechou os olhos e então sua figura desvaneceu até sumir por completo.
— O quê? Como ela fez isso? Como desapareceu, e porque? — Júlio perguntou.
— Cara... ela parecia bem magoada... — Ferrabraz comentou.
— Não falarei disso, e peço que esqueça de Danusa, é a vontade dela sair de cena, então vamos respeitar.
— Enquanto a mim? Qual será o meu destino? — Lucifer perguntou.
II
"Truuum!"
Com o som de pedra se quebrando Jeová apareceu ofegante diante de seu Palácio de mármore branco, o famoso Palácio flutuante localizado sobre um minúsculo asteroide na mesma orbita da terra. Ao aterrissar tropeçou nos próprios pés caindo de joelhos, apoiando as mãos no chão ele respirava com sofreguidão. O som de asas chamou sua atenção, ao erguer a cabeça viu no alto em torno da estrutura centenas de anjos voando em círculos como que aguardando.
— Meu senhor...
Jeová olhou para frente, o anjo magro com braços delgados e mais cumpridos do que o corpo habitual possuia se aproximava com passos apressados.
— Rápido Raphael, me ajude.
Rafael com o máximo de polidez em cada gesto ajudou o Deus a ficar em pé.
— O senhor está ferido?
— Ferido não, mas sim exaurido. O território do inferno foi criado para ser imune aos poderes dos deuses, não tenho soberania sob aquele céu, mesmo assim me teleportei de lá.
— Como foi possível? Como o senhor conseguiu?
— Usei toda a minha força, agora estou em frangalhos. Ande, me ajude a entrar em minha casa, preciso repousar.
— Claro meu senhor, mas... onde estão as tropas?
— Ficaram para trás — Jeová agitou a mão como que em desdém.
— Para trás? Mas...
— Sem más! — berrou enfurecido.
— Me perdoe Senhor, vamos.
— Sim, preciso do seu dom de cura, não estou me aguentando.
— Eu posso ver, mas sua proeza foi magnífica, burlar uma lei de Sé é coisa que para os demais divinos é impossível. — Raphael apoiava o Deus pela axila.
— Para mim nada é impossível, contudo foi sim imprudente, mas não havia tempo.
— Então Senhor... como as tropas vão sair de lá?
— Eu não sei.
— Como não sabe? — a voz do Anjo se elevou mas ao ver a expressão de Jeová sua voz se tornou um sussurro — Me perdoe senhor, mas meus irmãos precisam sair de lá o quanto antes.
— Calado! — Jeová esbofeteou o rosto palido de anjo com as costas da mão.
— Me perdoe. — Raphael abaixou a cabeça.
— Ah ele não gosta de dar satisfação, essa coisinha mimada é mesmo um barato! — a voz aguda ressoou nas colunas de pedra.
Jeová sentiu um arrepio em suas costas, olhou para trás e lá estava ela, a figura esbelta da mulher angelical se abanando com um leque de metal polido era ao mesmo tempo bela e aterrorizante, aqueles olhos verdes se movendo como os de uma coruja. Os cochichos e murmúrios vindos dos anjos que sobrevoavam soava como um leve chiado.
— Calados! — Jeová berrou.
— Espere, se quer fazer um espetáculo, acho melhor incrementar essa plateia. — Smeralda abanou o leque com delicadeza e então os anjos feridos no inferno começará a surgir, vinham através de clarões, alguns praticamente intactos bateram asas e se juntaram a seus iguais no sobrevoo ao Palácio, porém uma grande parte ao ser teleportada apenas caiu como sacos de carne podre, desfalecidos e inertes, alguns mutilados, outros sendo apenas cadáveres, os corpos foram sendo empilhados aos monges em torno de Jeová.
— Quem lhe deu autoridade para convocar meus servos? Sei que agora é uma deusa, mas aprenda que um Deus não desrespeita o outro, esta é a minha casa e...
— Ora cale essa boca! — Smeralda gritou.
Todos os anjos prenderam a respiração, nunca haviam visto qualquer ser berrar com o Deus.
— Você... você ousa me enfrentar na minha própria casa?! — Jeová parecia profundamente desconcertado.
— Onde está Miguel? — ela perguntou, Jeová se negou a responder então ela elevou a voz para ser ouvida por todos os anjos — Eu perguntei onde está Miguel?! Não vai responder? Pois eu respondo, Miguel o abandonou, ele, seu braço direito, se foi.
O zumbido do murmúrio dos anjos tomou conta da lugar.
— Eu já ordenei silêncio! — Jeová ergue o braço de modo ameaçador.
— Não! — Smeralda com surpreendente velocidade se deslocou a diante vencendo varios metros em um milésimo de segundo, agarrou o pulso de Deus com a mão livre o forçando a baixar o braço.
— Você ousa me tocar? — Jeová arregalou os olhos incrédulo.
— Ouso. — ela aproximou o rosto ao dele, os olhos verdes a poucos centímetros dos olhos reluzentes do Deus.
— Pois vai se arrepender. Vamos! Destruam ela!
Por mais que a ordem fosse específica, nenhum Anjo se moveu para cumpri-la.
— Ora ora, parece que Miguel ter partido causou um efeito e tanto, ou seja que foram os cadáveres que eu trouxe? — Smeralda zombou, então sem prévio aviso puxou o braço do Deus com força o arremessando para o alto e o fazendo cair do outro lado, o corpo de Jeová bateu na pedra rachando o marmore e ele ficou deitado no chão como que paralisado.
Os anjos gritaram ao ver a cena, alguns se moveram desordenadamente confusos entre o ímpeto de defender o Deus e de não se envolver na situação.
— Seus inúteis... Só se movem quando recebem ordens não é? Não tem a menor pró atividade... — Jeová murmurou enquanto se levantava.
— Me escutem todos! — Esmeralda ergueu o queixo e berrou — Hoje aquilo que sempre foi meu sonho, minha meta, finalmente acontecerá. Eu não quero ferir nenhum de vocês, meus amados irmãos então peço que não se envolvam.
— Está achando que pode me derrotar? É... eu não tenho nem palavras para descrever como estou abismado com sua prepotência e petulância. Mas, mesmo se Sé lhe tivesse concedido poder maior que o meu, meus anjos jamais me abandoriam, eles foram criados para me servir.
— Você, Jeová rei dos porcos, está citando para mim o código de conduta dos anjos? Para mim que um dia respondi pelo nome de Yerukainel, o anjo de olhos verdes, eu que fui sua serva por um tempo extremamente longo e amargo? Jeová, eu estou afirmando que cada um de seus anjos o odeia, o seu nome para eles é amargo como o fel.
— Veremos. — Jeová berrou — Meus filhos, meus krilen, cá está esta antiga irmã de vocês que pensa em me ferir mortalmente, ela é a sua irma Smeralda...
— Zelena Smeraldina.
— Como?
— Sé me rebatizou com um novo nome, eu agora sou a deusa Zelena Smeraldina.
— Oh... — Jeová ergueu as sobrancelhas em deboche — Que nome deslumbrante — Tornou a berrar — Eis que aqui está "Zelena Smeraldina", e ela acredita que vocês meus filhos irão se recusar a cumprir seu dever em me defender quando ela ousar me atacar. Mostrem a ela que está equivocada!
Jeová ergueu a cabeça olhando para seus milhares de anjos que sobrevoavam, os fitou com um sorriso triunfante, porém este sorriso vacilou quando o primeiro anjo agiu.
O gesto era bem simples, eles prosseguiam voando em círculos porem um a um ergueram as mãos e com elas cobriram os olhos.
— Vocês... todos vocês me traem? Eu não posso crer que toda a raça krilen está corrompida... como podem repudiar sua própria natureza? Escravos malditos, eu hei de despedaçar um a um!
— A natureza deles ja não dependem de ti, Deus dos porcos. — Smeralda sussurrou.
Jeová franziu a testa com ódio e a encarou, então com um velocidade absurda se atirou contra ela agarrando firmemente o fino pescoço da nova deusa com suas mãos grandes, ela se deixou ser capturada e ao ter sua garganta espremida não emitiu som algum e nem mudou seu semblante cheio de cinismo. Jeová ergueu os braços de modo a suspender Zelena Smeraldina do chão, os pequenos pés descalços da nova deusa bambearam ao abandonar o solo, o leque de metal caiu batendo na pedra com estrepido, então ele abriu a boca deslocando o maxilar o máximo que podia e do fundo de sua garganta veio o jato de luz branca, era como um raio se ramificações e Grosso como um tronco de carvalho, a coluna de luz atingiu Smeraldima no bem no rosto, seus ombros sacudiram pelo impacto, a força descomunal certamente a destruiria, o som emitido pela luz era como a vibração do metal, um zumbido intenso, um grito sem voz.
Mas após quase um minuto Jeová fechou a boca e encarou mortificado o rosto belo e intacto da nova deusa.
— No princípio era o verbo, e o verbo era Deus. Você achou mesmo que eu não estaria preparada para este ataque? Todos sabem da sua força primordial, sabem que ela vem das suas cordas vocais, mas eu não serei ferida. No principio era o verbo, mas no fim eu sou maior que isto.
Jeová por um segundo afrouxou os punhos mas logo apertou com mais força o pescoço daquela mulher, ela sorriu e ergueu uma mão sobre a cabeça.
— O que pensa que fará? — Ele gemeu furioso.
Ela nada disse, apenas apontou o dedo indicador para o céu e começou a move-lo em circular lentamente, a nuvem de fogo verde veio nada, como um tornado se fechou em torno deles, o fogo maligno girava e iluminava tudo com o verdor envenenado da Luz bruxulenate.
— Fogo para me queimar? Está louca Smeralda! Louca! Eu sou a sarsa! Eu sou o fogo!
Mas quando uma língua de fogo atingiu as asas do Deus ele urrou de dor e soltou o pescoço de sua inimiga, caindo ajoelhado ele girou o pescoço e examinou a asa, o fogo havia flamejado sobre as penas e sobre a carne, o cheiro de carne queimada invadiu o ambiente.
— Não é possível... eu sou o maior entre todos... não há fogo que me queime... — Jeová murmurou a si mesmo.
Zelena Smeraldina começou a gargalhar, sua voz fina emitia a risada mais pavorosa que os ouvidos daquele Deus já tinham ouvido, ela parou de girar apenas o dedo, agora girava o braço com vigor sobre a cabeça, o redemoinho de fogo se intensificou, Jeová olhou para os lados e viu nas paredes de fogo o rosto de muitas mulheres se formando, rostos ora apavorados ora cheios de ódio.
— Sabe quem são elas? Sabe? — Smeraldina gritou — São as almas que eu absorvi! Almas das quais me alimentei! São as vidas que eu consumi! Contemple as faces delas! As faces de todas as mulheres que eu fui enquanto estava sendo encubada dentro de corpos humanos! Veja as faces de Torvi, San-hara, Sarah, Hai Xuanji, Danai, Apama, Mutemia, Andrômeda, Amanishakheto, Lavínia, Aslauga, Helena, Sigrun, Lueji, Bowelle, Sonja, Hadari, Filomena, Oritia, Masako, Semiramis, Suthida, Indrasakdi, Mina, Monica, Shun He, Mabel, Tereza, Keohokalole, Isabel, Yumiko, Maria, Feodorovna, Truganini, Aiko e Isabella! Todas as Almas que eu vivi e que engoli! Foram trinta e seis almas humanas que o Zmej do vento me ensinou a absorver, mas...
As faces formadas pelo fogo emitiam rugidos leoninos de suas bocas escancaradas, Jeová girava a cabeça para todos os lados sem conseguir disfarçar o medo.
— Pare com isso Smeralda!
— Espere, me deixe continuar! Como eu disse, o Zmej do vento me ensinou a absorver almas humanas, isso me deixou muito poderosa, porém quando Sé aumentou meu poder me transformando em uma Deusa superior, algo aconteceu...
— O que aconteceu?! Diga logo! — Jeová se encolheu quando uma segunda língua de fogo quase o atingiu.
— Quando a minha própria alma se tornou divina, digamos que aprendi tudo sobre ela rapidamente.
— O que isso significa para mim?
— Significa que meu aprendizado sobre comer almas agora também se aplica as almas dos deuses. Você entendeu?
Então olhou para Smeralda e com um braço erguido passou a imitar os movimentos que ela fazia, logo chamas vermelhas irromperam entre as chamas cverdes e o redemoinho de fogo se intensificou.
— Quer dizer que você acha que irá se alimentar da minha alma?
— Eu vou. — Ela riu.
Jeová ficou em pé e em sua mão direita surgiu uma espada de fogo, imediatamente as figuras femininas saíram das paredes do redemoinho e o atacaram, o Deus se esquivava de uma enquanto combatia outra, a sua espada batendo com som de martelo de ferreiro no corpo de labaredas das mulheres, elas avançavam com seus rostos paralizados em máscaras perversas, Jeová girava sobre os próprios pés atacando uma após a outra, então uma das figuras se destacou, uma que era de feição similar a uma imperatriz chinesa de outrora avançou com duas espadas nas mãos, Jeová tentava o máximo que podia dar combate mas tudo o que conseguia era recuar cada vez mais, então berrou de dor ao sentir as asas sendo dilaceradas, a mulher espadachim o havia empurrado até a parede de fogo e ali as asas do Deus se tornaram carvão.
Jeová segurou o cabo de sua espada com ambas as mãos e com toda a força se abaixou ficando a lamina no piso, então o fogo vermelho surgiu a sua volta em uma lufada tão intensa e potente que extinguiu as chamas verdes fazendo o redemoinho de fogo desaparecer.
— Então a nossa luta verdadeira começará agora.
O corpo do Deus tremeluziu e reduziu de tamanho até se transformar na figura da criança que ele costumeiramente ostentava, o menino de menos de um metro de altura vestido com uma simples túnica azul escura, na mão direta surgiu um cetro de ouro cuja a ponta era a cabeça de um carneiro com chifres de ametista talhada e olhos de rubi tão vermelhos que pareciam brasas.
O menino ergueu o cajado e bateu com ele no chão, a explosão foi tão intensa que Smeralda a ser arremessada para trás pode observar pelo canto dos olhos centenas de anjos que estavam no entorno se transformando em pó, o chão de marmore também desapareceu, apenas lascas disformes agora, apenas o Palácio Branco atrás de Smeralda se manteve intacto.
Em meio ao som da explosão, gritos dos anjos sobreviventes que agora fugiam para longe, Smeralda parou de girar e sua visão encontrou o menino deus, mesmo ao longe ela pode ver nitidamente os labios rosados do garoto se moverem, ele estava dizendo algo, e então a compreensão se fez, a palavra que o menino pronunciou era "maksimalna", palavra chave usada pelos deuses para enfim liberar toda a força que possuíam, era um ultimo recurso mas também um ato de poder tão intenso que pela primeira vez Smeralda sentiu o corpo ficar tenso.
Como um relâmpago o garoto cortou a distância e bateu com o cetro no estomago de Smeralda, sem reação seu corpo foi arremessado para cima por centenas de metros, seu cabelo louro farfalhando e as asas tentando estabilizar, mas então quando estava para se recuperar veio a segunda pancada, o garoto apareceu acima dela e a atingiu nas costas fazendo o corpo da deusa ser arremessado agora para baixo.
Não mais dialogo, nem ameaças, tampouco perguntas, os únicos sons eram do zumbido causado pela velocidade com qual o menino se movia e os baques metálicos vindo dos golpes com o cetro. Logo Smeralda caiu inerte dentro do Palácio de marmore branco, diante do grande trono de pedra.
III
— Meu amigo. — Tiago pousou a mão sobre o ombro de Júlio — Vamos conversar?
Júlio assentiu, os dois se afastaram do grupo e sentaram em uma coluna derrubada em meio aos destroços da torre caída.
— Eu não sabia. — Júlio começou a dizer.
— Nem mesmo eu sabia, ser Sé era algo que não estava claro até momentos atrás.
— Não é disso que estou falando.
— Não?
— Eu não sabia que tudo o que eu fiz, tudo... foi sem finalidade, em vão.
Tiago suspirou.
— Defina em vão.
— Eu fiz de tudo para te proteger, por décadas... e o que recebo em troca?
— Eu com certeza sou extremamente grato... — Tiago começou a falar.
— É um "muito obrigado"? O que você me oferece em troca é apenas gratidão?
— Eu posso lhe dar o que quiser, diga e será seu.
— Quero você. — Júlio falou entre os dentes.
— Você me pede a única coisa que não posso dar.
— Não é Justo.
— É difícil isso não é? Isso de não existir perfeição. Eu sei que você me ama, mas... eu não o amo na mesma intensidade. Dedico a sua pessoa a maior das amizades, mas para por ai.
— Eu fiz tudo por você Tiago, tudo. Você vai escolher Lucifer nao é?
— Não faça perguntas das quais ja sabe a resposta. Me diga o que posso fazer para compensar isso?
— Compensar? Como compensar todos os anos que perdi planejando estar com você? Todos os anos que passei cuidando de você...
— Nada pode retroceder e devolver o tempo gasto.
— Eu sei. — Júlio coçou o queixo.
— Então não seremos mais amigos?
— Não sei, não posso ver claramente agora.
— Eu... eu só quero que você seja feliz.
— Feliz? Nunca fui, não sei o sabor que a felicidade tem. Talvez seja meu destino.
— Eu acredito que ainda será muito feliz. Hei de fazer o que for possível para isso.
Lucifer havia se afastado do grupo, observou Tiago com uma certa estranheza, havia uma mistura de surpresa e de medo. Ao observar timidamente Tiago a conversar com Julio, tudo o que passava em sua mente era que agora ele não era mais necessário. Toda a questão com Tiago havia sido construída em cima de uma relação de poder, Lucifer era o maior e mais poderoso e por isso pode manter Tiago junto a si pelo tempo que bem quis, mas e agora? O que ele poderia fazer para manter o grande Sé ao seu lado? E quem disse que Sé iria querer um ser tão miserável quanto ele?
Ele ficou com os olhos fixos em Júlio porem seu olhar estava perdido, sua mente em um turbilhão de pensamentos tristes.
— Nobody puts baby in the corner.
Lucifer olhos para o lado e teve de abaixar o rosto para ver com clareza Tiago ali a menos de meio metro.
— Ninguém deixa a Baby de lado? — Lucifer perguntou confuso.
— Vai me dizer que nunca assistiu Dirty Dancing? — Tiago ergueu as sobrancelhas.
— Nunca... — Lucifer respondeu sem graça.
— Então vou te emprestar o DVD.
— Para onde Júlio foi?
— Não sei, ele... eu e ele vamos dar um tempo na nossa... convivência.
— Ah... entendo.
— Está tudo bem?
— Sim... é... bem, minha torre caiu e... parece que sofri um golpe político... e... parece que não sou mais o diabo... Smeralda é que provavelmente vai ter esse título dali por diante.
— Muitas mudanças em pouco tempo? — Tiago se se sentou ao lado.
— Muitas.
— Você quer ser meu namorado?
— O quê? — Lucifer se surpreendeu.
— Quer ser meu namorado?
— O quê?!
— A queda da torre prejudicou sua audição? Eu quero dizer isso. — Tiago ergueu a mão fechada com apenas o dedo mindinho estendido.
— Eu? Namorar com você?
— Não responda perguntas com outras perguntas.
— Nao entendo, você é o maior ser de todo esse universo, porque havera de me querer?
— É uma boa pergunta. — Tiago balançou a cabeça lentamente.
— Sabe a resposta dela?
— Não... amor não é coisa que se explique. Você não quer ser meu namorado?
— Quero.
Tiago sorriu, os dois se abraçaram.
— Mas e agora? O que faremos? Para onde vamos? — Por enquanto vamos apenas sair por ai, viver à toa enquanto pudermos.
— Viver à toa? Sinceramente... nessa altura da minha vida isso parece ótimo.
— Vadiagem é uma coisa sublime.
— Imagino que sim, mas quando você diz "enquanto pudermos" significa que haverá acontecimentos futuros desagradáveis?
— Lucio... Se nós dispormos de um séculos em paz será muito. Haverá grandes coisas nos aguardando, coisas sombrias.
— Então vamos curtir a paz enquanto ela for possível.
Eles deram as mãos e desapareceram do inferno.
IV
Smeraldina tossiu enquando tentava com certa dificuldade ficar em pé, o marmore sob seu corpo havia rachado e espalhava lascas por todos os lados.
— A dor é real Smeralda, ela sempre é. — Jeová flutuou salão a dentro — Achou que seria fácil? Que eu cairia com um estalar de seus dedos finos e elegantes?
— Você tem de morrer Jeová, tem que acabar.
— Eu tenho? Porque tanta ênfase nisso?
— Porque não importa o quão poderosa sou, se eu não te aniquilar jamais serei completa.
— Tente.
Ela fez menção em se levantar mas com uma nova pancada do cetro em sua fronte teve de cair novamente para trás enquanto dentro de seu crânio o som do aço tilintava.
— Você foi um excelente anjo Smeralda, a maior entre todos, mas ser uma Deusa é diferente. Cada deus para conseguir totalidade em seu próprio poder deve saber qual é a fonte, todos nós temos núcleos de poder, mas qual é a forma do seu? As vezes leva milênios para um deus descobrir, e eu infelizmente não lhe darei esse tempo todo.
"Fonte?"
Aquelas palavras penetraram, Smeralda imediatamente percebeu que era verdade, ela estava ali ainda lutando como um anjo, não como uma Deusa. Mas como era de fato ser uma deusa? Ela pensou profundamente, pensou não em quem era ou como ser quem gostaria, pensou sim em apenas aquela coisa poderosa, a coisa mais poderosa que se tem no universo, todos sabem afinal o próprio Jeová disse uma vez "No princípio era o verbo e o verbo era Deus".
O elemento mais poderoso é a palavra, e a palavra que habitava o íntimo de Smeralda era uma só:
ÓDIO
Suspirou profundamente e então murmurou "maksimalna", e seu corpo imediatamente se ergueu, um par de leques de cor verde clara surgiram em suas mãos e ele olhou para baixo com os olhos flamenjando chamas verdes.
— Ah... Acha que encontrou sua força? — Jeová olhou para cima a encarando e riu.
Não teve mais muito tempo para rir, o giro foi rápido demais, ela abaixou dobrando os joelhos e girou na ponta dos pés com os braços abertos, Jeová tentou se defender do par de leques mas tudo que se ouviu em seguida foi o som metálico do cetro batendo contra o chão.
O menino Jeová olhou atônito para os dois cotocos jorrando liquido dourado, suas mãozinhas gordinhas agora jaziam decepadas no chão, uma ainda agarrada ao cabo do cetro.
— Corra. — Smerlada sussurrou.
O menino Jeová olhou para ela, depois para os braços, depois para ela novamente, os olhos grandes do menino começaram a transbordar em lágrimas douradas como o ouro derretido.
— Ah... está se perguntando o motivo de suas mãos não se regenerarem? Elas não vão, Sé me deu o poder de desfazer o que ele fez sabia? E ele fez você. Ele te fez, e eu agora te desfaço.
Jeová não disse nada, apenas girou nos calcanhares e começou a correr freneticamente, após alguns passos seu corpo pequeno flutuou no ar, ele tentava voar para fora do salão, mas logo que sentiu a lamina atravessar sua barriga pequena e proeminente ganiu como um cão e despencou.
No chão ele olhou para o próprio corpo, um dos leques estava fechado e cravado em seu estomago como uma espada.
— Não faça isso! Você vai se arrepender se fizer isso! Eu é que mantenho o equilíbrio neste mundo, sem mim tudo vai ruir! Tudo vai acabar!
Smeralda se aproximou lentamente, Jeová se arrastava no chão, com os cotovelos tentava rastejar para longe, mas então ela o agarrou e o virou, cara a cara eles olharam um para o outro.
— Você está fraco, abriu um portal para o inferno, depois se teletransportou de lá, eu realmente tenho sorte, escolhi o melhor dia para fazer uma visita.
— Nós podemos ser aliados, ser bons amigos, eu posso te ensinar muitas coisas!
— Que vergonha, vai se humilhar para mim agora?
— Eu... eu... — o menino arfava.
— Pax huic dómui... — Smeralda fez o sinal da Cruz em zombaria enquanto recitava em latim o sacramento da extrema unção — Et ómnibus habitántibus in ea...
— Faça logo de uma vez. — Jeová rosnou.
— Não, ainda não. Sabe — Ela puxou o leque cravado na barriga do garoto e riu quando ele gemeu de dor — Você é o Deus com D maiúsculo, portanto o Rei de todos os Deuses, aquele que ninguém desfiava.
— É, e então? — Jeová perguntou arfando mais.
— Sabe, se eu matar o rei me torno rainha. Mas para ser rainha de verdade é necessário uma coroa sabia?
— Não vai usar a minha!
— Eu não quero sua maldita coroa de sarsa ardente, eu me refiro a algo meu. Você uma vez inventou uma mentira para os humanos, quando disse que os criou, lembra?
— Me dê logo um final sua desgraçada!
— Nao tenha pressa. Mas sobre a mentira, é aquela sobre Eva ter sido criada da costela de Adão.
— E o que tem isso?
— Eu usarei esta sagrada citação para fazer minha coroa.
— Não... Nao! — Jeová emitiu gritinhos agudos enquanto as mãos finas de Smeralda entravam na ferida aberta pelo leque em sua barriga, a pele divina foi rasgada e o buraco de carne Branca jorrava sangue dourado e quente, as mãos de Smeraldina logo encontraram o Primero osso, então se ouviu "crack", e ela puxou de dentro da ferida a primeira costela, era miuda como a deu um cabrito, mas dourada como se fosse de ouro maciço.
— Quantas mais você tem? Preciso do maior numero possível para fazer meu diadema. — Ela gargalhou enquanto tornava a meter as mãos na ferida.
"Crack, crack, crack", tirou mais três costelas.
Jeová se concortoceu e berrou tão alto que parte do telhado de pedra do salão rachou e caiu com a vibração da voz, então Smeralda cravou um de seus leques no pescoço da criança.
— Faça silêncio, não gosto de gritaria.
As costelas continuaram sendo removidas, por fim Smeralda tinha treze em tamanho viável a se usar em uma coroa, então decidiu que era hora de encerrar aquela questão.
Jeová respirava devagar, o rombo em seu corpo ia do abdome ao torax, o coração exposto batia lentamente, Smeraldina com um tranco enfiou a mão na caixa torácica aberta e removeu o coração pulsante, o pequeno Deus a olhava horrorizado, ela aproximou o coração dos lábios e beijou o músculo dourado, imediatamente uma nevoa branca começou a fluir dele para ela, e ela sorvia a névoa com os lábios ainda em um biquinho de beijo, a atitude e a posição eram desnecessariamente cruéis. Assim que toca a nevoa abandonou o coração, tudo o que restava era um órgão agora vermelho e fétido e um corpo de criança mutilado e sem vida.
Jeová estava morto.
V
Cidade de Baku, litoral do mar Caspio, Azerbaijão, três meses depois:
Era uma mansão extremamente luxuosa, as paredes rústicas em cal branco adornadas com singelas pinturas em tinta preateada reluziam a luz dos lustres de cristal. Por mais que a casa fosse praticamente um Palácio, todos os convidados se alojaram no Jardim, o vasto compo gramado dava visão para a água azul escura do mar onde se refletia uma lua amarelada.
— Oh! Você está um arraso! — Disse Murilo receber Tifani na entrada no jardim — Mas... Hoje é o dia do casamento Tifani, eu avisei, porque esse vestido branco?
— E eu vim de branco porque sou bandida. — Ela girou mostrando o corpo escultural envolto em veludo alvo como a neve.
— Mas a noiva sou eu! — Murilo brincou.
— Só após o "aceito", até lá eu bem posso tomar seu noivo. Fique ligado, não ia ser o primeiro casamento que estrago. — ela riu.
— E Você... Molin? — Murilo cumprimentou a moça ao lado, uma mulher ruiva com olhos verde amarelados e vestida com um macacão de seda negra.
— Sim, felicidades pelo seu dia especial. — Molin sorriu.
— Espere um pouco... Você veio como acompanhante de Tifani? Estão tipo... juntas?
— Olha pra ele, julgando a sexualidade alheia... Não tem vergonha? Que eu saiba você é um lagartão que está se casando com um diabo, e vocês dois ficam enfiando suas salsichinhas uns nos outros.
— Nao estou julgando, apenas admirado, não precisa ir tão longe. Mas venham, guardei um lugar especial para você, ou melhor, para vocês.
As duas moças caminharam de mão dadas até se aproximar a uma grande mesa branca repleta dos mais variados pratos, alguns refinados e outros simples ou até mesmo bandejas cheias de fast food. A mesa estavam sentados cerca de trinta pessoas, Tifani reconheceu imediatamente um Tiago sorridente e ao lado dele um Lucifer completamente constrangido olhando em volta sem saber muito o que fazer, do outro lado da mesa Júlio remexia uma tijela de morangos com açúcar demonstrando estar extremamente infeliz.
— Ei pessoal, essa é Tifani, para quem não a conhece ela é uma amiga recente minha. Essa aqui é Molin, amiga dela.
— Ela não é minha amiga, é minha namorada. — Tifani corrigiu.
Todos da mesa emitiram risinhos abafados enquanto as duas sentavam ao lado de Júlio.
— Oh! Por Sé! — Murilo gritou olhando para a entrada do jardim.
— O que tem eu? — Tiago perguntou erguendo a cabeça assustado enquanto todos riam.
— Desculpe, força do hábito. É... aqueles que estão entrando...
— São Zivot e Kraj? — Tiago ergueu a cabeça um pouco mais para observar o casal que se aproximava, a mulher vestida com um kimono preto bordado com hibiscos vermelhos e o homem alto com um terno de risca de giz.
— Olá irmão. — Kraj o cumprimentou.
— Olá Uragan. — Zivot fez uma referência nipônica curvando o corpo — Omedetou (parabéns em japonês).
— Eu não acredito... achei que ninguém viria... — Murilo correu e os envolveu em um abraço.
— Os outros Zmej estão sendo muito influenciados por nossa irmã Pomorski, ela não gosta da idéia de você não ser mais um Dragão. — Zivot falou calmamente.
— Mas nós dois achamos que o fato de você não ser mais um Dragão não significa que não seja mais nosso irmão. Família é para sempre. — Kraj disse em seguida.
— Zivot e Kraj! — Tiago se ergueu e veio se aproximando.
— Olá Pai. — o casal disse em uníssono ao fazer uma reverência.
— Estão bem? Fico feliz que aceitaram vir para o casamento.
— Estamos muito bem, desde seu retorno e de sua visita semanas atrás nós temos tido algumas dificuldades com nossos outros irmãos mas nada que o tempo não ajeite por si só. — Zivot falou.
— Fico feliz, Murilo pode não ser mais um Zmej mas ainda é o senhor dos ventos, e vocês como dragões da Vida e da Morte ainda são importantes para ele, bem como para mim também.
— Sim Pai. Pomorski é complicada, o senhor sabe, Ogan faz tudo o que ela quer e os outros a tem como uma lider, mas ela não é má, é apenas cautelosa, tenho certeza que em breve estará conosco. — Kraj respondeu.
Na mesa uma mulher idosa com os cabelos brancos muito armados em um penteado cheio de laquê cutucou o braço de Lucifer.
— E ai bonitão, você é mesmo o Satanás?
Lucifer pigarreou:
— Sim, é um dos meus nomes, e a senhora quem seria?
— Ninguém tão ilustre, me chamo Lucrécia, sou avó de Tiago.
— Ah... sim ele me contou que a senhora está em uma investigação atrás do paradeiro de Danusa não é?
— Sim, eu preciso encontrar ela, afinal tenho de entender como as coisas estão funcionando agora na família.
— Ficou tudo confuso não é?
— Confuso é um eufemismo, a situação está absurda e completamente caótica.
— Mas está conseguindo lidar com tudo?
— Pois é, eu de repente soube que minha filha Karen morreu, mas não pude chorar a morte dela pois aparentemente ela está viva dentro do útero de Danusa, o que faz minha filha ser agora minha bisneta. Tiago, meu neto abobabo e meio baiotola de repente é o senhor do universo, e Danusa virou uma Deusa sumida. Não tem sido nada fácil digerir isso tudo, na verdade parece mais um devaneio.
— Mas mesmo no meio disso a senhora quis vir ao casamento?
— Não importa que desgraça lhe assole, sempre há tempo para um regabofe! — ela gargalhou erguendo a taça de champanhe.
Uma mulher de cabelos negros muito cumpridos e com um decote tão profundo que os seios estavam correndo o risco de saltar para fora pigarreou, Lucifer virou na cadeira e a viu ao seu lado esquerdo.
— Você... eu conheço você, é a Dalecen-stranski, da corte de Shemihazah.
— Dalecen-stranski, ou seja "estrangeira vinda de longe"? — Tifani atravessou a conversa — É você a mulher que veio de outro mundo?
— Sou, e por mais de esse titulo Dalecen não sei das quantas seja uma honra, meu nome é Milena Diva Belladonna, mas pode me chamar apenas de Belladonna.
— E como é o outro mundo? — Tifani perguntou.
— Não é, ele não existe mais.
— Apocalipse? — Lucrécia perguntou.
— Um bem apavorante. — Belladonna sorriu.
— Conte um pouco sobre esta terra, como ela era? — Tifani pediu.
Era uma cópia desta, com detalhes diferentes com certeza, mas um Deus maligno o pulverizou, eu sou a unica sobrevivente.
— E como veio para cá? Para nosso mundo? — Lucifer quis saber.
— É uma longa história, mas não é sobre mim que quero falar, eu gostaria de saber sobre algumas coisas referentes ao inferno, se tiver paciência em me responder.
— Sim claro.
Após uma longa conversa ela piscou os olhos maliciosamente.
— Obrigado pelas respostas, agora eu quero fazer uma última pergunta.
— Tudo bem, faça.
— O que vai fazer agora? Qual é seu papel no mundo alem de consorte de Sé.
— Consorte? Eu? Bom... eu não... ainda não pensei sobre isso.
— O diabo é o pai da mentira. — ela piscou novamente.
— O que quer dizer com isso?
— Que em sua expressão e no seu modo de agir está nítido que está com a mente cheia. Tudo bem, pense no quer fazer, e quando decidir... vai ser interessante ver o que acontecerá.
Dentro da mansão Ferrabraz trancado em um dos quartos andava de um lado para o outro, estava cheio de insegurança e timidez, após séculos iria finalmente se casar com seu precioso Mumu, e por mais que isso fosse seu maior sonho, a timidez e o medo de não ser adequado o travaram completamente.
— Ei, Ferrabraz, você tem de descer, todos ja estão ai. — disse a voz do demônio Saleos, um rapaz alto e ruivo usando um terno verde e um par de botas de couro de cobra.
— Como está a situação do Inferno?
— O quê? Não é hora para falar disso, seu casamento é hoje!
— Eu sei! — Ferrabraz espiou pela janela entre aberta — Mas estou em pânico, então me distraia por favor.
— Ok...Cada um dos vinte e um arquiduques ira participar de um torneio de campeões daqui a nove meses.
— Eu ainda sou um arquiduque.
— Sei que é, você continua sendo o décimo sétimo e eu o décimo nono. O torneio dos campeões é assim, cada um de nós tem de eleger um representante que irá lutar até a morte contra dos campeões dos demais, aquele que for o ultimo a sobreviver ira dar a coroa do inferno a seu arquiduque.
— Deixa eu adivinhar, Nabucodonosor ja tem um representante.
— Ela, Drusila, Samael, Caifaz, a maioria já tem. Você vai enviar um campeão?
— Ainda não sei...
A porta do quarto foi escancarada e Tifani entrou sem fazer cerimônia.
— Demônio, desça já! O seu noivo está lá feito um filhote abandonado e você aqui de papo furado! Bem coisa de demônio mesmo!
— Você agora também é um demônio Tifani, não fale como se não fosse parte da categoria. — Ferrabraz respondeu.
— Não importa, vamos!
Assim que chegou ao jardim Tifani gritou para que começasse a música, então um grupo de uns seis rapazes moças de estatura pequena, pole cor de oliva e orelhas pontiagudas começaram a tocar "Xekina Mia Psaroboulla", que é uma das mais famosas músicas festivas da Grécia. Todos saíram de seus assentos a mesa e foram para a porta da mansão, então Ferrabraz saiu, vestia uma calça cinza com as barras dobradas até o joelhos, camisa branca com os botões abertos a partir do meio do peito, descalço e ostentando uma coroa de louros na cabeça, ele dançava ao som da musica ziguezagueando entre os convidados que tinham erguidos as mãos a aplaudiam no ritmo da melodia, ao som do "tcha-tcha-tcha" das palmas ele foi se animando, deixando o nervosismo de lado, e nisto os convidados formaram duas filas e no meio delas ficou livre o corredor, Ferrabraz parou de dançar por um monto ao ver do outro lado daquele corredor Murilo, o garoto havia também tirado os sapatos e dobrado as calças até os joelho, em sua cabeça estava uma coroa de flores silvestres e Margaridas brancas, ao ver que seu amado havia perdido a concentração Murilo começou a gingar os braços para que o outro lembrasse de dançar, Ferrabraz rapidamente voltou a dançar e com passos animados percorreu todo o corredor até ficar diante do noivo.
Tiago se aproximou do casal e com a voz ligeiramente elevada começou:
— Estamos aqui essa noite para celebrar o amor de meu filho Uragan, que agora atende por Murilo, e de Lacínio, que agora atende por Ferrabraz. Eu sinceramente não acredito em votos de casamento, contratos assinados e coisas do tipo, o que eu acredito é no encontro dos corações, naquele momento em que dois seres se encaixam como duas peças de um quebra-cabeças. Então hoje eu não quero declarar que estão casados e tampouco perguntar se aceitam um ao outro como "legítimos cônjuges", não, o que eu quero é anunciar a todos os presentes a sorte que temos de estar aqui com eles nesta data que foi escolhida para ser lembrada como o dia em que Murilo e Ferrabraz tornaram a felicidade de ambos uma só. Eu sou Tiago, e como um garoto humano eu fico extremamente grato em estar testemunhando isso. Eu também sou Sé, e como criador deste universo eu estou absurdamente satisfeito em ver que Ura... Murilo está genuinamente feliz. Que vocês dois desfrutem da companhia um do outro eternamente.
Todos os convidados gritaram "e que assim seja".
Então Murilo e Ferrabraz se beijaram ao som dos aplausos, o rosto de Murilo tendo dificuldades em beijar pois estava sorrindo e o de Ferrabraz encharcado de lágrimas com os labios tremendo, porém um beijo de amor verdadeiro.
— Esperem um momento. — Tiago pediu.
— O que foi pai? — Murilo quis saber.
— Recorda que eu disse que poderia mudar o núcleo do corpo de Ferrabraz? Bem, o corpo dele atualmente gera seus poderes e dons a partir do coração negro, o coração corrompido.
— Não se esqueçam de agradecer a Smeralda por isso. — Lucifer se aproximou do trio.
— Que quer dizer? — Ferrabraz perguntou.
— Foi ela que desenvolveu essa magia, algo que poderia fazer seres humanos ganharem poder próximo ao dos Krilen, não superior ao meu e ao de Smeralda é claro, mas um poder forte o suficiente para que o ser humano fosse útil. Porém como ela não costuma fazer nada sem planejar cada detalhe, incutiu na magia um modo de manipular o ser que é transformado.
— É por isso que todos os demônios de origem humana são obedientes. — disse Murilo.
— Sim, mas eu posso mudar isso — Tiago se pôs entre Ferrabraz e Murilo e tocou o peito de ambos com as pontas dos dedos de cada mão — Eu posso remover o coração negro.
— Mas sem coração eu vou morrer. — Ferrabraz arregalou os olhos.
— Sim, sem coração com certeza morrerá, entretanto Murilo tem dentro do peito um coração com força o suficiente para manter vivo e vigoroso um Dragão de novecentos metros. Murilo, você aceitar dividir seu coração com Ferrabraz?
— Mas não é isso que acabei de fazer? Tipo, casamento não é isso?
— Não, a minha pergunta é literal, estou me referindo a força vital que te move. Gostaria de dividir o coração com Ferrabraz?
Murilo olhou para o marido e sorriu.
— Oh... sim, sim com certeza! — disse abrindo um largo sorriso.
— Ferrabraz, você ainda assim será demônio, porém a sua força não virá mais de qualquer feitiço de perversidade, sua força será Murilo, a sua alma será entrelaçada ao coração dele. Aceita que isto seja feito?
Ferrabraz não pôde responder pois já havia voltado a chorar, mas acenou a cabeça mostrando concordância.
Tiago pressionou os dedos com força no peito de ambos, imediatamente uma brisa suave atingiu o local, estava feito.
VI
Murilo segurou o rosto fino de Ferrabraz com as duas mãos e então deu um beijo em cada bochecha, todos os convidados gritaram "vecen!", que é como se diz "para sempre na língua Antiga, ferrabraz sorriu, mas Murilo percebeu a face do amado vacilar.
— O que? O que foi?
— Verde? — Ferrabraz murmurou, então Murilo percebeu uma leve luminosidade esverdeada no rosto do outro, virou o rosto e notou que todos os convidados estavam parados olhando para o céu.
Ao procurar o que eles olhavam ele se deu conta que era a lua, a lua estava verde na cor de uma...
— Smeralda... — Lucifer murmurou.
E ela apareceu, uma mulher colossal em pé sobre a lua usando um manto branco que se abria de forma triangular, em sua cabeça uma coroa feita de ossos dourados.
— Ela está imitando a aparição Mariana? Porque? — Júlio perguntou.
— Eu acho que ela quer que a humanidade acredite que ela é Nossa Senhora...
A Voz aguda de Smerlada ecoou no céu:
— Em verdade, na verdade vos digo, quem ouve a minha palavra e crê em mim terá a vida eterna e não entrará em condenação, mas passará da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que chegou a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz da mãe do filho de Deus, e os que a ouvirem viverão. Porque, como a mãe tem a vida em si mesma, assim deu também ao Filho ter a vida em si mesmo. que todos vós vos maravilheis disso, porque é chegada a hora em que eu assumirei um novo nome, não mais me chamarei Maria, não mais me chamarei mãe, todos os que estão sobre a terra ouvirão a minha voz e temerão pois de agora em diante e para sempre eu serei Rainha. Eu digo e confirmo que meu nome sagrado agora é Zelena Smeraldina, que em nome de Zelena Smeraldina todo o joelho se dobrará e toda a língua confessará. Que aquele me renegar seja queimado, que aquele que não me servir seja apedrejado, aquele que não quer seja enterrado em brasas. Os que fizerem o bem em meu nome sairão para a ressurreição da vida, e os que fizerem o mal em nome de deuses falsos deverão cair para a condenação. Jeová não mais governará, em amor e paixão ele, o grande Deus, cedeu sua coroa a mim. Jesus Cristo não retornará, em amor e paixão ele, o cordeiro, entregou sua missão a mim. É iniciada neste dia e nesta hora a era de Zelena, e que aqueles que se oporem a minha vontade tremam pois nem sob as pedras poderão se esconder da minha fúria. Os justos governem, os simplorios sejam cativos. Esta é a vontade desta que vos fala.
Após o discursos intenso um profundo silêncio tomou conta.
— Ela realmente assumiu o lugar de Jeová. — Tiago falou observando a imagem de Smeralda desvancer e a lua voltar a sua cor natural.
— Vamos embora, temos de nos preparar. — Lucifer falou.
— Nos preparar para quê? — Murilo perguntou.
Lucifer suspirou e deu a mão a Tiago.
— A guerra, nos preparar para a grande guerra. Smeralda contra o mundo.
— Guerra? — Tiago riu.
Epílogo
Ano 886 da Era de Zelena ( 2905 do calendário gregoriano).
O Rei marchou com o queixo erguido, subiu os degraus de pedra bruta até a sola de seus pés reclamarem, estava vestido para a guerra e havia enfrentado muitas dificuldades para chegar até ali no reino de Ganga. Por mais de uma vez parou para tomar folego, era sabido que Ganga a oito séculos antes era chamada de India, e que era uma república. O ideal de República era algo a muito extinto daquele planeta, os trezentos e doze reinos haviam se tornado a única realidade, trezentos e doze reis e rainhas submissos ao comando de uma deusa absolutamente louca.
Ele sabia que aquela casa muito tempo atrás havia sido morada de uma poderosa feiticeira, e por alguma milagre baseado em magia a construção estava intacta.
No topo da escadaria viu a poucos metros a diante o ser de asas azuladas mirando o céu distraído, o rei o achou pouco parecido com as pinturas e estátuas que havia visto nos museus e memoriais.
— É você o tal criador? O tal Sé das lendas antigas? — Disse com aspereza, estava naquelas palavras uma grande quantidade de ressentimento.
Tiago virou o rosto lentamente e encarou o velho de barbas brancas e armadura de prata, reparou na cabeça do velho a coroa espigada de pedras verdes.
— Sim Rei Leopoldo, sou Sé.
— Sé... estou em uma jornada longa, travei batalhas e perdi muitos homens para chegar até aqui.
— Todos nós fazemos sacrificios. — Tiago deu de ombros. — Acredito que sua busca por mim é com o mesmo objetivo das dezenas de Reis e Rainhas que vem em meu percalço nos últimos séculos.
— Eu venha suplicar ajuda.
— Exatamente como todos os demais.
— Eu sou o rei de Dracone, eu mereço ser ouvido!
Tiago riu das palavras arrogantes do homem, afinal era só um homem.
— Dracones? Sabia que eu nasci nesta terra?
— Você? Um Draconiano? Não sabia disto.
— Draconiano? Não, eu era brasileiro. Esta terra que hoje você chama de Dracones oitocentos anos atrás se chamava sul e sudeste brasileiro.
— Bandeira verde e amarela? Não quero saber de histórias das velhas repúblicas derrubadas pelos olhos verdes daquele demônio, eu estou aqui para salvar Dracones. Zelena Smeraldina exigiu que todos os primogênitos nascidos neste ano na minha terra sejam sacrificados em honra a ela, são vinte e duas mil crianças, bebês. Me ajude a impedir isso.
— Não.
— Não? — o rei se surpreendeu.
— Não.
— Como ousa negar ajuda? Não foi você mesmo quem criou este mundo? Agora se nega a salva-lo?
— Exatamente. — Tiago virou o rosto e voltou a mirar a lua.
O som metálico que se ouviu era comum, era óbvio na verdade, som de grevas batendo ao chão de pedra, o rei estava de joelhos.
— Senhor eu lhe imploro. Meu filho é um dos primogênitos, meu bebê de apenas sete meses de idade, ele será queimado em uma pira em honra aquele monstro?
— Será, se é o que Smeralda deseja, será.
— Eu não compreendo, de onde vem esta omissão? Ou será que é tão cruel quanto ela?
— Não sou cruel, mas não posso ajudar, está fora de meu alcance.
— Não vai nem tentar?
— Não. Rei Leopoldo, se posso ser franco, não venha até mim com suas lamúrias, não estou aqui para ser arma em qualquer guerra.
— Mas...
— Sem mas. Volte para casa e aproveite o tempo que lhe resta com a criança.
O rei se ergueu com dificuldade e lançou um olhar cheio de amargura as costas de Tiago, como poderia voltar para casa e dizer a sua amada rainha que não havia salvação para o filho que ela acabara de parir? Mas o que não tem remédio remediado está. Com o peso do mundo sobre os ombros ele se virou a começou a descer as escadas com passos duros.
Ao chegar a base da montanha ele pôde ver encostado no Torii vermelho um anjo de asas negras e cabelo tão cumprido que suas pontas tocavam o chão.
— Rei Leopoldo... — O anjo fez uma vênia.
— Quem... quem é você? — o coração do Rei saltou acelerado ao crer que ela, a deusa imunda havia descoberto sua empreitada atrás de Sé.
— Não se preocupe, sou um anjo sim mas não sirvo a ela.
— Bem... de fato não parece um dos servos dela. — o Rei sentiu o alívio.
— A cor das asas ajuda a diferenciar. Me chamo Lucifer.
— Lucifero Sheitan? O marido daquele inútil lá em cima? — O rei atirou um polegar para trás em desdém.
— É impressionante como os novos idiomas adulteram a pronúncia, eu não me chamo Lucifero Sheitan, apenas Lucifer.
— Então me perdoe pela má pronúncia.
— Esteja perdoado. Não quero ser indiscreto mas... ouvi sua palavras, o motivo de sua visita.
— E Você pode me ajudar? Pode me auxiliar contra Smeralda?
— Posso.
FIM
Sim, é o final deste conto, mas não desta história.
Há muito mais a se dizer a respeito do que Smeralda fez a este mundo. Há muito mais a se dizer sobre Júlio, Danusa, Murilo, Ferrabraz, Tifani, Tiago, Lucifer e Karen.
Mas antes que seja necessário falar deles é mais necessário falar de Edmundo.
Em breve saberão quem são Edmundo, Enobária, Zeniba e outras pessoas que deterão grandes papeis nesta historia. A continuação deste conto se chamará "Bufalo Sandara", fiquem atentos, e que Nossa senhora e Salvadora Smeralda os abençoe sempre.
Porta gata.. to passada agora foi que foi :')
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