Lucifer Smeraldina Cap. 17
NOTA DO AUTOR: Desculpem o atraso mas com essa história de quarentena tudo ficou bagunçado. Mas agora está tudo bem.
Lucifer Smeraldina
Capitulo 17
"Lacrimosa"
I
O que é o amor?
Ora meus queridos, qualquer pessoa que ousar tentar explicar o que é o amor estará apenas contando mentiras.
Ninguém explica o amor, ele é uma coisa tão coisada e tão... veja só, eu aqui tentando explicar o amor, também não consigo. Eu olho para ele, ele é um ser do outro mundo mas ao mesmo tempo só um garoto. Olhe que engraçado, essa definição também se aplica a mim não é? Ele fica na ponta dos pés para encaixar o cabide no varão do guarda-roupas, um nanico... um nanico que tem mais de novecentos metros. Ah que vida confusa, tudo é confuso. O cabelo dele cresceu, agora o topete se tornou uma franja que cai sobre a testa, desse modo ele até parece um aluno do ensino fundamental. Não, não parede não, as mãos deles já são de homem, os pés também, acho que calça quarenta, isso já é bem longe de ser criança. Mas os olhos dele, olhos castanhos sob aquelas sobrancelhas de taturana... olhos meigos. Como pode ser, eu um demônio asqueroso e ele um ser da mais pura luz... E eu o amo.
— Ei? Está pensando em quê? — Murilo se virou com vários cabides nas mãos — Está olhando pra mim como uma cara de bobo...
— Eu estava só vagando em pensamentos. — Ferrabraz respondeu.
— Pensando na Karen? Eu também estou preocupado. Aquela reação que ela teve quando voltou para casa, ela não parecia nada bem, está mais desiquilbrada que nunca. Foi muito estranho, ela parecia estar ouvindo vozes.
— É... ela deve estar confusa, deve demorar um tempo até voltar ao normal. — Ferrabraz levantou da beirada da cama e apanhou os cabides da mão do outro, com rapidez os pendurou no armário.
— Obrigado, eu devia ter projetado um corpo mais alto.
— Por nada, e a sua altura é perfeita. E ai? Gostou deste hotel? O outro era meio caidinho.
— O outro era melhor.
— Melhor? Tinha manchas de sangue no colchão e a privada fazia barulho de motor de carro velho, sem contar aquela televisão velha.
— Ta bom, o outro hotel era meia boca, mas tinha um quarto comum, esse aqui é um quarto de lua de mel. — ele apontou para a parede, acima da cama de casal havia um letreiro em neon cor de rosa onde se lia "para sempre".
— É que eu queria ser romântico. Quer dizer, desde de que nós voltamos a ficar juntos ainda não... você sabe...
— Você alugou esse quarto com a intenção de me comer? — Murilo juntou as sobrancelhas em falso ar raivoso.
— Eu não usaria esse termo.
— O demônio é muito bem articulado... — Murilo zombou.
— Eu diria que quero amar você o máximo que puder, enquanto puder, afinal nunca se sabe.
— É impressão minha ou você está com medo?
Ferrabraz ajoelhou batendo os joelhos no chão com estrondo, agarrou a cintura de Murilo enterrando o rosto na barriga.
— Eu tô é apavorado. Daqui a dois dias nós vamos invadir o inferno...
— Calma — Murilo afagou os cabelos do demônio — nós somos fortes, vai dar tudo certo, você não vai se ferir, ninguém vai.
— Não, não é com ferimentos que eu me preocupo.
— E o que é então?
— A conclusão, tenho medo de você me deixar após a missão acabar.
— Mas eu ja disse que não vou a lugar nenhum sem você.
— Disse. Mas eu não acreditei ainda. Você diz como se me amasse, mas...
— Mas o quê? Eu amo você, não existe dúvida nisso.
— Eu duvido, mas se você me desse uma prova de seu amor eu ficaria em paz.
Murilo gargalhou, Ferrabraz ainda abraçado a cintura dele ergueu a cabeça e olhou para cima.
— Qual é a graça?
— Esse drama todo para voltar no assunto? É tudo sobre sexo?
— Não é sobre sexo — Ferrabraz se levantou — já não sou um garotinho romano sedento, eu só...
— Eu entendo, é por aquilo que o sexo significa não é?
— Sim. — Ferrabraz acariciou o rosto do amado — Mas que bom que entende, achei que não estava mais tão ligado a sentimentos humanos.
— Se você ainda está, porque eu não estaria? As vezes sinto que sou mais humano que Dragão.
— E seu lado humano é uma gracinha.
Murilo ficou na ponta dos pés novamente enrugando as tiras da sandália que calçava e com os lábios em um biquinho beijou a bochecha de Ferrabraz, mas o biquinho se desfez e da bochecha os lábios passearam até os lábios do demônio, o beijo úmido durou o tempo necessário para que as virilhas de ambos de dessem sinal de vida.
— Quero você Mumu, quero mais que tudo.
— Você sempre ambicioso...
— Mas é sério, eu daria tudo por ter você por inteiro. Você é mais importante que qualquer coisa.
— Mais importante que a sua liberdade?
— Mais. — ele apanhou Mumu pela cintura, apertou as mãos em torno dela e ergueu o corpo no ar, os labios se tocando mesmo com os dois sorrindo.
O corpo de Murilo era muito mais leve que o normal, por ser um Zmej ele podia controlar a densidade e se tornar leve como uma pluma, Ferrabraz deu um empurrão para cima e Murilo subiu para o teto do quarto como um balão de gás hélio, os dois gargalhavam como crianças.
— Eu senti tanto a sua falta... tanto... — Ferrabraz ria mas lagrimas saiam de seus olhos e escorriam pelas bochechas encovadas.
— Você está chorando... Não devia chorar! Demônios não choram!
— Eu me sinto diferente nos últimos dias, nem tenho certeza se sou mais um demônio.
Murilo desceu suavemente e deitou sobre a cama, deitou de braços abertos.
— Venha cá.
Ferrabraz se aproximou e deitou com a cabeça no peito magro de Murilo.
— Sempre gostei de ficar assim com você. — ele falou secando as lágrimas com a mão.
— O que quer dizer com se sentir diferente?
— Eu ainda sou forte, mas minha natureza parece ter mudado.
— Uma mudança boa?
— Uma mudança boa. — Ferrabraz afirmou.
— Lacinío... eu quero te fazer uma pergunta, posso?
— Sim claro.
— Nós nos conhecemos a muito tempo, eu te amo e voce me ama.
— E onde esta a pergunta?
— Bem... é que na nossa epoca, no tempo em que estavamos em Labraunda homens podiam se apaixonar mas nao firmar compromisso, mas hoje já é possível nas leis humanas. Você... gostaria de se casar comigo?
— O que?! — Ferrabraz se ergueu nos braços e encarou o rapaz.
— Eu sei que casamento é uma coisa geralmente para humanos, e quando não ele ainda serve para seres da mesma espécie e de gêneros opostos. Nós não somos humanos, nem mesma espécie e também não somos de generos opostos mas eu gostaria muito de me casar com você.
— Eu... eu... — Ferrabraz fez uma careta estranha, sentou na cama e cobriu a boca com as duas mãos, seu peito em trancos de tanto soluçar, os olhos fechados mas as lágrimas caindo fartas.
— O que foi? Você está bem? — Murilo sentou sobre as panturrilhas e segurou o outro pelos ombros.
O demônio chorou por mais algum tempo, teve de deixar toda a água vazar. Murilo observava atônito, demonios não choram, eles não tem sistema de lubrificação lacrimal, mesmos os que um dia foram humanos perdem essa característica física em pouco tempo, então o que era aquilo? Ferrabraz falou de uma mudança mas pelo visto era real, uma mudança interna que estava reajustando até o físico.
— Você precisa de ajuda? Eu não sabia que sua espécie chorava, achei que as lágrimas que derramou a pouco eram um truque.
— Não chora... — ele ainda tinha lágrimas escorrendo — Eu não choro a milênios. Isso aqui não é choro de verdade, não são lágrimas como a dos humanos, isso foi só... isso foi a minha alma.
— Como assim?
— Meu corpo ainda é demoníaco, minha alma também era por pertencer a Lucifer, mas agora não é mais dele, eu tenho sentido já a alguns dias, estou voltando a ter uma alma humana. A alma fez meu corpo simular esse choro.
— Não parece simulação pra mim. Sua alma fez isso porque? — Murilo abraçou Ferrabraz.
— Porque é na alma que fica o dom de amar.
— Sua alma está voltando a ser humana... mas e o seu corpo?
— O corpo não pode mudar, eu sempre serei Ferrabraz, o décimo sétimo arquiduque do inferno, o demônio.
— Seu corpo está mudando sim, eu posso sentir quando toco em você, e p cheiro de enxofre diminui muito.
— Diminuiu? Então eu estou me transformando em que?
— Não importa, você sempre será Lacinío de Tigris, o homem que me fez feliz muito tempo atrás e que me fez querer voltar, o resto é apenas detalhe.
Os lábios se tocaram, tudo começou com suavidade, Murilo ergueu a camisa de Ferrabraz pela barra, o demônio ergueu os braços e se deixou que as mãos do rapaz roçarem em suas costelas enquanto o despia, então deitou e permitiu que seu cinto fosse desafivelado, o ziper aberto e a calça removida, agora a única peça que usava era uma cueca boxer branca.
Murilo observou aquelas pernas brancas com pelos finos e organizados, eram finas mas com músculos definidos, aquilo era diferente, antes quando ele ainda era Lacinío as pernas quase nao tinha pelos e eram tostadas pelo sol intenso da Ásia Menor em diferentes áreas, as panturrilhas quase marrons de tão queimadas, mas agora a pele era suave e hidratada como nunca houvesse conhecido a luz solar, mas o que havia mudado mais eram os pés, antes pés com sola aspera, unhas sempre sujas de terra, agora eram pés macios e com unhas bem aparadas, limpas e rosadas.
— Eu mudei, nesse tempo todo as coisas mudaram muito. — Ferrabraz se justificou um tanto sem jeito.
— Nao precisa ter medo, é diferente, mas eu ainda gosto. — Murilo sorriu e então puxou a cueca para baixo — O que... o que é isso?
O pênis grosso e ereto de Ferrabraz pulou fora para batendo na barriga com som de chicote mas não foi isso que chamou a atenção de Murilo, não, na pele ao lado logo no encontro da coxa com o quadril se via uma tatuagem de mais ou menos quinze centímetros, o desenho era de um Dragão deitado em uma nuvem e em baixo escrito em latim "Me conveniat Ventus".
— So-sou eu? — ele passou a ponta do dedo indicador sobre as palavras.
— Sim é, eu pedi que um sacerdote de Saraswati tatuasse isso em mim, as tintas que eles usam nunca desbotam.
— Me conveniat Ventus significa...
— Quer dizer "eu pertenço ao vento".
Murilo abriu um sorriso cheio de sentimento e seus olhos marejaram.
— Demorei muito para voltar não é?
— Se tivesse que demorar um milhão de anos ainda assim eu estaria te esperando. — Ferrabraz sentou na cama e abraçou Murilo com força, então sussurrou. — Para todo o sempre.
Murilo se desvencilhou do abraço e removeu a própria camisa, Ferrabraz deitou na cama e deixou o rapaz vir por cima, Murilo beijou o peito, a barriga e então desceu.
— Aaaah... — Ferrabraz gemeu ao sentir a língua quente percorrer seu pênis, segurou a nuca de Murilo e apertou a cabeça do rapaz o forçando a engolir o membro por inteiro.
Murilo quase engasgo e ergueu o rosto rindo.
— Você sempre faz isso.
— Sempre. Mas eu quero fazer mais coisas com você agora.
Os dois se amaram, se entregaram ao prazer de seus corpos até o sol raiar.
II
Belo arco, um metro e meio de uma ponta a outra, dourado, cada centímetro marcado por arabescos das mais belas formas, o artesão com certeza era portador do maior dos talentos.
Murilo havia recebido o arco de Asherah, pessoalmente substituiu a corda falsa pela original, deu então a arma a Danusa.
— Você herdou de seu pai o talento com esse tipo de ferramenta, conto com sua pontaria.
Ela aprendeu a atirar perfeitamente, puxando a corda uma flecha semi transparente se forma ali, é fria como se fosse de gelo, as vezes reluz azulada antes de atingir o alvo, quando atinge não faz alarde, não explode nem nada mas o alvo imediatamente morre, independentemente se é um animal, uma arvore ou uma pessoa.
Sim ela testou o arco em uma pessoa, um andarilho barbudo que vinha pela estrada deserta empurrando um carrinho de mão cheio de bagulhos, ela o perseguiu silenciosamente e quando chegaram em uma curva atirou pelas costas. O homem caiu, ela se aproximou, estava inquestionavelmente morto, não havia marca ou cicatriz, a flecha tirava a vida sem impor feridas.
Mas quem é Danusa? Ela é gente?
Danusa é fria por que é uma ferramenta, ela firma a mãe louca, ela protege o irmão ingênuo, ela cozinha, ela guarda segredos, ela sempre trabalha para o bem de todos.
Mas quando alguém se preocupou com Danusa?
De repente é como se os ratinhos cantassem:
"Cinderela, Cinderela
Noite e dia é Cinderela
Acenda a lareira, faça meu café
Lave a louça, esfregue o chão
Varra a casa e tire o pó
Elas sempre dão serviços a ela
Ela anda em círculos
Deixam ela muito, muito tonta
Ainda assim, eles gritam
Mantenha-na ocupada!"
Mas não é sobre Cinderela, é sobre Danusa.
Danusa não vai ao baile do Príncipe, não ha Príncipe para ela.
Karen voltou, está cheia de novos poderes, ela abraçou a filha e falou de novidades, demonstrou façanhas, sabia que com um estalar de dedos ela pode fazer um raio atingir uma árvore? Maravilhoso isso não é? É. Karen esta maravilhosa, mas ela não perguntou se Danusa estava bem, não perguntou como foram os meses sozinha, nem esboçou qualquer preocupação com a filha. De Tiago ela falou, perguntou muito do garoto, queria notícias do filho e quando foi bem informada se levantou e deixou Danusa sozinha.
Ela não perguntou porque Danusa com mais de trinta anos de idade nunca teve um relacionamento serio, não perguntou onde ela aprendeu a cozinhar tão bem.
Quando tinha doze anos de idade um homem puxou Danusa para dentro de um carro. Foi a primeira vez que ela matou alguém.
Quando chegou em casa com os braços arranhados ninguém perguntou porquê estava assim, e ela também não disse nada, tomou banho e vestiu uma camisa de mangas longas. Até hoje ela lembra de quebrar o pescoço do homem com suas mãozinhas infantis. Nefilins são muito mais fortes fisicamente, mas só fisicamente. Naquele dia ela realmente entendeu que era sozinha no mundo, naquela dia após quase ter sido estuprada no banco de trás de um carro sujo ela se deparou com a verdade, os olhos vidrados do morto confirmavam.
Karen foi tirar uma soneca, Ferrabraz e Murilo saíram, ela levou uma cadeira para o gramado da frente, sentada sob o sol fraco das dezessete horas aproveitou para ler a biografia de Marilyn Monroe, livro que ela jamais havia conseguido terminar.
— Ela morre no final. — uma voz fina e infantil soou dentro de sua mente.
Então sua visão desviou das páginas e captou a figura minúscula caminhando em sua direção, tinha menos de um metro de altura, vestia uma camisa amarela com o rosto do Pikachu estampado, bermudas jeans e chinelos de borracha vermelhos com tema do Relâmpago Mcqueen, seu cabelo louro cacheado balançando a cada passo, na mão direita a corda presa a coleira de seu pequeno chihuahua caramelo.
— Olá. — o menino acenou enquanto chegava mais perto.
— Olá. — Danusa fechou o livro.
— Nesse livro dizem que ela se matou, mas Marilyn não fez isso, ela apenas teve uma reação a misturar remédios com bebida, morreu dormindo.
— Coitada. — Danusa deu de ombros.
— Estou curioso. — ele sorriu e sentou na grama diante dela.
— Com o quê?
— Porque não contou para ninguém que eu estamos mantendo contato?
— Nós não estamos mantendo contato, você só aparece de vez em quando e fala umas bobagens.
— Bobabens? Garota eu sou Deus com D maiúsculo, eu não falo bobagens.
— "Amar o próximo como a ti mesmo"?
— Ah eu nunca disse isso, foi coisa do Yeshua, quer dizer, Jesus.
— Ele não tinha de voltar? Ele prometeu.
— Ele tinha de voltar para propagar meu nome sobre a terra, mas o que ele fez foi ignorar meus mandos e sair por ai pregando amor e bondade feito um idiota, então eu o cancelei.
— O cancelou? — Danusa achou graça.
— Sim, coloquei pra dormir em um dos quartos do meu Palácio, está lá, ele a mãe dele, dois chatos para um caralho.
— Você colocou Maria e Jesus pra dormir?
— Sim. Não fique fazendo essa perguntas bobas, me irrita, e se me irritar eu ponho você pra dormir também.
— Tudo bem. Me fale então do seu cachorro, eu não sabia que Deus tinha um cachorro.
— Eu não tenho, isso aqui não é um cachorro de verdade, é Miguel. — Jeová deu palmadinhas carinhosas na cabeça do cão — Eu sempre ando com Miguel ao meu lado, ele é bem esperto.
— Ok... o arcanjo Miguel é um chihuahua. Sabe, as vezes eu acho que a minha vida inteira é uma alucinação, nada do que acontece faz sentido.
— A sua vida? Desde quando você tem uma vida?
— Ora, eu não estou aqui respirando e com o coração batendo bem na sua frente?
— Isso não é viver, isso é existir. Você existe, isso é fato, mas não vive.
— Me explique a diferença.
— Existir é apenas ser consciente. Viver é ser protagonista.
A expressão de Danusa mudou, o ar de bom humor desapareceu e o rosto ficou frio.
— Não faça esses joguinhos comigo.
— Que joguinhos? — Jeová ergueu a mão oferecendo um picole de chocolate que ele havia materializado do nada.
— Tentar me manipular usando meus sentimentos. — Danusa aceitou o sorvete.
— Sabe, eu menti quando disse que estava curioso, eu na verdade sei o motivo de você nunca ter revelado a seus amigos que eu tenho feito visitas.
— Então diga o motivo, eu mesma não sei.
— Porque eu falo com você, nós temos longas conversas de assuntos variados.
— É esse o grande motivo? — Danusa desdenhou.
— Sim, quem mais conversa com você? Quem fala com você mais de duas frases? Quem é para e tem um diálogo com você cuja a intenção não seja pedir algo?
— Ninguém. — Danusa deu de ombros — Ninguém incluindo você. Até hoje está me adulando mas é óbvio que quer me usar.
— Ah não seja chata, eu sou um doce coco, não vê como sou uma gracinha? Se me distratar eu vou chorar.
— Essa eu queria ver, depois disso eu seria famosa e atenderia pelo nome de "A mulher que fez Jeová chorar".
— Deixe disso. E eu não quero lhe usar, quero lhe contratar.
— Para quê?
— Não hoje, ainda não é hora de falar disso. Vamos lá, vamos jogar conversa fora.
— Ok. O que quer falar?
— Gosta de fofocas? Eu tenho uma.
— Conte.
— Sua mãe não aprendeu nada a velha Ubabaya.
— Não? Impossível, até a aura dela está diferente.
— Eu não disse que sua mãe não está mais poderosa, eu disse que ela não aprendeu. Sua mãe, com a ajuda do demônio, matou a velha, abriu o corpo e comeu o cérebro e o coração. Antes que faça piadas eu já aviso, não é brincadeira.
III
Era quatro e pouco da tarde, Danusa havia feito aquela farofa de peito de frango que a mãe tanto gostava. Karen comeu até não poder mais e após saber de tudo o que tinha acontecido durante sua ausência ela precisou descansar um pouco.
A luz do sol entrava rosada no quarto ao atravessar a cortina vermelha. Karen tentou dormir, mas agora era difícil, toda vez que estava quase caindo no sono vinha aquela sensação de dedos ásperos tocando seu braço, o som chiado de respiração pesada, o cheiro de alfazema.
— Você não vai me deixar em paz? Heim velha, diga o que quer? — ela abriu os olhos raivosa.
Lá ao lado da janela, atras da fina cortina vermelha estava ela, corcunda e suja de sangue.
— Eu te deixar em paz? É você que me prendeu aqui. Acha que eu queria estar aqui? Presa a seu calcanhar como uma sombra? Você me devorou achando que era um caminho mais facil? Tola.
Karen sentou na cama, o cansaço era tanto que sua coluna se envergava,
— Eu sinto uma imensurável quantidade de poder dentro de mim agora, e isso me deixa confusa, velha se você era tão poderosa...
— Quer saber como eu fui tão facilmente derrotada?
— Sim.
— Senilidade.
— Quer dizer que sua velhice te enfraqueceu?
— Eu vivi mais de mil anos, me diga, é normal uma mulher viver isto? Eu estava cheia de poder mas ao mesmo tempo minha natureza humana era apenas um fiapo, meu corpo era sustentado por magia pois naturalmente teria morrido muito antes. Eu descobri os segredos do universo, mas um deles é que causou minha inevitável ruina.
— Qual segredo?
— Você não pode mudar quem é. Eu era uma mulher, mesmo tendo acesso a muita magia eu ainda era uma mulher, e as mulheres são humanas, e os humanos nascem para morrer. Se você evita o fim natural o destino providência um fim trágico.
— Se era seu destino morrer, porque não me deixa em paz? Vá para a roda das encarnações, lá você há de iniciar uma nova vida.
— Devolva meu coração e meu cérebro, enterre, assim eu terei paz.
— Sabe que eu não posso fazer isso.
— Então estaremos com os tornozelos amarrados para sempre.
— Não tenho medo de você Ubabaya Padmavathi.
— Não tem que me temer, eu não posso ferir você, mas deve temer outras coisas.
— O quê? Ir para o inferno? Salvar meu filho?
— Eu não posso ferir você, mas posso te tirar do eixo.
— Eu nunca tive um eixo. Agora me deixe em paz, tenho de descansar, vou salvar meu filho em dois dias.
— Isso será muito difícil, mas mesmo se obtiver sucesso... o que virá depois?
— Seja o que for eu enfrento.
— Eu vou assistir sua desgraça, estarei aqui aplaudindo quando você cair
— ME DEIXE EM PAZ! — Karen berrou e a figura mórbida desapareceu do quarto.
IV
Lucifer ficou sozinho sentado na sala do trono completamente paralisado.
Tifani guiou Tiago de volta para o quarto, o rapaz foi cambaleante por não saber andar com duas asas pesadas coladas as omoplatas, Drusila e Samael tentaram falar algo, sairam e voltaram mas Lucifer não disse coisa alguma. Dois robovi vieram com baldes e esfregões e limparam o sangue seco diante do trono de pedra, perguntaram ao imperador se podiam ajudar em algo mas ele nada respondeu.
Lucifer ficou lá parado por dois dias na mesma posição, inclinado com as mãos cruzadas sob o queixo ele parecia uma estátua, Drusila voltou sozinha e tentou falar algumas vezes, até Tiago veio sendo apoiado por Tifani enquanto arrastava as asas novas mas nada fez o imperador se mover, ele fitava o chão sem nem mesmo piscar os olhos.
"O que eu me tornei? Um imperador que é esbofeteado em público? O que eu me tornei? Qual é o meu papel aqui?"
Os pensamentos fervilhavam, as vezes seu único movimento era franzir a testa ou fechar as mãos com força por un instante, mas continuava lá.
"Era uma vez um anjo que tinha asas negras e uma coroa de... esmeralda"
"Oh que patético, profundamente patetico."
"Era uma vez um anjo que fundou um Império mas que na verdade não compreendia absolutamente nada sobre nada e fez tudo isso no piloto automático."
É, essa parece mais verdadeira.
Dois dias, o tempo correu como se fosse agua em um rio, simplesmente passou, simplesmente foi embora cada vez mais rápido. Lucifer não sentiu o tempo passar no denso de seus pensamentos era como se estivesse dormindo, sonhando acordado.
Naquele momento ele estava cheio de ódio por si mesmo, ódio por estar tão extraordinariamente frágil. Os Anjos tem um finalidade, eles existem para orbitar um único objetivo, uma única tarefa, já os humanos em sua maioria nascem sem absolutamente nenhum propósito e falham sendo assim um desperdício total de energia e tempo. Lucifer travou mil batalhas, organizou hierarquias, dominou raças, escravizou almas, mas ali sentado naquele trono duro ele não tinha nada alem da dúvida, parecia um homem e não o mais famoso dos anjos.
"Para quê? Porquê? Eu fiz tudo isto por milênios e agora percebo que se nunca houvesse feito nada... daria no mesmo. Eu tenho minha coroa de metal, minha armadura de obsidiana, um trono imponente, uma torre extraordinariamente alta e um país a qual posso manipular como bem quiser, mas... e daí? Do que isso me valhe?"
— Você está com inveja.
Lucifer ergueu os olhos assustado, a voz era avelulada e firme, ali alguns metros a diante estava uma mulher negra, não negra como africanos mas sim negra como se fosse feita de carvão, seus traços não eram humanos, os lábios vermelhos e o contorno dos olhos dourados, um nariz fino e orelhas pontudas, o cabelo negro caia pesado, liso como uma cortina até a cintura, usava um vestido cor de areia até os pés com duas fendas até a altura do meio das coxas.
— Nabucodonosor... — Ele se admirou ao ver a quarta arquiduquesa do Inferno.
— Sim imperador, eu mesma, Merodake Nabucodonosor. — ela fez uma vênia — Porque esse ar de espanto?
— Bem... eu não a vejo a mais de setecentos anos, você nunca atende as convocações e...
— E nem mesmo quando ordenou que eu fosse presa pelo crime de desobediência eu pude ser encontrada? Imperador... eu sou uma pessoa muito ocupada, não iria dar as caras sem um bom motivo.
— Eu imagino. Então o que quer? E aliás, porque disse que eu estava com inveja? Inveja do que? De você? — Lucifer ergueu as sobrancelhas em desafio.
Nabucodonosor se aproximou, subiu o degrau, saltou a mancha de sangue que os robovi não conseguiram remover, sentou no trono branco e cruzou as pernas altiva.
— Você não pode sentar ai, é o lugar da...
— Da Imperatriz? Seu tolo. e claro que não quis dizer referente a mim, eu me referia a Smeralda, você está morrendo de inveja dela.
— Tolo? Como ousa me desrespeitar?
— Um imperador que apanha na frente de sua corte merece respeito? E eu não seria louca de vir aqui usando esse tom se não fosse lícito, afinal você não será imperador por muito mais tempo.
Lucifer saiu da posição, girou o tronco e a encarou.
— Está usando sua visão do futuro? Me viu destronado? Quem pretende roubar minha coroa?
— Sim eu o vi destronado, mas ninguém virá roubar sua coroa, você mesmo muito em breve terá de decidir se quer continuar sentado nesta cadeira feia ou se vai trilhar um novo caminho. Use essa inveja que está sentindo como guia para tomar a decisão certa.
— Inveja... do que eu teria Inveja? O que Smeralda tem que eu queira?
— Ela é livre.
— Livre? Ela está presa dentro do corpo de um homem, eu é que sou livre, eu posso fazer o que quiser!
— Pode mesmo?
— Óbvio que sim!
— Então eu conto com isso. — Ele piscou e Nabucodonosor desapareceu.
V
Em uma ampla sala de estar decorada com tema rococó em tons de azul Royal eles sentaram em poltronas forradas de camurça negra, um robovi alto e magricela em pé ao lado da cristaleira rapidamente a abriu e apanhou dois cálices nos quais serviu licor para o casal.
— Em nome de tudo que é de mais sagrado, em nome dos cílios de Sé! Eu nunca imaginei que veria Lucifer levar um safanão como um cão! — Samael debochou com os lábios vermelhos pela bebida. — E o pior é que ele nem sequer reagiu! Ai eu estou nas nuvens!
— Eu não me surpreendi, ele já não é mais o mesmo faz tempo. — Drusila apontou para a estátua de marmore na parade do fundo onde Lucider era representado portando um chicote de modo ameaçador — Aquele ali ja não existe, o que temos agora é um garotinho fútil no trono.
— Acha que Smeralda vai voltar e assumir o Império? — Samael se inclinou para frente.
— Ela vai voltar sim e assumirá um Império, mas não este.
Os dois viraram a cabeças para encarar Nabucodonosor sentada sobre a mesinha de centro.
— Na-Nabucodonosor?! Não acredito! — Drusila abriu um largo sorriso.
— Nabu, quanto tempo, eu não te vejo faz mais de mil anos.
— Nunca é tarde para matar as saudades da velha Nabu. — Nabucodonosor sorriu para eles.
— Para você aparecer é sinal que algo muito importante vai acontecer, diga lá, o que é? — Drusila se ouriçou.
— É tempo de encerrar em ciclo e iniciar outro.
— Ora não faça rodeios Nabu, eu nunca entendo essas parábolas. — Samael pediu.
— Direto ao ponto? Tudo bem. Eu quero pedir algo a vocês, quero que vão embora dessa torre imediatamente e avisem a todos os demais arquiduques para não atenderem nenhuma convocação.
— Convocação? Se refere a guerra? Quer que nós... — Drusila falou.
— Quer nossa omissão em uma guerra? — Samael paracia espantado.
— Sim.
— E com que proposito? Isso seria alta traição, é um crime imperdoável!
— Eu não costumo ser clara sobre o que digo mas dessa vez vejo que terei que ser. Hoje Lucifer abdicará.
— O que? — Drusila e Samael responderam em uníssono.
— Como Assim? Porque? — Drusila perguntou.
— Nao há tempo, apenas entendam que quando o alarme soar, e ele vai soar, se os vinte e um exercitos comparecerem Lucifer provavelmente não abdicará, mas se ele estiver sozinho sim.
— Se ele realmente sair... o decreto de que um dos vinte e um arquiduques se torna novo imperador tera de ser cumprido. — Samael agarrou os braços da poltrona excitado.
— Sim, mas só se forem agora. — Nabucodonosor falou.
— Você tem certeza Nabu? Certeza absoluta? — Drusila falou temerosa.
— Eu mesma vi, claro como a água.
— Então faremos isso, Lucifer hoje está só. — Samael deu um murro no braço da poltrona.
VI
Tiago fechou os olhos, cerrou os punhos, apertou os lábios e fez força.
— Eu já falei que isso não vai dar certo, você vai é desencadear uma crise de hemorroidas. — Tifani riu sentada de pernas cruzadas sobre a cama — para esconder as asas é só pensar que elas estão desvanecendo, elas então vão ficar invisíveis e transpassaveis.
— Falar essas palavras bonitas não adianta Tifani, eu já tentei e não deu certo.
— Você vai conseguir, tente de novo.
Ele fez uma careta como de quem está para parir um filho mas as asas continuaram lá.
— Uma hora vai dar certo, você so tem que continuar tentan...
A porta do quarto do foi aberta com estrondo, Lucifer olhou para para os dois e então abriu e fechou a boca algumas vezes como quem quer dizer algo mas no fim não disse nada.
— Tifani eu... — Tiago começou.
— Já entendi, vou esperar lá fora. Tem algum lugar onde eu possa descansar um pouco?
— Meu quarto. — Lucifer de cabeça baixa apontou para o fim do corredor.
— Hum... ta bom. — Tifani ergueu as sobrancelhas — Mas está tudo bem aqui?
— Se você está vendo com seus malditos olhos que eu não estou bem então porque pergunta?
— Nossa... que grosseria!
— Tifani por favor releve. — Tiago interveio — Lucio ela pode ficar no seu quarto por algum tempo? Sei que não tem nenhum outro cômodo neste andar que esteja habitável.
— Pode.
Lucifer se afastou e Tifani saiu andando meio torta como quem está meio que perdida. Ele entrou e fechou a porta, olhou para Tiago e então segurou a maçaneta novamente.
— Vai sair de novo?
— Eu não sei, na verdade não tenho para onde ir.
— Mas toda a Torre é sua, você pode ir onde quiser.
— Então me diga qual é o lugar que eu devo ocupar agora.
— Eu não sei qual é o lugar que você deve estar mas se for do seu agrado eu queria que ficasse aqui comigo. Lucio... Tifani me contou como foi seu encontro com Smeralda, e Você ficou todo aquele tempo na sala do trono sozinho... você está bem?
Lucifer soltou a maçaneta e respirou fundo.
— Eu estou bem, estou ótimo.
— Nao parece.
— Então vire o rosto! Não sabe que e crime encarar um imperador quando ele está em uma situação constrangedora?! — Ele berrou.
Tiago suspirou e falou com calma.
— Lucio eu não sou um de seus súditos, não lhe devo nenhuma reverência, não vou virar o rosto coisa alguma. Nao vou ficar bravo com esse rompante, agora invés de gritar comigo você pode me ajudar?
— Ajudar? Em que?
— A esconder as minhas asas? Ainda não sei como se faz isso.
Lucifer se aproximou e encostou os lábios na testa de Tiago, então as asas imediatamente evaporaram.
— Simples assim? Tifani não soube me explicar.
— Tifarael não te conhece como eu. Aliás que idiotice, eu também não te conheço.
— Me conhece sim, pelo menos um pouco. Sabe qual é o seu problema?
— Preciso beber.
— Não precisa, o problema é que vocês anjos não choram.
— E chorar ajuda em quê?
— O choro alivia a pressão. Eu posso te ensinar se quiser.
— Não sei se quero aprender isso.
— Apenas tente, vem comigo.
Ele segurou Lucifer pela mão e o guiou até o banheiro, abriu a torneira de água quente e a banheira começou a encher, desabotoou a camisa do demônio e o ajudou a tirar as calças, as botas e as meias, por fim retirou a cueca de Lucifer e com delicadeza o empurrou para dentro da água, tirou as próprias roupas e entrou também, sentaram um de frente para o outro.
— Para chorar é necessário uma banheira?
— Não, mas um dos poderes da água é conduzir energia, e ela pode ajudar se é sua primeira vez. — Tiago se aproximou e abraçou Lucifer, passando o queixo levemente no ombro dele, envolvendo as costas largas daquele ser enorme com os braços.
— Porque está fazendo isso? Sabe o quanto isso me machuca?
— O que te machuca? Meu queixo áspero pela barba nascendo?
— Não, me machuca é você fingir que me ama, esse gesto cheio de amor, você não me ama então porque faz isso?
— Eu nunca disse que te amo mas também nunca disse que não. Se te abraço agora é porque sinto tristeza em você. Quer conversar a respeito?
— Conversar? Sobre o que?
— Me diga o que existe no seu coração.
— Quer que eu fale dos meus sentimentos? — Lucifer apoiou a testa no ombro do outro.
— Sim.
— Acho que nunca fiz isso.
— Agora é a hora, me conte.
A água começou a transbordar da banheira, o silêncio durou pouco tempo, Lucifer não tinha costume de falar destes assuntos pessoais mas queria prolongar aquele momento.
— Por onde começo? — Ele perguntou.
— Comece do começo, fale... Porque você abandonou Jeová? Como isso aconteceu? E eu não quero que me conte uma história engessada como a do livro do Genesis e sim algo sob o seu ponto de vista, quero saber os seus motivos.
— Eu... Eu era um escravo de Jeová, era um guerreiro, guarda de alcova, bobo da corte, minha existência era a servidão. Eu só queria ser livre, sair por ai e viver, apenas viver.
— E onde Smeralda entra nisso?
— Ela era mais forte que eu, mais forte que Miguel. Principalmente ela era mais corajosa que todos nós. Sem a coragem dela eu jamais teria me libertado.
— Você a usou de muleta? É isso?
— Não, eu... eu a amava. Ela me protegia, me incentivava, acreditava em mim. Sempre que eu precisava ela estava lá. Quando Jeová ordenou a minha captura ela sozinha rompeu o véu entre os mundos para me proteger, nós caímos na terra, ela caiu primeiro e se feriu.
— Você era então grato a ela.
— Eu ainda sou.
— E como se tornou imperador? Porque?
— Eu... Ah eu não quero falar disso.
— Fale sim, foi uma vontade de ser poderoso? De ser igual a Jeová?
— Não, eu nunca quis isso.
— Então o que foi?
— É... Sem Smeralda para me proteger, me dar suporte, eu tive medo de ser capturado, escravizado novamente, ser morto. Eu me cerquei de um exército que pudesse governar para assim estar seguro, por isso vim para cá, essa terra não é dominada por deus nenhum, aqui eu estava a salvo.
— Todo esse Império foi construído por medo?
— Toda a minha existência é movida por medo. Para dizer a verdade eu não queria ter sido criado, e agora não consigo aceitar morrer. Eu só não quero mais me sentir sozinho, isolado. Todos dizem que o Diabo é um desgraçado mas eu não quero ser, quero ser feliz.
— Você não precisa se sentir sozinho, eu estou aqui. — Tiago beijou o ombro de Lucifer.
— Por quanto tempo? Eu sei que Smeralda vai acabar por te destruir e dominar o seu corpo.
— Talvez ela faça isso mesmo, mas até lá vamos ficar juntos, podemos vivenciar alguma felicidade até que isso aconteça.
— Eu não quero que você morra. — Lucifer enterrou o rosto no pescoço de Tiago.
— E eu não quero morrer.
Tiago sentiu o ombro ficar quente e úmido, então Lucifer ergueu o rosto e lá estavam lágrimas douradas rolando pelas bochechas. Tiago sorriu e quis dizer algo, quis continuar a conversa mas então...
FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOON!
Lucifer ficou imediatamente em pé.
— O que é é isso? Tiago perguntou?
FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOON!
— As trompas, elas soam quando tem guerra.
— Guerra? Como assim?
FOOOOOOOOOOOOOOOOOOOON!
— Três sopros! Estamos sendo atacados!
— Atacados? Por quem? Como assim? — Tiago ficou aflito.
Lucifer saltou da banheira e apanhou uma toalha sobre a pia, enrolou na cintura e saiu do banhero rumo ao corredor, Tiago seguiu o exemplo e o seguiu, entraram juntos no quarto de Lucifer, Tifani estava em pé olhando para uma das janelas.
— É o que penso que é?
— Sim é. — Ela apontou para a janela — Tem uma legião inteira de anjos entrando através de um portal aberto no céu.
A porta se abriu a uma mulher miúda em um vestido vermelho curto entrou.
— Imperador, perdoe os modos mas é um código preto.
— Eu sei Molin, estou vendo o portal no céu.
— Não senhor, invasões externas são código vermelho, eu disse código preto.
— Preto? Então invadiram a torre? Invasores internos?
— Exato.
— Quem são?
— Ferrabraz, Ahavael, o Dragão do Vento, uma bruxa e uma nefilin.
— Minha família, é a minha família! — Tiago gritou.
— Uma invasão dupla? — Lucifer mordeu o lábio inferior.
— Merda, é ele, é ele na forma de batalha! — Tifani apontou para a janela.
Tiago e Lucifer se aproximaram do vidro a tempo de ver se aproximando o um gigante que voava com imensos três pares de asas brancas, tinha os olhos como faróis, um escudo no braço esquerdo e uma lança dourada na mão direita, em torto deles os anjos voavam como libélulas.
— É Jeová na forma orginal! Ele nunca entrou aqui para guerrear, eu não compreendo o que está acontecendo! — Lucifer apoiou aos mãos no vidro.
— Ele veio por minha causa. — Tiago falou cheio de certeza.
Muito babado.. pser :-|
ResponderExcluirA cada capítulo o conto fica mais intrigante.
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