A Pedra da Baleia

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Yemoja um dia foi uma mulher,
Uma rainha, uma soberana,
Mas ali naquela época já não tinha
Mais a carne e o osso,
Era agora era Orixá.
Certa vez estava lá em uma
Daquelas aldeias Egba,
Aldeias essas fundadas por seus filhos
As margens do rio Ogun,
O povo daquela aldeia estava em festa
E celebravam a Yemoja,
Era dia dela, festival da mãe,
As mulheres iam dançando com
Potes cheios de água sobre as cabeças
E todos cantavam alegres
"Kini je kini je olodo? Yemoja o!"
E Yemoja ali no meio
Invisível aos olhos humanos
Mas observando e se alegrando com tudo.
Mas então um gritaria interrompeu
E a celebração parou quando
Homens desconhecidos apareceram
Saindo da floresta,
Eles vinham por todos os lados
Com cordas e correntes nas mãos,
Com violência agarraram as pessoas da aldeia,
Quem resistia era passado na espada
E morto ali mesmo.
Um a um as pessoas foram capturadas e
Uma fila grande se formou,
Eram mais de cinquenta,
O povo amarrado um ao outro
E o primeiro da fila atado a um carro de boi.
Os malfeitores riam
Liderados por um homem de pele Branca,
Uma cor de pele antes jamais vista
Mas que a partir daquele momento
Para todo o povo escuro significava desgraça.
A fila andou, foi arrastada,
O povo da aldeia ia sendo chicoteado
Se não andasse rapido,
Sem direito a nada,
Nem a descanso e muito menos
A falar qualquer coisa.
Yemoja olhava tudo espantada,
O que estava acontecendo?
O seu povo ja sabia o que era
E choravam baixinho
Enquanto eram levados por quilometros
Até chegar na cidade de Ouidah.
Lá eles foram forçados a dar voltas
Em torno de uma árvore,
Uma tal "árvore do esquecimento"
Enquanto os desgraçados diziam
Que cada volta era ritual para esquecer
Quem um dia foram,
Que dali por diante eles seria "eru", escravos.
Então a fila foi levada a pisar na areia da praia
Onde estavam muito mais filas com
Muito mais gente acorrentada.
No horizonte eles viram muitos navios
E os botes na areia eram para leva-los para lá.
Mas lá onde?
A gritaria começou
Ninguem queria entrar nos botes,
Eles sabiam que se entrassem
Iriam para uma viagem só de ida.
Mesmo sem querer foram forçados
Obrigados a embarcar
E iam as centenas.

Yemoja estava na praia também
Junto com todos os Orixás
Que observavam tudo horrizados.
Oxalá, o mais velho estava ali ao seu lado
E contando com a sabedoria dele
Ela perguntou

🐳 — O que meus filhos fizeram, qual o crime deles para receber está punição?
🐚 — Não fizeram nada, ninguém nesta praia fez nada para merecer isso.
🐳 — Então porque nós não impedimos? Porque não afundamos esses barcos? Porque Xango não atinge os malditos com raios? Onde está Ogun? Ele pode invocar seus guerreiros para defender nosso povo! Onde está a inteligência de Oxum para apontar uma saída?
🐚 — Nós não podemos fazer nada. Somos Orixás, nosso papel é acompanhar a humanidade e não interferir no caminho deles. Todos tem livre arbítrio, inclusive os perversos. Nós não podemos impedir que a humanidade siga seu proprio rumo, se estes homens decidiram fazer o mal eles farão, no momento certo irão colher o que plantaram, mas até lá não podemos fazer nada além de observar.

Então os Orixás ficaram lá
Olhando os navios zarparem
Abarrotados de pessoas
Que gritavam pelos nomes deles
Que implorava pelo socorro deles,
Pessoas que dali por diante
Não teriam mais nome
Nem família
Nem terra,
Seriam conhecidos apenas por "escravos".

Mas Yemoja não estava disposta
A deixar sua gente ir, se eles iam
Então ela queria ir junto.
Ela correu até o topo de um rochedo
E se lançou nas águas do mar,
E ali no fundo das águas salgadas
Ela tomou a forma de uma baleia.
Foram dias nadando atrás dos navios
Dias sem descanso até chegar
Em uma outra terra, no novo mundo.
O navio que ia sua gente
Adentrou um canal, foi para um rio,
O rio Paraguaçu.
Yemoja com seu corpo de baleia
Nadou pelas águas do rio
Até chegar onde hoje é
O município de Cachoeira na Bahia
E ali no meio do rio
Ela transformou o corpo de baleia
Em uma grande pedra
E seguiu em forma de espírito
Seus filhos nessa nossa terra.
Foi assim que Yemoja veio para o Brasil,
Todos os Orixás seguiram o exemplo dela
E vieram também, cada um a sua maneira.
Mas foi Yemoja a primeira que cruzar o oceano.
Até os dias de hoje no meio no rio Paraguaçu
Está a pedra da baleia,
Até construíram um farol em cima,
O povo antigo da Cachoeira até hoje
Faz nessa pedra a oferenda final da festa de Yemoja
Celebrando assim aquela mesma festa
Que um dia nas terras Egba foi interrompida.



Yemoja não abandona seus filhos jamais,
Nem a largura do oceano foi suficiente
Para manter a mãe longe de sua gente.
O povo antigo do candomblé daquela região
Conta sempre a história de sua mãe
Que virou pedra e que lá está
No meio das águas do rio.

Odoya! Omi o!

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Mito Afro-brasileiro, dramatização: Felipe Caprini
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Espero que tenham gostado!

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Muito obrigado!

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