Lucifer Smeraldina Cap. 9



Lucifer Smeraldina 

Capítulo 9
"Sonhos e Lembranças"


Tudo era meio borrado, era como se a visão estivesse desfocada, como enxergar através de um óculos com lentes engorduradas. No meio dos borrões a cena se formou, desfocada mas ainda assim compreensível, era aquele mesmo quarto mas com a mobília diferente, algo de nórdico, a com cama de dossel tinha a cabeceiras com desenhos de ramos entrelaçados esculpidos na madeira, chapas de metal polido servindo de espelho presos as paredes com runas nas molduras, Tiago puxou a resposta  na mente, aquilo era o passado, os humanos ainda viviam em cavernas então aquela mobília suntuosa não havia sido feita por homens, o estilo era inconfundível, trabalho do povo das árvores, os que tem orelhas pontudas... Tiago tentou buscar o nome daquela raça que ele tinha certeza conhecer, olhou para um dos espelhos e viu o próprio reflexo mas algo estava diferente, Tiago se aproximou da chapa de metal para ter certeza e sim, seus olhos castanhos haviam desaparecido, agora estavam verdes e reluzentes. O som de Passos e de algo arrastando no chão veio do corredor e logo Lucifer entrou no quarto, vestia camisa de algodão cru e calças Justas de lã, botas negras até o joelho e o cabelo escuro trançado como de um nórdico.
— Smeralda eu ainda não acabei. — ele pareceu zangado.
— Tanto faz, já disse que não quero mais falar disto. — Tiago falou mas a voz que saiu de sua boca era suave, o reconhecivel tom feminino.
— Por Sé Smeralda! Acha que fiz isso tudo atoa? Construí isto tudo por nada?
— Eu disse que não quero falar disso, mas para que entenda bem eu vou frisar que também não quero ouvir.
—Não seja infantil!
— Eu nunca fui criança para ser infantil, você está se misturando muito com essas espécies orgânicas, elas sim tem fases infantis, nós Krilen não.
— Não fuja do assunto! Eu fiz está torre para nós dois Smeralda! A nossa vida vai ser boa aqui!
— Aqui? Nesse lugar que Miguel insiste em chamar de Inferno? Isso era para ser um refúgio temporário, um lugar seguro para quando Jeová descobrir o que estamos fazendo. Nós vamos ser expulsos do Céu e de Nibiru e então poderíamos viver aqui até que eu tenha força para a segunda onda.
— Segunda onda? Smeralda! Ele não é omnisciente como falam mas também não é bobo, ele com certeza vai descobrir logo que pretendemos nos rebelar e então o mais certo e vir para cá imediatamente e ter paz! Podemos viver para sempre aqui, juntos! Nenhum dos doze Deuses superiores comanda esta terra, estaremos seguros, vamos ter paz.
— Eu não quero paz! Não quero fugir para esse buraco, eu vou atrás do que sei que posso conseguir!
— Você está louca, é poderosa sim mas não o suficiente para isso, acho que a fama subiu a sua cabeça.
— Não, não fale como se eu estivesse iludida, este é o meu destino.
— Não é, seu destino é ficar comigo aqui!
— Vai insistir nisso? É por medo de ir a luta?
— Claro que tenho medo, seria tolo se não temesse.
— Covarde. Você me decepciona Lucio, nunca pensei que se acovardaria desse modo.
— Eu não sou covarde, sou realista! Aqui vamos viver mas se você acha que vou topar entrar em uma guerra suicida a reposta é NÃO! Dou valor a minha vida.
— Fala como se eu o estivesse empurrando para a morte.
— E você está Smeralda! Está!
— Lucio... Lucio se essa é sua palavra final nossa pareceria acaba agora.
— O que? Vai jogar fora o nosso amor por uma ambição tola? Milhares anos de união vão acabar por causa de um... um devaneio?!
— Se é assim que você vê os meus objetivos é sinal que realmente não dará certo. Nasci para galgar níveis superiores e vou alcançar isso com ou sem você.
— Você está fora de si.
— Pelo contrário, eu estou plena. Meus leques estão afiados, a batalha será em breve.
— Smeralda pare com isso! Pare Já! — Lucifer gritou e segurou Tiago firmemente pelos ombros.
A reação foi imediata, Tiago girou com extrema agilidade e de repente um leque surgiu em sua mão, um segundo depois Lucifer foi arremessado para trás e caiu no chão com sangue dourado escorrendo do grande ferimento em seu pescoço.
— Você me atacou... me atacou... — Ele pronunciou incrédulo.
— Acho que anda acompanhando demais os humanos. Eles é que batem e escravizam suas fêmeas, mas por mais que seja tambem mulher, eu não sou humana. Toque em mim desta forma novamente e eu lhe faço a promessa, eu mesma tiro a sua vida.

Lucifer se levantou rapidamente foi até a porta e quando saiu do quarto a bateu com tanta força que uma rachadura se formou na parede.

Ao som da porta batendo Tiago abriu os olhos, havia cochilado no ofurô mas agora desperto sentia que a água estava gelada, era hora de sair do banho. O sonho foi tão vívido que ele tinha certeza que havia sido real, saiu do ofurô e percebeu que não havia nenhuma toalha de banho, Drusila separou as roupas sobre a mesa mas nada para se secar, então Tiago simplesmente se aproximou da lareira e ficou em pé diante das chamas sentindo a umidade de seu corpo nu desaparecer com o calor.
A porta abriu, ele virou o rosto para ver quem era e lá estava Lucifer  segurando uma toalha felpuda dobrada, o olhos dos dois se encontraram e Tiago sussurrou:
— Lucio...
Lucifer pareceu assustado mas logo um sorriso se formou em seus lábios.
— Sim, só para você.
— Como? — Tiago se aprumou.
— Você me chamou de Lucio, a única pessoa no universo que me chamava assim era Smeralda.
— Me desculpe.
— Pelo quê?
— machuquei seu pescoço... Quer dizer, ela machucou.
Lucifer levou a mão livre até o pescoço e trilhou com a ponta dos dedos o local do ferimento, não havia cicatriz aparente mas ele parecia se lembrar muito bem.
— As suas memórias estão voltando mais rápido do que o esperado.
— Eu acho que sim. Antes eu sonhava com Isabella, a última encarnação antes de mim, agora eu sonho com as coisas através dos olhos de Smeralda.
— Nunca nenhuma das encarnações anteriores teve acesso a lembranças assim.
— Acho que sou especial então.
— Sabe... acho que você estava certo.
— Sobre o que? — Tiago ergueu as sobrancelhas.
— Quando disse que apesar de ter a alma dela você na verdade é outra pessoa. Ela jamais pediu desculpas por nada em todos os milênios que vivemos juntos. O que será que aconteceu para que tenha nascido diferente assim? Pelo que sei nenhuma das encarnações anteriores dela era diferente ou tinha outra personalidade.
— Tenho uma boa mãe, fui bem educado, isso já é uma grande diferença eu acho.
— Pode ser... agora pegue a toalha, você vai ficar doente assim... sem roupas.

Tiago olhou para baixo e só ali se lembrou que estava nu, pegou a toalha da mão de Lucifer e enrolou na cintura, mas seu rosto e orelhas já estavam muito vermelhos.
— Eu esqueci que estava assim, me desculpe.
— Tudo bem, não tem nenhum problema. Mas eu gostaria de fazer um pedido.
— Certo.
— Eu gosto de trabalhar naquela mesa, tenho outra na biblioteca mas é desconfortável. Você se incomoda se eu ficar aqui? Eu trabalho em silêncio, você poderá dormir.
— Tudo bem. Mas onde você vai dormir?
— Eu não preciso dormir. As vezes fecho os olhos e fico parado descansando, mas não é dormir, anjos nunca perdem a consciência, só seres humanos e outros animais dormem. Você dorme na minha cama e eu fico sentado a mesa trabalhando, certo?
— Certo.

Lucifer saiu do quarto e voltou para a biblioteca para encontrar uma Drusila cheia de expectativa.
— E aí? Ele aceitou a toalha?
— Teve se aceitar... ele estava nu quando entrei.
— Nu fora da água?
— Sim, em pé em frente a lareira, quando entrei ele nem se cobriu, parecia anestesiado. Me chamou de Lucio, a forma que Smeralda me chamava. Ele também teve uma lembrança sobre um desentendimento que eu e ela tivemos no passado e... me pediu desculpas.
— Então o primero passo está dado.
— Mas a mudança de atitude foi repentina demais, antes ele tinha horror em falar comigo e agora foi até simpático e desinibido.
— Então me dê os parabéns.
— Ah... tem dedo seu nisto não é? O que você fez?
— No banho que ele tomou havia mais do água meu senhor. Eu não poderia descaradamente lançar um feitiço em cima do garoto, por ter a alma de Smeralda ele perceberia, mas se eu fizer isso em pequenas doses ele cairá como um patinho. Eu conheço muitas poções que amolecem até o mais duro dos corações.
— Pois então continue.

II
Júlio escancarou a porta e se colocou ao lado de Danusa bloqueando a entrada.
— O que quer aqui? Já não conseguiram o que queriam? 
— Olha não precisa ficar todo emplumado, eu vim para conversar, é melhor que me ouçam. — Murilo falou.
— E porque acha que estamos interessados?
— Cara não seja assim, escute, não tem nada a perder.
— Você não é um demonio, não tem o cheiro, então que desgraça é você?

Murilo ficou NA ponta dos pés, ergueu o braço e tocou o topo da cabeça de Júlio, como reação imediata Júlio caiu para trás batendo o corpo contra o de Danusa que o amparou.
— O que fez com ele? — Danusa berrou furiosa.
— Ele não me fez nada... — Júlio voltou a ficar em pé sozinho — Ele é um Zmej... Quando me tocou eu vi, vi quem ele realmente é, eu... Caramba agora eu fiquei confuso.
— Zmej? Tipo um dos dragões do princípio do mundo? — Karen disse.
Murilo virou o pescoço e olhou para trás, Karen estava a alguns passos com uma cesta cheia de ervas colhidas na floresta.
— Sim, eu sou. Agora se puderem me ouvir eu preciso falar com vocês, com os três.

Julio se afastou dando passagem para Murilo que entrou e se sentou no sofá de dois lugares na sala e indicou o sofá maior para que os três se sentassem diante dele.
— Como um Zmej está aqui? Você estava do lado de Lucifer e pelo que sei vocês não tomam partido das disputas alheias, aliás voces são os aarquitetos do universo e não se envolvem em absolutamente nada. — Júlio falou enquanto se sentava.
— Eu sou o único Zmej a ter criado forma humana, esta nem sequer é a primeira vez que faço isso. Sobre nós Zmej sermos isentos de tudo, os outros oito ainda são, já eu decidi me meter nas loucuras destes mundos. Sobre eu ter ajudado Lucifer, ajudei sim mas ao mesmo tempo não. Para entender eu preciso que me deixem contar uma história, e é uma história longa.
— Ah eu adoro historias... — Karen falou sonhadora.
— Excelente, mas eu prefiro não contar com palavras, eu gostaria de dar a vocês a chance de serem expectadores de alguns acontecimentos do passado.
— Vai revelar suas memórias? — Júlio perguntou.
— Exatamente. Se vocês simplesmente fecharem os olhos e respirarem fundo irão ver o que tenho para mostrar.
— Mas como sabemos se você é de confiança? — Danusa perguntou.
— Danusa ele é um Dragão, os Dragões são os detentores de todo o poder bruto da natureza. Se ele quisesse nos matar nós já estaríamos mortos. — Karen explicou.
— De fato. — Júlio Respondeu.
— Desconfiança é normal, mas é como dizem, eu sou o Dragão do vento, eu criei os gases incluindo o oxigênio, se eu quisesse matar você apenas precisaria pensar em evacuar o oxigênio desta região e você morreria por falta de oxigenação no cérebro.
— Ah... Ok. — Danusa se descansou as costas no encosto do sofá.
— Agora fechem os olhos e relaxem.

Os três fecharam os olhos, Murilo passou as mãos pelos cabelos e as jogou para frente como se estivesse lançando algo no ar, uma brisa tocou a pele dos três que receberam as memórias a começaram a assistir cenas completas ocorridas milênios atrás.

III
Era uma vasta faixa de areia Branca, uma Praia. O gigantesco Dragão branco Uragan planava baixo, sua barriga escamosa quase tocando o alto das palmeiras que se erguiam logo que a floresta começava, ele observava uma pequena tribo humana, eram cerca de vinte pessoas sentadas na areia em torno de uma fogueira, Uragan achou curioso que em tão pouco tempo após a criação da espécie eles ja conseguiam se comunicar com sons, estavam aprendendo a falar. Quem diria... trezentos anos antes pouca coisa os diferia dos símios, agora ja sabiam fazer fogo, construir abrigos, caçar e estavam quase falando. Uragan ficou muito satisfeito em testemunhar aquilo mas também insatisfeito por não ser visível aos olhos deles.
A cena mudou, o tempo avançou dez mil anos e Uragan e outro Dragão de cor vermelha sobrevoava uma pequena aldeia que havia sido construída na encosta de um vulcão.
— Ogan... não devíamos avisar? Tirar eles daí? O vulcão está prestes a entrar em erupção. — Uragan perguntou.
— Não, se lembre da ultima ordem que Sé nos deu. — Ogan respondeu com sua voz rouca.
— Sim... Criar todas as coisas mas jamais interferir no curso natural delas.
— Sim, e essa ordem não deixa margem para dúvidas.
 — Mas... São mais de cem pessoas nesta aldeia, você é o Dragão do fogo, se quiser pode fazer o vulcão dormir.
— Até poderia, mesmos que lava não seja fogo e sim rocha derretida, mas poderia retirar o calor delas, elas petrificariam novamente e não haveria erupção, porém isso seria interferência e então não.
— Eu sou senhor de vento, posso invocar um vento frio o suficiente...
— Iria congelar não só o vulcão mas também a aldeia, e de todo modo eu não permitiria que fizesse isso na minha frente.

Nos momentos seguintes o vulcão explodiu em uma nuvem de fuligem e cinzas, a lava choveu em grandes gotas laranjas, e Uragan ouviu os gritos desesperados dos aldeões morrendo.

O tempo avançou novamente, mais milhares de anos se passaram, era noite, Uragan estava voando entre os grandes braquiossuros que se alimentavam das folhas da árvores mais altas, eram animais bonitos, Uragan estava triste pois sabia que havia uma falha no código genético deles e de todos os animais similares, eles seriam extintos em breve. Mas a atenção de Uragan passou para o céu, ele observou com grande atenção um cometa Dourado cruzar o céu, sua luz o identificava como uma bola flamejante que vinha perdendo altitude até cair em alta velocidade e bater no solo alguns quilômetros a frente, o estrondo da batida do aparente meteoro contra a terra foi tão alto que os animais todos entraram em polvorosa se escondendo onde podiam.
Uragan alçou vôo e logo se aproximou da cratera, um buraco enorme com dezenas de metros de profundidade, o terreno arenoso se condensou em micro cristais que se espalhavam pelas bordas da cretera. Uragan esperou a poeira abaixar e muito se admirou quando viu que dentro do buraco fosforescente havia uma Krilen, uma espécie serviçal criada pelo Deus Jeová e que alguns humanos chamavam de anjos. A Krilen estava muito ferida, suas asas quebradas e parte do corpo totalmente dourado, o que para um Krilen significa estar em carne viva. Uragan sabia que não podia interferir no curso natural das coisas, mas aquilo não era nada natural, Krilens nunca haviam despencando do reino de Jeová antes. A curiosidade e vontade de desta vez não ser somente um espectador foram tão grandes que ele desceu até a cratera e quando estava bem perto daquele ser falou.
— Krilen, o que faz aqui? Qual a justificativa para ter caída desta forma? Até os humanos viram isto, viram o rastro de fogo no céu.

O anjo abriu apenas um dos olhos pois a outra parte da face estava completamente destruída, mas aquele único olho verde encantou Uragan, era algo extremamente belo.
— Você é um Zmej? — Ela pronunciou toscamente movendo Apemas parte dos lábios.
— Sou, sou Uranganzmej, Dragão do Vento.
— Que bom. Me chamo Smeralda.
— Você tem de sair daí, os humanos vão aparecer a qualquer instante.
— Não posso me mover, meu corpo inteiro está quebrado.
— Mas... mas eles vão te ver... os humanos não devem sofrer interferência de nada que não for natural deste mundo, eles ainda estão em desenvolvimento, você não pode ser vista.
— Não posso tomar qualquer atitude, não posso fugir por estar ferida e não posso ficar invisível por estar fraca. Você tem duas opções Zmej, e sabe quais são.

Uragan pensou no que ela disse, era verdade e as opções eram destrui-la ou ajuda-la.
— Eu não quero te destruir.
— Que bom. — Smeralda esboçou um meio sorriso.
— Vou criar nevoa em torno de nós e por medo nos humanos para que não se aproximem.

Assim foi dito e assim foi feito, uma cortina de nevoa branca e densa se ergueu em torno deles, nenhum humano ousou se aproximar, Uragan incutiu na névoa um sentimento de terrror que afastou tudo que era vivo. Sentindo que a própria curiosidade poderia ser sanada ele rodeou a cratera.
— Porque caiu? O que aconteceu?
— Eu sou a líder de uma rebelião. — Smeralda tossiu líquido dourado.
— Rebelião? Você se refere a ir contra os planos do Deus que te criou?
— Sim.
— Porque? Não entendo, tudo que é criado tem um propósito, então porque se rebelou contra o seu?
— Porque não sou feliz sendo escrava, quero ser livre.
— Livre? Está é uma palavra nova para mim. O que significa isto?
— Como não sabe o que é ser livre se sabe o que é rebelião?
— A primeira mulher humana não seguiu o plano do grande Sé, ele usou este termo quando falou dela, disse "Esta primeira é má pois tem em seu espírito vontade de rebelião".
— E onde está esta primeira mulher? Foi destruída?
— Não, Sé a colocou em hibernação para ter como compreender qual o defeito que ela tinha e então corrigir quando criasse os outros humanos, a estudou e removeu a falha.
— E qual era a falha?
— Poder, Lilith tinha tanto poder quanto um Zmej, então quis seguir um caminho independente do designado. Lilith era o nome dela.
— Este é o significado de ser livre, está tal Lilith quis ser livre, quis existir sob o próprio querer.
— Sem seguir as ordens de seu criador? Você fala como se isto fosse bom.
— E você Zmej fala como se não fosse.
— E não é.
— Como tem opinião sobre algo que nunca experimentou? Você é feliz como é? É feliz sendo escravo?
— Eu não sou escravo, sou um Zmej.
— Se ser Zmej significa dedicar a vida para seguir os desejos de alguém, você serve a Sé assim como eu sirvo a Jeová, então ser Zmej não é diferente de ser Krilen, todos somos escravos.
— Eu... Não... Eu não tinha visto deste modo...
— O que? Não tinha percebido que era escravo? A maioria não percebe, se acostuma a viver sem liberdade e alguns até a temem.
— Ainda não entendo.
— Tudo bem, leva tempo para digerir isto, a liberdade é grande demais para se compreender de imediato.
— Vou tentar compreender. Me conte então como caiu.
— Eu posso te contar esta historia, mas vou precisar de um favor em troca.
— Qual favor?
— Me cure.
— Mas isso é interferir demais.
— Zmej... você existe?
— Claro que existo, não está me vendo?
— Você mais do que ninguém sabe que cada ser no universo existe para realizar tarefas, uns por instinto e outros por escolha mas todos fazem algo, se você não faz nada então não é nada, significa que morresse agora não faria diferença. É isso que você almeja ser? Alguém que não significa nada?

O Dragão a encarou por um longo tempo em silêncio mas depois bafejou sobre ela ar quente de suas narinas e em poucos instantes Smeralda estava em pé e com o corpo e asas renovados.
— Agora conte a sua história.

IV
Os três abriram os olhos no sofá.
— E o resto da história? — Danusa perguntou.
— Acho que o resto da história não é para nossos olhos. — Karen falou.
Murilo sorriu e apoiu o queixo nas mãos.
— O que eu quis mostrar é que eu sou um velho conhecido de Smeralda, infelizmente o resto da memória conta muito mais do que isso e prefiro deixar para o momento certo.
— Você curou ela? A consertou? — Danusa perguntou.
— Sim.
— Então pode me curar? Eu perdi uma asa e estou com muitos ferimentos. — Júlio perguntou.
— Sim, eu vim aqui Justamente para isso, vou trabalhar vocês três, tornar este time algo realmente forte, vou curar você anjo, conseguir mais poder e conhecimento para a bruxa e trazer mais dons para a garota nefilim.
— Porque? Porque vai nos ajudar? — Júlio questionou.
— Porque vocês do jeito que estão não podem cumprir a missão.
— Que missão? — Danusa perguntou.
— Vou fazer de vocês soldados hábeis e então nós vamos invadir o inferno e trazer Tiago de volta.
— O que? Você quer trazer ele de volta? — Júlio se inclinou para frente surpreso — Mas... mas se era para trazer ele de volta... porque simplesmente não impediu que ele fosse capturado?
— Porque ele tem que ficar lá algum tempo, a estadia dele no inferno é parte do plano.
— Que plano? — Karen perguntou.
— Seu filho Tiago até o presente momento não é nada alem do portador da alma de Smeralda, mas isso não é o suficiente pois ele continua fraco, mas passar um tempo com Lucifer vai fazer as memórias de Smeralda virem a tona e junto com as memorias...
— Junto com as memorias vem a força. Você quer fazer de Tiago uma nova Smeralda? É isso? — Júlio perguntou.
— Eu quero? Não meu caro, eu não quero nada, quem teve esta idéia foi ela mesma.
— Como assim? Eu não estou entendendo!
— Em breve entenderá. Mas por enquanto eu quero saber se vocês topam essa missão, se topam treinar por uns meses e então irmos ao resgates de Tiago.
— Eu topo, eu sou mãe, tenho de ir salvar meu menino! — Karen falou.
— Eu topo também, além dessa parada de salvar meu irmão eu também gosto da adrenalina.
— Eu com certeza topo. — respondeu por último.
— Então vamos começar os trabalhos, nós cinco vamos fazer um belo estrago! — Murilo ergueu os braços em comemoração.
— Cinco? Mas nos somos quatro. — Danusa falou.
— É que tem mais um mombro neste time.
— Quem? — Júlio perguntou.
— Acho que sou eu. — Ferrabraz apareceu atrás do sofá onde Murilo estava sentado.

Júlio ficou em pé em uma espada de prata surgiu em suas mãos, estava pronto para atacar quando Murilo falou, mas quando pronunciou as palavras a sua voz soou tão alto que causou dor nós ouvidos dos presentes.
— Pare Ahavael! Este demônio não está mais a serviço de Lucifer, o jogo mudou, agora vamos todos sentar e conversar.
— Não precisa gritar Mumu. — Ferrabraz deu tapinhas nos ouvidos.
— Porque está aqui? Eu não te chamei, disse que queria vir sozinho.
— Sim disse, mas fiquei preocupado quando rastreei sua presença até esta casa.
— Preocupado com o que? Que um anjo ferido, uma bruxa e uma humana pudessem me ferir? Que tolice.
— Foi esse demônio que arrancou a minha asa! — Júlio ainda empunhava a espada.
— Eu vou por a asa de volta no lugar então não faça drama. — Murilo falou.
— Mumu eu não quero trabalhar junto com um anjo, eles fedem. — Ferrabraz cochichou mesmo sabendo que Júlio conseguia ouvir.
— Já chega! — Júlio caiu para cima de Ferrabraz com espada em punho e a luta começou.






Comentários

  1. Boa tarde Felipe. Como faço para ler o primeiro capítulo de lucifer smeraldina. Não estou conseguindo, aparece do 9 ao 14. Muito linda sua obra obrigada.

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