Lucifer Smeraldina Cap. 8





Lucifer Smeraldina 
Capítulo 8
"O Garoto é Humano"

I
Clak-clak-clak-clak-clak!
O som dos sapatos de salto alto estalando no piso de pedra polida, os serviçais e escravos reconheciam aqueles estalos de longe, todos se escolhiam de medo e se escondiam atras das pilastras quando ela passava, ela veio bela como de costume  usando um vestido vermelho escuro quase bordô justo ao corpo, trazia uma cesta de vime presa a um dos braços, sua longa cabeleira negra cacheada balançava a cada passo, faceira empurrou a porta vermelha e entrou sem pedir licença.
— Toc-toc-toc! — Ela falou em tom de humor enquanto fechada a porta as suas costas.
— O que é Drusila? — Lucifer estava diante de uma das janelas encarando as montanhas escuras a diante, as asas negras ralaxadas com a maior parte das penas arrastando no chão.
— Queria saber como fica a situação de Ferrabraz meu senhor, são vinte e um arquiduques e ele...
— Ele ainda é o décimo sétimo arquiduque do inferno.
— Mas... mas o senhor vendeu a posse para o Dragão, ele não é mais seu.
— Sim ele não é meu, não tenho autoridade sobre ele.
— E como ele continua sendo arquiduque?
Lucifer sacudiu as asas, girou nos calcanhares e sentou em uma poltrona próxima.
— Eu errei.
— Errou?
— Sim, até o Diabo erra as vezes... Quando elegi os vinte um mais fortes do inferno para serem arquiduques fiz o feitiço de posse ao título irrevogável para que nenhum outro demônio ou anjo o pudesse roubar, e isso agora se mostrou um erro. Quando vendi Ferrabraz para o Zmej abri imediatamente o livro de hierarquia para arrancar a página dele, mas a página não sai, eu mesmo fiz a magia que a prende lá e o título é então eterno.
— Mas ser arquiduque da a ele autoridade aqui... é perigoso que ele tenha autoridade neste reino sem ter que se submeter ao imperador?
— Não, não é bom. Mas você Drusila é uma arquiduquesa superior a ele, não tem de se preocupar com Ferrabraz.
— O que eu me preocupo é em como o decimo sétimo arquiduque do inferno pôde ser vendido como um escravo, eu sou a décima primeira e isso me diz que meu pescoço está em risco.
— O seu não está. Ferrabraz é forte sim mas tem umas questões pessoais que nunca me agradaram, por isso não relutei quando o Zmej exigiu ele como pagamento quando pedi que rastreasse Smeralda na terra. Agora pare de falar disso, Ferrabraz se foi. O que tem nesta cesta?
— Merda humana. — Ela se aproximou e coloco a cesta no colo de Lucifer, ele remexeu o conteúdo e franziu a testa.
— Chocolate? E... Isso é o que? — apanhou um pacote de biscoito.
— Bolacha recheada, tudo ai é feito para engordar os humanos, chocolates, balas, bolachas, doces sortidos, tem também amendoins salgados, desses eu gosto, são ótimos quando se bebe cerveja.
— E para que isso? — ele colocou a cesta no chão.
— Para o garoto.
— Quando eu pedi que me ajudasse com Tiago não imaginei que a sua resposta fosse trazer essas porcarias.
— Ah por favor, eu sou um Demônio reanomado, sou a Rainha das encruzilhadas, eu entendo de amor, já o senhor com todo o respeito está metendo os pés pelas mãos.
— Oh que graça, eu estou errado?
— Está, e não use esse tom de deboche, eu sei o que estou fazendo.
— Explique.
— Faz dois dias que o garoto está lá trancado no antigo quarto de Smeralda não é?
— É, e ele se recusa a falar comigo, quando me aproximo ele fecha os olhos e tampa os ouvidos com as mãos como uma criança de cinco anos de idade fazendo birra para a mamaezinha. Qual o problema dele?
— Qual é o seu problema?
— Como é? — Lucifer ficou em pé reagindo a insolência.
— Pare com isso já! — Drusila falou alto, Lucifer arregalou os olhos furioso, ninguém tinha essa ousadia.
— Antes de querer me castigar olhe aquilo. — ela apontou para um grande espelho redondo fixo a parede atrás dela.
Lucifer encarou o próprio reflexo, era ameaçador, o maxilar trincado, as sobrancelhas juntas e os olhos vermelhos.
— É isso que Tiago vê quando te olha. Isso é algo por quem é possível se apaixonar? Desculpa ter sido desrespeitosa mas se quer que dê certo eu vou ter que te chamar a realidade. — Drusila falou.
— E o que espera que eu faça? Que finja ser um cordeirinho para que ele me ame? Eu sou o pai da mentira e por isso sei que é impossível manter uma personagem para sempre, ele tem que me escolher com base na pessoa que eu sou.
— Sim, mas milênios atrás quando Smeralda se apaixonou foi pelo cruel imperador do inferno?
— Não existia inferno nesta época, ela me conheceu antes... Ah entendi, você quer eu deixe a coroa sobre o trono e invés de Lucifer eu seja para Tiago o antigo Anjo Heylel não é?
— Exatamente isso. Agora o primeiro passo é deixar os meus escravos modificarem o quarto de Smeralda.
— Modificar? Eu mantive o quarto intacto por eras!
— Senhor Imperador... o garoto é humano, Smeralda era um anjo e anjos não defecam. Faz dois dias que ele está urinando em um penico, isso com certeza absoluta não está deixando o clima melhor. Vou desativar o quarto adjacente e fazer dele um banheiro com chuveiro, banheira e vaso sanitário.
— Você fala garoto mas é um homem de quase trinta anos...
— Mas diante dos meus quatorze mil anos de existência ele ainda é um bebê. — Drusila torceu os labios.
— Uma reforma vai macular o santuário da minha amada...
— Vou fazer o que é necessário para que a sua amada também te ame, e se necessário bater marretas nas relíquias dela, que assim seja.

II
— Eu tenho de sair. — Murilo estava acabando de amarrar os sapatos sentado na beirada da cama do quarto do hotel, vestia uma bermuda caqui e camiseta regata vermelha, as duas peças não combinavam em nada mas ele parecia não se importar.
— Sair? Onde vai? — Ferrabraz saiu do banheiro só de cuecas e falou com a escova de dentes ainda dentro da boca.
— Ajudar umas pessoas.
— Que pessoas?
— Não quero falar.
— Não quer? Tudo bem então... Eu só falei porque podia te transportar até seu destino.
— Eu gostaria, você consegue se transportar muito mais rápido que eu, mas eu também consigo. Obrigado por se oferecer mas vou fazer do meu jeito.

Ferrabraz ficou olhando enquanto Murilo se atirava da sacada.
O vento ergueu o corpo do rapaz e o fez planar entre os prédios, uma lufada de ar mais denso o levou de uma só vez acima das nuvens. Murilo voava agora em forma humana porém não de uma forma limpa como o Superman faz nas revistas em quadrinhos onde ergue o braço acima da cabeça e dispara, na verdade o corpo de Murilo era arremessado e levado como uma Folha seca em uma brisa de verão, seus braços e pernas sendo sacudidos a esmo. Era muito mais elegante voar em forma de Dragão mas o momento permitia apenas esta forma. Vinte minutos depois aterrissou, ou melhor se esborrachou, diante da casa do sítio que ainda estava parcialmente destruída, subiu até a varanda e bateu na porta.
— Olá? — Danusa atendeu confusa ao ver o garoto ali.
— Oi, eu quero falar com vocês se for possivel.
— Quem é você? — falou Júlio vindo mancando para a sala.
— Meu nome é Murilo.
— Você... você é o menino que estava junto com o demônio naquela noite! — Danusa gritou.
— Eu mesmo, se quiser atirar em mim vá em frente, eu sou imune as suas balas de sangue, e de todo modo eu vim apenas conversar.

III
Lucifer saiu do quarto, virou a esquerda e caminhou até o final do corredor, ficou parado em pé diante da porta de madeira branca, levou a mão para bater mas ela ficou parada no ar por um bom tempo até ele tomar coragem. Finalmente bateu mas como já se esperava ninguém atendeu então ele girou a maçaneta e entrou, Tiago estava deitado no chão diante de uma lareira acesa, dormia de boca aberta ressonando.
— Olá? — Lucifer falou na esperança que o rapaz abrisse os olhos mas nada aconteceu.
Ele caminhou até Tiago e se agachou bem ao lado e ficou observando, Tiago era lindo, mas Lucider nunca tinha sentido atração por nenhum ser do gênero masculino, isso o confundia, como podia admirar tanto aquele rosto? A forma do nariz, as maçãs do rosto, o queixo quadrado... observou com muita atenção ate que tiago de repente abriu o olhos.
— AI MEU DEUS! — ele berrou ao ver Lucifer tão perto.
— Chamar por Deus é um serviço atoa, ele não virá em seu socorro. Você está bem? Te assustei tanto assim?
Tiago continuou deitado na mesma posição como se estivesse congelado.
— Me diga uma pessoa no mundo que ficaria tranquila ao acordar e dar de cara com o Satanás? O que quer de mim?
— Eu vim te chamar para comer... comer chocolates no meu quarto.
— Chocolates? Tem isso aqui em baixo?
— Tiago o inferno é fica no mesmo sistema solar que o planeta terra, não fica "em baixo" de nada. E sim, tenho chocolates e outras coisas, uma banheira com água quente e roupas limpas no meu quarto.
— E porque acha que eu quero qualquer dessas coisas?
— Você não entendeu, você vai imediatamente para meu quarto mesmo que não queira comer nada e recuse o banho, este aposento aqui vai ser modificado, mandei que façam um banheiro de uso humano para que você fique mais a vontade, os escravos tem de entrar e... quebrar umas paredes. — Lucifer pronunciou as últimas palavras com visível amargura.
Tiago rolou para o lado e se levantou.
— Eu vou.
— Vai? Achei que ia protestar?
— estou a dois dias sem tomar banho, farei protestos depois que me lavar, é impossível ser fiel a...
— uma causa se meu corpo estiver sujo. — Lucifer completou a frase.
Tiago olhou para ele e franziu a testa.
— Diabo também sabe ler pensamentos?
— Não... É que você já disse isso... quer dizer, ela, Smeralda após as batalhas ficava suja com sangue dos inimigos e quando íamos para casa eu a chamava para prestar contas a Jeova como era requerido após cada missão mas ela dizia na língua antiga "só vou depois que me lavar, é impossível ser fiel a uma causa se meu corpo estiver sujo".

Assim que Lucifer disse isto Tiago piscou os olhos e ja não estava mais naquele quarto, ele se viu caminhando cansado por um corredor cujo as paredes eram ladeadas por grandes janelas cobertas por cortinas brancas semi transparentes, cada passo fazia barulho, som de metal tilintando. Alguém então disse "Onde vai? Temos de ir agora falar com o Pai", Tiago se virou e viu Lucifer, mas não aquele Lucifer de asas e cabelo negros, o que estava ali tinha os cabelos prateados, asas brancas e seu rosto era mais redondo, vestia uma armadura dourada cheia de amassados e manchas de sangue. Tiago sentiu os músculos do rosto se movendo, estava sorrindo enquanto as palavras saiam da boca, ele falou com uma voz feminina suave " Estou imunda, só vou depois que me lavar, é impossível ser fiel a uma causa se meu corpo estiver sujo", Lucifer sorriu e o olhar de Tiago pousou no peito dele, na chapa dourada que cobria o peito ele viu seu próprio reflexo, era uma mulher loira muito bonita cujos os olhos verdes se destacavam como tochas na noite.

— Você lembrou de mim?
— Hã? O que? — Tiago voltou a si e percebeu que Lucifer o segurava pelos braços — Me solte! O que está fazendo?
— Solto se ficar em pé sozinho, você bambeou e quase caiu dentro da lareira.
— Eu... eu só estou fraco, assim que comer isso passa.
— Tiago eu não leio mentes, porém um dos meus dons é captar imagens nas emoções das pessoas. Eu vi... eu me vi nas imagens que captei nas suas emoções agora, vi o eu do passado. Você lembrou de mim.
Tiago se desvencilhou das mãos de Lucifer e se afastou.
— Eu não lembrei de nada, apenas visitei uma memória de Smeralda. Entenda bem, meu nome é Tiago e eu tenho a mesma alma que um dia foi dela, mas sou outra pessoa — Tiago ergueu os braços no ar — este é outro corpo, outra vida, Smeralda é só memória, ela não existe mais.
— Cale a boca! — Lucifer gritou, os cristais do lustre acima deles tremeu com a vibração — Smeralda existe e você é só o saco de carne e gordura que serve de casulo então não fale do que não sabe, não me irrite, isso pode te causar danos inimagináveis.
— Com licença! — Drusila abriu a porta sorridente.
— Saia Drusila, não interrompa! — Lucifer berrou.
— Olhe para lá agora! — Drusila apontou o espelho acima da lareira.
Lucifer olhou e viu a expressão de fúria estampada em seu próprio rosto, então olhou para Tiago e o viu aterrorizado com o rompante.
— Me desculpe. — Lucifer deu meia volta e antes de sair do quarto se dirigiu a Drusila — Ele fica no meu quarto até este aposento ser reformado, eu vou dormir em outro lugar.

IV
— Por favor releve isso, ele não está lidando bem com a situação. — Drusila sorriu para Tiago.
— Relevar? Eu achei que ele ia me bater...
— Não, não ia, tente entender o lado dele.
— Afinal quem é você?
— Eu sou Drusila Ucobach, sou a decima primeira arquiduquesa do Inferno. — Ela estendeu a mão para Tiago, ele relutou um pouco mas como ela estava sendo educada acabou por cumprimentar.
— Quando eu posso tomar banho?
— Agora, venha comigo, tem comida, bebida, uma banheira e um vaso sanitário improvisado lá, mas tudo confortável.
 — E porque tem que ser no quarto dele?
— Quer a verdade?
— Sim claro.
— Isso é o Inferno, e aqui é o palácio do imperador, não há quartos de hóspedes que sirvam para humanos, a estrutura deste Palácio é de uma Torre de mais de novecentos metros de autura e a parte confortável se resume a três andares, eu mesma não moro aqui, meu pequeno Castelo fica perto, venha até a janela que da pra ver.

Tiago a seguiu até a janela e observou Drusilar remover o trinco e abrir.
— Caramba! A janela não tava trancada?
— Não... Tiago como eu disse isso é uma torre, não há porque trancar, não da pra sair pelas janelas se você não souber voar, e acho que você não voa.
— Entendo.
— Veja lá, aquele com telhado em estilo chinês. — Drusila apontou para uma construção que mais parecia um gigantesco templo xintoista.
— Muito bonito, mas puxa vida eu não imaginava que o Inferno fosse uma cidade... — ele observou a vasta quantidade de construções em diversos estilos diferentes mas todas com telhados inclinados, era uma cidade enorme e iluminada por tochas espalhadas por todos os lados.
— Esta curioso com os telhados? Eu também consigo captar algumas coisas na superfície da mente dos outros.
— Sim, é sobre os telhados.
— Tem de ser inclinados por conta da neve e do granizo.
— Neve? Aqui neva? Mas...
— achou que aqui era feito de fogo?
— achei.
— Ah o clichê... Mas não, o inferno é um mundo cujo o subterrâneo é feito de lava, magma, mas a superfície é gélida, não ha sol para aquecer esta terra, por isso é frio e sempre escuro, então neva e chove granizo quase todo tempo. É por isso que este quarto tem essa lareira, além de esquentar diretamente também existe aquecimento dentro da paredes, mas se você aproximar o rosto da janela vai sentir o frio.
— Você é um demônio? — Tiago a olhou mais de perto.
— Sim, sou um demônio de encruzilhada, costumo passar muito tempo no seu mundo, por isso eu acabo me portando como uma mulher humana, mas ainda sou um demônio.

Drusila levou Tiago até o quarto de Lucifer, ele se espantou com a decoração minimalista, esperava um quarto de Rei como os quem se vê em filmes, mas não, era muito mais simples do que o quarto de Smeralda,  esse tinha as paredes de pedra cinza escuro, assoalho de madeira marrom, a uma cama grande, lareira, uma mesa de escritório,  uma segunda porta de madeira vermelha que Tiago imaginou ser o armario e uma outra de vidro que dava para uma varanda, o ambiente era muito espaçoso, as janelas eram grandes e em estilo gótico. Em frente a grande cama estava um ofurô de madeira com água quente.
— Está... estranho... Esse quarto não era assim. A unica coisa que reconheço é aquilo... — ele apontou para a pintura de Smeralda sobre a lareira.
— Móveis não duram eternamente, eles precisam ser trocados. Aquele quarto que você estava permaneceu inalterado por magia, mas nós não enfeitiçamos qualquer cadeira ou mesa velha, jogamos fora e compramos novos dos humanos.
— Entendi. Bom eu vou tomar banho agora ok?
— Ok, te incômoda se eu permanecer aqui algum tempo? Eu não estou interessada em espiar sua nudez nem nada, apenas quero conversar.
— Não está interessada? Achei que demônios fossem todos pervertidos.
— Ah a perversão e promiscuidade são dádivas da juventude meu caro, você verá  isso em demônios com menos de três mil anos, já eu sou tão antiga que... bem quando me participar uma orgia ou ir assistir um filme de suspense no cinema, geralmente eu escolho o cinema. Se você olhar isso que tem no meio das pernas para você pode parecer muito especial, mas ja vi tantos pênis que se tornou monótono.
— Você fala como uma urologista em fim de carreira.
— Eu seria uma boa urologista, tenho vicencia. — Drusila riu.
— Pode ficar, eu não sou tímido e sou gay, então não tem problema nenhum.
Drusila se virou de costas para ele se despir e entrar na água, depois se sentou na beirada da cama.
— Você pensou no que eu disse?
— No que exatamente?
— Em entender o lado dele?
— Não pensei, não consigo entender, ele é arrogante e grosseiro, eu sinceramente tenho medo dele. Mas isso não é anormal, qualquer um teme o Diabo.
— Ele se tornou arrogante, grosseiro e amargo por conta de Smeralda, da ausência dela. Antes ele era tão gentil quanto o seu querido Ahavael.
— Você conhece Ahavael? — Tiago se apoiou na borda o ofurô fazendo água cair para fora.
— Tiago eu sou um demônio porque sou um anjo caído, mantenho essa forma de mulher glamorosa porque acho mais elegante, mas assim como ele eu também tenho um enorme par de asas e olhos de prata. Conheço Ahavael muito bem. Agora pense que o caráter de Ahavael é em síntese o mesmo de Lucifer, a diferença é que Ahavael nunca sentiu a dor que o outro sente.
— Dor? Está dizendo que ele é o que é apenas por ter saudade da ex-mulher?
— Ex? Smeralda não é ex-mulher de Lucifer, eles nunca se separaram... Não, nunca... Ai Jeová...
— O que é?
— Nada. É como eu disse, eles nunca se separaram. Agora tome seu banho a vontade, separei uma troca de roupas para você ali em cima da mesa ao lado da cesta com os chocolates. Agora vou sair mas em breve voltarei.

V
A porta de folha dupla da biblioteca foi aberta com tanta força que quando as maçanetas de metal bateram na parede de pedra soltaram faíscas.
— Ex? Ex esposa Lucifer? Pretendia me dizer isso quando?

Lucifer estava sentado em uma poltrona lendo "Amor nos tempos de colera", fechou o livro e encarou Drusila.
— Do que está falando?
— Eu estava amenizando, amaciando o garoto para desfazer a má impressão que você deixou, então ele simplesmente disse " está dizendo que ele é o que é apenas por ter saudade da ex-mulher?". Eu sei distinguir uma verdade quando a ouço, captei nas emoções dele. Porque não me contou?
— Não achei que era importante.
— Mas é, eu tenho de saber qual caminho trilhar, ainda mais quando o amor que eu jurava que seria fácil trazer a tona talvez nem exista mais.
— Não seja estúpida, nosso término foi um desentendimento e nada além disso.
— O que causou este desentendimento?
— Ela... Eu tinha a meta de vir para cá, eu já sabia deste mundo, deste lugar que o grande Sé havia criado e terraformado, os Zmej colocaram ar, água, gravidade, atmosfera e ate vida animal, mas depois perceberam que era um lugar pequeno demais e muito longe do sol e então abandonaram e seguiram para criar o planeta Terra, era meu sonho fugir do céu, fugir de Nibiru e vir morar aqui em paz. Mas Smeralda queria algo diferente, esse foi o motivo do nosso pequeno desentendimento.
— O que ele queria?
— Nada que seja da sua conta. As informações que tenho para compartilhar são essas, agora faça o seu trabalho.
— O senhor já pensou na hipótese de ela não te amar mais? De que eu não consiga resgatar este amor por não ele não mais existir dentro da alma dela?
— Se esse for o caso... Se for assim medidas extremas serão tomadas, eu matarei Smeralda, destruirei sua alma definitivamente. Se ela não for minha não será de mais ninguém.
— É... os homens sempre amam as mulheres, mesmo quando planejam assasina-las é sempre por amor.
— Você não entendeu Drusila, não entendeu nada. Acha que eu o plano B é destruir Smeralda Apenas por eu ser um marido misógino? Caía na real, isso é um jogo de xadrez, tudo isso é um jogo, Smeralda no tabuleiro é a peça que vence todas as outras inclusive o rei — Lucifer apontou para si mesmo — E se ela não estiver no meu lado estará do outro. Todos nós, incluindo você, morreremos encarando aqueles olhos verded se ela for nossa adversária. Quando ainda éramos anjos você não era da elite, mesmo sendo um anjo feminino, então não sabe de nada.
— Então não é só amor que o faz querer tanto ela de volta, você a teme.
— A amo com todo o meu ser, com todo o meu coração. Mas tenho mais temor de Smeralda do que do próprio Deus. 

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