Lucifer Smeraldina Cap. 12
Capítulo 12
" Para cumprir seu destino"
— Quando meu quarto fica pronto? Ja faz uma semana. — Tiago estava sentado ao lado de Lucifer, ambos na mesma mesa de escritorio, ele almoçava desanimado e perguntou enquanto remexia a comida no prato.
Lucifer apenas ergueu os olhos do livro que lia por um segundo e voltou a ler como se ninguém houvesse falado.
— Ei, falei com você, quando meu quarto fica pronto? Eu to cansado de tomar banho em ofurô e... eu preciso de um banheiro de verdade.
— Você é um prisioneiro sabia? Sabe que prisioneiros não tem direito a exigências.
— A é? Então me coloque em uma masmorra e me deixe apodrecer em meio aos ratos.
Lucifer abaixou o livro e olhou para o lado percebendo que Tiago brincava com o prato mas não comia.
— Qual o problema com a comida? Está ruim?
— Não, está ótimo. E horrível.
— Que contraditório, está ótimo e horrível ao mesmo tempo?
— Sim, espaguete de abobrinha, brócolis, cenoura ralada... pimentão refogado e feijão branco... Por Deus Lucifer eu não posso mais comer essas coisas.
— Volto a perguntar, está ruim? Porque eu orientei pessoalmente os cozinheiros a fazer tudo o que encontrei em um livro de gastronomia brasileiro muito famoso.
— Como é o nome deste livro?
— Bela cozinha, é de uma cozinhera famosa...
— Eu não acredito que está me alimentando com a alfafa da Bela Gil!
— Não gosta da autora?
— Você sabia que ela não usa pasta de dente? Ela escova os dentes com açafrão e bicarbonato! Ela é totalmente maluca! A comida é saudável sim e não tem gosto ruim porque não tem gosto de nada. Eu quero cola-cola, miojo de tomate, quero comer um pote de sorvete de chocolate.
— Mas isso, essas coisas matam seres humanos, açúcar e gordura no sangue matam mais do que o câncer.
— Então me ajude a morrer um pouquinho sim? Preciso comer umas porcarias pra ser feliz.
Lucifer torceu os labios enquanto voltava a ler.
— Tudo bem, vou providenciar, faça uma lista do que quer e mando um robovi ir na Terra buscar.
— Me diga Lucio, você não come nada?
Lucifer não pode deixar de sorrir ao ser chamado por aquele nome mas manteve os olhos fixos na leitura do livro enquanto falava.
— Sim, placenta humana.
— Tipo o Tom Cruise?
— Tom Cruise?
— É ele come placenta, tem um grupo religioso que come.
— Eu estava brincando, não como isso, mas agora estou surpreso de saber que tem humano que faz isso, é uma espécie imunda.
— Então o que você come?
— Para falar a verdade faz alguns dias que sinto desejo de comer algo em especial.
— O que é?
— Você.
— Você está falando de comer a minha carne?
— Não, eu não quero comer literalmente, mas adoraria lamber um pouco se você deixar.
Tiago ficou vermelho como um pimentão quando percebeu que Lucifer entendia a gíria "comer" usada para falar de sexo, e era disto que estava falando.
— Não mude de assunto, eu quero saber do meu quarto.
— Está pronto já a três dias.
— Como assim? Porque não me avisou?
— Porque eu gosto de deitar ao seu lado quando você dorme, gosto do seu cheiro nos lençóis da minha cama, gosto de trabalhar aqui olhando pra você...
— Nossa você não tem medo de falar nada né?
— Tenho sim, mas quando se vive milênios se aprende a ser seletivo com as verdades a serem ditas, e essas eu posso dizer. Gosto do seu corpo.
— Mas você sua acabou de dizer que humanos são uma espécie imunda.
— Mas da imundicie eu gosto.
— Obrigado... eu acho. Quando eu posso ir para o meu quarto? — Tiago suspirou aborrecido.
— O quarto pertencia a Smeralda, é por herança seu, mas eu te proibido de se mudar para lá até que faça algo para mim.
Tiago arrumou os pratos e copos usados na bandeja, caminhou até a porta e os entregou a um robovi parado no corredor, voltou para o quarto e retomou a conversa.
— Fazer o que?
— Me de permissão para levar esta mesa para lá e de dormir com você todas as noites.
— A Torre é sua, você pode fazer o que quiser.
— Repita isso.
— Repetir o que? Que a torre é sua?
— A outra parte.
— Que você pode fazer o que quiser?
Tiago mal percebeu a movimentação, quando deu por si estava sendo pressionado contra a parede, seu queixo na altura do peito de Lucifer que o prensava.
— O que signiica isso? — Tiago protestou enquanto seus pulsos eram contidos e mantidos sobre a cabeça por uma mão forte.
— Ora foi você que disse que eu posso fazer o que quiser, e eu quero fazer uma coisa com você. — Lucifer arrastou Tiago para cima fazendo os pés do rapaz sairem do chão e os rostos dos dois ficarem na mesma altura.
— Pare já com isso, está me machucando e não tem graça.
— Graça? Não tem ninguém rindo aqui. Quer que eu te solte?
— Claro!
— Me beije, me beije e eu te solto.
— Não, não é assim que funciona!
— E como funcina? Você está aqui a varios dias, sabe que eu gosto de você e fica me evitando, acha que eu sou idiota? Acha que vou ficar impassível?
— Você não gosta de mim, gosta de Smeralda!
— Eu amo Smeralda, mas eu acho que posso amar você também.
— Espera ai! Você está falando de mim separadamente? Como uma pessoa?
— Amo os dois, você e ela, é possível amar duas pessoas?
— Eu não sei.
— Você me ama?
Então era isso, a pergunta a qual Murilo havia alertado no dia do sequestro, e agora era a hora de fazer como ele havia orientado.
— Acabei de te conhecer, que papo é esse?
— Então para amar é preciso conhecer por mais tempo?
— Sim.
— É por isso que você ama Ahavael? Porque passou duas décadas com ele?
— Eu não amo ninguém.
— Ninguém? Está dizendo que não o ama?
— Você ouviu.
— Sua boca disse isso mas seu coração diz outra coisa, eu posso ver se Lembra? E eu vejo ele no seus sentimentos, sim eu vejo ele e... eu. Está surpreso? Eu estou aqui... — Lucifer ergueu a camisa de Tiago e tocou o peito.
— Me solte.
— Eu já disse, me beije e eu te solto.
Tiago bufou irritado, ergueu o queixo e o beijou, era para ser um contato rapido mas não foi, quando os lábios se uniram foi como se nunca mais pudessem se separar, a sensação de familiaridade e de extrema saudade dominou completamente as duas partes, Tiago tentou focar no pensamento de que aquele sentimento não era seu e sim de Smeralda, era alma dela que provocava aquele desejo, mas sendo isso verdade ou não já não importava.
II
Karen permaneceu sozinha diante de uma grande casa amarela de arquitetura indiana, assim que pisaram no ultimo degrau da escadaria uma voz berrou furiosa para Murilo não se aproximar.
— Se ela me mandou embora e porque você é bem vinda, caso contrário teria expulsado os dois.
— Pera ai, vai me deixar sozinha aqui?
— Sim.
— E o que eu faço agora?
— Fique aqui até que Ubabaya abra a porta.
— Sozinha?
— Karen você é forte, vai conseguir. Boa sorte.
Então ela ficou lá sozinha, improvisou um banco com as malas e ficou sentada sob uma árvore esperando por mais de uma hora até que a porta se abriu e uma mulher idosa vestindo um saree de seda negra saiu e caminhou até ela se apoiando em uma bengala.
— Olá... a senhora é Uba...
— Você é a bruxa do terra? — a mulher interrompeu.
— Da terra? — Karen estranhou a pergunta — Acho que não.
— Não é você a Madame Marte?
— Sim, quer dizer, esse é o nome da minha loja mas meu nome é Karen.
— Karen é? Você parece ser burra, tem cara de lunática, é burra mesmo ou está só tímida?
— Não seja grosseira, eu vim aqui para falar com Ubabaya e não para levar desaforo.
— Você é mesmo burra, eu sou Ubabaya.
— Você? Está um tanto fora de forma heim...
— O que foi? Te decepcionei? Eu tenho três mil anos, esperava o que? Uma ninfeta? Eu sou velha e não gosto de receber gente estúpida na minha casa, só abri a porta porque consultei os deuses e eles disseram que você era uma bruxa poderosa, mas agora estou duvidando.
— Se dúvida dos seus deuses então porque os consulta?
— Acredito que eles existam, não que sejam honestos. Porque está aqui?
— Eu estou aqui para pedir humildemente que me ensine magia profunda.
— Humildemente? Petulante desse jeito? No meu país não se faz assim, você está na India, aqui a pessoa humilde beija os pés de seu superior, isso é respeito e senso de hierarquia.
— A Índia é um dos países mais miseráveis do mundo, se seus costumes de respeito e hierarquia servissem para algo o pais seria diferente, ou estou errada?
— Que ousadia!
— Se acostume.
— Você é louca? Tem problemas na cabeça?
— Velha, nunca chame um louco de louco.
— Ha! É mesmo louca.
— Sim, clinicamente diagnosticado como insana, e daí?
— Aaaah Lakshmi testa a minha paciência... então vamos, diga para quê quer aprender a magia profunda? Para que? Qual é a finalidade? Onde aplicará este poder?
— Eu tenho de me tornar forte para salvar meu filho.
— Ah... uma mãe deseperada... O que aconteceu com seu filho? Está doente? Quer curar ele com a magia?
— Se ele estivesse doente eu o levaria até um dos Deuses da saúde.
— Justamente o que eu ia surgir, mas se não é doença então qual o problema?
— Meu filho é trigésima sétima encarnação de Smeralda, o Anjo de olhos verdes.
Ubabaya ficou séria, seu rosto enrugado se tornou tenso.
— Você está falando sério ou é uma piada? Porque se for piada você vai se dar mal.
— Que mãe faria piada com isso?
Ubabaye coçou o queixo com as unhas cumpridas.
— Ele é homem? Homem nascido homem?
— Sim, com pinto e tudo mais.
— Isso é ruim...
— Porque é ruim?
— Porque uma profecia diz que quando Smeralda encarnar em um homem será a sua última vida humana. Onde está seu filho?
— Lucifer o capturou, foi levado para o inferno.
— Finalmente ele conseguiu... Lucifer tentou muitas vezes por a mão nas encarnações de Smeralda.
— Sei disto.
— Mas você não é qualquer bruxa, você veio escoltada por um dos nove Zmej... Aquele que te trouxe... acho que ele é que pensa que isso é uma piada.
— Piada? Como assim?
— Você sabe porque eu fui atrás de tanto poder? O que me motivou a buscar a verdadeira magia e me tornar uma bruxa superior?
— Não.
— Smeralda, a mais poderosa entre as criações de Jeová... ela encarnou trinta e seis vezes antes do seu filho nascer, e a quinta encarnação foi Danai, minha filha. Quando ela começou a ser perseguida pelos anjos eu era fraca demais, tentei salva-la mas... quer saber, venha comigo.
Karen se levantou e acompanhou Ubabaya enquanto ela dava volta na casa ate chegarem em um pequeno jardim circular de margaridas silvestres, no meio dele se erguia uma haste dourada de mais de dois metros fincada no solo.
— Aquilo é uma das lanças de Miguel, foi ali que ele matou Danai. Até hoje não consegui remover a lança, fica ali como um Memorial a minha filha. Miguel a matou bem na minha frente. Eu estava ja muito poderosa na época mas não o suficiente.
— Então você me entende? Vai me ensinar magia?
— Eu entendo seu sentimento mas... Lucifer levou seu filho, você acha que pode contra ele? Pode lutar com o Imperador do Inferno? Isso é loucura.
— Você mesma disse que sou louca.
— Mas tudo tem limite.
— Tudo menos o amor de uma mãe.
— A maior chance é de que morra.
— não me importo de morrer tentando, o que não posso é me acovardar.
— Então você é mesmo louca e burra. Venha, leve suas malas para dentro, descanse, amanhã começará a aprender.
III
Em um clarão de relâmpago Murilo e Ferrabraz surgiram diante de um enorme Palácio de arquitetura grega e inteiramente construído em mamore rosado, o pátio no qual eles apareceram era ladeado por dezenas de estátuas douradas de mulheres nuas nas mais diferentes poses.
— É, realmente não precisa nem de placa, é nitidamente a casa de Afrodite. — Ferrabraz comentou áspero.
— O que foi? Está chateado? — Murilo perguntou.
— Um pouco. Eu não gosto daquele anjo, é um desgraçado. Você colocou a asa dele de volta e ele nem te agradeceu, eu arrumei toda a bagunça daquela casa e o idiota me ignorou. Também não suporto aquela mestiça me olhando com ódio o tempo todo.
— Ele só perdeu a asa por que você arrancou, doeu muito, grande parte da energia de um anjo está nas asas. Costurar ela de volta com um fio feito com uma das minhas escamas vai restaurar completamente, só que a dor que ele sentiu enquanto eu costurada foi até mesmo maior do que quando a asa foi arrancada. Danusa viu você sequestrar o irmão dela, ela e Ahavael é são boas pessoas, mas não espere que passem por cima das coisas que você fez.
— Mas eu estava cumprindo ordens! O anjo é tão serviçal quanto eu era, pensei que entenderia o que significa "cumprimento do dever".
— Ele entende, mas ainda assim dói.
— Eu também sinto dor, nem por isso trato as pessoas com falta de respeito.
— Você falando em respeito é a ironia do milênio.
— Vai bater sempre na tecla do adultério? Eu achei que tinha superado.
— Superei, mas gosto de citar isso porque você faz uma cara de assustado que é impagável.
Ferrabraz deu um sorriso torto e segurou a mão de Murilo para caminharem de mãos dadas.
— O que é isso?
— Estamos diante da casa da Deusa do amor, devemos mostrar um pouco disso a ela.
— Sempre bobo. — Murilo desdenhou mas não soltou a mão — Mas agora que estamos sozinhos tenho uma pergunta para te fazer.
— Pois faça.
— Pelas leis infernais eu sou seu dono, o contrato que você assinou para Lucifer foi passado para minhas mãos, porém... não é nem nunca foi minha intenção escravizar ninguém. Você quer que eu rasgue o contrato e te liberte?
— Não.
— Não deseja ser livre?
— O contrato me obriga a estar sempre próximo a você, então quero que seja mantido, para mim não é um contrato de escravidão.
— Não? O que significa então?
— Contrato de casamento.
Murilo riu deixou que Ferrabraz erguer a sua mão que segurava e beijar seus dedos.
— Mas... tudo bem. Só que a questão de invadir o inferno, eu não perguntei a sua opinião a respeito, você quer ir?
— Eu vou.
— Mas quer ir?
— Se eu quero? Não, não quero ir e com certeza não quero que você vá. Sei que é um Zmej e tudo mais, mas as coisas com Lucifer nunca são fáceis.
— Eu sei que não são.
— Posso fazer uma pergunta?
— Sim claro.
— Qual a finalidade deste plano todo?
— A finalidade é dar a Smeralda uma chance.
— Percebo nas suas palavras que a chance a que se refere não é simplesmente fazer ela voltar a vida.
— Também percebo. — Uma voz feminina soou a diante.
Os dois se viraram para ver a mulher chegando por trás, era alta e de pele bronzeada, cabelos negros encaracolados até a cintura e olhos cor de âmbar, usava um vestido branco com bordados em linha metálica verde escuro, o contorno de sua figura emanava uma leve luminescencia caracteristica das divindades.
— Asherah, que prazer em te ver. — Murilo fez uma reverência.
Ferrabraz não a reconheceu mas de imediato ajoelhou com a cabeça baixa como era o costume hierárquico, porém continuou segurando a mão de Murilo.
— Seu... serviçal, que tratamento carinhoso para com um amo. — Asherah estranhou o contato entre os dois.
— Eu não sou o amo dele, sou quase, faltou um R no fim da palavra.
Ashera sorriu com lábios mas também com os olhos mostrando real divertimento.
— Ah Zmej do vento, você é um que nunca deixa de surpreender. Mas vejo nos olhos de seu demônio que ele não me conhece.
— Não é culpa dele — Murilo sorriu gentilmente — Ninguém sabe quem você é.
— Agora tenho que discordar, eu estou na internet.
— Na Internet? Como assim?
— Ah... a internet é uma coisa que deixa até os deuses maravilhados. Algumas pessoas fizeram escavações na Judéia e encontraram meu nome em inscrições, agora se você pesquisar no Google o nome "Deusa Asherah" tem algumas pobres informações a meu respeito, mas é melhor que nada. Mas explique para seu demônio, ele está confuso olhando de você para mim a cada palavra que digo. E diga a ele para se levantar, não sou exigir submissão de ninguém.
— Ferrabraz ela é Asherah, a deusa da Arvore da vida, é uma das doze divindades originais filhas de Sé. Ela foi a esposa de Jeová, mas você sabe que ele é meio misógino, após uma desavença eles se separaram e Jeová tentou apagar Asherah da história, mandou seus anjos eliminarem todos os templos dela na terra, matarem seus seguidores e queimarem todos os papiros e escrituras onde ela era citada.
— Caramba! Então a história de Jeová ser um Deus único não é verdade? — Ferrabraz perguntou enquanto se levantava.
— Não, não é verdade, e quando Uragan disse que eu e Jeová tivemos uma desavença, na verdade foi uma guerra tão grande que impactou toda a galáxia.
— É justamente sobre isso que eu quero falar, após a guerra, quando você perdeu...
— Perdi? Precisa mesmo lembrar disso? Não sabe que não se deve lembrar as derrotas dos Deuses? Não se esqueça do castigo de Arachnia.
— Desculpe, mas o ponto é exatamente esse.
— Então sua visita não será agradável como eu presumi.
— Talvez sim, talvez não.
— Que seja. Vamos entrar, Afrodite não está e deixou o palácio por minha conta hoje.
O salão principal do Palácio era o luxuoso e tão exagerado que beirava a breguice, haviam enfeites demais, cortinas em cores berrantes, tapetes felpudos e animais empalhados pendurados no teto e espelhos de molduras diversas em todas as paredes. Os três se sentaram em uma mesinha de chá no meio da bagunça, Murilo e Ashera em cadeiras e Ferrabraz optou por ficar no chão por respeito a Deusa.
— Agora diga, o que o final triste da guerra tem haver com você?
— Depois que a guerra acabou houve mais um incidente não é?
— Sim, uns quinhentos anos atrás Jeová soube que eu havia me mudado para o Nirvana e achou que estava me aliando a Indra.
— Indra é mais um dos doze deuses primordiais, ele criou os deuses da Índia. — Murilo olhou para baixo e explicou a Ferrabraz.
— Sim, — Asherah continuou — Eu realmente amo meu irmão Indra mas não me meto nos assuntos dele. Jeová ainda assim temeu que eu estivesse armando um revide e mandou um esquadrão de anjos assassinos para me aniquilar, uma piada.
— Você os matou? — Murilo se ajeitou na cadeira.
— Obviamente, eram sete, seis aniquilei com um estalar de dedos, só o ultimo me deu um certo trabalho.
— Era Gabriel?
— Sim, o esmaguei.
— Mas...
— Ah entendi, você quer saber do arco? O arco de Gabriel que foi forjado com a finalidade de me matar? Se é isso não se anime, eu recebi três fechadas, me feriu um bocado sim mas não morri.
— Agradeça a mim.
— Como assim? — Asherah franziu a testa.
— Eu tenho espreitado Jeová e os anjos a muito tempo, e por ser um Zmej a minha energia é natural, se é natural é impercetível até para os deuses. Quando o arco ficou pronto eu estava lá e removi a corda dele, troquei por outra comum. — Murilo traçou uma linha reta no tampo da mesa com a ponta do dedo e uma haste de metal prateado surgiu, era a corda do arco.
— Então devo minha vida a você... mas porque? Porque me salvou?
— Porque você é necessaria para o futuro.
— Explique melhor.
— Asherah eu quero o arco para invadir o inferno e libertar a mais recente encarnação de Smeralda que está neste momento encarcerada por Lucifer.
— Smeralda... Era uma vadia, sempre a detestei. Mas o que tem haver você ter me salvado com o resgate dela?
— Para onde eu e meu grupo vamos após o resgate? Que lugar é seguro para nós sendo que Lucifer e Jeová irão nos caçar?
— Você me salvou para que eu devesse um favor? — o tom de Asherah se tornou severo — Nunca achei que um Zmej seria tão traiçoeiro.
— Você manteve a cabeça sobre o pescoço por meu esforço, olhe nos meus olhos e diga se é mentira. — Murilo ergueu os olhos e a encarou.
— Sei que não é, tudo bem, eu lhe empresto o arco de Gabriel e cedo minha casa como refugio para você e seu bando, mas apenas de um modo temporário.
— Fico muito grato, e você em breve ira festejar por ter me ajudado.
— É mesmo? Porque? Aliás até agora não entendi seu envolvimento com Smeralda, o que te fez quebrar as leis dos Zmej para ajudar um anjo?
— Não convém dizer no momento.
— Mas foi você que a dividiu.
— Não entendi.
— Por favor, não me tome como ingênua, eu estive diante do corpo de Smeralda logo após a alma ter se separado dele, não foi como disseram, a alma não saiu do corpo após a queda dela na terra, você fez isso, só um Zmej poderia desfazer a estrutura de um ser criado por um dos doze. Porque fez isso?
Murilo ficou em silencio, mordeu os labios enquanto decidia se falava ou não.
— Porque? Porque ela queria alcançar um objetivo muito alto e eu prometi ajudar em troca de viver uma das maiores aventuras já vista na história deste universo.
— Você entrou nessa por adrenalina?
— Acha pouco? Para um homem perdido no deserto um copo de agua vale mais que tudo.
— Entendo, afinal a aventura foi a unica coisa que Sé negou aos Zmej, logo isso se tornou seu maior desejo.
— Sim.
— Mas e qual foi o motivo de Smerlada? Como alguém é voluntario a ter a alma arrancada do corpo?
— Você sabe o que é um ser humano? — Murilo tamborilou os dedos na mesa.
— Um ser inteligente criado por sé.
— E sabe que Sé os criou pessoalmente?
— Claro que sei dis... oh não, é o que estou pensando? Isso é... Não pode ser, você não traíria Sé desta maneira Uragan, me diga que estou enganada.
— Voce não está enganada.
— Isso é hediondo! Era um segredo só nosso! Os doze deuses primordiais e os nove Zmej juraram não revelar.
— Revelar o que? — Ferrabraz perguntou.
— O que Asherah está dizendo é que os primeiros seres criados, os doze deuses supremos e nós Zmej testemunhamos a criação da raça humana, a alma deles foi feita para evoluir constantemente, para isso Sé criou um núcleo de energia semelhante ao dele proprio, um núcleo maior que o meu, ou o de qualquer Deus.
— Mas... Se humanos são tão poderos quanto deuses, como não tem poderes? — Ferrabraz perguntou novamente.
— O núcleo de energia é para fazer a alma humana ser eterna, mesmos quando ela volta para o núcleo maior e é purificada ela ainda existe e existirá para sempre, toda essa energia fica apenas na alma e não no corpo de carne e osso.
— E você ensinou a Smeralda a comer as Almas humanas, estou certa?
— Sim, esse foi o intuito de retirar a alma angelical dela do corpo original e inserir em um corpo humano, ela assim entrou na roda das encarnacoes, a roda não compreendia que aquele corpo ja tinha sido ocupado por Smeralda, ela o identificava como vazio.
— Então a Roda enviava uma alma purificada para o corpo, almas purificadas não tem memória, não conhecem a maldade, não sabem se defender. — Asherah falou.
— Exatamente, assim Smeralda as consumia e absorvia os núcleos de poder.
— Quantas vezes ela conseguiu fazer isso? Quantas almas ela comeu?
— Ela comeu trinta e seis Almas. — Murilo respondeu.
— A conta não bate, esta ultima encarnação não é a trigésima sétima?
— Sim, mas Tiago não foi consumido, ele foi a unica alma que resistiu.
— Então existem duas Almas dentro daquele corpo? — Asherah perguntou.
— Não, só uma, é impossível o corpo ter duas almas.
— Então se eram duas e agora são uma isso quer dizer que a alma dos dois se fundiu.
— Sim.
— Isso significa que é uma única alma mas são duas consciências... o humano Tiago pode ganhar.
— Asherah ele ja está ganhando, ele escolheu formar o corpo como sendo masculino, Smeralda tentou resistir mas o máximo que conseguiu foi fazer a personalidade de Tiago ser similar a das lembranças que ela tinha de Lucifer.
— Como sabe de tudo isso?
— Eu divido a alma de Smeralda, eu a escuto todo tempo. Ela está lutando para tomar posse de Tiago, mas ele se impôs como dono natural do corpo, ela não teve como combater isso afinal o corpo humano é para a alma humana, mas agora Tiago está mergulhando cada vez mais fundo na vida de Smeralda, e ela envia constantemente lembranças para ele, para que ele se engane.
— Se ele pensar que é ela... ela vence. — Asherah se admirou.
— Se depender de mim ela vencerá.
— Apenas uma coisa não ficou clara, qual o objetivo de buscar tanto poder?
— Posso responder isso com um simples ditado popular brasileiro.
— Qual?
Murilo sorriu cheio de deboche.
— Os pais não devem sobreviver aos filhos.
IV
Lucifer sentado no ponto mais alto do telhado da Torre, sem camisa, com o cabelo bagunçado e as calças dobradas até os joelhos, a face pálida mas os olhos muito majs vermelhos que o habitual, as asas balançando contra o vento extremamente gélido da noite eterna do inferno. Na mão duas garrafas de fogo grego, a única coisa capaz de deixar um anjo bêbado. Ele deu a última golada em uma e a tirou para trás a espatifando nas telhas de cerâmica, com os dentes arrancou a rolha da outra e começou a beber, a beber e a chorar.
— Eu sou o rei do inferno! Rei não, imperador! Eu impero nesse caralho todo— Ele disse para si mesmo com a voz arrastada pela embriaguez apontando para a cidade iluminada de vermelho logo abauxo — Eu tenho tudo o que quero! Mas o desgraçado do moleque eu não tenho...
Estava tão bêbado que nem sequer se importou com o farfalhar de asas pousando ao lado. Assim que seus pés tocaram as telhas Drusila fez com que as asas desaparecessem.
— Poderoso Imperador... toda a cidade está ouvindo seus gritos.
— Que a cidade pegue fogo! Eu não ligo! — Lucifer soluçou.
— O Rei está bebado! Não dêem atenção! — Drusila berrou o mais alto que pôde e algumas risadas ecoaram vindas das ruas da cidade.
— Esses malditos estão rindo de mim? De mim?! Guilhotina meus senhores, vou por todo mundo sem cabeça!
— O que aconteceu pra te deixar assim? Nunca te vi neste estado.
— O que aconteceu? Eu beijei o Tiago... — Ele pronuncio "tiiiaaaaaaaaagu".
— Ele te rejeitou?
— Não, ele retribuiu, e boca dele é macia como a de um bebê...
— E você ja beijou a boca de um bebê pra saber? — Drusila zombou.
— Não fode Drusila, não vê que eu to no fundo do poço? Tiago... ele ama Ahavael, mas me ama também eu sei.
— Então se ele retribuiu o beijo... qual é problema?
— Minha calça quase estourou... duro feito uma pedra... — Ele deu tapas desajeitados sobre a virilha — Mas isso não foi o pior, o pior foi que quando o beijei eu senti Smeralda dentro dele...
— Mas isso foi ruim?
— Foi horrível! Porque eu a ignorei!
— Ignorou? Como assim?!
— Eu tava beijando ele, e só ele, não era por ela, era por ele.
— E por isso está bebendo?
— Eu estou arrasado... Porque sou um marido horrível... Eu devia estar esperando Smeralda e não beijando o casulo dela...
— Lucifer você se esquece dos princípios basicos da natureza deste universo?
— Princípios? Eu não sei de nada disso! — Ele voltou a beber da garrafa.
— O princípio mor diz que "as coisa são como são", não existe meio de mudar aquilo que esta determinado. Talvez seu destino seja amar Tiago agora.
— Meu destino é ser o marido de Smeralda!
— Nem Sé sabia a rota do destino, nós que somos infinitamente menores que ele também não sabemos.
— Mas e a Smeralda? E todos os milênios que esperei por ela?
— Já parou para pensar que você na verdade esperou por ele?
— Parece que sim. Mas e a questão do poderes de Smeralda? Eu preciso dela como aliada! Senão vou perder minha coroa...
Os olhos de Drusila ficaram opacos, seu pensamento rápido começou a funcionar, ela odiava a idéia de ter Smeralda de volta a vida.
— Que cara de maluca é essa? — Lucifer perguntou.
— Me deixe pensar um minuto.
E ela pensou, sabia que Smeralda era mil vezes pior que Lucifer e que isso iria causar grandes problemas, como Drusila conseguiria continuar com sua vida libertina e corrupta? Tudo que ela fazia, todas as leis que quebrava só eram possíveis com Lucifer fazendo vista grossa mas se Smeralda voltasse Drusila seria colocada novamente nas fileiras do exército de demônios como um mero soldado. Smeralda não podia voltar, não, de jeito nenhum. Ela pensou em dizer a Lucifer muitas vezes, dizer que Smeralda era uma praga e que so causava dor e aborrecimentos, mas Lucifer com sua fixação em ter ela de volta não ouviria e ainda ficaria contra Drusila, mas agora essa história de ele se apaixonar por aquele saco de carne...
— Lucifer, é possível dar a Tiago os poderes de Smeralda, deixar ele assumir o lugar dela.
— O quê? Não, para assumir os poderes em totalidade a alma tem de voltar para o corpo angelical dela.
— Não. Há outro modo. Se interessa em saber?
— Sim.
— É possível destruir o corpo angelical dela, usar os fragmentos e fundir no corpo dele, assim ele seria um anjo.
— Mas se ele for um anjo, a alma de Smeralda tentará sobrepujar o espírito de Tiago para assumir o controle.
— Ensine a ele a lutar e ele vencerá, você terá Tiago para sempre.
— Não sei... tenho de pensar.
— Pense sim, mas enquanto isso que tal dormir um pouco?
— Quando no universo um Anjo dormiu Drusila? Fogo grego me deixa tonto mas não me apaga.
— Tiago não sabe disso.
— Está sugerido que eu finja que sou um humano bêbado e faça ele ter dó de mim?
— É uma ótima ideia não é?
— É... — Lucifer deu uma risada abobalhada.
Não sei porque, mas aqui eu tô detestando o Murilo e a vadia da Smeralda.
ResponderExcluirEu cada vez mais amo esse conto
ResponderExcluirAnsioso para o próximo capítulo
ResponderExcluirLucifer,bobinho?...so na história mesmo!😂😂😂
ResponderExcluir