Lucifer Smeraldina Cap. 6

Felipe Caprini
26 de Janeiro de 2020



Lucifer Smeraldina 
Capítulo 6 
"Alguém Está Gritando Lá Fora"


I
Foi rápido e singelo, Apemas labios se encontrando por cerca de nada além de dois ou tres segundos. Tecnicamente não era nada, não devia ser nada, mas era... tudo. Tiago deu seu primeiro beijo com quatorze anos em um rapaz do segundo colegial, os dois escondidos atras da torre da caixa-d'água da escola, e depois ele não parou de beijar, até beijou algumas meninas. A cada beijo avulso que dava ele sentia como se fosse nada além de uma brincadeira, era divertido e prazeroso fazer isso. Mas este beijo foi totalmente diferente, neste simples encostar de lábios havia mais significado do que em mil palavras.

— Mas o que significa isso? — Tiago perguntou se afastando de Júlio e sentando na grama.
— Foi... um beijo. — Tiago tocou os lábios com os dedos e sorriu.
— E-eu percebi, mas porque?
— Porque? Porque as pessoas beijam?
— Diga você.
— Tudo bem, eu gosto de você. Porque eu amo você. Foi tão ruim assim?
— Não, não foi ruim, é que... Não estava esperando.
— Eu estava.
— Estava?
— Tiago eu esperei por quase setecentos anos. Mas peço perdão se fui precipitado, não achei que isso ia te perturbar.
O rosto e orelhas de Tiago ficaram muito vermelhos.
— Não estou perturbado.
— O que foi? Até parece que foi seu primeiro beijo. — Júlio riu.
— E foi, não o primeiro beijo que dei, mas o primeiro que significou algo.
Júlio se sentou fazendo mais sangue Dourado escorrer do corte.
— Se foi importante pra você então fico feliz. Vem, vamos para dentro, eu tenho que descansar para esse corte sarar logo.

Júlio ficou no quarto deitado esperando a ferida no peito fechar, Karen continuava a ler os livros de magia esparramada no tapete da sala, Danusa e Tiago foram para cozinha fazer o almoço e enquanto ele amassava batatas cozidas para fazer o purê ela quis conversar.
— Até que enfim heim.
— Até que enfim o que? — ele tentou disfarçar o constrangimento.
— Até que enfim você e o Júlio...
— Nós não temos nada, foi só uma brincadeira dele.
— Cara qual seu problema?
— Nenhum. Do que você está falando?
Danusa colocou os bifes para fritar na frigideira e eles chiaram em contato com o metal quente.
— Eu ja te vi beijando pelo menos uma dúzia de caras, mamãe também já   viu e você nunca ficou sem graça. Aliás eu nunca teria a coragem de ficar enfiando a lingua na boca de outra pessoa em público como você costumava fazer, mas agora Júlio te da um selinho e você fica todo melindroso? Deixa de ser boiola! Ele é apaixonado por você e você por ele.
— Você não entende.
— Ah seu tosco eu entendo sim, sei que você sempre foi apaixonado por Júlio, e eu não estou falando que essa é a minha opinião, eu li seu diário. É, aquele diário cor de rosa com cadeado que você escondia de baixo da cama quando tinha treze anos. Você acha que ninguém ia ver um caderno de capa felpuda com uma foto da Mariah Carey no centro? Era uma viadagem sem tamanho, mas eu li tudo e achava uma graça suas notas sobre "como Júlio se veste bem" e "ai como queria que meu cabelo fosse igual o dele" e "será que ele também gosta de meninos?", você chegou a guardar entre as páginas uma embalagem de um pirulito que ele te deu, "ai o Júlio sabe que meu preferido é o pirulito de coração".
— Isso é invasão de privacidade! É falta de respeito!
— Quer ter privacidade? Na próxima encarnação seja filho unico! Quer respeito? Deixe de ser frouxo! — Danusa riu.
— De todo modo eu tinha treze anos, não existe uma palavra escrita lá que faça sentido hoje em dia.
— Tem certeza?
— Absoluta.
— Quando olho pra você, um marmanjo de quase trinta anos... ainda não vejo diferença do adolescente birrento que usava camisa de pseudp banda de rock comprada em camelô.
— Eu queria que isso fosse verdade, queria ser a mesma pessoa dessa época. Era tudo tão simples.

"SMERAAAAAAAALDA!"

Tiago se levantou e olhou para a irmã assustado.
— Alguém está gritando lá fora. — Danusa correu para a janela da cozinha.
Ele a acompanhou e viu o mesmo homem que tinha sido baleado pela irmã na porta da loja, ele se mantinha a cinquenta metros da casa e quando encontrou a figura de Tiago na janela falou:
— Vim buscar você.
— E quem é você? — Tiago perguntou.
— Sou Ferrabraz, sou um dos vinte e um arquiduques do Inferno. Lucifer, seu marido, ordena sua presença e eu vou escolta-lo, é para efeito imediato, venha agora.

Danusa alcançou sua pistola em cima da geladeira e voltou para a janela, mirando em Ferrabraz, ele falou:
— Estou aqui até o momento sem intenção de ferir ninguém. Porém se qualquer ato hostil partir de qualquer um de vocês terei de revidar e dessa vez não vou recuar.

Karen entrou na cozinha, Júlio cujo o peito ainda estava ferido mas sem nenhum sangramento abriu a porta e saiu para o Jardim se pondo diante de Ferrabraz.
— Demonio não perca seu tempo.
Ferrabraz sorriu debochando.
— Infelizmente passarinho o meu tempo não é meu para que eu o perca, cumpro ordens, é meu senhor que dispõe do meu tempo como bem entende.
— Então você é só um lacaio.
— Você acha que vai me ofender dizendo a verdade na minha cara? Pois tente de novo. Sim sou um lacaio, assim como você. E nós dois somos lacaios de garras afiadas não somos?
— Demônio vá embora, ele não vai.
— Eu não estou perguntado se ele quer ir ou esperando você permitir, eu estou comunicando que ele vai. Você quer me obrigar a usar de força? Eu estou pronto para isso.
— Quer lutar em plena luz do dia?
— Meu senhor, que é no caso seu irmão Lucifer, me deu permissão para ignorar completamente a lei de discrição, eu não preciso me preocupar se humanos nas redondezas vão testemunhar nossa... situação, eu fui ordenado a cair em cima de vocês com tudo.

O corpo de Júlio reluziu como se inteiro fosse feito de luz, a forma mudou, invés de um homem de um metro e oitenta o que surgiu foi um anjo de dois metros e vinte de altura, cabelos lisos e longos até a abaixo da cintura, gigantescas asas e uma espada de dois gumes na mão pronta para a luta, a calça larga do pijama antes usado por um corpo magro humano ficou tão justa que rasgou algumas costuras.
— Aquele é Ahavael. —  Karen também espiava pela janela.
— O negócio é sério mesmo, ele regressaria a forma de anjo atoa. — Danusa comentou.

Ahavael e Ferrabraz ficaram se encarando mas de repente pareciam imóveis, Tiago observou assustado e olhou para Danusa em busca da saber o que fazer, ai sentiu mais medo pois a irmã e a mãe também estavam paralisadas, olhos vidrados e sem respiração. 
A voz macia de um jovem rapaz se fez ouvir na cozinha.
— Smeralda? Ou melhor, Tiago...
Tiago se virou e viu Murilo sentado em uma das cadeiras da cozinha, rapidamente pegou seus leques em cima do armário e ficou pronto para a luta mas o rapaz sorriu.
— Não é educado ameaçar com armas pessoas que vem em paz.
— Quem é você? — Tiago ficou o mais longe possivel encostando na lateral da geladeira.
— Ninguém. Não se preocupe, não vou te atacar nem tentar te levar, eu vim apenas para dar um conselho e fazer um pedido.
— Foi você que fez isso? Congelou eles?
—  Não eles, tudo na circunferência de cento e vinte metros. Eu parei o tempo, sou um ser muito antigo, o tempo é relativo para seres como eu, parei o tempo mas assim que falarmos tudo voltará ao normal, eles não vão perceber o que aconteceu.
— Então... então fale!
— Meu nome é Murilo. Eu fui o responsável por te localizar. Sabe, Jeová colocou um feitiço de bloqueio de rastreamento na sua alma, absolutamente ninguém conseguia te encontrar, o único ser que era capaz de ignorar esse bloqueio sou eu. Mas eu não fiz isso por seu inimigo, não me veja desse modo.
— E de que modo eu o veria? Olha a merda que virou minha vida por sua causa!
— Sua vida ainda nem sequer começou rapaz, não seja afobado falando de resultados quando ainda mal deu o primeiro passo.
— Diga logo o que quer.
— Certo. Ferrabraz vai te levar, ele é muito forte, muito mesmo, e se a sua... família, se eles resistirem serão mortos. Não estou superestimando ele, essa é a realidade. Você se estivesse em posse de sua força completa poderia derrotar Ferrabraz facilmente, afinal você é a maginifica Smeralda, já aquele anjo lá fora e esses seus parentes... eles serão massacrados se você deixar. Esse é meu conselho, vá com Ferrabraz . Mesmo você indo, o anjo lá fora vai tentar lutar, ele vai se ferir mas se você for de boa vontade ele vai sobreviver. A escolha é sua.
— Então seu conselho é me render?
— Sim, mas é só um conselho, você é quem sabe. Agora tenho um pedido a fazer e realmente espero que me atenda.
— fala sério? Acha que vou atender seu pedido?
— Espero que sim. Quando você estiver diante de Lucifer ele vai te tratar com todo o carinho e amor que puder demonstrar, mas não deixe seu julgamento se turvar por galanteios. Meu pedido é, toda vez que Lucifer te fizer a pergunta, quando ele te perguntar quem você ama, diga "ninguém". Não importa quem você ama, talvez você escolha Ahavael, talvez escolha o próprio Lucifer, mas adie dar a resposta verdadeira o máximo possível. Diga sempre "eu não amo ninguém".
— Ele vai me perguntar isso?
— Porque a sua escolha mudará o destino dele, o destino de Ahavael e principalmente o de Smeralda.
— Não entendo, porque então devo mentir?
— Por dois motivos, um é interesse meu e o outro é interesse da própria Smeralda. Com esse seu gesto você me dará tempo. Sim, por mais que o tempo seja relativo para mim, para os outros ele passa, ele corre, e eu preciso de mais tempo. Já o interesse de Smeralda é ser a terceira opção.
— Como assim?
— Siga meu conselho e quando for a hora você entenderá. E por favor não mencione a ninguém dessa minha interferência.
— Eu não entendo, de que lado você está?
— Quer saber se eu luto por Lucifer ou por Ahavael?
— Sim.
— Maniqueísmo é algo extremamente tolo. Eu não estou nem com o céu nem com o inferno, mas gosto da terceira opção.
— E qual é a terceira opção.
— Na hora certa saberá.

O tempo voltou a correr, murilo desapareceu da cozinha como se nunca houvesse estado lá.

II
Ferrabraz ergueu a mão no ar e tocou algo aparentemente invisível que fez a palma de sua mão ficar engrecida, queimada. Ele observou a mão queimada então a fechou e desferiu um soco na mesma direção no ar e o som que se seguiu foi similar ao de um grande sino de igreja, era a barreira contra demônios que ressoava.
— Acha que isso é o suficiente para me impedir de chegar até ela? Aliás, chegar até ele?
— E não é? — Ahavael ergueu as sobrancelhas em desafio.
— Você me confunde anjo... isso é um erro.
— Pare de falar, você fala demais. Se acha que pode derrubar a barreira, faça, quero ver.

Ferrabraz sorriu, seus lábios abriram um largo sorriso em sua face rosada, ele era muito bonito e realmente mais atraente do que a média dos homem humanos, mas o sorriso começou a se esticar mais do que o normal, os olhos se arregalaram com a pele se enrugando nas laterais, os ossos do crânio sob a testa se moveram, o nariz aumentou de tamanho e a pele comecou a ficar vermelha, os dentes se deslocaram entortando em diferentes direções, o antes sedoso cabelo pegou fogo e se ergueu como uma labareda sobre a cabeça, um par de chifres despontou das têmporas, os braços incharam e se esticaram rasgando a camisa, as mãos agora do tamanho de melancias com dedos grossos e quadrados, ele se encurvou como um gorila.
— Ai está a sua verdade, vocês escória são sempre horriveis... — Ahavael falou.

Ferrabraz começou a se movimentar no entorno da casa usando as mãos como apoio para caminhar, parou e ficou o mais perto possível da barreira invisível e começou a cantar, mas a voz  que saía de sua boca monstruosa era como a de uma multidão, como se sua voz houvesse sido multiplicada por mil.
— Ha! Hohohooo! Hu! Ha! Hohohooo! Hu!
Então tudo ficou vermelho.
Sim, de uma hora pra outra Tiago olhou em volta e não via nenhuma cor que não fosse a vermelha, cada utensílio da cozinha, cada móvel, os azulejos da parede, a comida nas panelas, tudo vermelho, Karen e Danusa também, a pele, a roupa e os cabelos delas totalmente vermelhos.
Ele pensou que fosse sua visão que estava deturpada, mas Karen avisou:
— Está tudo vermelho, é uma ilusão, isso é o chamado "Horror do Demônio", eles fazem isso para por medo em nos inimigos, nos faz ver tudo coberto de sangue. Eles só fazem isso na guerra, já li sobre mas... nunca achei que fosse tão perturbador.
— Até o céu está vermelho... — Danusa se admirou olhando pela janela.
Karen se encolheu ao lado da pia e cobriu os ouvidos.
— Tampem os ouvidos, o próximo passo do horror são os tambores.

Ela mal acabou de dizer e todos começaram a ouvir tênues batidas de tambor mas que rapidamente foram substituídas por batidas violentas e em um volume tão alto que Tiago sentia os órgãos internos de seu corpo tremendo, ele agora estava realmente com medo.

Ferrabraz passou a correr em volta da casa, era um bicho horrendo,  corria apoiado nos braços disformes e seus olhos injetados buscavam algo sem parar. Ahavel de espada em punho bateu as asas e voou para o telhado da casa de modo que dali poderia observar todo o perímetro, Ferrabraz deu muitas voltas em torno da casa até que parou, havia encontrado o que buscava, o próprio Ahavael engoliu em seco pois também viu a falha, uma fina linha semi transparente na barreira invisível. O Demônio ergueu os braços enormes sobre a cabeça a começou a esmurrar a barreira, seus murros potentes e rapidos faziam a barreira ondular, Ahavael olhava com preocupação temendo o pior, a cada murro a barreira ondulava mais e mais, Ferrabraz desferiu centenas de socos com o maximo de força que tinha até que o pior aconteceu.

Com um estrondo de vidro estilhaçando alto o suficiente para sobrepor os terríveis tambores a barreira caiu e em um salto Ferrabraz estava em cima do telhado, Ahavael se desviou do primeiro murro, girou com as asas abertas lançando no demônio penas afiadas como pontas de facas que rasgaram a carne dos braço do inimigo quando ele os ergue protegendo o rosto, porém as penas não surtiram o efeito desejado Ferrabraz parecia não sentir nenhuma dor ou dano com aquilo. Ahavael segurou o cabo da longa espada com as duas mãos e começou a golpear,  a lâmina zunia com a velocidade a qual vibrava no ar mas Ferrabraz também era rápido e se desviava da maioria dos golpes.

Tiago olhava para o teto, a luta se dava bem sobre as telhas que cobriam a sala mas logo as vigas da cozinha envergaram revelando que a luta havia chegado lá.
— O que a gente faz pra ajudar? — Danusa perguntou.
— Não sei... — Karen respondeu — Eu já vi demônios, muitos, mas nada assim...

Ahavael saltava e girava em torno de Ferrabraz o atingindo, cortando a pele vermelha, abrindo talhos enormes na carne dura do demônio mas Ferrabraz prosseguia lutando e em um momento de descuido ele o pegou.

As vigas estavam cada vez mais tortas, Tiago pressentiu o que ia acontecer mas foi tarde demais, o telhado desabou. Ele observou os cacos das telhas e as vigas de madeira vindo em sua direção quase que em camera lenta, mas eles ricochetearam em algo, e Karen estava lá em pé com os braços erguidos e uma forte luz amarela saindo dela, a luz era a unica coisa não vermelha na cena, esta luz formava uma espécie de escudo que protegeu os três dos escombros. Então ele viu no meio da poeira e dos cacos Ahavael de tentando se desvencilhar da mão de gigantesca do demônio que segurava firme uma de suas asas. Ferrabraz com a outra mão deu um murro forte no peito de Ahavael o fazendo bambear, com outro murro a espada voou para longe e com mais um Ahavael caiu de joelhos. O que se seguiu foi tão horrendo para Tiago que a ração foi imeditada, Ferrabraz apoiou uma mão no corpo de Ahavael o mantendo preso ao chão e com a outra...

 CRACK!

A asa do anjo foi arrancada e atirada para trás, a boca de Ahavael se abriu em um claro urro de dor mas foi abafado pelos tambores ensurdecedores, a asa cainda no chão ainda se movia em espamos mesmo após ter sido separada do corpo. A mão de Ferrabraz encontrou a outra asa e estava pronta para a arrancar também quando Tiago agarrou a mão gigantesca a envolvendo em um abraço firme.
— Para! E-eu vou!

A cabeça demoníaca se virou e os olhos injetados encontraram os de Tiago, os tambores pararam imediatamente o a cor vermelha deu lugar as cores normais de antes.
— Repita. — Ferrabraz falou.
— Eu vou com você, apenas pare com isso agora.
— Não! Não Tiago! Você tem que correr! — Ahavael gritou ainda sob o peso da mão do demônio.
— Acha que essas pernas humanas vão muito longe? Se quiser correr corra garoto, mas eu vou correr atrás. — Ferrabraz disse.
— Não vou correr. Por favor solte ele.
— Soltar? Ele me irritou, achou que eu era um dos muitos diabinhos tolos iguais aos que ele matou, achou que ia me derrotar facilmente como anjos fazem com a maioria dos demônios, mas eu fui escolhido para essa tarefa justamente por ser muito fortr. Não tinha intenção de machucar o anjo, avisei mais cedo que apenas vim te levar, mas ele realmente me irrita.
— Se a sua tarefa é me levar então a cumpra, não há necessidade de fazer mais nada além disso, eu vou com você agora. — Tiago falou com o queixo tremendo — Só me permita me despedir deles.
— Seja rápido, e sem gracinhas.

Tiago foi até a mãe e a irmã e as abraçou.
— Meu filho... Eu não... Você não pode ir pra lá...
— Mãe é o único jeito, mesmo se eu me recusar a ir ele vai matar Júlio e depois vocês duas, então vai me levar a força.
Karen começou a chorar e soluçar, Danusa segurou a mão dela e se despediu do irmão.
— Então vá, e fique tranquilo, vai dar tudo certo.
— Cuide de Júlio por favor.
— Vou cuidar.

Tiago apanhou o par de leques no meio dos escombros e se agachou perto de Ahavael.
— Tiago você não pode ir! Não pode!
Tiago se abaixou mais, encostou a testa na dele e sussurrou o mais baixo que pôde:
— Eu fui informado agora pouco que terei de fazer uma escolha. Enquanto estiver no Inferno eu vou protelar isso, não vou declarar escolher ninguém por um tempo, mas quero que saiba que todas as vezes que eu disser que não escolhi ninguém será mentira. Eu já escolhi você.

Tiago ficou em pé, Ferrabraz soltou as mãos que mantinha em Ahavael e estendeu uma delas para ele.
Antes do clarão iluminar o cômodo ele observou o rosto angelical de Ahavael que estava com a testa franzida mostrando conflito de sentimentos, um segundo depois o que Tiago viu foi o corredor de pedra e porta vermelha, Ferrabraz soltou a mão dele e disse:
— Bem vindo ao Inferno.
— Que parte do Inferno é essa?

A porta se abriu e Tiago contemplou o sorriso mais belo que já havia visto, Lucifer se deu alguns passos a diante e o abraçou, ele era pelo menos vinte centímetros mais alto e assim apoiou o queixo na cabeça do outro, acariciando as costas dele falou.
— Que parte? Essa é a sua casa. Até que enfim meu amor, até que enfim voltou pra casa.

Comentários

Postagens mais visitadas