Lucifer Smeraldina Cap. 3
Felipe Caprini
20 de Janeiro de 2020
I
20 de Janeiro de 2020
Lucifer Smeraldina
Capítulo 3
"O Ouro Cura"
I
Danusa dirigia o mais rápido que podia contando com a sorte das ruas estarem desertas, o vento zunia pela lataria do carro. Tiago no banco do carona e Júlio no banco de trás com Karen no colo. Ele mantinha uma mão na cabeça e outra sobre o peito dela e uma leve luminescência dourada saia do encontro das palmas das mãos dele com a pele de Karen.
— Está usando seus poderes nela? — Danusa olhou pelo espelho retrovisor e Julio assentiu.
— Poderes... Poderes de Anjo!mEntão está curando ela? — Tiago perguntou aflito.
— Não, nesta forma humana eu só posso curar males comuns, as vezes algumas doenças que progridem lentamente, mas ela tem veneno da terceira serpente mais mortifera do planeta correndo direito para o coração. O que eu estou fazendo é mantendo ela viva, se eu parar de enviar força ela morre.
— Morre? Meu Deus, então... Pra que hospital vamos?
— Hospital nenhum, Vamos ver Vidália. — Danusa falou e pisou fundo no acelerador.
— Vidália? Tem certeza? — Júlio perguntou.
— Sim, ela pode ajudar, você sabe que pode.
O nome Vidália não era estranho, era uma cliente frequente da loja de Karen, Tiago se lembrava dela, era bonita e sempre usava enormes brincos de argola, mas nunca soube que ela sabia curar feridas com veneno de cobra.
— Acha que Vidália vai querer ajudar? Eu não confio nela. — Júlio perguntou.
— É a única chance, temos de pedir ajuda, e ela é amiga da mamãe faz mais de vinte anos, isso deve valer algo.— Danusa respondeu.
Tiago parecia muito assustado, não parava de balançar uma das pernas.
— Danusa se nossos pais são anjos, quem é aquela cara da foto?
— Que? O que? Que foto moleque?
— A mãe me mostrou a vida inteira a foto de um barbudo, disse que era meu pai e que se chamava Stevan, que o conheceu na Argentina e ficou com ele uma única noite e depois voltou para o Brasil.
— Porra moleque é agora que quer falar disso? Eu to a cento e vinte quilômetros por hora! Devia ter perguntado quando surgiu o assunto!
— Eu tava confuso na hora!
No banco de trás Júlio soltou uma leve risada.
— Que que foi? — Tiago perguntou?
— Você sempre desata a falar quando fica nervoso. Mas tudo bem eu explico, o cara da foto é um cantor britânico chamado Cat Stevens, foi muito famoso na decada de sessenta. Sua mãe amava ele.
— Um cantor da velha guarda?
— Sim, hippie.
— O cara que eu achei que era meu pai por vinte e oito anos é um cantor que do qual minha mãe é fã?
— Eu falei pra ela arranjar um álibi decente, mas ela foi irredutível na escolha da foto.
Tiago segurou a cabeça com as duas mãos e choramingou:
— Meu Jesus amado... o mundo virou de cabeça pra baixo...
II
Assim que o carro deu partida Ailin saltou da árvore e correu, disparou pela estrada seguindo mas suas patas de gato se tornaram pequenas e lentas para a missão, Então ela mudou, agora o que corria na estrada era maior, Ailin era um jaguar negro capaz de correr rápido como um raio, sua pelagem escura a escondendo na escuridão da noite.
O carro ia cada vez mais rápido mas ela podia acompanhar facilmente, corria e saltava, agora sem a da casa proteção ela podia atacar aquelas pessoas, podia avançar em uma das janelas e arrancar o braço ou rasgar o pescoço da motorista, mas pensou melhor e desistiu, a Smeralda era ainda frágil e se o carro batesse ou se acabasse capotado ela poderia morrer, e se Ailin fosse responsável pela morte da preciosa Smeralda a coisa ia ficar muito feia para o lado dela, então apenas seguiu de perto.
Após meia hora o carro parou em uma rua da periferia de Guarulhos, um lugar nada bonito, o carro buzinou e uma mulher negra de cabelo preto em longas tranças vestindo um roupão azul saiu de uma das casas e abriu o portão de ferro para o carro entrar. Ailin se tornou novamente um gato pequeno e se aproximou, não existiam barreiras ou escudos naquela casa, mas existia uma energia forte, característica das energias que Ailin um dia sentiu diante dos Templos dos deuses da Grécia milênios atrás, mas ali não era um templo de Deus Grego, ali tinha uma energia na mesma frequência divina mas diferente em Origem. Quando Ailin constatou o que era aquele lugar seu corpo de gato se arrepiou por inteiro, com certeza ali era a casa de um Deus Africano.
III
Ferrabraz se manteve abraçado com Murilo a noite inteira, as vezes beijava a nuca do garoto, as vezes acariciava os cabelos passando os dedos para erguer os fios curtos e ver como a pele do couro cabeludo era clara em contraste com a pele do restante do corpo já mais bronzeada. Para a sua eterna satisfação Murilo não rejeitou nenhuma de seus toques ou carícias e até se aproximou mais por vontade propria. Por volta das quatro da madrugada Ferrabraz sentiu os olhos pesados, era como se houvesse areia dentro deles. Ele tentou limpar com as mãos mas sem sucesso, então apenas fechou os olhos um instante. Ferrabraz imediatamenteadormeceu e sonhou. Ai estava o problema, demônios não sonham, isso porque demônios não dormem. No exato momento em que Ferrabraz foi levado a fechar os olhos ela já sabia que estava sendo induzindo a ir visitar um dos poucos seres no universo que eram capazes de convocar a presença astral de demônio contra a vontade do próprio.
Então o sonho se formou, ele se viu em pé diante de uma grande lareira acesa, as chamas vermelhas crepitando sozinhas, o fogo flutuava no nicho de pedra sem lenha para queimar. Era uma sala cujo o piso era de marmore negro. Na parede acima da lareira havia uma pintura, um quadro enorme de moldura de marfim branco, nele através de hábeis pinceladas se via a imagem de um Anjo Feminino de grandes asas brancas emplumadas, ela tinha os cabelos dourados, o rosto fino mas com um expressão gentil, usava um vestido simples rosado, em uma das mãos tinha um leque branco, na outra segurava o cabo de uma espada. Por mais que a pintura fosse bem detalhada, o que mais chamava a atenção eram os olhos, aquele Anjo tinha olhos verdes, mas não verdes comuns como os do próprio Ferrabraz, os dela eram tão vividos e brilhantes que pareciam iluminar a face.
— Bonita não é?
A voz que falou vinha de trás, Ferrabraz estremeceu ao reconhecer, se virou rapidamente e caiu de joelhos diante de Lucifer.
— Blagosloven e Carot na pekolot. — Ferrabraz fez a saudação formal na língua divina, disse " Bendito seja o Imperador do Inferno".
— Obrigado pela sua devoção, mas dispenso a fala na língua antiga, sei que você não gosta disso, seu forte são as línguas latinas não é?
— Sim meu senhor. — Ferrabraz se manteve ajoelhado e com a cabeça baixa.
— Se não me falha a memória antes dos povo lhe renomear como "Ferrabraz"... Que alias o que significa mesmo?
— Hum... Signica valente em italiano meu senhor.
— Ora que exótico... Mas seu nome original qual era?
Ferrabraz apertou a mandíbula por um momento, ele odiava que dissessem seu nome original, odiava mais ainda Lucifer por obriga-lo a pronunciar.
— Lacínio meu senhor. Eu quando humano fui Lacínio de Tigris.
— Nasceu na Ásia Romana não foi?
— Sim meu senhor.
— Então diga, ele sabe? O Zmej sabe quem você é?
Ferrabraz ergueu a cabeça, Lucifer era belissimo, usava calça de couro negro justas ostentando pernas longas e musculosas, seus sapatos de couro brilhavam como espelhos, estava sem camisa mostrando o tronco magro e forte, seus cabelos negros caiam até abaixo da cintura, seu rosto quadrado com olhos prateados vividos, sombrancelhas finas e lábios rosados, e das costas pendiam enormes asas de penas negras como as de um corvo. Lucifer estava sentado com as pernas cruzadas balançando ligeiramente o pé mais elevado.
— Não meu senhor, ele não sabe. — Ferrabraz respondeu.
— Entendo. Aproveite o quanto puder pois quando encontrar minha Smeralda o meu laço sobre o Zmej se rompe. Aliás como é que você o batizou? O nome humano que deu a ele?
— Foi...Murilo meu senhor.
— Murilo? Outro nome em latim, você realmente ama suas origens Romanas não é? Murilo signica muralha não é?
— Isso meu senhor.
— Mas agora estou confuso, você diz que o batizou de Murilo mas dentro do seu coração ouço o eco de outro nome, algo como "Mumu"... — Lucifer torceu os lábios em uma expressão de nojo ao dizer o apelido.
Ferrabraz olhou para baixo novamente nitidamente envergonhado.
— Eu... Eu o chamo assim pois é mais fácil meu senhor...
O som de passos rápidos fez Ferrabraz erguer a cabeça e então o rosto de Lucifer estava a poucos centímetros do dele.
— Ousa mentir? Ousa mentir para seu Mestre?
— Não... Me perdoe meu senhor.
— Então diga a verdade, por mais humilhante ela seja. Se humilhe na sinceridade meu caro lacaio.
Ferrabraz sentiu os olhos quentes, demônios não choram mas ali no efeito daquele sonho comandado por Lucifer ele sabia que estava prestes a cair em lágrimas.
— Eu... Eu... Eu só quero estar com ele o quanto puder.
Lucifer se afastou.
— Sabe que assim que o acordo acabar ele tera total condição de te esmagar não sabe? O poder dele é suficiente para esmagar um planeta, quanto mais um reles diabo. Acha que pode convence-lo a te aceitar?
— Eu...
— Ora não seja tolo, você é repugnante, ninguém te aceitaria, ainda mais um ser de luz como um Zmej. Mas cansei desse assunto. Como anda a busca pela minha esposa?
— A busca... — Ferrabraz pensou rapidamente se diria ou não, mas Lucifer podia identificar mentiras apenas na oscilação da energia de quem as contava — A busca está completa meu senhor. Eu encontrei.
— Encontrou? Encontrou mas pretendia não me dizer... Encontrou mas não comunicou imediatamente...
— É que... Há uma situação inesperada meu senhor.
— Esta falando de Ahavael? Já era esperado a presença dele ao lado de Smeralda, é uma das regras do nosso jogo. Porém pensei que você sozinho pederia com ele. Onde ela está? E porque não me disse no ato?
— É porque não é "ela", Smeralda é "ele", a alma dela encarnou como um homem meu senhor, na forma humana masculina, a alma de Smeralda habita o corpo um rapaz de nome Tiago.
— Isso é uma piada? Acha que por ser um dos principais membros da minha côrte isso te da liberdade para fazer pantomimas comigo? Zomba do seu Imperador?
— Não meu senhor, eu não falo piadas, eu lhe trago a verdade. Olhe nos meus olhos e veja.
Ferrabraz olhou para cima e abriu bem os olhos verdes rajados de cinza, Lucifer se aproximou e se inclinou para que os olhos dos dois se encontrassem, então ali neles viu refletir a nova face masculina de sua amada, Lucifer viu Tiago. O tapa veio tão rápido que Ferrabraz simplesmente caiu no chão, sua face mesmo no sonho ardia.
— Que coisa hedionda foi esta que me mostrou? — Lucifer berrou.
— Apenas a verdade meu senhor, tu sabes que a informação é verdadeira.
— Eu não aceito isso, é... errado.
— Entendo. — Ferrabraz se ergueu e ficou novamente de joelhos — Quer que eu o mate? Se ele morrer é possível que a próxima vinda seja em um corpo feminino.
— Se morrer demorará trezentos anos ou mais para voltar. Não o mate. Se minha Smeralda está dentro desse rapazote apenas traga ele para mim, imaginarei uma solução para esse... problema. Agora vá, vá abraçar seu... Dragão. Estou enjoado demais para ficar papeando.
Ferrabraz fechou os olhos e quando os reabriu estava na cama do quarto de hotel abraçado a Murilo, porém mesmo tendo visto Lucifer apenas em sonho ele ainda assim sentia o rosto arder pelo tapa.
IV
Assim que Danusa estacionou o carro na garagem do terreiro eles saíram, Vidália era uma mulher estonteante, Tiago conhecia desde criança então era claro que ela ja havia passado dos cinquenta anos, porém a pele dela era lisa e sedosa e qualquer pessoa que a visse pela primeira vez diria que Vidália não havia chegado aos vinte e cinco, a parte mais chamativa de seu corpo com certeza eram as mãos adornadas por unhas cumpridas e pontiagudas pintadas de dourado. Ela os guiou para o salão, a casa era na verdade um terreiro de Umbanda, Tiago observou as estátuas de Santos católicos e de Orixás dispostas em prateleiras nas paredes, teve certeza que a maioria delas foi comprada na loja de sua mãe.
Chegaram no meio do salão e então Vidália perguntou:
— Eu não entendi direito quando Danusa me ligou, o que aconteceu realmente com Karen? O que a deixou assim?
— Uma cascavel a picou. — Júlio falou.
— Mas... Eu não tenho antiofidicos aqui, porque não foram para um hospital?
— Uma cascavel enfeitiçada Vidália, cobras foram foi enviadas para nos matar.
— Feiticeiro?
— Não, um... O que nos atacou foi mandando por um demônio.
Vidália olhou para Júlio segurando Karen no colo e reparou no brilho saindo das mãos dele, depois olhou para Danusa e Tiago que esperavam alguns passos atrás.
— Eles sabem o que você é?
— Sim. Mas isso não é importa agora, o que importa é salvar Karen.
— Essa casa é de Oxum, e a sua raça não é amiga dos Orixás. O que espera encontrar aqui Júlio? Se é que esse é seu nome...
— A história não é bem assim, eu não falo em nome do meus irmãos, apenas falo por mim, nunca tive problemas com Orixás.
— Se é o que diz. Mas o que quer que eu faça?
— Chame ela, chame Oxum, você é uma das poucas que verdadeiramente pode ser instrumento de Deuses, chame eu falo com ela.
— Você que sabe. Mas as coisas podem sair as avessas.
— Vou arriscar.
Vidalia indicou a Tiago e Danusa a se sentarem nas cadeiras perto de uma das paredes e a Júlio que se sentasse no chão no meio do salão, ele continuava sem desgrudar de Karen, então eles observaram ela colocar diante de Júlio uma grande tina de aluminio e a encher de água usando varios baldes. Assim que a tina estava cheia ela entrou e se sentou em posição de lótus, então se dirigiu a Júlio.
— Agora a chame.
Júlio suspirou fundo como quem toma coragem e a chamou:
— Oxum, senhora da água doce, décima sétima filha de Olodumare, eu estou na sua casa mesmo sendo um Krilen, um Anjo. Oxum me escute, não chamaria se não fosse necessário, imploro que me escute.
Foi imediato, a salão tremeu como se estivesse sobre um terremoto, Tiago e Danusa sentiam como estivessem dentro de uma centrífuga, ambos cairam das cadeiras, porem todos os móveis e objetos do salão permaneceram intactos. Assim que o tremor parou Vidalia abriu os olhos, mas não eram olhos de verdade, todo o globlo ocular era dourado como se fossem esferas de Ouro, Vidalia ficou em pé sem precisar se nenhum tipo de esforços ou apoio, se ergueu com um movimento limpo. A beleza de Vidália se intensificou, parecia resplandecer.
Ela abriu a boca e a voz que saiu dela foi tão poderosa que os ouvidos de Tiago e Danusa doeram.
— Maleika? Um Maleika na minha casa? Porque esse desrespeito Maleika? Sua espécie não é bem vinda aqui.
— Maleika? — Tiago sussurrou para Danusa.
— É, é como os anjos são chamados na língua dos Orixás, e acredite, não é uma palavra boa.
Júlio falou com o máximo de respeito que podia empregar nas palavras:
— Senhora eu não quis desrespeitar, sei que não sou bem vindo, mas não vim por mim, vim por ela.
Oxum abaixou levemente o olhar e percebeu Karen desacordado no colo de Júlio.
— Então eu, rainha de dezesseis mil coroas servirei de curandeira para um Maleika imundo e sua... bruxa mãe de mestiços? É isso que acha?
— Não senhora, sei que Orixás não se movem sem motivo.
— Ah você sabe? E que motivo eu tenho? O que me oferece? O que um Maleika tem que possa ser valioso para mim?
— Ofereço um voto de gratidão. Em qualquer momento daqui por diante a senhora poderá me convocar e me cobrar o favor, então hei de obedecer quaisquer que sejam seus pedidos.
Oxum ergueu os cantos dos lábios em um sorriso frio.
— Mesmo se meu pedido for contra as leis da tua raça?
— Sim.
— Então o que me oferece realmente valhe uma gota da minha agua. Que assim seja. Solte a mulher e eu removerei o mal que a aflige.
V
Ailin estava do lado de fora, observou a casa e por mais que sentisse energia divina ali ela viu que era totalmente desprotegida, então escalou um muro e saltou sobre o telhado da casa do outro lado da rua, fixou os olhos no portão do terreiro e começou a ronronar baixinho. Logo a primeira serpente apareceu, veio de um terreno baldio, era uma papa-ovos, espécie que não tem veneno e nem sequer força para morder um humano, mas Ailin desejou do fundo de sua alma apodrecida que a serpente fosse maligna, fosse pervertida como ela mesmo era, e em uma onda sinuosa a pequena serpente Verde se transformou em uma Coral peconhenta. Do lado de Ailin havia sob as telhas de barro uma pequena aranha de jardim, esta também foi invocada e deturpada de modo que quando Ailin a chamou, o que saiu de baixo das telhas foi uma aranha armadeira, uma cujo o veneno é mortífero. Ailin foi chamando e pervertendo cada animal proximo que tivesse condição de se tornar maligno, e todos foram enviados para a casa de Vidália.
Assim que os bichos e insetos atravessaram as frestas do portao Ailin foi tomada por um tremor intenso e sentiu a presença poderosa de uma divindade, sim havia uma divindade em pessoa dentro do terreiro. Ailin se encheu de medo e ordenou que os bichos recuassem, mas era tarde demais, eles não ouviram, então saltou de cima do telhado e correu pela rua em fuga.
VI
Oxum ergueu a mão e o corpo de Karen se elevou no ar, então ela esticou o dedo indicador e da ponta da unha dourada caiu uma gota de ouro líquido que foi se alojar nos lábios da moribunda e que logo foi absorvida.
— O Ouro cura. — Oxum falou.
O corpo de Karen pousou lentamente no colo de Júlio, ele tocou no rosto dela, Karen ainda estava desacordado mas ele percebeu que apenas dormia, não havia mais veneno dentro dela.
Então os sibilos começaram, sons de chocalhos, Júlio olhou para trás a e as viu, serpentes, aranhas, escorpiões, todos entrando porta a dentro no salão. Tiago e Danusa gritaram assustados e correram para perto dele, então ouviram a voz de Oxum soar de modo tão ameaçador que os três se encolheram de medo.
— Artes de um Demônio dentro da minha casa? Não, eu não tolero isto!
Oxum moveu a mão como se estivesse jogando ar para trás, e então todos as serpentes e bichos tremeluziram e desapareceram e momentos depois o gato entrou na sala flutuando.
VII
Ailin correu rapido, sentia medo, ia correndo no meio da rua para ser mais veloz mas quando ja tinha se afastado pouco mais de dois quarteirões algo prendeu suas pernas e a suspendeu no ar, ela miou alto e expôs as garras para atacar, mas quando olhou em volta não viu nada, não havia ninguém ali, no entando foi puxada para trás com tamanha rapidez que quando menos esperava estava passando pelo batente da porta do salão do terreiro de Vidália, estava a um metro e meio do chão suspensa pelos poderes da deusa que estava ali na sua frente, presa pelos poderes de Oxum.
Oxum girou o dedo indicador e uma queimação horrenda atingiu o corpo de Ailin, ela sentiu que ia despencar no chão e quando caiu o corpo que tocou o piso ja não era gata, era uma mulher extremamente magra com as costelas ressaltadas, pele morena e olhos amarelos, cabelo curto e nariz pontiagudo, Oxum revelou a verdadeira forma daquele demônio, e Ailin era horrenda.
Oxum altiva perguntou:
— Besta, foi ousadia ou tolice que a fez atacar a minha casa?
Ailin se encolheu nao chão aterrorizada, aos olhos felinos Oxum emanava luz como se fosse o próprio sol.
— E-eu... Me perdoe divina majestade, foi um engano... Aaaaaaaaah!
Os olhos de Oxum se fixaram em Ailin e a pele das costas dela se encheu de bolhas como se tivesse sido mergulhada em óleo quente.
— Dói Besta? Imagino que a dor deve ser grande. Mas não foi engano, você enviou animais pervertidos e amaldiçoados para atacar pessoas dentro da minha casa.
— Sim senhora, sim! Mas eles não são seus servos, eles são... Aaaaaaaaaaaaaaaah!
Desta vez as coxas de Ailin que se encheram de bolhas purulentas.
— Besta estúpida, não lhe perguntei a relação dos que estão comigo, não me interessa seus assuntos com eles, mas quando você ousa atacar a minha casa o efeito é como se houvesse me atacado. Sabe o que tem acima deste templo? Sabe?
— Não senhora?
— Na parte de cima a minha filha, esta que estou ocupando o corpo, construiu uma casa, e lá em um dos quartos estão duas crianças, filhos dela, e se são dela são meus protegidos. Suas serpentes poupariam a vida deles?
Ailin nada respondeu, então sua boca se escancarou em um grito mudo enquanto todo o seu corpo fritava se enchendo de bolhas, fumaça saia de sua pele devastada. Oxum apontou o dedo para ela em sinal de dispensa, o corpo de Ailin foi atirado para fora do terreiro e lançando para o céu, caindo muito longe dali em meio a um matagal.
Oxum então olhou para Júlio.
— Por enquanto isto é tudo. O acordo selado no momento certo será pago.
— Obrigado senhora.
— Onareo.
Vidália caiu para trás mas Danusa foi rápida o suficiente para segurar ela pelas costas e impedir que caisse no chão. Karen abriu os olhos e fitou Júlio que tinha o rosto bem perto do dela.
— Cara eu tive um sonho muito doido. Tem um cigarro pra me arrumar?
(Continua)
Comentários
Postar um comentário