Yemoja Asaba

Ela é Asaba, Soba, sim
Ia indo Ela pela trilha na mata
 Levando um balaio cheio,
É grande mas leve
Pois está cheio de algodão
Recém colhido.
Se senta na margem do rio
Metendo os pés na água,
Tarde quente de sol vermelho
Mas a sombra da árvore lhe da paz.
Ela pega o fuso na mão direta
E um monte de algodão na mão esquerda.
O fuso é um pequeno espeto de ferro,
com a mão direita prende a pontinha
Da bucha de algodão
Na base do fuso
E com a mão esquerda o gira.
O espeto puxa o algodão fininho
Vem puxando bem de mansinho
E vai formando a linha
Para mais tarde costurar.
Yemoja Asaba é fiandeira, costureira,
Faz no fuso o fio
E depois no tear o pano
Para enfim fazer vestimenta.
Ela é uma senhora
Que tem muitos filhos
Mas apesar de ser já quase idosa
Ela é tão bonita que
Não havia homem que não a olhasse.
Pense numa negra bonita, é ela!
Os lábios fartos de doce sorriso,
As maçãs do rosto altas,
Os olhos grandes como os de uma boneca...
Como é bonita minha mãe...
E é bem verdade sim que os homens
Grudavam os olhos nela quando
Passa por eles na rua.
Um desses homens era Exu.
Ele era um galã,
Já havia se engraçado com todas as iyagbas
Mas Yemoja Asaba não,
Ela não tinha a menor paciência pra ele,
Asaba não é dada as liberdades
Muito menos as libertinagens
E isso o deixava muito aflito,
Porque todas as moças lhe davam ousadia
E essa velha soberba não?
Exu é folgado, ô se é.
E la foi tentar a sorte.
Estava ela sossegada fiando algodão
E lá vem Exu
Fazendo questão de usar pouca roupa
Para chamar atenção
Para seu corpo bem feito,
Ele chegava orgulhoso
Flexionando os braços
E estufando o peito.
Yemoja quando o viu
Revirou os olhos de puro aborrecimento.
Exu reboloso e insinuante
Fez de um tudo pra chamar os olhos dela,
Mas Asaba nem tchum,
Por todo o tempo se manteve atenta
Ao fuso e ao algodão.
Daí Exu se aborrece
"OH MULHER! NEM UM CUMPRIMENTO ME DÁ?"
Ele reclama cheio de azedume.
Yemoja Asaba sem desviar
Os olhos do fuso responde
"VÁ CAÇAR O QUE FAZER RAPAZ..."
E Exu fica muito do irritado,
Como pode?
Ele levar passa fora de uma mulher?
Nunca!
Então com um movimento rápido
Tira o fuso da mão dela
Chuta o balaio de algodão
E a agarra a força,
Mas antes que pudesse dar nela
O tal desejado beijo
Yemoja Asaba se desvencilha dele
E da um giro ficando em pé,
Tira de debaixo de sua saia
A afiada espada
E o golpeia.
Exu a princípio achou graça,
Afinal o que ela podia fazer com uma espada?
Ele saca o egó, seu bastão mágico
E tenta se defender dela
Mas quando a lamina bate no egó
Exu chega se entorta
Devido a força do golpe.
Ele arregala os olhos
Muito assustado
Afinal quem imaginaria
Que aquela mulher
Seria forte como um touro?
A cada golpe ele vai recuando,
A cada passo que da para trás
Ele vai se pedindo perdão,
Mas Yemoja Asaba não perdoa
A falta de respeito.
Exu começa a se cansar,
Seu braço já doendo por
Aparar os golpes dela
O egó ja se rachando
Diante da força dela,
Então em um profundo desespero
Ele se agacha com rapides
E grita "INÁ"
Então o egó pega fogo
E ele encosta a ponta flamejante
No tornozelo dela.
Yemoja Asaba da um berro agudo
E se atira para o lado caindo dentro do rio.
O fogo é ruim para Yemoja,
Ela não pode com isso.
Exu aproveitando a deixa corre
E Yemoja no fundo das águas
Chora a dor da queimadura.
Que covardia... Que mal feito!
Quando sai do rio
Ela tenta pisar o pé no Chão
Mas a força lhe falta e ela cai.
Muito triste fica sentada ali
Mas sendo esperta como é
Logo bota seu ori a pensar nas coisas
E então entra no rio novamente,
La no fundo onde é sua casa
Ela abre seus baús cheios de jóias
E pega uma Simples corrente de prata,
Nela emprega mil feitiços,
Toda sua sabedoria,
Então amarra sobre a ferida
Usando de tornozeleira.
Quando sai do rio
Pisa firme na margem
E fica em pé
Firme e forte.
Como uma criança ela samba
Feliz consigo mesma
Por ter sabido se recupera,
Por não ter aceitado mancar.
Outro dia Exu a vê andando faceira
Pela feira da cidade
E mal acredita que o seu poder de fogo
Capaz de destruir qualquer coisa
Não a tenha malejado em nada.

Yemoja Asaba continua por lá
Fiando algodão na beira do rio.
O tempo passa muito mais
Cada ano como uma Simples pedra
No fundo da agua.
Muita coisa aconteceu,
Ela tinha muitos filhos mas
Muitos deles foram levados,
Raptados por uma gente ruim
Levados para longe
E mesmo ela sendo uma Deusa
Não podia interferir nos caminhos
Da humanidade.
Yemoja Asaba fica sozinha,
Magoada e desiludida,
Achando que não é mais lembrada,
Que não tem mais nada.
Mas um dia
Enquanto gira fuso
Fiando o algodão
Um som chama sua atenção,
Ela olha em volta
E na margem no rio não ha nada
Além das árvores e dos bichos.
Mas ela ouve de novo
E se poe em pé e afia o ouvido
E então com clareza ouve
Os tambores e as muitas vozes
Que cantam
"YEMANJA SOBÁ, SOBÁ MIRERÊ, SOBÁ MIRERÊ ODOYÁ, SOBÁ MIRERÊ O..."
Yemoja fica muito agitada
Esse jeito de cantar é torto
Mas é ela ainda assim reconhece.
Esse canto fazia muito tempo
Que não ouvia, 
Esse canto ela ouviu muito
Da boca de seus filhos
Mas seus filhos tinham já partido,
Então quem cantava?
Ela sente o coração se encher de esperança
E então gira na margem do rio
E desaparece,
Segue o canto, Segue as vozes
E reaparece
Ela está em uma terra
Do outro lado do mar,
Ela se vê dentro de uma casa,
Pela primeira vez
Dentro de um terreiro de candomblé.
Ela olha em volta
Tem muita gente
E nessa gente nova
Ela reconhece os traços da sua gente.
Yemoja não se aguenta
E chora, chora de felicidade
Pois transborda de si
O sentimento de gratidão
E de orgulho
Pois ela sabe que se essa gente
A conhece é gracas a seus antigos filhos
Que mesmo sob o chicote
Se recusaram a esquecer a mãe.
Yemoja passa entre eles
Até que em uma moça
Ela se reconhece mais,
É sua filha verdadeira! É sim!
Ela abraça a moça
Mas quando abraça entra nela
Se torna ela
E a moça se inclina para frente
Tremendo os ombros,
Os olhos se fechados
Enquanto o povo explode em gritos
"ODOYA! OMI O!"
E Yemoja dança através de sua filha
Dança feliz por demais
Enquanto o povo canta pra ela.



Isso foi a muito tempo atrás
Mas até hoje eu sei cantar
E sei que você que está lendo
Também sabe.
Então cante, mesmo que em pensamento
Para que ela escute
E se sinta amada
Por ser uma boa mãe
Por ser nossa ancestral.
"YEMANJA SOBÁ, SOBÁ MIRERÊ, SOBÁ MIRERÊ ODOYÁ, SOBÁ MIRERÊ O..."
.
.
,
Espero que tenham gostado, quem quiser  encomendar desenhos, brasões ou telas pode me chamar no whatsapp 11944833724
Obrigado 

Comentários

Postagens mais visitadas