Vampira - Capítulo 3 - Final
Felipe Caprini
Vampira
Capitulo III - Final
"Cheia de Sangue. Ela não imaginava acabar assim. Olhou para a mulher em pé diante de si, cabelos tão negros que quase brilhavam azulados, e ela estava o que? Sorrindo de modo complacente, então saiu de perto em passos curtos com os pequenos pés descalços para não escorregar na enorme poça de sangue."
Momentos antes:
Doralice puxou Ariana pela mão e se aproximaram de onde Maria Padilha estava e, diante dela fez uma vênia e disse:
— Senhora Maria Padilha, é uma honra vela novamente.
O anjo Muhamniel se virou olhando impaciente e resmungou algo mas Padilha o ignorou, apertou os olhos encarando Doralice e respondeu:
— Tenho a certeza que te conheço, sinto algo de famíliar... mas nao lembro de onde é. De onde me conhece?
— Sou eu, Doralice, nos tivemos algumas aventuras juntas no passado.
— Que Doralice? Você tem cheiro de gente viva, não devia nem estar aqui.
— Sou a velha Doralice, prima de Sarana, da época em que...
— Não — Padilha interrompeu — Doralice é uma senhora idosa que vivia sempre colada com Kainana, você é uma garota.
— É, muita coisa maluca aconteceu, mas sou eu sim, confirme, sinta a minha energia.
Doralice estendeu a mão para Padilha que ao tocala sorriu reconhecendo a energia da antiga amiga.
— É você mesma... Está muito bem Doralice, muito mudada por fora e por dentro. Mas o que faz aqui? Essa terra não é lugar para você ainda.
— Viemos te ajudar. — Doralice falou em voz baixa.
— Me ajudar? Mas como? E como sabia que eu estaria aqui hoje?
— Por coincidência eu estava por essas bandas quando recebi a visita de uma amiga sua, Rosa dos Ventos, ela me contou da situação delicada em que se encontra e eu sei que posso te ajudar, quando soube do seu julgamento eu percebi que tenho algo que pode te ajudar muito.
— Bsret , dun takhir (vamos rápido para não nos atrasamos) — Muhamniel as apressou.
Padilha começou a caminhar junto com o séquito mas antes de se afastar virou a cabeça para sussurrar para Doralice:
— Se pode me ajudar, faça.
Doralice e Ariana recuaram para o cortejo passar, e então Sete Saias saiu da fila e foi até elas.
— Que bom que esta aqui, Rosa dos Ventos já me colocou a par de tudo. E essa criança deve ser a tal menina Vampira não é?
— Eu mesma — Ariana se apresentou tentando imitar a vênia que Doralice acabara de fazer — , me chamo Ariana, ou Kahafaash para os chegados.
— Oh sim, Kahafaash... — Sete Saias riu do gracejo — É você que vai nos ajudar hoje?
— Eu não sei, mas se eu puder ajudar conte comigo, minha mãe dizia que se uma mulher precisa de ajuda as outras tem de ajudar sim. — Ela respondeu.
— É um bom conselho, sua mãe te ensinou bem. — Sete Saias comentou —
pois então, eu vou guia-las até o tribunal.
Uriel e Matiyah se aproximaram também e as seguiram.
— Eu não entendo, nós teríamos mesmo que ir até Erebo, esse é o certo. — Matiyah cochichou.
— Sim, e eu tenho um pressentimento muito ruim sobre ir até esse tribunal, chega sinto gelo dentro do peito. — Uriel disse
— Eu também estou com um pressentimento ruim, e é por isso que a menina Vampira está aqui, para nos ajudar e evitar uma desgraça. — Sete Saias respondeu a eles mostrando estar ouvindo a conversa.
— Você também sente não sente? — Uriel perguntou.
— Sinto, mas na minha jornada eu aprendi que se deve andar sempre para frente, mesmo se tivermos medo. — Sete Saias respondeu.
Após muito caminhar por uma via tortuosa chegaram diante de uma construção similar a uma pirâmide de vidro, era gigantesca e reluzia como se luz neon vermelha viesse de dentro.
— É novo, foi inaugurado faz poucos dias. Imitação daquela piramide na faixada do Museu do Louvre em Paris. Dizem que Hekate gostou e mandou fazer o tribunal igual so que em escala maior. Foi batizada de "A Jóia da Justiça", um nome piegas eu sei, até porque tribunais são jogos de interesse e não de justiça.
Eles entraram por uma ampla porta ladeada por duas estátuas de Hekate segurando ampulhetas de vidro, por dentro era similar a um coliseu onde havia centenas de assentos, a entrada ficava na parte mais alta da arquibancada e lá em baixo na mesa principal estavam sete mulheres, as sete juízas todas vestidas de verde escuro, ao lado delas uma outra mulher, Maria Padilla de Abajo y Castella enfiada em um vestido preto com aparência de ser de um tamanho muito maior que ela, ali perto estava seu advogado Nergal, um homem enorme com o cabelo escuro preso em uma trança grossa que caia até abaixo da cintura, o rosto maquinado com riscos finos nos olhos estilo egípcio, usava um casaco de couro mole azul escuro aberto deixando o peito musculoso a mostra.
Do outro lado estava agora Maria Padilha sentada em uma cadeira se abanando com um leque parecendo aflita, com ela a sua advogada Dama da Noite de ar corajoso.
Todos na platéia tomaram assentos e então a mais gorda entre as sete juízas ficou em pé, suas bochechas rosadas eram tão grandes que a boca parecia minúsculas. Como ela se levantou todos ficaram em pé em respeito.
— A todos os presentes, eu sou Ekaterina Alekseevena, chefe do estado legislativo de Koukouvagia eleita e escolhida por nossa Deusa soberana Hekate, hei de hoje ser auxiliada por minhas seis assistentes julgar o caso de reconhecimento de nome e restituição de bens da queixosa... — Ela apanhou uma folha de papiro sobre a mesa e leu — Maria Padilla de Abajo y Castela contra Suzana sem sobrenome que usa o nome Maria Padilha. Declaro aberta a cessão.
A juíza se sentou e fez sinal para Nergal começar, ele se adiantou para o meio onde pudesse ser bem visto por todos os e começou a falar com voz grave:
— Senhoras e Senhores, caríssimas e excelentíssimas juízas, eu sou Nergal da Babilônia e advogo hoje por minha amada amiga Maria Padilla de Abajo y Castela. — Ele se virou para a sua cliente e perguntou — Maria Padilla, quem lhe deu este nome?
— Maria foi o nome dado por meu pai quando nasci na terra dos viventes e Padilla é o nome da minha família por mais de mil anos e que até os dias de hoje nomeia as novas gerações do nosso sangue. — Ela respondeu.
— É verdade que a senhora foi rainha da Espanha? — Nergal perguntou.
— Sim é verdade. — Ela respondeu.
— Protesto! — Dama da Noite gritou — a queixosa falta com a verdade.
— Como ousa chamar uma rainha genuina de mentirosa? — Nergal berrou dramaticamente.
— Por quais motivos afirma que a queixosa falta com a verdade? — A juíza perguntou.
— Meritíssima seria melhor ela mesma dizer, gostaria que ela respondesse por quantos anos reinou na Espanha. — Dama da Noite falou.
— Que a queixosa responda essa pergunta para esclarecer se diz a verdade ou se falta com ela.
— Bem, eu não reinei efetivamente. Fui rainha póstuma, coroada após a minha morte.
— Vê Meritíssima, ela não falta com a verdade, foi coroada Rainha. — Nergal disse exultante.
— Certo. Eu fui Imperatriz e governei por décadas, então infelizmente com base na minha experiência devo dizer que a queixosa não foi rainha de fato. O título póstumo é uma honraria mas não envolve exercício da função, isso significa que a queixosa nunca governou e então nunca foi realmente rainha da Espanha. — A juíza disse calmamente — Porem não aceito a acusação de que ela falou com a verdade pois bem se vê que ela tem o título honorífico.
— Sim Meritíssima, um título real, ela foi coroada e seu nome consta na lista da monarquia espanhola como esta nos anexos. — Nergal respondeu — Agora quem falta com a verdade e a acusada que se valhe de um nome que nunca foi seu. Por acaso essa tal prostituta tem parentesco com a coroa espanhola ou com a nobre casa dos Padilla?
— Não, eu não tive sangue nobre e nem qualquer ligação com a casa Padilla. — Maria Padilha respondeu.
— E quem lhe deu autoridade para usar um nome que não foi teu? — Nergal perguntou.
— Eu mesma me dei autoridade para usar este nome. — Maria Padilha respondeu.
— Ai está, ela admite ter se apropriado do nome e com ele conquistado todas as coisas da qual é dona hoje. — Nergal zombou.
— Protesto! Minha cliente nunca afirmou tais coisas. — Dama da Noite falou.
— Aceito. — disse a Juíza — O advogado da queixosa esta aumentando a resposta da acusada.
— Não Meritíssima, não aumentei, apenas constatei o que é o óbvio. Como uma prostituta barata teria hoje fortuna, poder e prestígio comparados ao dos grandes lordes do inferno se nao tivesse se valido do nome da minha cliente?
— O senhor tem mais a falar ou posso dar a vez a advogada da acusada? — a juíza perguntou.
— Que seja, deixe ela tentar. — Nergal zombou.
Dama da noite abriu a boca para falar mas então do meio da platéia Sete Saias ficou em pé é gritou:
— Eu contesto a autoridade das sete juízas e dar qualquer veredito.
O burburinho começou e então Ekaterina ficou em pé.
— Posso saber por qual motivo?
— Porque pela lei de Koukouvagia a senhora assim como qualquer espírito humano desencarnado não tem poder de decisão ou autoridade se uma dívinade estiver no recinto.
— Que baboseira, eu estou no recinto e respeito as juízas. — Nergal disse visivelmente irritado.
— Você? Nergal não me faça rir, você ja foi um Deus, hoje é um lambe-botas do Diabo.
Toda planteia despencou em risos.
— Ordem! — A juíza gritou e todos se calaram, porém Sete Saias se manteve em pé — Exijo todo o respeito a Nergal. Porém sim devo admitir que ele não tem status de divindade neste tribunal.
— Pois bem ao meu lado está sentada Ariana, portadora da Deusa Safira. — Sete Saias gritou erguendo os braços para cima — Eu exijo que a deusa Safira seja respeitada em sua posição divina!
— Eu não sinto a presença de Deusa alguma aqui — disse a juíza.
— Sei bem as consequências de mentir em nome dos Deuses diante de uma juíza eleita, então peço que teste a menina ao meu lado. Se ela não for Deusa eu pagarei o preço. — Sete Saias desafiou.
— Vejo que está bem decidida. Pois bem, que a menina desça até aqui e faremos um teste de confirmação de divindade.
Doralice pegou a mão de Ariana e disse:
— Vamos lá, vai ficar tudo bem, eu só preciso que me faça essa favor, mostre a eles que você tem poder.
— E depois que vai acontecer? — Ariana perguntou assustada.
— Depois você tomará o lugar da juíza e eu vou pedir que de a causa ganha a Maria Padilha. Você consegue fazer isso?
Ariana anuiu e então de mãos dadas com Doralice desceu a escadaria diante dos olhos da multidão e foi até diante da juiza.
Matiyah as observou descer aflito, por mais de uma vez ergueu o rosto e farejou o ar.
— O que foi? — perguntou Uriel.
— Eu estou sentindo o cheiro da minha mãe, mas isso não é possível, ela está muito longe daqui não é? — ele respondeu.
— Você deve estar confundindo com o cheiro dos outros anjos, fique tranquilo. — Uriel o tranquilizou mas em seguida erguei o rosto e dilatou as narinas sugando o máximo de ar possível, até que seu rosto empalideceu e mão involuntariamente procurou o cabo da espada.
SAMYAZA
Os dois exércitos se encontraram, o dela contra o de Satanás e a batalha ja durava meses. A linha do campo permanecia a mesma, nem uma das tropas avançou nem um metro, e a carnificina era o padrão. As baixas dos dois lados eram rapidamente substituídas, as armas entregues a quem as perdia e a violência incentivada.
Samyaza decidiu acampar ali mesmo, mandou armar uma tenda de linho branco onde podia se reunir com os generais e descansar. A guerra foi se estendendo por mais de cem dias, a todo momento um general ou comandante entrava na tenda pedindo mudanças de plano, alguns pedindo para recuar as tropas e até um veio choramingando por dispensa após ver seu batalhão ser reduzido a um monte de feridos inválidos. Sahahiel, uma anjo muito alta com mãos ossudas mas de um modo fascinante bonitas e incomum cabelo castanho saia de ronda por toda a extensão da luta e voltava com relatórios precisos para Samyaza. Foi então que chegou pela primeira vez com notícias perturbadoras.
— Senhora, a infantaria recuou cerca de cem metros, o primeiro comandante Baruk foi capturado e o pânico está reinando entre os escravos humanos e bestas.
— Quero que Metsmael assuma o posto de Baruk e restaure a ordem. — Samyaza ordenou.
— Impossível, ele tomou o lugar do general Nejima na ponta sul, se ele sair de lá vai ser um problema, nao da pra deixar a ponta sul sem liderança. — Sahahiel disse.
— E quem temos para por na liderança da infantaria? — Samyaza perguntou.
— No momento ninguém, o general Bashur e a comitiva de comandantes chegam em algumas horas mas imediatamente não temos ninguém para substituir Baruk.
— Temos sim, eu estou aqui, eu vou.
— Mas senhora isso é no mínimo imprudente.
— Que seja.
Samyaza cheia de impaciência se armou dos pés a cabeça, subiu a armação da tenda e saltou do alto, abrindo as asas, ganhando impulso e planando por muitos metros, bateu as asas com vigor e avistou uma grande quantidade de anjos do exército inimigo se lançando no meio daquela multidão, sacou seu par de leques laminados em ouro e como um tornado girava no céu dilacerando gargantas e mutilando sem piedade, os gritos e ganidos eram como música em seus ouvidos enquanto dezenas iam despencando inertes após os ataques. Ela sempre foi um soldado de elite, desde a época que era serva do altíssimo já tinha fama de ser fatal, agora então estava mudada e ninguém ali era forte o suficiente para causar nem sequer um arranhão. Após pouco mais de uma hora de guerra, por um milésimo de segundo teve um acesso, uma visão, e viu os lábios de pedra negra de Sharir Malaun se movendo e dizendo algo que ela no momento não entendeu. Ignorou aquilo e continuou na luta. Pelo canto do olho viu uma formação de anjos de Satanás recuando de forma padronizada e então um apito fino soou. Aquilo devia significar algo, mas no calor do momento ela não deu importância e continuou retalhando os inimigos que estavam a seu alcance. Foi então que seu coração tremeu quando ouviu o urro fino, um urro que ela ja esperava ouvir uma hora ou outra mas não quando ela mesma estivesse exposta. Parou de girar e olhou para cima a tempo de ver Satanás montado no lombo do gigantesco dragão Ziz, a besta no inferno, fazia milênios que ele não era visto e agora parecia estar muito maior, a envergadura de uma asa a outra passava os trinta metros e da cabeça até a calda mais de quinze, as escamas avermelhadas, as enormes narinas soltando fumaça como chaminés e a bocarra cheia de dentes amarelos e afiados escancarada com aquela luz vermelha vindo do fundo da garganta que todos sabiam o que significava.
— Recuar! Recuar! Samyaza gritou para seu exército mas era tarde demais, apenas os anjos de Satanás que obviamente já sabiam do ataque tiveram tempo para de modo organizado abandonar a área de risco mas ela só teve tempo da envolver o corpo com as asas e se deixar em queda livre esperançosa se não cair sobre nenhuma lança ou espada, foi então que o calor veio, um calor insuportável, Ziz estava a cuspir fogo sobre tudo e todos.
Os gritos de horror eram ensurdecedores, ela levou mãos aos aos ouvidos mas o cheiro de queimado era tão forte que a fez ficar nauseada. O dragão transformou o campo de batalha em uma fornalha por tres horas, a maioria dos soldados de elite conseguiram se protegeram mas toda a infantaria de Samyaza estava reduzida a carvão. Assim que sentiu o calor amenizar e deixou de ouvir os urros da besta fera ela desmanchou o casulo de asas e se levantou, olhou em volta e viu o mar de cinzas, não era um desastre tão grande, baixas já eram esperadas e Ziz também era um fator previsto mas o que era inesperado era ela estar no campo de batalha naquele momento, o campo inteiro era negro como borralho e ela era um ponto dourado reluzente totalmente destacado. Como sairia dali? Não podia voar, as asas estavam destruídas pelo fogo e iriam demorar horas para serem restauradas, não poderia sair correndo pois a sua armadura dourada chamaria demais a atenção e ser apanhada sozinha seria o fim da guerra, imagine se toda uma legião a cercasse naquele momento? Por mais forte que fosse não poderia enfrentar todos.
— A armadura... É isso!
Ela começou a remover a armadura do corpo lentamente para não fazer barulho a amontoar todas as peças em um desnível no solo, então nua se ajoelhou diante de todo aquele ouro, estendeu as mãos sobre ele e começou a declamar:
— alsaayil , 'ana almaedin alsulb yusbih alsaayil mithl alma' (líquido, que esse metal duro se torne líquido como a agua) — e então o feitiço começou a fazer efeito, o ouro se desfez como se fosse gelo derretendo ate se tornar uma poça dourada, ela abaixou as mãos e deixou endurecer até que ali diante de si estava um perfeito espelho de ouro.
Ela sabia como usar espelhos como portais, mas para onde ir? Para casa? Seria a melhor ideia mas sentia que a melhor opção era outra. fechou os olhos e tentou buscar na mente a resposta, foi ai que se lembrou da boca de Sharir Malaun dizendo algo naquela visão, mas o que era? Se concentrou melhor e então a resposta veio, ele disse um nome, "Matiyah". Isso a deixou confusa, Matiyah estava morto já a milênios, então porque ela sentia que ele estava perto? Sentia como se ele estivesse vivo. Samyaza ergueu a cabeça e farejou o ar, teve a certeza que ele estava vivo e perto. Então passou a mão sobre o espelho e murmurou "me leve até meu último filho vivo", então mergulho nele tal qual se faz em uma banheira e desapareceu.
ARIANA
Estava Diante da Juíza Ekaterina e ainda de mãos dadas com Doralice, trouxeram uma tina de água e colocaram diante dela.
— A prova de divindade é a seguinte, essa tina com água esconde uma maçã de ouro do jardim das ninfas. Se qualquer espírito mergulhar a mão nesta tina não acontecerá nada, mas uma divindade apanhará a maçã e terá o direito de morde-la. — Eketarina explicou.
— Mas meretisisma essa não é a maçã da vida eterna? — Doralice perguntou.
— Exato.
— Mas se uma divindade já é eterna e imortal, para que ela comeria a maçã? — Doralice perguntou.
— Para elas é revigorante. Quando quiser... — Eketarina disse.
Ariana se abaixou e enfiou a mão na água e quando retirou estava com a maçã na mão. Um som uniforme ecoou no lugar, era o som dos joelhos dos presentes batendo no chão, todos se ajoelharam em reverência a agora confirmada Deusa. Não houve tempo de se fazer mais nada pois uma parte do teto de vidro começou a ondular como se fosse feito de água e de repente uma anjo loira nua com as asas queimadas caiu por ela diretamente ao lado de Ariana e Doralice.
— Sa-Samyaza? — A Juíza Eketarina gaguejou — O que faz aqui? Porque usou o vidro do tribunal como portal, e porque está nua?
Samyaza ficou em pé e fixou os olhos em Ariana.
— É você? Você é a portadora da Deusa Safira? — Ela perguntou.
— Saia de perto dela! — Doralice gritou se pondo na frente da menina.
— Então é por isso que Sharir me mandou vir aqui, vir atrás dela... — Samyaza riu.
— Se afaste dela já! — Uriel berrou com a espada em punho enquanto dava um rasante até onde elas estavam.
— Mãe! — Matiyah gritou descendo as escadas.
— Meu filho... — Samyaza sorriu para ele — Então meu coração estava certo e você está vivo.
Ela foi até ele ignorando completamente Uriel e o envolveu em um forte e demorado Abraço.
— Mãe eu... — Matiyah tentou falar.
— Não, não tenho tempo para falar com você agora — Samyaza se soltou do abraço — Tenho de fazer uma coisa.
— Com licença — Nergal interrompeu — estamos no meio de um julgamento.
— Então finalizem o julgamento. Pelo que entendi a menina aqui é a maior autoridade do recinto, então menina, dê o seu parecer. — Samyaza falou com Ariana.
— Eu... Eu escolho aquela ali — Ariana apontou para Maria Padilha.
— Pronto, agora está decidido, que a juiza proclame. — Samyaza disse.
— Certo... — Eketarina vacilou — Proclamo o ganho de causa para a Pombagira Maria Padilha.
— Isso é um absurdo! — Nergal gritou — Não houve julgamento algum, não apresentamos as provas e nem... Agh! — ele parou de falar quando as unhas de Samyaza rasgaram-lhe a garganta, ela se moveu tão rapidamente para perto dele que foi impossível prever.
— Acabou essa palhaçada, todos para fora, todos menos você — Samyaza apontou para Ariana —, você vem comigo.
A correria foi geral, todos no recinto saíram correndo, Maria Padilha agarrou o pulso de Doralice:
— Obrigado minha amiga, mas agora temos que sair daqui. — ela disse.
— Eu vou ficar, mas vá em paz, conte comigo sempre.
Restaram ali apenas Ariana, Doralice, Samyaza, Uriel, Matiyah e Sete Saias que desceu até onde estavam, o clima estava tão denso que podia ser cortado com uma faca.
— E então? — Ariana começou — O que é que ta rolando aqui?
— Eu preciso que você venha comigo, simples assim. — Samyaza respondeu.
— Samyaza se é luta que você quer você vai ter. — Uriel ameaçou.
— Eu não quero briga, só quero fazer o que é certo. — Samyaza retrucou.
— E o que é certo? O que você vai fazer com ela? — Doralice perguntou.
— Ela quer que eu coma a maçã. — Ariana falou — Eu não sei como sei, mas tenho certeza que ela quer que eu coma a maçã.
— Na verdade eu não tinha pensado nisso ainda, mas sim, agora eu quero que você coma essa maçã. — Samyaza falou encarando a maçã dourada na mão da menina — Se você acha que pressentiu o meu desejo esta errada, mas esta certa em ter a sensação. Você ouviu uma voz que vem de dentro.
— É Safira? Ela quer que eu coma a a maçã não é? — Ariana perguntou como a voz fraca.
— Essa maçã só nasce em um jardim, o das ninfas. Quem comer essa maçã se torna um Deus, e isso significa que se você comer ela sai de dentro do corpo pois a maçã a libertará. — Samyaza explicou.
— Mas o que vai acontecer com ela se morder? — Matiyah perguntou.
— Eu não sei. Acho que nada mas não sei. — Samyaza respondeu.
Foi em um relance, Ariana levou a maçã aos lábios mas Doralice bateu na mão da garota fazendo a maçã cair, Samyaza se adiantou a apanhou a maçã mas deve de dar um salto para trás, Sete Saias voou sobre ela e arrancou a maçã da mão mas Samyaza cravou as unhas no ombro dela, então Sete saias girou o corpo para o alto e conseguiu por seu rosto rente ao dela e então abocanhou a bochecha em uma mordida feroz, Samyaza empurrou ela para longe e Sete Saias se afastou com o sangue dourado angelical escorrendo pelos cantos da boca.
— Sua Puta! — Samyaza vociferou apalpando o buraco na face — Maldita! Porque está se metendo! Isso não tem nada haver com você.
— Claro que tem haver comigo — Sete Saias respondeu — Eu era a guia de Belladonna, eu a mantinha na linha e então você apareceu e tudo foi pelos ares! Você tem idéia de quanta desgraçada aconteceu por sua culpa?
— Belladonna? — Ariana Perguntou — Ela matou os meus pais!
— Eu sei o que ela fez, eu dei poder a ela para fazer isso. — Samyaza respondeu altiva com vapor saindo do buraco na bochecha que já estava se fechando — E não fique cheia de bobagens, humanos nascem as pencas, se quiser pegue outros, substitua e pare de drama.
— O que? — Ariana estava pasma.
— Não se importa com o que ela diz — Doralice tocou no ombro de Ariana — Samyaza é podre.
— Ora essa sua bruxa velha, perdeu o senso de hierarquia? — Samyaza zombou.
— Doralice tire Ariana daqui, você e Matiyah voltem para o barco, eu me resolvo com essa vaca. — Uriel pediu.
Doralice começou a puxar Ariana para longe mas a menina relutava, Samyaza fez menção de atacar a menina mas Uriel se adiantou e atacou Samyaza com a espada e então tudo parou, todos prenderam ao ar quanto viram a espada Nihaya, a espada das espadas ser detida pela mão pequena e delicada de Samyaza.
— Porquê essa cara cumprida? — Samyaza zombou e empurrou a espada para cima a arrancando da mão de Uriel — Esses olhos arregalados... Esta tão surpreso assim?
— Mas... mas está é a espada matadora de anjos... como você parou ela com uma só mão? — Uriel perguntou.
— Ela não é mais um anjo. — Sete Saias constato.
— Voilà! Temos uma espertinha aqui. — Samyaza riu.
— Então o que você é? — Matiyah perguntou.
— Meu filho... Sharir Malaun me deu novos dons, agora eu sou quase uma deusa. E um desses novos dons eu posso te mostrar agora. — Samyaza apontou o dedo indicador para o filho e ordenou — Cresça!
Matiyah ficou vermelho e começou a tossir, e então de seu corpo começaram a sair raios e fumaça.
— O que você fez com ele? — Uriel perguntou em pânico.
— Você sabe. — Samyaza respondeu.
— Todos se afastem! — Uriel gritou — Ele vai virar um gigante!
O corpo de Matiyah fumegou como brasa, os membros incharam e a coluna saltou para fora, então começou a crescer rapidamente e em questão de segundos a cabeça já era do tamanho de um apartamento, as mãos maiores que barcos de pesca, e a massa gigantesca do corpo chegou a altura do teto de vidro da pirâmide o estilhaçando. Uriel abriu as asas e protegeu Sete Saias que estava do seu lado, Doralice puxou Ariana para de baixo da bancada da juíza mas quando a menina estava quase protegida Samyaza a puxou pelo pulso e a lançou para a chuva de cacos de vidro que caia por todo o tribunal.
O gigante Matiyah urrava em tom animalesco, toda a cena era confusa, Doralice gritava por Ariana mas ninguém respondia, então a viu ali deitada no chão a poucos metros com duas enormes lasca de vidro enfiadas no corpo, uma no peito bem onde era o coração, a outra na barriga próximo ao umbigo.
A chuva de vidro parou, Doralice estendeu a mão para o chão cheio de cacos e usando seus poderes fez eles se afastarem como se fossem magnéticos, e então correu até Ariana. Samyaza estava em pé ao lado dela com o cabelo louro cheio de cacos de vidro e a maçã dourada na mão.
— Uriel ajude aqui! — Doralice gritou mas Uriel não veio, ele estava parado olhando para o gigante Matiyah com lágrimas nos olhos, não se movia, estado de choque.
— Saia de perto dela! — gritou Sete Saias se aproximando.
Foi então que Samyaza se abaixou a tateando o chão achou o cabo da espada Nihaya entre o vidro moído, empunhou e com agilidade cravou no peito de Ariana com tamanha força que a prendeu no chão.
— Não! — Sete Saias e Doralice gritaram em Uníssono.
— Porque está matando ela? ! — Doralice perguntou agora entre lágrimas.
— Não façam drama, olha aqui — Samyaza mostrou a maçã dourada — Se a menina comer isso não vai morrer. A escolha é de vocês.
A poça de sangue vermelho ja circundava todo o corpo de Ariana, então Samyaza foi arressada para longe deixando a maçã cair e Doralice olhou para cima e viu que Matiyah é quem havia dado um tapa nela com a mão gigante. Ele tinha os olhos tristes, com a ponta dos dedos polegar e indicador puxou o cabo da espada e resmungou algo com "não morrer".
Doralice assentou para ele e pegou a maçã do chão, Sete Saias tirou um punhal de um compartimento de seu espartilho e deu para ela.
— Corte a maçã e tente dar um pedaço pequeno, quem sabe vai ser melhor.
Uriel ainda estava atônito ao ver Matiyah daquele jeito, então o gigante empurrou ele com delicadeza usando a ponta de um dedo, isso fez o anjo despertar e olhar em volta, então viu Ariana no chão com os enormes cacos de vidro ainda enfiados no corpo.
— Por Javé! — ele gritou e correu até ela.
— O que eu faço? — Doralice perguntou com o punhal e a maçã nas mãos.
— Não tem jeito, se ela morrer a Safira se liberta, se você der a maçã a safira também se liberta.
— Então dê a maçã. — Sete Saias aconselhou.
— Mas antes me deixe tirar esses cacos dela. — Doralice falou.
— Não, se tirar ela vai morrer em segundos pela hemorragia intensa, dê a maçã primeiro. — Uriel pediu.
Doralice cortou a maçã em quatro partes, a casca era dura mas o interior similar a manteiga, ela colocou um pedaço nos lábios de Ariana, a menina respirava devagar e não conseguiu mover o maxilar então Sete Saias teve de ajudar forçando a boca dela a abrir. Quando o pedaço da maçã entrou na boca derreteu e desceu pela garganta. Uriel então tirou as estacas de vidro do corpo da menina crente que não haveriam saneamento, mas o sangue jorrou farto das feridas.
— Não foi suficiente! Dê mais a ela! — ele pediu.
Doralice colocou mais um pedaço da maçã na boca da menina, e então o sangue parou de verter das feridas mas uma fumaça negra começou a vazar delas como jatos de vapor saindo de uma panela de pressão, o cheiro era de lavanda e quantidade de fumaça era muito grande.
— Temos de nos afastar agora. — Sete Saias disse.
Eles deram vários passos para tratas e então a nuvem de fumaça acima de Ariana foi tomando forma, a forma de uma mulher de pele negra, quando ela se formou completamente flutuou para baixo e pisou no chão.
Ariana estava ali imóvel e cheia de Sangue. Ela não imaginava acabar assim. Olhou para a mulher em pé diante de si, cabelos tão negros que quase brilhavam azulados, e ela estava o que? Sorrindo de modo complacente, então saiu de perto em passos curtos com os pequenos pés descalços para não escorregar na enorme poça de sangue. A pele da mulher era preta e tão perfeita que prendia os olhares de todos. E os olhos? ela não tinha íris e sim duas perfeitas gemas azuis, e então Ariana entendeu o nome, ela se chamava Safira por causa dos olhos, pedras safiras tão reluzentes que eram ao mesmo tempo belas e assustadoras.
— Pobre Criança... — Safira disse parando por um momento para olhar para trás a menina cuida e ensanguentada — Eu agradeço por ter me incubado dentro do seu coração. Mas já era hora de sair.
Ela olhou em volta e observou cada um dos que ali estavam, e então prendeu a atenção no gigante.
— Você é mesmo uma aberração, não é? — Safira comentou rindo — Onde está a sua mãe?
— Estou aqui. — Samyaza se apresentou saindo de trás de uma coluna de madeira derrubada.
— Vamos, não temos mais nada o que fazer aqui. — Safira falou.
— Espere! — Doralice pediu — E enquanto a Ariana? O que vai acontecer com ela agora que... Você saiu dela. Ela já está bem? Ela não é mais uma vampira, é?
— Se voce esperava grandes mudanças não terá. Tem duas opções, ela está fraca agora então pegue aquela espada ali e corte a cabeça dela fora, isso vai dar a criança paz. Mas se você quiser que ela viva de mais um pedaço da maçã, ela vai ficar bem e continuará da mesma forma. Ela sera para sempre Vampira. — Safira disse.
— Não! Ela precisa ser curada disso e voltar a ser normal! — Doralice falou.
— Você tem duas opções, escolha. — Safira falou, então foi até Samyaza, tomou ela pela mão e as duas desapareçam em uma nuvem de fumaça escura.
— Não era para ser assim! Não era!
— Doralice começou a chorar — Ela é só uma criança!
— Doralice você é a responsável por ela agora, decida. — Uriel falou.
Matiyah começou a encolher, o corpo voltando ao normal, demorou alguns minutos até ele estar na forma humana novamente, Doralice ajoelhada ao lado do corpo de Ariana não havia decidido ainda, ele então agora humano se ajoelhou ao lado dela e disse:
— Eu morri uma vez, e morrer não é bom, ainda mais quando se está marcado pelo sobrenatural. Se a minha experiência serve de algo, não deixe ela morrer, não vai trazer paz.
Sete Saias pegou no pulso de Ariana:
— Ela está consciente, não consegue falar mas está ouvindo tudo. Ela pode decidir por si só.
— Ela só tem dez anos, como vai decidir isso sozinha? — Doralice perguntou.
— Ela pode. — Sete Saias afirmou.uriel se ajoelhou também ao lado menina.
— Ariana, você consegue piscar os olhos? — ele perguntou e ela piscou com força.
— Se você piscar uma vez significa sim, se piscar duas significa não, certo? Entendeu? — Ele falou e ela piscou uma vez.
— Agora Doralice vai te fazer uma pergunta.
Doralice acariciou a testa dela e com a voz embargada perguntou:
— Você quer continuar vivendo como uma Vampira?
Demorou algum tempo, Ariana encarou Doralice por um longos minutos até que piscou com firmeza uma vez só.
— Deixe que eu faço isso. — Maria Padilha disse e todos se viraram para ver ela se aproximar junto com Dama da Noite.
— O que? Porque? — Doralice perguntou.
— Ela vai ser só uma Vampira, uma besta bebedora de sangue humano. Mas isso pode mudar se ela for uma de nos. Ela não é uma bruxa, mas podemos fazer ser.
— Mas ela não tem a linhagem... —
Doralice falou.
— As linhagens de bruxa começam quando uma mulher é tocada pelo lado negro, e nós vamos tocar ela agora, isso vai dar a esta menina o poder de controlar seu próprio caminho. Ela me ajudou Doralice, e Maria Padilha sempre paga suas dívidas. Eu quero que todos se sentem em volta dela e a toquem com as mãos. Todos fizeram o que pediu então Sete Saias, Dama da Noite e Maria Padilha tocaram Ariana na cabeça e então começaram a cantar, não uma música com letra e sim apenas uma melodia fonética, então as mãos de todos começaram a emanar uma luz violeta em contato com o corpo da criança.
— Agora de a ela mais um pedaço da maçã. — Maria Padilha pediu e Doralice obedeceu.
Em instantes as feridas se fecharam e Ariana ficou corada.
— Nós somos os que habitam do outro lado do véu — Sete Saias falou em tom solene.
— Nós somos as que podem andar no fio da Navalha. — Dama da Noite continuou.
— Nós podemos ligar os céus na terra, a terra no inferno e o inferno em outro lugar. — Sete Saias prossegui.
— Tal como a Rainha Hatshepsut ligou sua própria alma as deusas da areia. — Maria Padilha falou e Ariana projetou o peito para cima como se estivesse sendo puxada.
— Assim como Kassandra se ligou ao Deus do mar e nas águas viu o destino desleal. — Dama da Noite falou.
— Assim ligamos essa criança, não será mais alma avulsa como todos os mortais, sera ligada em cima e em baixo com os deuses e com os espíritos. — Sete Saias declarou.
— Então que assim seja pois a boca de três mulheres mortas dizem o definitivo sim. — Maria Padilha falou.
— Eu digo o sim, que ela fique sob a estrela de cinco pontas. — Dama da Noite falou.
— Eu digo o sim, que ela empunhe as cinco espadas dos reis das torres do tempo. — Sete Saias falou.
— Eu declaro e eu defino, Ariana Kahafaash, feiticeira, a primeira de seu nome. — Maria Padilha proclamou.
Ariana deu um longo suspiro e o corpo abaixo.
— E agora? Ela está bem? — Matiyah perguntou.
— Está sim — Doralice disse — Consigo sentir ela, sentir a magia dentro dela. Ela é uma bruxa agora.
— E quando ela vai acordar? — Ele perguntou.
— Eu não sei bem, achei que ia acordar agora, mas acho que a situação é inédita então não sei. — Dama da Noite explicou.
— Me ajudem a levar ela para o barco, eu vou voltar para casa. — Doralice disse.
— Mas... Doralice nos temos de ir para o Erebo, esse era o plano. — Uriel perguntou.
— Não para mim. Eu vou voltar pra casa com ela, você vai com Matiyah para o Erebo. Eu não posso deixar ela sozinha. — Doralice explicou.
— Mas... mas... — Uriel tentou falar.
— Ela está certa — Matiyah falou enquanto pegava Ariana no colo — Elas vão para casa ter um pouco de sussego e nós dois continuamos aqui para fazer o que viemos fazer. Vamos voltar para o barco.
Matiyah subiu a escadaria com a menina no colo, Maria Padilha, Sete Saias e Dama da Noite se despediram de Doralice e então ela e Uriel também subiram a escadaria e partiram.
Maria Padilha os observou partir com a testa franzida.
— O que foi? — Perguntou Dama da Noite reparando.
— Nós vamos ter que nos meter nesta merda, não vamos? Isso não devia ser problema nosso mas ainda assim teremos de nos meter? — Ela perguntou.
— Nos ascendemos como entidades agora, a omissão pode nos jogar nas sombras novamente. Não existe muita escolha aqui, teremos de interferir ou então seremos reféns do resultado. — Dama da Noite respondeu.
— Vocês sabem que vai estourar uma guerra geral, todo mundo já sabe mas ninguém admite, estão todos com medo de falar. Nós temos de nos preparar para isso. E principalmente temos de traçar um plano que nos proteja. — Sete Saias falou.
— Eu tenho pensado muito nisso. — disse Padilha.
Quando Matiyah, Uriel e Doralice chegaram ao porto fizeram sinal para o barco e rapidamente Mikró veio remando em um pequeno bote, Matiyah entregou Ariana para Doralice e a ajudou a entrar no barquinho, ele e Uriel observaram as duas indo embora.
— É melhor assim — , disse Matiyah — Aquela criança não tem que passar por essas coisas, ela não merece isso.
— Você também não merece. — respondeu Uriel. Você poderia ir com elas, voltar para casa.
— Eu sei, mas nao vou sair do seu lado por nada. Pegou a espada? — Matiyah perguntou.
— Peguei. Vamos embora, nosso destino fica muito longe daqui. — Uriel saiu caminhando de mãos dadas com Matiyah pelo porto.
No barco Lady Butterfly recebeu Doralice e acomodou Ariana em uma cama de uma das cabines.
— Como foi lá? Deu pra ouvir daqui a pirâmide explodindo. Soube que ela foi inaugurada recentemente, Hekate não vai gostar disso. — Lady Butterfly falou.
— Foi difícil, inesperado. Mas agora nós vamos para casa por a cabeça no travesseiro e descansar. — Doralice disse.
— Tudo bem, eu levo vocês para o portal. — Lady Butterfly respondeu pondo a mão no ombro dela.
— Não "vocês", nós. Veja. — Ela estendeu a mão com o último pedaço da maçã dourada — Sabe o que é isso?
— Está... brincado? Por todos os Deuses! Por todos os Deuses isso é sério mesmo? — Lady Butterfly perguntou com lágrimas nos olhos.
— A maçã inteira pode dar a imortalidade, mas esse pedaço da para você e Mikro voltarem a vida, serem humanos novamente. Todos nos vamos para casa.
Lady Butterfly deu um berro de felicidade e envolveu Doralice em um forte abraço.
Foi difícil embarcar no avião com Ariana desacordada, Doralice teve de fazer um feitiço de invisibilidade e outro para que ninguém quisesse ocupar o assento aparentemente vazio ao seu lado. Chegando em Extrema Ariana não acordou, Doralice fez negócios com os enfermeiros do hospital municipal, comprava dele bolsas de sangue as quais injetava em Ariana pois tinha medo da menina morrer de fome.
Era final de outubro quando Ariana acordou. Um dia ensolarado ela abriu os olhos e desceu as escadas, lá em baixo Doralice estava na cozinha tirando um bolo do forno.
— Doralice? Cade o Uriel e o Matiyah?
Doralice deixou a forma do bolo cair no chão de susto, correu e abraçou a menina com muita força.
— Você está bem? Está? — ela perguntou enquanto abraçava.
— To sim, só sinto um pouco de dor nas pernas. Cade o Uriel? — Ariana perguntou.
— Ele... Ele e o Matiyah ficaram lá em baixo.
— Temos de Voltar lá, ele precisa de ajuda.
— Não, não meu bem, ele está bem.
— Não, eu sonhei com ele. Ele e o Matiyah estão fingindo delas, tem muitas delas atrás deles dois.
— Delas? Delas quem?
— Bruxas negras, africanas eu acho, e elas são terríveis. No sonho Uriel dizia o nome delas, era alguma coisa com a letra M...
— Mambo?
— Isso, Mambo, exatamente.
— Droga! Eu já esperava que uma hora elas iam aparecer, elas querem vingança, Uriel matou uma delas.
— Queremos sim, nós queremos vingança. — Disse uma voz de mulher vindo da porta da cozinha.
Doralice sentiu um arrepio percorrer a espinha e virou o rosto para uma mulher entra e alta com a cabeça raspada, usava um vestido muito curto de seda cor de areia e tinha no pescoço um colar em forma de serpente.
— Doralice, ela é uma delas. — Ariana falou olhando para a mulher de olhos arregalados.
— Sim eu sou uma delas. Antes de começar a brincadeira deixe me apresentar, eu sou Josephine e sim sou uma Mambo, e eu vim aqui neste dia lindo para matar vocês.
Fim
Espero que tenham gostado.
É um final sim mas como já devem imaginar esse não é fim de verdade, novas história virão e tudo que não foi resolvido ainda será contado.
Aguardem, em breve o terceiro conto da série "Urdidura das Feiticeiras" irá trazer muitas novidades.
Bom dia Caprini, tudo bem? Onde acesso os dois primeiros capítulos? Lindo conto! Obrigada, Faby.
ResponderExcluirMuito bom, parabéns!
ResponderExcluirMaravilhoso como sempre! ❤️
ResponderExcluirParabéns! Qual o nome do terceiro conto?
ResponderExcluirSensacional como tudo que você escreve!
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