ARTE: AS TRÊS MARIAS

Elas acendem velas pretas
E começam a magia
A magia é negra
A ambição é escura
A meta é fazer algo inimaginável.
Elas costuram casais de bonecos
Alguns elas amarram juntos
Outros elas separam.
Elas degolam a galinha de penas pretas
Elas enrolam o coração de um boi
Em lã vermelha
Elas fervem pimenta dedo de moça
No vinho tinto
E fazem a magia negra.
As três são belíssimas
Mas na penumbra da madrugada
Ninguém consegue identificar
Os belos rostos.
As três estão no meio na mata
Caçando a serpente grávida.
As três estão na encruzilhada de terra
Enterrando no meio dela
Uma caixa com os ossos de um porco
E os fios de cabelo de uma pessoa
Que foi amaldiçoada.
Elas se debruçam no rochedo
Na beira da praia
E lançam na água salgada
Um sapo com a boca costurada.
Quando elas passam
O olho do homem não consegue ver
Mas os cães uivam de pavor
Os cavalos batem os cascos
E os gatos... os gatos nada temem.
Elas enterram um melão
Recheado com vísceras para
Fazer uma vida não nascer.
Elas surrupiaram a camisa
De um rapaz e nela deram três nós
Depois atiraram no fundo de
Um poço seco.
Elas cantam com vozes de sereia
Um canto tão belo que hipnotiza
Mas a letra das cantigas
É aterradora.
Elas foram até a capela dos velórios
E bordaram na face interna
Do paletó de um morto
O nome de uma mulher
E esta enlouqueceu.
Elas dançam uma ciranda alucinada
Murmurando as coisas que fizeram.
Elas zombam dos que dela tem medo
Mas sabem que o medo é justificado.
A voz suave de cada uma
As vezes reverbera em uma gargalhada
Que é similar ao som de um trovão.
Elas rodopiam em cima de lápides
E laçam almas perdidas tal qual
Touros em um rodeio.
Elas não tem medo nem do Deus
Nem da Deusa.
Um conselho bom é ser amigo delas
Pois os que ela julgam inimigos
Passam a vida lambendo o da terra.
Elas continuam a andar
Bamboleando os quadris.
Na maioria das vezes elas
Tem cheiro de perfume
Mas em outros momentos cheiram
A bebida, a rosas, a velas, a morte.
Não há livro sagrado
De cruz entalhada em madeira
Nem água benta
Nem reza santa
Que cause nelas o mais leve arrepio.
De vez em quando elas vão a igreja
Ver a missa e dar boas gargalhadas.
E quando a missa acaba
Escolhem um ou dois
E destes fazem capacho.
Elas não gostam de luz acesa
Elas não gostam do dia
Amam a noite
Amam a luminosidade fraca
E esbranquiçada da lua.
Não se deve desafiar uma Maria
Mas elas amam os desafios
E semprem vencem.
Elas tem gente viva a serviço delas
E os chamam de Cavalos.
Alguns cavalos pensam que elas
Trabalham para eles
E elas deixam que pensam assim
Quando no fim é o contrário.
Elas são terríveis.
As vezes elas travam guerras entre si
Mas logo que uma meta as une
La estão as três juntas
Caçando na madrugada.
A mais velha tem quatrocentos anos
As mais novas trezentos cada
E cada ano que passa elas ficam maiores.
Maria Quitéria, amargura na forma de uma boneca.
Maria Padilha, soberba esculpida em ouro.
Maria Mulambo, o desprezo bordado em fio de seda.
Alguns dizem que as doutrinaram
E eu pergunto
Sera a mente humana tão fraca
A ponto de se iludir assim?
As Marias gargalham e dizem:

-Sim.




Saravá a Maria Quitéria!
Saravá a Maria Padilha!
Saravá a Maria Mulambo!

Espero que tenham gostado
Quem quiser encomendar desenhos
Pode me chamar no whatsapp 11944833724
Obrigado!

Comentários

  1. Simplesmente divino. Qual o valor desta obra?. Vc faz quadro somente da Maria Quitéria e mulambo juntas?

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