Vampira Capítulo 2
VAMPIRA
Capítulo 2
"As Duas"
Maria Padilha das Almas é uma Pombagira.
Na verdade não apenas uma das, mas a mais famosa no Inferno e a mais poderosa devido a estrutura política que construiu em torno de si.
Ela costumava se sentar no trono de seu palácio, era chefe de uma Falange.
Falange nada mais é que um agrupamento de espíritos que são liderados por um, e a Falange de Maria Padilha das Almas possuia quatrocentas e doze Pombagiras.
Maria Padilha das Almas ordenava que todas as suas falangeiras usassem o nome Padilha seguido de uma outra nomenclatura que dava a elas a individualidade, então ao todo eram quatrocentas e treze Maria Padilha no Inferno.
Porque Maria Padilha das Almas obrigava as suas falangeiras a desprezarem a própria identidade e assumirem a dela? Meus caros, um nome tem poder, o nome é o pilar de um ser e quanto mais mulheres usando o nome Maria Padilha, mais ela se torna poderosa.
Um nome é um Tesouro.
Tudo corria como de costume, Maria Padilha das Almas sentada em seu trono assinando documentos, lendo cartas e dando ordens, naquela noite ela usava um vestido de veludo marsala com um corpete de couro negro de cadarços dourados, seus cabelos estavam soltos e ondulados caindo sobre os ombros nus, usava no alto da cabeça uma tiara com um hexagrama dourado que era o símbolo das Pombagiras mais poderosas, as que eram intituladas Rainhas.
Mas então o mensageiro chegou.
Era um homem baixo e atarracado, pançudo com a pele rosada como a de um porco, usava roupas vitorianas justas e trazia um pergaminho e um envelope. Entrou Pela nave do salão e quando chegou diante de Maria Padilha das Almas uma das falangeiras foi perguntar quem era, e ela o anúncio:
- Esta é Armando, mensageiro da Corte Real da Koukouvágia, ele trás uma mensagem urgente para...
Maria Padilha das Almas sentada em seu trono cruzou as pernas e perguntou impaciente:
- Para quem?
A falangeira respondeu:
- Para Suzana. Mas quem é Suzana?
Maria Padilha ficou de pé, apertou os punhos furiosa ate as unhas se afundarem na palma ds mão e berrou para o mensageiro:
- Quem escreveu essa carta?!
O mensageiro puxou do bolso uma pequena trompa e a soou como manda o protocolo de anunciações, então falou:
- Suzana... Sem sobrenome, a senhora está sendo acusada de se apropriar do nome da Rainha Póstuma da Espanha, Maria Padilla de Abajo y Castela. A lei das feiticeiras de Koukouvágia diz claramente que se apropriar do nome de outra feiticeira é um crime, deve ser coibido. O tribunal de Koukouvágia lhe aguarda em três dias para prestar esclarecimentos sobre. A denúncia foi feita por Maria Padilla de Abajo y Castela que tem como testemunha Maria Mulambo, que afirma ser irmã da acusada. A questão foi aceita pela Juíza Dona Ekaterina Alekseevna que julgará o caso.
O mensageiro fez uma mesura, deu meia volta e foi embora rebolando os quadris.
Maria Padilha das Almas se sentou no trono pálida, aquilo era um grande problema.
Uma falangeira se aproximou, era Maria Padilha do Cabaré, ela perguntou:
- Das Almas? O que significa isso? Eu não compreendo.
Maria Padilha das Almas abriu um leque e se abanou para se acalmar, falou para ela:
- Quando eu era viva me chamava Suzana, era meu nome de batismo. Eu escolhi o nome Maria Padilha quando comecei a trabalhar na noite pois era o nome de uma Rainha da Espanha. Então eu construí tudo o que eu tenho em cima deste nome mas... A verdadeira Maria Padilla está ordenando que eu abandone o nome e se eu fizer isso ela tomará tudo o que é meu.
LADY BUTTERFLY
Uma escada de corda foi lançada na lateral do barco, os quatro subiram e logo foram abraçados e tiveram as bochechas beijadas por Lady Butterfly que os cumprimentava energicamente. Após a sessão de amassos ela se apresentou:
- Me chamo Lady Butterfly, sou a última descendente sanguínea de Iyansan, sou uma bruxa maravilhosa, poderosíssima, ganhei quatro concursos de Belezas no Tuat e atualmente trabalho com transporte com esta belazinha aqui. - Ela bateu na lateral de madeira do barco.
Os quatro olharam para ela com cara de espanto, que tipo de pessoa se apresentava incluindo auto elogios na apresentação? Ela sem dúvida não era normal. Se vestia com um grosso casaco de pele de chinchilla e por baixo um vestido curto de seda negra, nos pés sapatos de salto alto e bico fino preto envernizados, unhas postiças enormes e uma peruca vermelha berrante encaracolada que estava com tanto laquê que se armava para cima cimo tentáculos de um polvo desesperado.
Ariana como podia se valer da pouca idade para sempre ser a mais desbocada disse:
- Você é um homem ou uma mulher?
Lady Butterfly respondeu com um sorriso:
- Depende do dia da semana. Porque essa pergunta?
Ariana falou:
- A Deusa Iyansan nos disse que um filho dela nos ajudaria, tipo... Filho homem.
Lady Butterfly assentiu de vagar com cabeça e falou:
- Meu nome verdadeiro é Didùn Oyábiyidan, e o gênero que eu tive quando era vivo era o masculino. Atualmente eu tenho um gênero indefinido. Quando morremos perdemos a carne e o osso, eu não tenho mais genitalia nem masculina nem feminina então eu poderia escolher aparentar ser uma mulher ou aparentar ser um homem, mas eu não consigo me decidir o que quero ser então fico em cima do muro.
Uriel traduziu:
- Didùn Oyabiyidan... Didùn é doce, Oya-bi-idan é que nasceu da magia de Oyá... Não é?
Lady Butterfly olhou para as asas de Uriel que ainda estava sem camisa e respondeu:
- Parabéns Anjo, sabe falar Yoruba corretamente. Meu nome real é Didùn Oyabiyidan que significa "A Doçura nasceu da magia de Oyá".
Matiyah perguntou:
- E de onde saiu Lady Butterfly?
Lady Butterfly virou de costas e foi até o grande timão de madeira enquanto ajustava a posição respondeu:
- Como vocês ja devem saber, o inferno é dividido em dezoito províncias e nenhuma delas tem africanos negros. Na verdade temos duas províncias Egípcias mas contam como Árabes e não como Africanos reais. Os africanos de pele escura tem suas próprias religiões e os Deuses deles mandam as almas dos seus filhos e devotos para outros lugares, de modo que a maior parte da África nem sequer acredita que o Inferno existe. Desse modo quando eu vim parar aqui eu era o único... e ainda sou a única Yoruba no Inferno. Eu falava Yoruba que é minha língua natal, Grego, Egipcio e Fenício, então eu fui usando nomes mais populares nestas línguas afinal temos muitas pessoas importantes que falam elas aqui em baixo, e eu queria ficar segura então fiz amizade com pessoas importantes e o meu nome Didun Oyabiyidan soava estranho para eles, então de tempos em tempos eu assumo um novo nome. Meu nome atual é em inglês porque quando houveram as guerras dos Estados Unidos houve uma descida em massa de americanos pra cá e eles me deram esse nome, inclusive "Lady Butterfly" é o nome que eu mais gosto de usar.
Doralice perguntou:
- E como você aprendeu a falar português?
Lady Butterfly respondeu:
- Tem uma nova classe de divindades aqui em baixo. Quer dizer, não tão nova assim, estão aqui há algumas décadas no tempo dos mortais e há alguns milênios no tempo khalid, que é o tempo do inferno, vocês sabem, uma hora no mundo dos vivos é um dia no inferno. Essa nova classe é das Pombagiras, e elas me ensinaram o português. Mas vamos conversar depois, vocês devem estar cansados e o caminho até o seu destino é longo, eu vou leva-los até as acomodações.
Lady Butterfly bateu os saltos do sapato no assoalho do convés e gritou:
- Mikró! Venha assumir o timão sua vagabunda!
Alguns instantes depois uma portinhola no chão se abriu e dela saiu uma menina que aparentava ter sete ou oito anos de idade, era palida com o cabelo liso e totalmente branco preso em um rabo de cavalo, usava luvas de couro e um macacão sujo de graxa. Ela olhou para os quatro com um cara de incógnita.
Lady Butterfly a apresentou:
- Esta é Mikró Methysménos, minha sócia, nos duas somos donas deste barco.
Mikró forçou um sorriso e disse:
- Bem vindos.
Ariana perguntou:
- Mas... Crianças vão para o inferno?
Lady Butterfly riu e falou:
- Não, ninguém que morre enquanto ainda é criança vem pra cá. Mikró não é criança, ela é mais velha que eu, ela gosta de se parecer assim, mas na verdade é uma velha fedorenta.
Mikró revirou os olhos e falou com um forte sotaque indistinguível:
- Vá logo fazer o que tem de fazer, eu fico na direção.
Lady Butterfly apontou uma escada e disse para os quatro:
- Me sigam, vou mostrar as cabines de vocês.
Eles subiram três lances de escada passando por corredores enfeitados com tapeçarias e foram levados a uma cabine do tamanho de uma grande sala de estar espaçosa, nela haviam dois beliches separados por uma cortina de cetim azul marinho, um lavabo privativo que parecia nunca ter sido usado, uma mesa com duas cadeiras para refeições e dois armários para armazenamento de bagagem.
Lady Butterfly mostrou o aposento e disse:
- Podem dormir aqui, nos chegaremos ao Érebo em dois dias.
Uriel estranhou:
- Dois dias? Mas o inferno é pequeno, e menor que o continente Oceania, , porque dois dias se nos já estamos no rio Estige?
Ela tirou uma folha enrolada de um bolso interno de seu casaco de pele, era um mapa, o mapa do Inferno. Ela fez sinal para que os quatro se aproximassem, esticou o mapa na mesa, apanhou do bolso uma caneta azul e fez um risco no mapa:
- Estamos aqui na porta de Elêusis e temos de chegar aqui no Érebo, se estivéssemos em uma época normal faríamos esse trajeto em quatro horas, mas não é um período fácil.
Doralice analisou o mapa e perguntou:
- Porque esse mapa é redondo desta forma? Assim não da pra saber como se encontram as regiões do globo.
Uriel explicou:
- Doralice o inferno não é uma região esférica como o planeta Terra, ele é plano. Esse círculo em volta de tudo é uma muralha que separa o Inferno do mundo dos vivos. Você ja deve ter lido que o Inferno não fica em lugar nenhum e ao mesmo tempo esta em toda parte, como...
Lady Butterfly respondeu:
- Como uma dimensão paralela. Não tem sol aqui, é sempre noite. Não tente comparar o planeta Terra com este lutar, isso aqui é um local onde leis da física e bla bla bla lógico não existem. O inferno é um único continente cercado por uma muralha, dentro estão os muitos rios e neles fazemos o translado de passageiros e mercadorias.
Matiyah perguntou:
- Senhora, a condição difícil que citou é a guerra de minha m... de Samyaza?
Lady Butterfly pegou a caneta azul e circulou no mapa uma região com tres províncias respondeu:
- Olha o bonitão sabe falar... Veja no mapa, essas tres provincias são....
Matiyah completou:
- Gehinom, Sheol e Nisa.
Lady Butterfly assentiu:
- Isso mesmo, é Samyaza regente do Sheol e está em guerra contra Nisa e Gehinom, que são governadas por Lilith e Kakuseisha, que são o marido e a esposa de Satanás, ou seja, ao declarar guerra a eles Samyaza declarou guerra ao próprio Satanás que é o imperador do Inferno. Isso não ficou só entre eles, todas as dezessete províncias se aliaram contra Samyaza, mas ela resiste, o exercíto dela é gigantesco.
Matiyah perguntou:
- Há quanto tempo estão em guerra?
Lady Butterfly respondeu:
- Uns três meses eu acho. Esse é o motivo da nossa viagem demorar, os rios estão sendo usados como campo de batalha, e nos estamos correndo risco, mas ainda assim é impossível chegar a qualquer lugar no Inferno sem navegar.
Matiyah falou:
- Então podemos cair no meio de uma batalha a qualquer momento?
Lady Butterfly respondeu:
- Por enquanto descansem. Volto para ver como estão em algumas horas.
DORALICE
Eles se deitaram nos beliches, estavam muito cansados e o sono não demorou a chegar para Doralice.
Assim que fechou os olhos ela sonhou com uma velha conhecida, Maria Padilha das Almas estava sentada em um banco de madeira no centro uma grande sala de de piso de mármore escuro, era sem dúvida um tribunal e ela estava sendo julgada. A juíza estava um patamar mais alto, uma mulher muito branca com bochechas rosadas de rouge e um cabelo loiro cacheado muito armado. A juíza dizia algo como "só uma Deusa pode aliviar a sua culpa".
Doralice acordou se sentou no beliche e ficou pensando no que aquilo significava. Muitos anos antes ela tinha enfrentado uma difícil situação ao lado de Maria Padilha e outras Pombagiras, a situação em questão foi um divisor de águas na vida dela.
Ela se levantou e saiu da cabine, foi até o convés superior, o barco navegava tão lentamente que as vezes parecia estar parado, as águas negras do rio Estige tinham cheiro de ferro. Foi então que ela ouviu uma voz feminina dizendo:
- Você teve um pesadelo?
Doralice se virou de chofre e viu uma mulher muito bonita, usava um vestido branco sem mangas e o longo cabelo negro liso caído sobre os ombros de pele morena, nao usava máquiagem mas as cores de seu rosto eram tão certas que parecia uma pintura.
Doralice respondeu sorrindo:
- Sim tive.
A mulher olhou para ela com bondosos olhos cinzentos e falou:
- Sonhar um luxo dos vivos, e algo que eu tenho saudade.
Doralice perguntou:
- Sente falta até dos pesadelos?
A mulher respondeu:
- Principalmente.
A mulher se aproximou e Doralice perguntou:
- Me perdoe, mas quem é a senhora?
A mulher respondeu:
- Eu sou Rosa dos Ventos.
Doralice sorriu a fez uma reverência com a cabeça dizendo:
- Eu a conheço de nome, sua reputação a precede.
Rosa dos Ventos a encarou, o rosto duro como pedra:
- Quer dizer que sou famosa?
Doralice respondeu:
- Sim, é famosa por ser a grande Clarividente, a mais poderosa oráculo entre todas as Pombagiras.
Rosa dos Ventos se aproximou e se apoiou no parapeito do convés bem ao lado de Doralice. Ela cheirava a rosas suaves.
Disse:
- Quando eu era viva o meu nome era Nayara, era chamada de Nayara Vidente.
Ela virou o rosto para Doralice e a encarou:
- Eu não tenho problemas em dizer o meu nome de batismo, mas algumas companheiras minhas não podem se dar a este luxo.
Doralice arregalou os olhos e perguntou:
- Você que me enviou aquele sonho?
Rosa dos Ventos olhou parar as águas do rio e para a grande muralha de pedra bruta que delimitava o Inferno e falou:
- Sim. Doralice me diga, o que para você é justiça?
Doralice respondeu:
- Justiça é quando aquilo que é correto prevalece e quando aquilo que é errado é castigado. Mas o que significa aquele sonho?
Rosa dos Ventos falou:
- Você conhece Maria Padilha, entre as feiticeiras ainda vivas você é a que conhece melhor. Me diga, ja viu Maria Padilha fazer coisas boas? Já viu ela ajudar pessoas?
Doralice respondeu:
- Sim muitas vezes.
Rosa dos Ventos falou:
- Agora quem precisa de ajuda é ela, você poderia ajuda-la.
Doralice falou:
- Mas no meu sonho a juíza dizia que só uma Deusa poderia aliviar a culpa dela, como eu conseguiria levar uma Deusa para o ser partidária dela no tribunal?
Rosa dos Ventos respondeu:
- Você sabe a resposta.
Doralice assentiu:
- Ariana...
Rosa dos Ventos falou:
- Exato. E eu realmente aconselho que vá ajudar Maria Padilha, pois ela pode te ajudar também, e acredite, você precisa da ajuda dela mais do que nunca.
Doralice olhou para as águas do rio e falou:
- Sim claro, eu vou ajudar ela. Mas...
Quanto ela olhou para o lado Rosa dos Ventos havia desaparecido. Ela desceu correndo as escadas até a proa, debruçada sobre o timão estava Lady Butterfly vestida como um homem, aliás ela agora era... "ele?" Vestia uma camisa branca botões e calça jeans azul clara, nos pés botas de cowboy em couro de cobra vermelho vivo e cabeça sem perucas era raspada e brilhava como se a pele negra houvesse sido recentemente hidratada.
Bom, as questões de gênero de Butterfly eram muito confusa então Doralice não perguntou nada a respeito do figurino, apenas se aproximou e disse:
- Lady Butterfly temos de mudar o curso!
Butterfly olhou para ela e perguntou:
- Como assim? Mudar pra onde?
Doralice respondeu:
- Koukouvágia, tenho de chegar no tribunal de Koukouvágia em dois dias.
Butterfly respondeu:
- Koukouvágia fica muito depois de Érebo, na nossa velocidade atual não vai dar tempo.
Doralice respondeu:
- Eu sei que a nossa carona até Érebo esta sendo paga por Iyansan, mas se você desviar o curso eu irei te pagar.
Lady Butterfly perguntou:
- E você tem quanto em ploúto?
Doralice perguntou:
- o que é ploúto?
Atrás dela a voz infantil de Mikró falou:
- A segunda moeda corrente mais valiosa no Inferno. Ploúto são moedas de Hades.
Doralice falou:
- Não tenho nada mas dou minha palavra que ao chegarmos em Koukouvágia eu arranjo uma boa quantia que pagará tudo.
Butterfly perguntou para Mikró:
- Ela quer chegar em Koukouvágia em dois dias, pra isso iríamos ter que navegar a todo vapor.
Mikró olhou para Doralice e dois virou os olhos para Butterfly:
- Se ela vai pagar, vamos correr o risco.
Butterfly puxou duas alavancas no painel ao lado do timão e a embarcação tremeu, em seguida uma cheiro de queimado se alastrou e Doralice caiu sentada no chão devido um tranco repentino, o barco começou a acelerar e a criar uma onda na água negra do rio.
Mikro deu dois tapas no ombro de Doralice e falou:
- Agora você vai ver do que essa jangada é capaz!
ESPANHOLA
O Rei Pedro Primeiro da Espanha era um jovem de dezenove quando subiu ao trono no ano 1350 depois de Cristo.
Sua beleza e elegância era conjunta com a enorme inconsequência e estupidez.
Pedro se casou por meio de um acordo político com a Princesa Francesa Branca Bourbon.
Branca não o amava, mas ela tinha sua honra e então cumpriu o proposto e se deixou tomar como esposa.
Branca... Coitada... Nunca teve paz.
Branca nunca teve paz pois havia uma odiosa mulher na vida de seu Marido, ela era Maria Padilla de Abajo y Castela.
Maria Padilla também chamado de "A Prostituta Espanhola" era uma nobre da casa Padilla, ela foi amante de Pedro e aspirava ser Rainha.
Fez tantas intrigas que Pedro anulou o casamento com Branca e se casou com ela, mas para o desalento de Padilla o casamento não foi reconhecido e a igreja ordenava que o Rei retomasse seu convívio com Branca.
Com apenas vinte e dois anos a Rainha Branca foi morta envenenada por seu marido, mas Padilha estava por trás disto tudo.
Com o Rei viúvo ela pensava que iria subir ao trono, mas isso não ocorreu.
Tudo pendia para que Padilla fosse coroada e reconhecida mas após um mês da morte de Branca ela contraiu a peste bubonica e faleceu.
Pedro em caráter de misericórdia fez a homenagem a deu a ela a coroa.
Foi então rainha postuma, ou seja coroada no caixão.
A maldita acordou no inferno, não sabia nada de nada então logo lhe deram destino, foi vendida como escrava. Acabou tempo das sedas e dos licores, não haviam mais brincos de ouro e tiaras de prata, não, o cetro de rainha que lhe deram foi uma vassoura, e teve sorte por saber falar mais de uma língua pois foi apenas por esse motivo que a destinaram a serviço domestico em casarões e palacetes, caso contrário teria ido chafurdar nos rios de água suja fazendo a limpeza de dejetos como tantas outras almas.
Por muito tempo passou de mão em mão trabalhando para demônios e espíritos mais importantes. No inferno era chamada simplesmente de "Espanhola"
Na terra dos vivos se passaram século, no inferno milênios.
Sua última dona foi Elektra, uma das esposas de Nergal e foi servindo a mesa de Nergal que ela ouviu novamente seu nome.
Nesta ocasião Elektra falava com seu esposo sobre acontecimentos banais, em um arcaico dialeto sumerio ela dizia:
- Querido soube da nova? Uma mulher morta, uma humana recebeu uma honraria máxima!
Nergal era um homem de mais de três metros de altura, pele cor de canela e cabelos negros oleosos caindo abaixo da cintura.
Ele respondeu:
- Se refere ao castelo construído em Nisa? Sim eu sei, uma castelo para uma mulher morta, uma Bruxa... Hum... Maria Padilha.
A Espanhola estava no canto da mesa usando uma túnica de linho negro típica dos escravos e segurando um jarro com vinho quando ouviu o nome e de imediato respondeu:
- Pois não senhor?
Nergal ergueu os olhos como se so naquele momento tivesse percebido que a Espanhola existia.
Ele falou áspero:
- Esta falando sem pedir permissão? É isso mesmo?
A Espanhola ficou vermelha e respondeu em voz tímida:
- Não meu senhor, eu ouvi dizer meu nome e pensei...
Elektra respondeu:
- Seu nome? Nós nem sabemos seu nome anta. Aliás, diga qual é para que eu mande o meu carrasco açoitar a escreva certa.
A Espanhola gagejou:
- Ma-Maria Padilla.
Elektra arqueou as finas sobrancelha estudando o rosto da escrava, depois se virou para o marido e falou:
- Não sinto cheiro de mentiras nela. O nome dela é este mesmo. Coincidência?
Nergal perguntou para a escrava:
- em que data e local no mundo dos vivos você nasceu? Ocupou alguma posição de destaque?
A Espanhola respondeu:
- Nasci em mil trezentos e trinta e quatro depois de Cristo, na Espanha, fui Amante de um Rei e Rainha Póstuma.
Elektra abriu boca pasma, disse:
- A Maria Padilha que nos referimos aqui é uma Brasileira, e o Brasil nem existia na sua época... Você é mais velha.
Nergal olhou para a escrava e disse:
- É sabido que esta Maria Padilha não se chama assim de nascimento, ela usa nome. Seria por sua causa? Sua história foi importate no mundo dos vivos?
A Espanhola respondeu:
- Foi sim senhor.
Elektra bateu as maos animada e disse:
- Nergal estou me sentindo caridosa, o que acha de darmos a liberdade a esta escrava Espanhola e levarmos ela ao tribunal? Podemos ajudar essa pobre alma a abrir uma queixa contra a outra Padilha, afinal os nomes sao sagrados e se apropriar de um é um crime segundo nossas leis.
Nergal olhou para a Espanhola e depois para a esposa, disse:
- Sua caridade vem em fazer o bem ou em saber que dar a liberdade a esta escrava pode causar a destruição da outra Padilha?
Elektra sorriu e disse:
- "Destruição"... eu amo essa palavra. O senhor meu marido sabe muito bem que Samyaza está a travar uma guerra contra o imperador, e que há grande chance que vença, nisto eu digo que se quisermos manter nosso lugar na corte devemos eliminar esta Maria Padilha da putas e tomar aquele castelo para nos, afinal está Espanhola aqui terá de nos a liberdade e em troca ira nos presentear com o espólio da outra quando o conseguir não é?
Elektra dirigiu um olhar tenso a Espanhola que engasgou e respondeu:
- Agh... Si.. Sim minha senhora, se eu tomar posse dos bens da outra estes bens serão todos seus.
Elektra ergueu uma taça e exclamou:
- Vamos ao tribunal!
BELLADONNA
Quando a notícia de que Uriele havia dividido a alma de Sharir Malaun meses atráe, Belladona foi enviada a Roma por Samyaza afim de ter uma audiência na Strega, a sociedade das Bruxas.
Ela foi recebida por uma das representantes a qual recebeu sua explicação pela explosão da mansão em São Paulo e marcou uma audiência com a presidente da organização, a famosa Victoria Linneane.
Belladonna gostava de estar em Roma, cidade Adorável capital do velho império.
A família Linneane era muito famosa em todo o mundo por ter sido a casa a qual a lendária Morgana Le Fay nasceu, as Linneane eram presidentes da Strega em cargo vitalício e hereditário desde a sua fundação.
Quando o dia da audiência chegou Belladonna se vestiu com um uma calça de couro negro, uma camisa xadrez vermelha e preta, brincos de argola com o cabelo preso em um rabo de cavalo, sandálias pretas de salto alto de dezoito centímetros com meia pata e as unhas pintada em bordo e levava na mao uma pasta de couro negro.
Quando entrou a primeira vez no prédio da Strega foi recebida em uma pequena sala próximo a recepção, era um prédio comum empresarial de seis andares revestido de vidro espelhado azul e ninguém jamais desconfiaria que ali era a sede do Conselho das Bruxas caucasianas e latinas já que o lugar parecia um centro de escritórios de advogados.
Samyaza havia dado uma carta a Belladonna para ser entregue a Victoria onde exigia que ela ocupasse um lugar no conselho das doze que era nada mais que as doze bruxas mais influentes entre todas as famílias antigas. Agora na segunda vez que entrava no prédio ela recebeu um cartão vermelho que servia de passe e com ele teve autorização de subir de elevador até o último andar. Quando ela entrou no amplo elevador havia uma ascensorista, uma mulher albina vestida em um terno preto que a comprimento e perguntou:
- In quale dipartimento stai andando?
Belladonna estava enferrujada no idioma italiano então mas entendeu que a pergunta era sobre onde ela estava indo, então respondeu em português:
- Vou ao sexto andar, tenho uma audiência com Victoria Lineanne.
A ascensorista olhou o cartão na na mão de Belladonna e sorriu mostrando dentes muito brancos e artificiais, respondeu em um português de Portugal:
- Se vais falar com a Senhora Victoria então não para o sexto andar que deves ir.
A porta do elevador se fechou e a ascensorista pertou no painel dos andares o botão de número sete.
Belladonna falou:
- Sétimo andar? Mas na recepção há uma placa onde se lê " edificio a sei piani" que é edifício de seis andares e inclusive abaixo desta inscrição há um mapa sobre os departamentos de cada andar e a presidência é no sexto.
A ascensorista sorriu novamente e disse:
- Pronto, o escritório da presidência que você viu indicado no mapa do edifício na verdade é uma depósito onde se guardam produtos de limpeza. E sim, você esta correta, este prédio so tem seis andares.
Belladonna entendeu o que estava dizendo mas para confirmar perguntou:
- O setimo andar não é aqui não é? É magia de ligação, o setimo andar provavelmente nem está em roma.
A mulher respondeu novamente sorrindo:
- Pronto, estais a compreender. Isto é uma medida de segurança. Por meio da magia da Senhora Lineanne é possível acessar o escritório dela atreves deste elevador como se e ele fosse parte do prédio, mas não é. Nem mesmo eu sei onde o escritório dela se localiza, pode estar em qualquer parte do planeta, ou até mesmo fora dele.
A porta do elevador se abriu e Belladonna saiu em frente a mesa da recepcionista presidencial, a sala era muito bela, o chão forrado em carpete vermelho vivo e as paredes brancas repletas de dezenas de quadros com pinturas de todas as outras feiticeiras da família Lineanne que no passado ocuparam a presidência da Strega. A recepcionista era uma mulher asiática um tanto gorducha enfiada em um terninho preto muito apertado fazendo os fartos e pálidos seios quase pularem Para fora da abertura. Assim que Belladonna disse quem era e entregou o passe vermelho foi orientada a aguardar até que Victoria pudesse receber. Foram mais de quarenta minutos sentada em frente a recepcionista, quarenta minutos assistindo a mulher lixando as unhas e retocando o batom nos lábios finos como facas, até que a porta da sala foi aberta um voz rouca de mulher berrou:
- Dille di entrare!
A asiática se levantou da mesa da recepção e guiou Belladonna até dentro da sala, o ambiente era austero, amplo e tudo era branco, não havia absolutamente nada em outra cor, a mesa, o abajur na lateral da sala, ventilador de teto, havia até um cacto totalmente branco perto da porta, o lugar era alvo, a única exceção era Victoria que estava vestida com um casaco de tricô roxo em gola cacharel e tinha o cabelo negro solto em cachos volumosos, a pele era clara e rosada, os olhos de um intenso verde acizentado e ela parecia muito bela mesmo tendo a idade estampada nas marcas de expressão. Ergueu uma mão ossuda e fez sinal para Belladonna se sentar na cadeira diante da mesa dela, então perguntou em italiano:
- Cosa ti porta qui?
Belladonna suspirou fundo, ela não iria conseguir acompanhar uma conversa totalmente em italiano então ergueu a mão esquerda e estalou os dedos três vezes, assim respondeu:
- Eu vim a mando de minha senhora, devo me apresentar formalmente.
Victoria sorriu pois aquele feitiço do estalar de dedos era algo muito antigo e servia para sincronizar linguagens, então Belladonna falaria português e Victoria italiano mas as duas iriam se compreender como se falassem a mesma língua.
Ela disse como se não soubesse:
- Quem é a sua senhora?
Belladonna respondeu:
- Sou fidelizada a senhora Samyaza regente do Sheol, acho que não preciso explicar quem ela é devido a fama que tem, ela enviou uma carta para que se faça entender melhor.
Belladonna abriu a pasta e entregou a carta a Victoria que a pegou com as pontas das unhas e ao virar a folha leu, mas enquanto lia sua face se tornou fria e amarga. Ela falou:
- Isso é um absurdo... Absurdo. Entenda querida... Belladonna... O prestígio de Samyaza é grande, dos anjos caídos ela é uma das mais poderosas e o nome dela é mais que suficiente para abafar a confusão da explosão em São Paulo... mas mesmo com ela estando a beira de se tornar a imperatriz do Inferno eu não posso dar a você um cargo no conselho. O conselho das doze não. Nessa carta Samyaza exige que eu te sente como uma das doze soberanas, e isso é impossível.
Belladonna arqueou as sobrancelhas e perguntou:
- Impossível? Por qual motivo me nega isso?
Victoria pousou o papel sobre a mesa e pacientemente explicou:
- Primeiro e mais importante é que você nunca nem sequer foi filiada a Strega, você só veio aqui agora e por conta de uma convocação, nunca comeu de nosso pão e nunca bebeu do nosso vinho, as irmãs e irmãos desta casa não reconhecem o seu rosto, você não sabe das nossas regras e nem fez parte da nossa história, como eu poderia te dar um assento no conselho sendo que ele é para as feiticeiras influentes na nossa comunidade? E também...
Belladonna respondeu seca:
- Também o que?
Victoria falou:
- Todo os lugares do nosso conselho estão ocupados e você... Eu sei que seus documentos são sob o nome de Milena Diva Belladonna di Gilli e Agrippa Von Nettesheim mas sei também que você não tem sangue Gilli nem Agrippa não é?
Belladonna suspirou aborrecida:
- Sou filha adotiva de Jorn Klaus do clã Agrippa.
Victoria perguntou:
- Se é adotiva como tem sangue de bruxa? Quem te deu?
Belladonna respondeu:
- Sou filha biológica de Sarana Salvaterra.
Victoria falou:
- Uma Salvaterra! Que coincidência... Temos uma representante da família Salvaterra no conselho, Cassandra Montecarlo e Salvaterra, conhece?
Belladonna puxou na memória o grávura da árvore genealógica da familiar Salvaterra que tinha visto na casa de Doralice e lembrou daquele nome:
- Não pessoalmente mas sei que somos equivalentes no grau familiar, digo em descendência da ancestral da família.
Victoria meneou a cabeça:
- Não, não estão.
Belladonna falou:
- Sim estamos. Ela e eu somos primas distantes...
Victoria interrompeu:
- Não, não é a isso que me refiro, o que a deixar superior a você é que ela foi eleita pela família Salvaterra a ser a representante de todos eles e das famílias menores que lhes prestando vassalagem.
Belladonna apoiou as duas mãos na mesa e falou:
- Me diga uma coisa, se... hipoteticamente... Cassandra viver a falecer e todos os membros da Família Salvaterra me escolherem como suplente, haveria alguma objeção que eu me sentasse no conselho?
Victoria ficou em silêncio por um momento pensando, e então disse:
- Ai... As coisas vão correr desse modo não é? Isso é modo de Samyaza agir, bem sei. Se é o que tens que fazer, faça, eu vou me abster de interferências. Eu tenho um espírito que sirvo e eu sei que ele não vai querer me ver como inimiga de Samyaza, principalmente agora.
Belladonna se pôs em pé e falou:
- Então que as coisas se encaminhem, muito obrigada pela a sua atenção.
Victoria respondeu:
- Se realmente é o que quer deveria começar a fazer amizades aqui dentro, vai precisar de amigas.
Belladonna respondeu:
- Farei isso.
Antes de Belladonna sair da Sala Victoria a chamou e ela se virou para ouvir:
- Belladonna, sei que é mais velha do que eu, e sei o que você quer. Mas entenda, o que te protege é Samyaza e pela influência dela eu irei te ajudar em tudo que puder.
Belladonna ergueu uma sobrancelha e perguntou:
- Tem um "porém" ai?
Victoria sorriu enquanto falou:
- Porém se Samyaza perder a guerra que está travando no Inferno ela vai ser banida e perderá os poderes e então eu vou matar você com as minhas próprias mãos.
Belladonna sorriu e disse:
- Entendo, mas se ela ganhar... Talvez você deverá zelar mais por sua segurança. Com licença.
DORALICE
Uriel abriu a porta da cabine e Desceu as escadas pulando os degraus de dois em dois, quando chegou no convés viu Doralice junto a Lady Butterfly e perguntou:
- Por que aumentaram a velocidade do barco não disseram que era seguro ir devagar?
Lady Butterfly respondeu:
- Sua amiga aqui pediu que mudássemos o destino então nós estamos levando vocês para Nisa, ou melhor para Koukouvágia, a terra das mulheres infernais.
Uriel arregalou os olhos para Doralice perguntou:
- Porquê? O que você tem que fazer lá? Aliás como você sabe onde fica Koukouvágia?
Doralice respondeu:
- Tive um sonho que me dizia para ir para lá, a minha amiga Maria Padilha está em Apuros e eu tenho que ajudar ela.
Uriel questionou:
- Mas você sabe que a nossa missão aqui é com Ariana, é pegar a ânfora ir embora, eu não quero fazer desvios, quero sair daqui o quanto antes.
Doralice com calma respondeu:
- Eu sei eu sei mas tem coisas que temos que fazer e algo me leva a crer que vai ser muito positivo a nossa ida até lá.
Matiyah Desceu as escadas calmamente e veio atrás deles, disse:
- Calma Uriel, se Doralice quer ir até lá vamos até lá afinal não é do feitio dela fazer coisas tolas e se ela quer ir motivo tem.
Uriel mostrava irritação ma voz:
- Não importa, não não vamos para Koukouvágia! Lady Butterfly reduza a velocidade e retome o curso para o Érebo.
Doralice ergueu a voz:
- Não! Vamos parar Koukouvágia.
Uriel falou:
- Mas...
Doralice endureceu a voz:
- Mas nada. Eu perdi a minha casa, vi minha prima morrer na minha frente, ajudei a cuidar de Ariana e assumi a culpa pela situação dela sendo que na verdade a culpa é sua, então para com isso, eu tenho feito muito por você e você não vai gritar e exigir nada, a não ser que queira seguir sem mim.
Uriel ficou pasmo, Doralice nunca tinha falado com ele daquela forma. Ele disse:
- Doralice não é que não confie no seu julgamento de fazer as coisas mas eu só fiquei ressabiado e eu acho que isso vai nos atrapalhar.
Mikró estava sentada no piso do convés e respondeu:
- Não interessa o plano de vocês, a única coisa que eu quero é o pagamento. A moça loira aí me prometeu um farto pagamento eu vou frisar bem ELA PROMETEU um farto pagamento e nós estamos contando com essa promessa não quebre a promessa.
Uriel olhou para Doralice e disse entre os dentes:
- Pagamento? Como assim pagamento? nós não temos ouro aqui.
Doralice respondeu:
- Eu disse que nós vamos até Maria Padilha e eu confio nela para saldar essa dívida.
Matiyah perguntou:
- Tem certeza Doralice? Afinal essa Padilha é uma pomba gira e todo mundo sabe que esse tipo de espírito não presta.
Doralice respondeu:
- Meu querido eu conheço elas muito melhor do que você para te dizer que não a gente de melhor índole do que Maria Padilha. Fiquem tranquilos.
O barco estava a toda, a roda dagua espalhava a agua negra pelo convés e Mikró corria de um lado para o outro com um rodo na mão empurrando a água para a borda.
Cerca de seis horas depois o barco dominuiu a velocidade e eles avistaram as três gigantes estátuas do porto de Koukouvágia, cads estátua segurava duas tochas, a primeira era a estátua de prata onde se via uma velha, a do meio era uma estátua de puro onde se via uma mulher de meia idade e a terceira era um estátua de cobre avermelhado onde se via uma adolescente, as tres vestiam roupas de estilo grego, mantos e coroas de louros. Doralice subiu ao nível superior do barco para ver melhor e então Ariana saiu da cabine e ao ver as enormes estátuas perguntou:
- Quem são as três mulheres retratadas ali?
Doralice afagou o ombro de Ariana e falou:
- São uma só, aquelas são as três faces de Hecate, a Deusa da Magia.
Ariana se encostou na grande do parapeito para observar melhor, como o barco vinha pelo lado esquerdo do rio as estátuas apareciam em perfil, mas Ariana observou a cabeça dos tres monumentos se virarem e a encararem com olhos fumegantes de fúria, então estremeceu e piscou os olhos mas quando observou novamente as estátuas estavam paradas e perfiladas como antes.
Ela perguntou a Doralice:
- Quando vai amanhecer?
Doralice respondeu:
- Bem... Nunca. Não há sol no inferno, aqui é sempre noite.
Ariana assentiu, então perguntou:
- Este é o Erebo?
Doralice falou:
- Não, aqui é Koukouvágia, eu te trouxe aqui para ajudar uma amiga, você faria este favor por mim? Ela precisa da tua ajuda.
Ariana respondeu:
- Sim claro, farei o que puder pra te ajudar, mas... Eu meio que não me sinto bem aqui.
Doralice perguntou:
- Como assim? O que sente?
Ariana falou:
- É como se eu ja estivesse estado aqui, em sinto um reconhecimento do lugar.
Doralice olhou para baixo para ver melhor Ariana que ainda era uma criança, então a menina apontou para uma montanha que ficava atrás do porto e disse:
- Vê aquela montanha? Atrás dela tem a casa... Não, não é uma casa e sim um palácio. Ele fica na junção de quatro ruas, a que vem do porto, a que ruma para a ponte para as ilhas do leste, a que ruma para o porto de balsas para a província de Nisa e que vai para o Norte e finda no mirante do Gehinom.
A voz de Matiyah se fez ouvir, ele estava atrás delas mas elas não haviam percebido:
- Exatamente, e si lembra do nome desse palácio?
Ariana se virou e apertou os olhos enquanto olhava para ele como quem busca na memória o nome.
Ele deu a dica:
- Sta...
Ariana sorriu a completou
- Stavrodrómi, o palácio na Encruzilhada... É a casa de Hecate, deusa da encruzilhada.
Doralice perguntou a Matiyah:
- Como ela pode saber destas coisas se ela nunca esteve aqui e se estes detalhes nunca foram colocados em livros?
Matiyah respondeu:
- Ela é uma Deusa não é? Aquela Iyansa disse que ela é, ou pelo menos o espírito de uma Deusa habita dentro dela. Então pode ser que no passado esta deusa tenha vindo até aqui e Ariana tem lido as memórias dela.
Uriel subiu até onde eles estavam e disse que pegassem as mochilas, ele não confiava deixar os pertences no barco enquanto estivessem ausentes. A embarcação deu um tranco quando se aproximou do porto e eles viram que Lady Butterfly havia colocado uma prancha de madeira que faria ponte para eles descerem no pier. Haviam outros barcos afim de aportar então Mikró gritou para eles:
- Tem que descer rápido, assim que descerem nos vamos recuar e ficar ancoradas no meio do leito, sera possível nos avistar quando voltarem e Butterfly vai até o porto com um Bote.
Os quatro desceram no porto e viram o barco de Lady Butterfly recuar e ir para cerca de um quilômetro rio a dentro. Eles estavam agora em um deck de madeira diante da colossal estátua de cobre de Hecate jovem e a tocha que ela segurava iluminava tudo com um tom de luz avermelhada.
Eles deram alguns passos a diante até que encontraram um anjo parado ao pé da estátua de braços cruzados, ele era alto e muito parecido com Uriel mas as asas dele eram brancas e o cabelo era longo e loiro claro caindo ondulado sobre os ombros, ele vestia um manto azul enrolado a cintura como uma saia longa centenas pulseiras douradas por todo o compromento do pulso ao cotovelo Quando ele viu Uriel se aproximar e percebeu a asas vermelhas e cabelo ruivo arregalou os olhos e deu um passo para trás, então pos a mao na cintura e tirou do coz da saia uma faca dourada com a lamina sinuosa.
Uriel vendo que o Anjo se armara colocou a mão acima da cabeça e rapidamente abriu o zíper do estojo de violoncelo que trazia nas costas e pagou a espada Nihaya.
O anjo arregalou ainda mais os olhos e falou na língua antiga:
- Hal hadha hu Nihaya alsayf?
( Esta é a espada Nihaya?)
Uriel respondeu na mesma lingua:
- Nem. min 'ant wamadha tafealin huna?
(Sim. Quem é você e o que faz aqui?)
O anjo sem tirar os olhos da espada disse:
- 'Ana Muhamniel , wa'ana fi aintizar wusul amra'atin.
(Eu sou Muhamniel, estou a aguardar a chegada de uma mulher).
Matiyah era filho de Samyaza, então também falava a lingua dos anjos, nisso traduziu para Doralice:
- Este anjo se chama Muhamniel e diz que esta aqui a espera de uma mulher.
Doralice pediu:
- Pergunte a ele o nome desta mulher.
Matiyah olhou para o anjo e perguntou:
- Ma hu aism hadhih almara'at?
(Qual o nome dela?)
O anjo olhou para Matiyah e para Uriel e falou de modo um tanto ríspido:
- min 'ant
(Primeiro digam quem são vocês)
Matiyah falou com a voz doce:
- Aismi Matiyah abn Shemihaza. Hadha almalak bijanibi hu Uriel malak alnaar. Huala' albashar min janibi Doralice w Ariana, qadimin min 'ard al'ahya'.
(Eu sou Matiyah filho de Samyaza. Este ao meu lado é Uriel, o anjo do fogo. Estas humanas ao meu lado são Doralice e Ariana, vindas da terra dos viventes.)
Muhamniel congelou ao ouvir o nome de Uriel, ficou um longo instate parado até que Uriel falou:
- Sawf taqul aism almara'a?
(Vai dizer o nome da mulher?)
Muhamniel assentiu balançando a cabeça lentamente:
- Aismuha Mariaan Badila wayati liahkum fi alqasr
(Se chama Maria Padilha e vem para ser julgada no palácio).
Matiyah traduziu para Doralice:
- Ele diz que é Maria Padilha e vem para um julgamento.
Doralice pegou o braço de Matiyah e disse próximo ao ouvido dele:
- Diga que somos amigos dela e viemos como testemunhas.
Matiyah falou novamente com a voz meiga:
- Nahn huna li'anana 'asdiqa' Mariaan Badila wasawf nashhad lisalihiha.
(Nos estamos aqui pois somos amigos de Maria Padilha e iremos testemunhar a favor dela.)
Uriel perguntou para Doralice:
- Não é muita coincidência nos encontrarmos esse anjo justo agora?
Doralice deu de ombros mas em sua cabeça a imagem de Rosa dos Ventos a fazia saber que aquilo não era coincidência e sim algo arranjado.
Ficaram ali por duas horas, Doralice e Ariana se sentaram encostadas aos pés da grande estátua e Uriel e Matiyah ficaram em pé lado a lado com o Anjo Muhamniel olhando para o porto.
Foi então que uma coca (barco a vela de modelo arcaico) se aproximou pelas águas, tinha a vela vermelha com uma enorme rosa desenhada e o casco era totalmente dourado com arabescos vermelhos. Na proa mesmo ao longe Uriel viu sentada em um trono Maria Padilha que estava usando um vestido negro de saia armada e uma coroa reluzente feita de tridente que apontavam para cima, seu cabelo negro e os olhos verdes a deixavam mais bela que os dois anos que estavam logo atrás do trono.
Quando a Coca parou rente ao porto uma prancha de madeira foi colocada como ponte e Maria Padilha aportou, de perto ela realmente parecia uma rainha, seu espartilho era cravejado de obsidianas e ametistas, as mangas do vestido eram de renda tão fina que quase se pensava ver a pele nua, os brincos eram grandes gemas de obsidiana e o colar era de perolas negras, entre os seios se via o reluzente cabo do punhal quando andava toda a saia ondulava como uma verdadeira Elizabetana.
Os anjos vinham logo atrás, era notido que a condução ao julgamento foi escoltada para evitar que ela fugisse. Assim que ela estava em terra firme uma longa fila de moças também foi descendo do barco, eram cerca de cinquenta e todas vestidas de modo exuberante mas nenhuma poderia se comparar a Padilha.
Entre as moças Doralice reconheceu Dama da Noite e milagrosamente Sete Saias, e era espantoso que ela estivesse ali pois ela havia sido proibida de por os pés no Inferno, mas pelo visto participar do julgamento de sua melhor amiga deu a ela o direito de estar ali.
Muhamniel comprimentou Maria Padilha:
- Malikat alnufus , amul 'an takun qad qumt birihlat jayidatin.
(Rainha das Almas, espero que tenha feito boa viagem.)
Doralice ficou estupefata quando ouviu Maria Padilha responder na língua dos Anjos:
- Shukraan laka. walakun min fadlik khadhini 'iilaa qasr Hekate qaribana.(Agradeço. Mas por favor me leve logo ao palácio de Hecate)
Continua...
Espero ansiosamente pela continuação.
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