Vampira Capítulo 1







VAMPIRA



Segundo Conto da série "A URDIDURA DAS FEITICEIRAS" por Felipe Caprini




Capítulo 1
"O Início"



Heylel, também chamado Lúcifer ou Satanás, imperador do inferno.
Ele estavam em seu palácio, Geena, deitado em um tapete de pelo de cordeiro, lia um livro qualquer tentando relaxar um pouco, por ser tão atarefado ele as vezes gostava de ler livros de aventura e fantasia juvenil, isso o relaxava e o entretia, Satanás realmente admirava a criatividade dos autores humanos, atualmente estava devorando toda série do Senhor dos Aneis.
A Rainha Lilith ao seu lado penteava os longos cabelos negros com um pente de marfim enquanto uma escrava em pé ao lado dela abanava um enorme leque de penas de pavão. Tudo em paz.

FOOOOOOOOOOOOOOOOOON!

Os dois pularam em pé assustados, o alarido de uma trombeta distante soava, o tipo de toque Heylel conhecia muito bem, era chamada para guerra. Bom ele não era exatamente um Anjo guerreiro mas sim um músico, e por isso sabia o que aquele dizia.

FOOOOOOOOOOOOOOOOOON!

Novamente a trombeta soou, dessa vez mais perto. Um anjo entrou no quarto, ele era alto e magro, seus cabelos eram brancos e encaracolados até a cintura, vestia uma simples saia branca sem adornos, assim que viu Satanás e Lilith ele fez uma mesura rápida e falou:
  - Meus Senhores, venham comigo rapido! Urgente!

FOOOOOOOOOOOOOOOOOON!

O som da trombeta estava mais próximo, Satanás olhou para uma mesa proxima a porta onde um jarro de água tremia, a água se movia espasmodica como em um terremoto. Ele e Lilith seguiram o anjo até a entrada. O Geena era um palácio subterrâneo, ficava sob uma colossal estátua de Satanás, então Lilith e ele subiram até a estatua, por dentro dela havia uma escadaria estreita, subiram até sair em um mirante que ficava sobre a cabeça da estátua. estavam a quinze metros do chão mas era o suficiente para ter uma perfeita vista do estava acontecendo, cerca de um quilômetro a frente vinha uma exercíto tão grande que ocupava todo o horizonte, anjos voando vestidos com armaduras completas e longas lanças, na terra uma infinidade de homens, mulheres e criaturas das trevas vestindo armaduras de ouro, todos armados com espadas e escudos reluzentes, e na frente deles vinha uma carruagem dourada puxada por oito escravos que serviam de cavalos, com as rédeas na mão esquerda estava um Anjo vestido com uma armadura suntuosa feita de um ouro tão reluzente que brilhava como o sol, na cabeça do anjo havia uma coroa feita de pequenas lanças que apontavam para cima, na mão direita uma enorme espada de dois gumes.

Lilith apertou os olhos e reconheceu aquele anjo:
  - É Samyaza! Samyaza esta liderando um exercíto... contra nós? Então era isso que ela escondia no subsolo do castelo dela, estava criando um exercíto por todo esse tempo...

Satanás disse:
  - Presumo que são mais de trinta mil, ela então tem tramado contra mim há muito tempo.

Lilith falou:
  - Com certeza, ela deve estar juntando esse exercíto à séculos.

Satanás olhou aquela multidão com frieza e falou:
  - Sim. Amargo é o gosto da traição. Samyaza veio para usurpar meu trono.

FOOOOOOOOOOOOOOOOOON!

Um anjo no céu soava uma trombeta de prata enquanto a marcha dos soldados ribombavam no solo.

Satanás olhou para o anjo que o tinha levado até lá e disse:
  - Najimael soe o alarme, reuna as tropas, eu não vou fugir, se Samyaza pensa que vai me amedrontar está muito enganada.

Najimael desceu a escadaria correndo e logo o som da trompa de emergência soava dentro do Palácio.

Agosto de 1989

ARIANA
O noticiário não falava de outra coisa, Raul Seixas acabara de morrer. Ariana não fazia idéia de quem era, provavelmente havia ouvido algo a respeito, alguma música na rádio mas não se lembrava.
A vida dela mudou muito desde o incidente.
Dia 21 de agosto era o aniversário dela, dez anos.
Sentada de pernas cruzadas em frente a televisão ela ouvia avidamente as notícias, mas tudo o que Cid Moreira falava era sobre Raul Seixas.
Ja estava de noite, ela queria sair, estava com fome. Alguem bateu a porta do quarto, três toques suaves, só poderia ser Doralice, só ela batia assim. Porta se abriu a mulher bela com a vasta cabeleira loura acinzentada entrou no quarto e foi logo dizendo:
  - Não não, não fique tão perto da televisão, faz mal pra sua vista, e eu li no jornal que o tubo da TV pode transmitir radioatividade e causar câncer se a pessoa se expor demais.

Ariana se divertia sempre com aquilo, Doralice tinha aparência de uma menina mas seu jeito era o de uma senhora vovó, e ela constantemente esquecia que Ariana não era uma criança comum. Então Ariana a lembrava dizendo uma única palavra:
  - Kahafaash.

Doralice franziu a testa ao ouvir aquela palavra, Kahafaash significa "vampira" em dialeto árabe antigo. Ela se abaixou ao lado de Ariana e falou:
  - Kahafaash temporariamente, eu vou reverter essa situação.

Ariana sabia que Doralice se culpava pelo que tinha acontecido, Ariana tinha se transformado na Arauto do Deus da Destruição, mas Ariana sabia que Doralice nunca fez nada de caso pensando, apenas o destino havia sido cruel. Não, não havia sido o destino, a culpa de tudo era daquela maldita Belladonna.

Doralice falou:
- E ser Kahafaash não lhe dispensa da obrigação de pentear os cabelos.

Ariana passou os dedos pelos cabelos curtos, ela tinha insistido para Doralice raspar a sua cabeça como uma Punk que ela havia visto na televisão, mas ela se negou, depois de muito choro e manha ela aceitou corta-los bem curtos como os de um garoto, mas para a surpresa de todos o corte masculino deixou Ariana ainda mais feminina. Ela falou:
  - Doralice eu estou com fome.

Doralice falou:
  - Fome C ou fome S?

Ariana sorriu, Doralice havia inventado aquilo de falar em siglas, S era de sangue, C de comida normal.
Ariana respondeu:
  - S.

Doralice franziu novamente a testa:
  - Mas faz só três dias que você saiu comeu. Consegue aguentar até amanhã?

Ariana suspirou fundo, respondeu:
  - Sim, não estou faminta, apenas desejosa. Mas porque não posso sair hoje?  

Doralice se levantou:
  - Ah pelo amor de Krishna! Você não sabe que dia é hoje?

Claro que Ariana sabia, aniversário era uma data antes muito feliz, agora muito triste.

Doralice falou:
  - Uriel e Matiyah estão lá em baixo, eu fiz um bolo pra você!

Ariana sabia muito bem que Uriel e Matiyah estavam na casa, afinal eles também moravam lá e principalmente porque Ariana conseguia ouvir o som do coração das pessoas. Não estou falando de nada romântico, o que ela ouvia era o bombear do sangue e ela sabia pelo som que os corpo daqueles dois não eram humanos. Conseguia detectar as pessoas a quilômetros de distância, sentia cheiro de sangue e logo sua boca começava a salivar e a vontade de rasgar a carne a preenchia. Mas hoje ela nao beberia sangue e nem comeria carne, hoje era dia de bolo. Um bolo? Ariana não tinha fome de bolos, mas Doralice falou com tanta alegria que ela sorriu fingindo estar surpresa e feliz com o mimo.
Era fato, Doralice a tratava muito bem.
Ela Se levantou, foi até a janela e abriu a cortina e observou a vida desanimada, não havia nada além de belas montanhas e matagal sem fim, alguns pernilongos voavam em torno de uma lâmpada no poste da rua e um gato vagabundo caçava maritacas tentando sem sucesso subir em uma árvore para atacar os ninho. Até pouco meses atrás ela morava em São Paulo, na metrópole, agora estava em Extrema, interior de Minas Gerais onde não havia nada, a cidade inteira era menor que o seu antigo bairro.

Ela se vestiu, colocou uma camisa azul de mangas longas com uma estampa berrante dos ursinhos carinhosos, jaqueta jeans com lacinhos nos bolsos, um par de bermudas cor de rosa e tênis de caminhada brancos. Ela se olhou no espelho na porta do guarda roupa e teve vontade de gritar chamando Doralice de louca, afinal era ela que trazia aquelas roupas com estampas fofinhas e lacinhos e babados por todo lado, mas Ariana não fez isso, sabia que Doralice nunca tinha tido filhos, e mesmo estando meio ridícula ela gostava de pensar que alguém se ainda se preocupava com ela... Como uma mãe. Ariana sentia muita falta da mãe e do pai, mas Doralice a confortava.

Após todos os acontecimentos, após Ariana ter sido transformada em uma bebedora de sangue humano, Uriel a levou para o interior de Minas, isso porque ali no fim do mundo era onde ele tinha uma casa a qual usava para guardar dinheiro e coisas valiosas que tinha juntado em seus milênios de existência, o porão era tão abarrotado de baús com barras de ouro, sacos cheios de moedas, Itens valiosos, telas e quadros que valiam milhões, estatuas de marmore e granito da roma antiga, vasos de porcelana chinesa e fora mais um monte de coisas que juntas dariam um valor suficiente para sustentar a economia de uma país de primeiro mundo por um ano, havia tantas preciosidades que era difícil entrar ali.
Ela desceu as escadas e deu de cara com Uriel e Matiyah. Uriel vestia uma camisa polo branca, bermudas jeans até os joelhos e sandálias de tira de couro, Ariana se lembrava de ter visto aquelas mesmas sandálias estilo "Jesus Cristo" no centro da cidade na vitrine de uma loja, ela não podia ver as grandes asas de Uriel, ela as mantinha invisíveis por magia, mas sabia que estavam lá. O cabelo ruivo alaranjado dele estava preso em uma trança que caia até abaixo das costas, ele sorria mostrando a pele rosada do rosto com lábios avermelhados como se tivesse bebido muito vinho.
Matiyah usava uma camiseta regata preta mostrando os braços magricelas, vestia bermuda tambem preta curta no meio das coxas exibindo as pernas finas ecomo de uma miss universo. Ele era quase um palmo mais baixo que Uriel, havia cortado o cabelo em um estilo curto mas com uma leve franja sobre a testa, os fios pretos como petróleo. O rosto de Matiyah era sempre lívido, quase sem emoções,desde que ele havia sido trazido de volta a vida paracia estar sempre confuso. Mesmo assim foi possível identificar os lábios dele se entortando para formar um sorriso entre as bochechas encovadas.

Matiyah olhou para Ariana e antes que ela pudesse dizer qualquer coisa ele falou com seu sotaque hebraico:
  - Ela estar con foume.

Uriel olhou para Matiyah e perguntou:
  - Como você sempre sabe o que ela sente?

Ariana respondeu:
  - Porque ele não é humano, ele é uma coisa. Eu também não sou mais humana, sou uma coisa. As coisas se entendem.

Matiyah mordeu os lábios com uma expressão pensativa no rosto, ele estava mentalmente tentando traduzir o que ela havia falado, depois de alguns segundos ele sorriu e disse:
  - Si si, é isto si, as coisa si entende.

A verdade era outra, Matiyah era como Ariana, tinha fome de sangue e de carne humana, mas diferente dela ele não era um vampiro, ja que a única vampira do mundo era ela. Matiyah era diferente, era filho de um anjo com um ser humano, e sabia que se provasse sangue iria se tornar um gigante louco como havia acontecido milênios atrás, um gingar de dez metros de altura que comeria qualquer ser vivo que estivesse dando sopa. Por hora ele iria ter de se conformar com Coca-Cola, torta de frango e um bolo de aniversário.

Cantaram Parabéns, comeram, Matiyah contou histórias do Egito e da Grécia, Uriel falou da China e da Índia, eles haviam passado por lá milênios atrás e tinham muito a dizer a respeito, Doralice contou sobre quando era uma simples velha rezadeira antes da Roda das Princesas a levar a ser uma bruxa guerreira, todos lembravam de situações esdrúxulas, as narravam com emoção e riram de coisas do dia a dia, até que Uriel pegou uma pasta preta e a pôs em cima da mesma da cozinha, a abriu e deu para cada um dos três ali um plástico com folhas de papel e um caderninho azul.
Ariana abriu o leu, era uma certidão de nascimento, um CPF, um RG e um passaporte, tudo falso. O sobrenome de Ariana era "do Carmo e Silva", mas ali na certidão de nascimento ela leu "Ariana Francesca di Angele", ela riu alto e perguntou:
  - Um nome italiano? Olhe pra mim Uriel, eu tenho pele parda e cabelos pretos.

Uriel respondeu:
  - Italianos não são todos loiros dos olhos azuis, tem muitos pardos de cabelo preto lá, os Mouros deixaram a herança no sangue do povo. E eu gosto do Idioma italiano, acho... romântico.

Ariana riu mais ainda quando leu na sua certidão os nomes "Uriel Bernardo di Angele e Doralice Isabella Augusta di Angeles" como seus pais.

Doralice corou, não gostava de ter seu sobrenome Salvaterra negado, mas ela sabia que Belladonna que era melhor usar nomes falsos para poderem se passar por pais de Ariana.

Uriel falou mais:
  - Matiyah ficou como sendo seu tio.

Matiyah mostrou a certidão de nascimento dele para Ariana e ela leu "Matias Magno di Angele".

Ariana riu mais ainda, "di Angele", Uriel não era muito convencido.
Ela perguntou:
  - Pra que tudo isso? Todos esses documentos?

Uriel falou:
  - Temos de ir para... Bom você sabe.

Ariana perguntou debochada:
  - Exigem passaporte para entrar no Inferno?

Uriel respondeu:
  - Não, não exigem passaporte. Mas nos teremos de viajar até a Grecia para entrar lá.

Doralice olhou para Uriel espantada:
  - Grécia? Mas pelo que eu sei é possível abrir portais para o inferno em qualquer lugar do mundo, até aqui mesmo eu poderia abrir um.

Uriel respondeu:
  - Sim mas todos estes portais abertos aleatoriamente caem em uma praça na província do Gehinom, ou seja, se nos simplesmente fizermos um feitiço para cair no inferno vamos dar de cara com o palácio de Samyaza, e isso não é uma boa ideia. Nos temos de ir ao Hades ver Érebo, e para isso o mais seguro é ir na Grécia e encontrar a antiga caverna de Persefone, entrar por ela e ir no barco do Caronte até Hades.

Doralice falou:
  - Certo, se é a forma segura então eu apoio.

Matiyah suspirou fundo e falou:
  - Ma eu no. Morei na Grécia, Athenas e em outras cidades, morri na Grécia. No quero volta la.

Uriel tocou a mão dele com carinho e disse:
  - Não se preocupe, vou estar com você.  

MATIYAH
Estava difícil se adaptar.
Uriel e Doralice falavam sobre a viagem a Grécia enquanto o olhar dele foi desviado para um calendário preso por um imã na porta da geladeira. Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto. Fazia oito meses que ele havia voltado a vida, Jeová o senhor dos anjos o trouxe de volta e o deu como pagamento a Uriel. Matiyah amava Uriel, mas ser um pagamento era algo muito ruim, era saber e não poder negar que não era alguém, era uma coisa. Ele lembrava de voz de Jeová o chamando de Homúnculo. Assim que ele pode perguntou a Uriel o que era homúnculo, e Uriel não quis respondeu. Nos últimos meses Doralice se empenhou em ansinar a ele falar e escrever em Português, a duas semanas atrás ele conseguiu ler um dos muitos livros de magia e Bruxaria de Doralice e a palavra Homúnculo estava lá, havia uma página sobre isso e ficara muito desgostoso com o que leu.



Então ele era isso, uma criatura acéfala e asquerosa. Se ele realmente era isso, porque tinha sentimentos? Estava desolado e totalmente perdido.
Se ele era só um homúnculo, porque ele conseguia fazer magia?
Doralice havia explicado que ele era na verdade híbrido de humano com Anjo, afinal ele era filho de Samyaza e por isso havia herdado certos dons sobrenaturais. Matiyah antes nunca tinha tido experiências místicas próprias, ele apenas via a mãe fazer prodígios, mas agora depois de ter se tornado um gigante, ser morto e então revivido ele conseguia fazer coisas perturbadoras, como por exemplo infligir dor em outros seres vivos apenas com a força do pensamento.

Ele voltou a atenção para os lábios de Doralice, belos lábios naturalmente rosados em um rosto meigo e jovem. Era quase impossível acreditar que ela tinha mais cerca de noventa anos de idade, o feitiço de Uriel realmente tinha dado um excelente resultado. Os lábios dela se moviam lentamente, então tudo ficou turvo, a cozinha rodopio como se fosse o olho de um furacão, uma nevoa espessa tomou conta de tudo e rapidamente uma visão se formou. Matiyah se viu em pé em cima de uma carruagem, via oito homens nus com cabretos e arreios presos as cabeças, eles puxavam a carruagem como cavalos, ele reparou no terreno arenoso pelo qual percorria e ao olhar em volta estremeceu, homens, Minotauros, gargulas, demônios deformados, milhares marchando com armas em punho, ao olhar para cima viu centenas de Anjos com lanças nas mãos voando no céu escuro, todos olhavam para ele como se ele fosse o líder. Logo a frente ele viu uma colossal estátua de um anjo sentado com um mão sob o queixo e reconheceu, a estátua de Satanás que ficava sobre a entrada do palácio subterrâneo Geena. Pouco a pouco ele viu outro exercíto logo a diante, vestia armaduras prateadas e roupas brancas e pareciam estar em menor número. O exercíto de Satanás. Era guerra, guerra no Inferno. Ele ouviu o som de uma trombeta e palavras de ordem sairam de sua boca, mas a voz não era dele, ele reconheceu a voz aguda e potente de sua própria mãe. Saia de sua garganta os berros e ele distinguiu as palavras "tadamir" e "bidun rahma", e sabia que significavam "destruam" e "sem misericórdia". Por fim ele olhou para baixo e vou que na outra mão havia uma espada de dois gumes feita de ouro, então a levantou e olhou no reflexo na lâmina, viu ela, Samyaza que usava uma coroa dourada e sorria com toda a malícia.
Quando votou a si estava sendo chacoalhado por Uriel, ele havia caído no chão e Uriel o sacudia pelos ombros dizendo:
  - Matiyah! Matiyah o que você tem?

Matiyah fixou a visão no rosto de Uriel, tentou falar em português mas não conseguiu, então tentou hebraico mas não sabiam como se expressar, então falou em grego, contou o que tinha visto.

Uriel ouviu tudo, então se virou para Doralice e disse:
  - Doralice por favor pegue o seu tarot, averigüe isso.

Doralice perguntou:
  - Isso o que?

Uriel se lembrou que Doralice não falava grego, então repassou a ela sobre a visão de Matiyah, ela correu para o andar de cima e logo voltou com o baralho nas mãos e tirou tres cartas sobre a mesa da cozinha, A torre, o diabo e a imperatriz.

Doralice analisou bem e falou:
  - O que ele diz é verdade, guerra.

Uriel falou sem disfarçar o pânico na voz:
  - Guerra no Inferno...

DEUSA
Um voz meio rouca de mulher ecoou na cozinha:
  - Não só no inferno, nos céus também.
Uriel olhou em volta e viu parada junto ao batente da porta uma mulher negra usando um tecido vermelho enrolado ao corpo como um vestido sem mangas, ela tinha longas tranças marrom chocolate e muitas pulseiras de cobre avermelhado, seu rosto era magnífica, a boca carnuda pintada em vermelho vivo os olhos contornados com kajal, as iris eram laranjas como se fossem feitas de fogo, ela era magra mas tinha quadris avantajados, seios pequenos e ombros fortes. Ela deu um passo a frente e toda a cozinha ficou quente como um forno.

Doralice se ajoelhou, seguida por Uriel que se inclinou. Matiyah ja estava no chão então apenas tombou a cabeça em reverência, mas Ariana que estava sentada assim ficou.

A mulher olhou para ela e falou:
  - Você não me presta respeito? Você não sabe quem eu sou, sabe?

Ariana ficou de pé e falou:
  - Desculpe mas não.

A mulher riu espalhafatosamente e falou:
  - Eu sou uma Deusa. Me chamo Oyá... nesta terra vocês me conhecem mais por Iyansan.

Ariana mordeu os lábios, pensou por um segundo e então falou:
  - Ah é, aquela da música da Clara Nunes, como era... Iyansan cadê Ogun? Foi pra mar! Mas Iyansan cadê Ogun? Foi pro mar...

Iyansan pôs as duas mãos na cintura, jogou a cabeça para trás e gargalhou como se realmente achasse muita graça naquilo.

Ariana ficou sem graça, perguntou:
  - Eu falei algo errado?

Iyansan respondeu:
  - Não criança... Não. É que recentemente eu andei conversando com Athena e ela me disse que atualmente ela e os deuses gregos ainda sobrevivem por causa de filmes, músicas, livros e desenhos animados que fazem sobre eles, e você cantando isso me fez pensar que provavelmente no futuro eu seja como Athena, me torne um ícone pop, seja personagem de desenhos animados para crianças e nada mais.

Uriel falou:
  - Jamais senhora, seu culto resiste e é firme, seus filhos nunca a abandonarão.

Oyá olhou para ele e disse:
- É doce a ilusão.

Ariana perguntou:
  - Sobrevivem? Como assim? Deixar de ser cultuado ou mencionado pode destruir uma divindade?

Iyansan olhou para Ariana e falou:
  - Claro, tanto que eu estou aqui, quando o correto seria algum Deus indígena Tupi ou Guarani estar reinando mas os Deuses originais desta terra estão todos derrubados, caíram em esquecimento e nisso perderam seus poderes. Eu e meu panteão, Orixas, tomamos posse dessa terra ja que os Deuses originais daqui atualmente são tão poderosos quando fantasmas que assombram casas abandonadas. Brasil é minha jurisdição agora, tanto que eu estou falando com você na língua daqui não é? Isso só prova que essa terra de fato me pertence. Mas não foi sobre isso que eu vim falar, vamos ao que importa.

Uriel ajudou Matiyah a se sentar, depois se levantou fazendo uma mesura para mostrar respeito, então perguntou:
  - Minha Senhora perdoe a minha ousadia em perguntar, mas...

Iyansan falou:
  - Quer saber se eu estou desobedecendo a ordem do meu Deus supremo Olodumare? Ele de fato proibiu todos os Orixas de se meterem nas questões que envolvem Sharir Malaun, mas... Eu não dou a mínima, nunca fui de acatar ordens, e vou me intrometer sim.

Uriel não consegui conter um sorriso. Ele perguntou:
  - Os Deuses Supremos realmente fugiram para Haumea?

Oyá revirou os olhos e falou:
  - Mas é claro! Estão lá naquele planeta abandonado, devem estar jogando poker ou algo assim pra matar o tempo.

Todos na cozinha riram.

Iyansan continuou:
  - Sharir Malaun foi dividido por Uriel no ritual do desmembramento de Manía, mas... Isso não inibe os efeitos da presença dele.

Doralice falou:
  - Significa que o fato dele existir nesse mundo causou a guerra no Inferno?

Iyansan puxou um cadeira e se sentou na mesa da cozinha, cortou um pedaço de bolo e mordiscou. Ainda de boca cheia ela respondeu:
  - Praticamente. A verdade é que Samyaza já planejava atacar Satanás há uns mil anos terrenos... Mas ela só conseguiu tantos aliados recentes para a batalha graças a Sharir Malaun, a presença dele incentiva a violência e a vontade de destruir. Samyaza sabe como canalizar isso em suas empreitadas, e então a guerra lá nas profundezas do abismo será feia.

Ariana perguntou:
  - Mas você...

Uriel olhou feio para ela e sibilou com os lábios mudos indicando que devia dizer SE-NHO-RA, então Ariana se corrigiu:
  - Mas a "senhora" disse que estava havendo guerra no céu também, do que se trata?


Doralice serviu para a Deusa suco de goiaba no copo mais bonito que tinha no armário e cortou mais um pedaço de bolo, o pedaço da lateral onde tinha mais Chantilly. Iyansan sorriu com a gentileza, deu um gole no suco e respondeu:
  - Alguns Deuses estão... Como posso dizer... Malucos. Divindades são complicadas, cheios de orgulho, e com a presença de Sharir Malaun eles tiveram o lado violento mais intensificado. Eu mesma ando um tanto mais agitada, mas consigo ainda me controlar, mas guerras entre Deuses voltaram a acontecer, e isso não ocorria há mais de dois milênios.

Ariana perguntou:
- Voc... A senhora come bolo? Eu achei que só comia aquelas oferendas de macumba.

Iyansan tampou a boca com mão enquanto ria de boca cheia, assim que pôde ela engoliu e respondeu:
- Religião menina, aquilo é o meu culto. Por mais que eu ame Akarajé você não acredita que minha dieta nos últimos cinco mil anos se resume a isso não é? Dentro das religiões existem tradições, e os devotos a seguem, mas eu não sou pertencente a religião, por mais que eu seja cultuada na... Como você disse?

Ariana falou:
- Hum... Macumba?

Iyansan respondeu:
- É tanto faz, por que eu seja cultuada nas religiões, eu mesma não professo nenhuma delas. As pessoas se iniciam para mim, mas eu mesma não sou iniciada em nada, eu não preciso disso.


Doralice voltou ao assunto e perguntou:
  - Que Deuses estão em guerra?

Iyansan respondeu:
  - Ogun contra Tiamat, Forseti contra Marte, Hera contra... contra todo mundo. Muitas outras guerras ainda virão e vocês se lembram do ditado sobre guerra entre Deuses não lembram?

Doralice recitou:
  - Quando dois elefantes brigam, quem sofre é a grama.

Oyá assentiu e disse:
  - Os elefantes são os Deuses, a grama são os humanos.

Ariana falou:
  - Mas você pode nos ajudar?

Uriel olhou feio para ela de novo e ela se corrigiu:
- A senhora pode nos ajudar?

Iyansan respondeu:
  - É pra isso que eu vim aqui.

Uriel perguntou:
  - Como irá nos ajudar?

Pelo que eu entendi vocês vão para a Grécia, entrar no Inferno através da passagem original do Hades, o Rio Aqueronte.

Uriel respondeu:
  - Sim o plano é esse.

Iyansan falou:
  - Pois bem, tenho um filho meu lá, ele vai guiar vocês em segurança até Érebo.

Doralice surpresa perguntou:
  - Um filho seu no inferno? Mas... As pessoas que cultuam Orixas não vão pro inferno, a senhora tem os nove Orun para onde os orixas enviam as almas dos filhos não é?

Iyansan suspirou e falou:
  - Sim os que cultuam Orixas não vão nem para o céu dos cristãos nem para condenação no Inferno. Mas... Porém... todavia entretanto... Este meu filho em questão fez coisas muito ruins e eu não tive como incluir ele em nenhum dos meus nove Orun. Então o abandonei e ele acabou indo queimar no inferno. Sabe, existem atos que até mesmo eu que sou uma Deusa tolerante não posso perdoar e este rapaz passou de todo os limites.

Uriel perguntou:
  - Mas se a senhora o abandonou, porque ele iria nos ajudar?

Iyansan respondeu:
  - Porque somente eu posso tirar ele de lá, e ele realmente quer sair do Inferno.

Ariana falou:
  - Então ele nos guiará no inferno em troca de ser levado ao Orun?

Iyansan respondeu:
  - Oh não, não mesmo, não vou por aquele malogro no Orun. Eu vou apenas tirar ele de lá e deixar aqui no mundo dos vivos, ele vai voltar a vida, e ai dependendo do que ele fizer com essa nova vida eu posso por ele no Orun, mas na verdade duvido muito que ele mude. E outra coisa, quando você estiverem lá tenha cuidado.

Uriel respondeu:
  - Sim nos vamos ser cautelosos.

Iyansan apontou o dedo indicador para Ariana a falou:
  - Não disse que vocês tem que ter cuidado, eu disse você menina, só você.

Ariana perguntou:
  - Porque "só eu"?

Iyansan deu mais um gole no suco de goiaba e respondeu:
  - Você já deve ter ouvido alguém se referir a você como "Arauto" de Sharir Malaun não é?

Ariana respondeu:
  - Sim na assembléia dos Deuses eu lembro de ouvir essa palavra, mas ainda não sei o que significa.

Iyansan respondeu:
  - Sabe o que é panteão?

Ariana respondeu:
  - Sim, um grupo de divindades.

Iyansan falou:
  - Isso, cada panteão é liderado por um Deus Supremo, o meu panteão é líderado por Olodumare, o panteão Titã por Gaya, o Hindu por Brahma e etc. O que ocorre é que Sharir Malaun é um Deus Supremo e nisso teve um panteão próprio no qual era o líder. Você sabe a que significa Sharir Malaun na sua língua?

Ariana de impulso respondeu:
  - A Maldição do Perverso.

Após falar isso ela ficou confusa, não entendia e não se lembrava de como havia aprendido aquilo.

Iyansan continuou:
  - Isso mesmo. Os Deuses Supremos te chamaram de Arauto porque é uma palavra francesa que tem o mesmo significado no nome da primeira Deusa criada para o panteão de Sharir. Você sabe o verdadeiro nome da Arauto?

O nome praticamente pulou da boca de Ariana:
  - Safira!

Iyansan sorriu, lambeu o dedo indicador e então escreveu no tampo de madeira da mesa, ela ia arrastando o dedo e a madeira ia se escurecendo, o cheiro de queimado se espalhou pelo ambiente, ela estava queimando a mesa. Quando acabou todos se aproximaram para ler, a escrita em árabe era " سفيرة ".

Uriel leu, ele sabia ler árabe muito bem:
  - Em português significa Embaixatriz, mas em árabe se pronuncio Safira.

Iyansan continuou:
  - Exatamente, os Deuses supremos não gostam de falar o nome Safira, ela foi uma deusa muito poderosa, foi preciso uma armada de quatro deuses supremos para acorrentar ela, quando Sharir Malaun foi banido ela desapareceu.

Ariana falou:
  - Você está dizendo que quando Sharir me transformou em vampira ele me fez ser a nova Safira?

Iyansan apontou um dedo indicador para Ariana e fez um gesto como se estivesse dando um tiro, então falou:
  - Bingo! Você é a nova vida de Safira Kahafaash, você é uma Deusa tal como eu.

O queixo de Ariana caiu.

Uriel perguntou:
  - Deusa? Mas ela é humana! Como pode ser uma Deusa?

Iyansan respondeu:
  - Dionísio também era humano, mas virou um Deus. Osanyin era humano mas virou Orixa. Assim que Sharir ficou consciente você já estava a ponto de despedaçadar a alma dele, ele não tinha tempo de criar o corpo de uma Deusa, ele usou o da menina ai porque era o que tava disponível no momento. Ela estava no lugar errado na hora errada. Já que isso aconteceu e ela se tornou a nova Safira, ela tem que ter cuidado com todas as atitudes que tomar.

Doralice perguntou:
  - Quais os riscos que ela corre?

Iyansan respondeu:
  - Um panteão não é feito de só uma Deusa.

Ariana suspirou fundo e falou:
  - Entendi... Eu sou quem dará origem a outros deuses do panteão de Sharir não é?

Iyansan respondeu:
  - Se você quiser sim. Tenha cautela e nada acontecerá. Mas entenda, a mão que dá é a mão que tira.

Ariana perguntou:
  - Significa que só eu posso criar os Deuses e só eu posso destrui-los?

Iyansan respondeu:
  - Exato. Mas destruir é bem mais difícil que criar, então evite criar.

Doralice perguntou:
  - O que ela deve fazer para evitar isto?

Oyá falou:
  - Eu sou uma Orixá, eu só entendo sobre Orixas, não entendo de Eanifun, então não sei o que ela deve fazer.

Doralice perguntou:
  - O que é Eanifun?

Iyansan voltou a lember a ponta do dedo e escrever na mesa queimando a madeira, o símbolo escrito foi " عنيف ", ela falou:
  - Os Deuses do Orun são Orixas, os deuses do Olímpo são Theoí, os deuses do Nirvana são Devas, e os deuses do panteão de Sharir Malaun são os Eanifun. Este nome significa "Os Violentos". Safira é a grande mãe de todos os Eanifun. Bom, ja dei informações o suficiente, agora é por conta de vocês.

Ariana falou:
  - Mas... Olha dona Iyansan, eu agradeço muito que tenha nos dado todas essas informações, mas não poderia nos dar tipo uma visão, uma Profecia, uma revelação do futuro sobre como será a nossa passagem pelo inferno?

Iyansan coçou o queixo com as pontas das unhas pontiagudas, pensou por alguns instantes e então falou:
  - Eu não posso falar abertamente sobre o futuro... Mas posso dar uma dica.

Iyansan respirou fundo enchendo os pulmões de ar, soltou o ar com calma pelas narinas e disse:
- Na hora dar um veredito e escolher em qual cabeça a coroa deve estar, cuidado, o resultado deste julgamento pode ser tão desfavorável para os réus quanto para o juiz.

Ariana levantou as sobrancelhas e disse:
  - Eu não entendi.

Iyansan falou:
  - Mas logo vai entender. Desejo a vocês toda sorte do mundo, ou como se diz na minha língua "Awure".

Uriel tentou falar algo mas Iyansan simplesmente desapareceu, em um piscar de olhos ela não estava mais lá.

Matiyah que estava calado até agora falou:
  - Deuses ven e von, sempere desaparecem do nada. Vamo arrumar a nossa bagagem para a viagem?

URIEL
O Mustang estava como novo, havia recebido um polimento, os vidros foram trocados, os amassados na lataria consertados, os desconfortáveis bancos de couro (que grudavam ao ter contato com a pele) foram trocados por bancos comuns e encapados com tecido grosso de algodão preto, e principalmente o chaci do carro havia sido raspado, a numeração adulterada, bem como ganhou uma nova placa onde se lia URI-6E6L, agora não havia vestígios de que o carro teria um dia pertencido a Belladonna.
Uriel gostava de ficar sentado sozinho dentro do carro para pensar, e tinha feito isso praticamente todas as noites nos últimos oito meses.
Desde que Matiyah retornou a vida Uriel se sentia muito confuso, ele amava Matiyah mais que tudo e tinha ficado milênios sem ele, e nisso havia se tornado uma pessoa diferente da que fora na antiguidade, não sabia o que fazer e principalmente tinha medo, muito medo de perder Matiyah novamente.
Ele havia levado Matiyah, Doralice e Ariana para morar com ele em uma sobrado antigo no interior de Minas Gerais, um lugar pacato onde nada de interessante acontecia, e essa paz momentânea era preciosa já que Uriel sabia que não ia durar muito. Matiyah retornara dos mortos como um pagamento, uma moeda de troca oferecida por Jeová, o pagamento para embarcar em uma missao praticamente suicida onde o alvo era encontrar e prender as dezessete partes de Sharir Malaun em uma Anfora, um jarro de cerâmica tão poderoso que estava trancafiado no quinto dos infernos.
Naquela noite Uriel se abraçou a Matiyah como alguem que não sabe nada se agarra um salva vidas no mar.
O quarto dos dois não tinha cama, dormiam em um tapete no chão, Matiyah não tinha conseguido se acostumar a colchões de espuma, então Uriel pegou de seu deposito de quinquilharias extremamente valiosas no porão um Tapete Persa com imagens de dois tigres lutando sob a luz da lua, havia sido sobre aquele tapete que os dois haviam se amado nos últimos meses, mas naquela noite só se abraçaram.
O quarto estava totalmente escuro, exceto por uma fraca luz que entrava pela janela. Uriel abraçava o amado por tras, tendo o peito totalmente colado nas costas de Matiyah.

Matiyah beijou as costas da mãos de Uriel, a do braço que passava por de baixo de seu pescoço e perguntou:
  - Voce estar bem?

Uriel não pode deixar de sorrir, mesmo estudando com afinco, Matiyah ainda não tinha perdido o sotaque meio arabe meio grego que tinha, afinal quando Matiyah viveu pela primeira vez milênios atrás a língua portuguesa não existia, era natural a dificuldade de se adaptar, e também era muito charmoso o jeito que ele falava.
Uriel beijou a nuca do amado e respondeu:
  - Não, nada bem.

Matiyah falou:
  - Medo?

Uriel respondeu em árabe antígo:
  - 'Akhshaa 'an 'adieak maratan 'ukhraa.
(Medo de te perder novamente)

Matiyah respondeu:
  - 'akhshaa 'aydaan.
(Eu também tenho medo)

Matiyah continuou, mas agora em português:
  - Ma eu so um pagamento. Se voce não completa o serviço eu irei ser levado embora.

Uriel apertou mais o abraço e disse:
  - Eu sei. Vou fazer de tudo para que isso não aconteça.

Assim que o sol raiou Uriel foi para a garagem verificar se o carro estava em boas condições, o dia seria intenso, Doralice já reservara quatro passagens em um vôo para a Grécia, mas o único aeroporto com voos disponíveis era o Internacional de Guarulhos que havia sido inagurado ha uns três ou quatro anos, então eles teriam de viajar de carro até lá, procurar um estacionamento para deixar o Mustang, esperar a hora do voo, partir então de avião, fazer uma escala em Londres e só depois chegar ao aeroporto Heraclião na ilha de Creta, então pegar um barco e ir para Atenas, então lá alugar um carro e dirigir até Elêusis onde ficava o Templo do Deus Hades e a entrada grega para o Inferno.
Colocaram a bagagem no espaçoso porta-malas, cada um tinha direito a uma mala grande e uma mala de mão ou mochila, a única exceção era Uriel que levava alem das duas malas um enorme estojo de violoncelo que havia sido enfeitiçado por Doralice para esconder dentro a espada Nihaya, e mesmo se os seguranças do aeroporto abrissem o estojo eles não veriam a arma tal como os detectores de metal não acusariam a presença dela.
A viagem de carro durou duas horas, Ariana mesmo sendo uma "Deusa" ainda era uma criança então ficava na janela perguntando tudo sobre tudo o que via passar e Doralice com extrema calma respondia a cada uma das perguntas.
Acharam um estacionamento que realmente parecia seguro, Uriel pagou adiantado para que o Mustang ficasse lá por uma semana e firmou um acordo que se passasse disso ele voltaria a pagaria em dobro as diárias. Tomaram um taxi para o aeroporto, Ariana estava vestida como uma princesa, todas as suas peças de de roupa eram rosadas, , então Uriel a levou para uma loja de departamentos dentro do saguão do Aeroporto onde comprou para ela um par de botas de caminhada em couro marrom escuro, uma calça jeans preta e uma camisa preta com uma foto das integrantes da banda americana Roxette, Doralice achou pavoroso mas Ariana amou o novo visual. Eles lancharam hambúrgueres e Matiyah ficou estupefato quando provou sorvete pela primeira vez na vida, mas estupefato ainda ficou quando viu um avião ja que ele não sabia que existiam e tinha a impressão que eram máquinas demoníacas que alçavam vôo graças a magia satânica.
Na hora de embarcar Doralice ficou um pouco perdida quando lhe ofereceram revistas para jovens moças, ela constantemente esquecia de sua nova aparência e de que no seu passaporte a idade era de vinte e quatro anos quando na verdade ela tinha cerca de noventa. Todos dentro do avião acharam graça ao ver a jovem e bela moça loira tecendo uma touca de tricô com agulhas de plástico para lã bege. Sentada ao lado de Doralice estava Ariana com a cara totalmente achatada contra a janela vendo as nuvens no céu passarem e fazendo zilhões de perguntas.
No outro corredor Matiyah e Uriel estavam sentados de mãos dadas e causando um grande desconforto a alguns passageiros que os olhavam com cara de nojo, um deles chegou até chamar uma comissária de bordo para reclamar mas ela informou que ficar de mãos dadas não infringir as regras da companhia aérea ou qualquer lei.
Quando chegaram a Londres esticaram as pernas e jantaram, lá ja era noite, uma hora depois embarcaram para Creta e passaram a noite em um aconchegante hotel perto do porto. O barco saiu as oito da manhã do dia seguinte e chegaram uma hora da tarde em Atenas, alugaram um carro, Ariana implorou que fosse um Escort vermelho bombeiro com capota conversível e Doralice fez Uriel alugar aquele carro.
Dirigiram até Elêusis e lá ficaram em um hotel, sabiam que era preciso descansar ja que no dia seguinte iriam descer para o mundo inferior.

HADES
Acordaram as quatro da manhã e abasteceram cada um sua própria mochila com garrafas de água, comidas secas, chocolate e itens de primeiro socorros. Na verdade Uriel e Ariana não precisavam de nada disso mas Doralice e Matiyah como certeza sim, Doralice era Bruxa mas humana, Matiyah não tinha alma mas seu corpo era orgânico, eles iam precisar comer e se hidratar.
Doralice e Matiyah foram até a recepção do hotel fazer o checkout, enquanto isso Uriel teve de levar Ariana para se alimentar.

Fome S.
Eles sairam do hotel vestidos com roupas pretas para se disfarçar enquanto estava escuro, Uriel levava uma garrafa de água e uma outro frasco de vinagre, levavam tudo em uma bolsa onde havia uma muda de roupas para Ariana.
Andaram por Elêusis até achar o que procurava, uma gangue de vagabundos estava sentado em um beco atrás de um posto de gasolina. Ariana olhou para eles e farejou, depois se virou para Uriel e disse:
  - São seis. Se eu me alimentar de todos eles eu posso ficar quinze dias sem comer nada a sem sentir sede de sangue.

Uriel olhou os vagabundos e disse:
  - Mas Ariana eles são bandidos?

Ariana se virou para Uriel e respondeu:
  - Não, não sinto cheiro de morte neles, nem energia de perversidade. Não mataram, não estupraram, apenas bateram algumas carteiras. São só vadios atoa.

Uriel falou:
  - Mas você não prometeu a Doralice que só se alimentaria de homens ruins?

Ariana respondeu fria:
  - Todo homem é ruim. Me diga Uriel, existe ser humano sem maldade?

Uriel respondeu:
  - Entendi. Quer que eu vá junto?

Ariana respondeu:
  - Não, pelo contrário, me espere perto das bombas do posto de gasolina, eu não quero que veja isso.

Uriel se virou e caminhou até o posto de gasolina e ficou de costas ouvido.
Um dos homens disse em grego algo como "olha só essa putinha, o que ta fazendo aqui bebezinha?"
Ariana não falava grego, não entendeu.
Um segundo homem disse "será que ela tem dinheiro?"
Após isso Uriel ouviu os seis homens gritarem a planos pulmões, havia terror na voz deles, entre as seis vozes masculinas esganiçadas pelo terror era nitido um rugido como de um leão, e quem rugia era Ariana. Durou cerca de vinte minutos, o som dos gritos foi sendo silenciado e substituído por um "clac clac" de mastigação. Ela apareceu perto de Uriel, o queixo e as bochechas vermelhos de sangue que escorria pelo peito e encharcando a camisa. Uriel reparou nos olhos dela, , vermelhos cintilantes exatamente como os de Sharir Malaun.
Ele a ajudou se limpar passado o vinagre na pele suja e depois um pano com água, então ela trocou de roupa, jogou a velha em uma lixeira e ateou fogo, e rapidamente voltaram para o hotel sem dizer uma palavra sobre o que acabara de acontecer.

As seis da manha já estava na estrada seguindo placas turísticas, seguiam por ruas estreitas onde haviam setas indicando a " Spílaio Adis/Hades Cave", quando chegaram lá o sol ja estava raiando. A porta do Inferno ficava em uma caverna ladeada por grandes blocos de pedra que um milênio antes haviam sido parte da estrutura do grande Templo do Deus Hades, mas os malditos cristãos botaram tudo abaixo sobrando apenas a caverna e destroços.
Assim que chegaram a duzentos metros da caverna Matiyah olhou para ela horrorizado, cobriu a boca com uma das mãos e murmurou algum lamento ininteligível.

Ariana pegou a mão dele e perguntou:
  - Algo errado?

Matiyah assentiu.

Uriel falou:
  - Matiyah esteve ausente durante a criação do cristianismo, eu tentei contar a ele que o povo de Cristo destruiu praticamente tudo que um dia ja foi sagrado para outras culturas, mas é a primeira vez que ele vê com os próprios olhos.

Matiyah apontou para frente e falou com voz trêmula:
  - No passado aqui havia um enorme templo, tão grande que quando entrávamos havia nevoa no teto. Havia o trono de Hades Isódetes.

Ariana perguntou para Doralice:
  - Hades Isódetes?

Doralice rependeu:
  - Era o nome do Deus do mundo dos mortos para os Helenos, significa "Invisível e imparcial". Aqui era a casa dele.

Matiyah falou:
  - Eu vim aqui muitas vezes quando era vivo, eu era amigo di Menta.

Ariana perguntou debochando:
  - Amiga de Menta? Da planta, do chá ou da pasta de dente?

Matiyah olhou para ela confuso.
Uriel explicou:
  - Menta era a amante de Hades e sacerdotisa deste templo. Veja ali.

Matiyah apontou para uma pedra tombada onde ainda se via alguns símbolos que formavam a palavra "Μινθη", Menta em grego.

Matiyah olhou para Uriel e perguntou:
- Sabe onde ela está?

Uriel ergueu uma sobrancelha e falou:
- Nos últimos milênios muita coisa aconteceu.

Matiyah falou:
  - Milênios... Você nunca fala com exatidão, fale a verdade, quando tempo se passou desde que eu morri?

Uriel respondeu
  - Você morreu em mil cento e trinta e sete antes de Cristo, e estamos em mil novecentos e oitenta e nova depois de Cristo, isso dá... tres mil cento e vinte e seis anos.

Matiyah suspirou fundo:
  - Mais de três mil anos... Muito tempo. Mas me conte sobre Menta, porque Ariana falou de chá? Eu não entendo.

Uriel falou:
  - Menta esta morta.

Matiyah se espantou:
  - Mas ela era uma imortal, como está morta?

Uriel aoiroufalou:
  - Se lembra da Deusa Deméter? A filha dela se casou com Hades.

Matiyah torceu os lábios:
  - i kataraméni porneía?
(A prostituta maldita?)

Uriel sorriu e respondeu:
  - Sim ela mesma, Persefone. Após o casamento ela descobriu que Hades ainda tinha um caso com Menta e então Persefone a espancou e fez uma magia usando os poderes sobre plantas que tinha e transformou o corpo de Menta em uma planta. A princípio a planta só nascia no jardim de Persefone no mundo inferior, era usada para magia negra, poções e ritos fúnebres, mas o mundo todo atualmente usa essa planta para fazer chá ou como Ariana citou, para fazer pasta de dente.

Matiyah estava com as duas maos nas bochechas aterrorizado:
  - Quer dizer que usam o corpu da sacerdotisa e suprema ninfa Menta para fazer produtos de higiene? Este mundo está perdido... Isso é... maligno!

Uriel sorriu:
  - Não meu amor, não, não é maligno. As pessoas hoje em dia não conhecem e nao se interessam pelos fatos do passado. Chamam tudo de mito e tratam como se fosse tudo mentira, então para eles Menta é so uma planta.

Doralice pegou o certo da Rainha que trazia na mochila e o agitou no ar dizendo:
  - Ateet ko dikhao!

Rapidamente o ar tremulou com o mesmo efeito de uma pedra atingindo um lago, então a visão foi formada, o Templo de Hades estava ali em pé diante deles e era um palácio enorme com duas pequenas casas dos lados e na entrada uma estátua do Deus do sub mundo com uma túnica encrustrada de rubis e ametistas. Haviam duas pilastra de marmore branco segurando o telhado de pedra, e na grande faixada se estava escrito palavras gregas.
Uriel as leu:
  - Ali está o nome do templo " Naós tou Megálou Hades Isódetes", em português " Templo do Grande Hades Isódetes". Isso é um feitiço de ver o passado?

Doralice respondeu:
  - Sim, nos mostra o que ja houve em cada lugar, é simples e as vezes bem útil.

Matiyah gemeu alto e quando todos se viraram para ver o que estava acontecendo notaram que ele estava chorando compulsivamente.

Uriel o abraçou consolando, devia ser realmente difícil ver o mundo em que nasceu resumido a escombros.

Ariana perguntou:
  - Como vamos entrar? Digo, no Hades.
Uriel falou:
  - O Hades e o Inferno ficam em um lugar impreciso, ou seja, esse caverna se liga ao Hades mas na verdade ao passarmos por ela seremos levados a outro lugar, algo como outro mundo.

Ariana franziu a testa e disse:
  - Mas as lendas não dizem que o Hades e um mundo subterrâneo, que está em baixo de nossos pés?

Uriel explicou:
  - Sim, a lenda não está errada. O Hades de fato não fica aqui, mas para chegar até ele é necessário andar um bocado por túneis em baixo da terra. Estão prontos?

Todos responderam em uníssono:
  - SIM!

Uriel pegou o estojo de violão celo e o abriu, tirou de lá a espada Nihaya e a prendeu as costas na alça da mochila, mas também tirou mais tres facas douradas, provavelmente havia pego elas no porão onde guardava os tesouros. deu a faça menos para Ariana, era na verdade uma adaga com cabo longo de couro. Para Doralice deu uma faca que mais parecia um facão de cortar cana, a lamina era de chapa larga e o cabo comprido. para Matiyah deu uma faça similar a uma de cortar carnes, era pontiaguda e seu cabo de bronze tinha duas asas gravadas em relevo.
Disse:
  - Nos sabemos como esta o Inferno, esta em guerra, devemos nos precaver.
Os Ariana deslizou a adaga para dentro do cano da bota de caminhada que usava, Doralice prendeu o facão no cinto de sua calça jeans e Matiyah guardou a faca na mochila. Caminharam para dentro da caverna até chegar na parede do fundo.
Uriel tocou na parede e cantou usando sua voz Angelical:
  - To spíti tou thanátou tha anoíxei tis pórtes gia ména, eímai me tin pliromí tou karavokýri... Írtha na ploigitheí ston potamó mávron ydáton...

A rocha pouco a pouco ficou transparente até sumir, se abriu como uma porta, então eles passaram por ela e logo que atravessaram ela fechou.

Doralice perguntou:
  - O que você cantou?

Uriel respondeu:
  - Uma velha cantiga de Hades Isódetes, " A casa da morte vai abrir as portas para mim, eu estou com o pagamento do barco, eu vim para navegar o rio de águas negras".

Ariana falou:
  - Sua voz... É linda! É mais bela que já ouvi.

Uriel respondeu:
  - Eu sou um Anjo, fui criado para lutar, entregar mensagens e principalmente para entreter o Deus Jeová, então ele embutiu em todos os anjos dotes artísticos.

Matiyah pegou a mão de Uriel e disse:
  - Mas entre todos os Anjos a sua voz é a melhor.

Uriel sorriu.
Ariana perguntou para Matiyah:
  - Mas você conhece outros anjos?

Matiyah por um momento se irritou, ela ja devia saber ja que o nome de Samyaza era bastante citado nas conversas, mas daí se tocou que sempre falavam de Samyaza como pessoa e nunca como Anjo, então explicou:
  - Eu sou filho de uma Anjo, minha mãe é Samyaza, e eu também conhecido outros como Ahiliel e Heylel.

Ariana chegou abrir a boca para fazer outra pergunta mas Doralice a cortou:
  - Ariana chega de falar, estamos em terreno hostil, devemos descer os túneis em silêncio.

A luz que entrava pela rocha transparente acabou quando ela se solidificou, tudo ficou no mais denso breu. Eles acenderam lanternas e desceram por um túnel largo de solo arenoso iluminando, o ar cheirando a mofo e esgoto.
A caminhada foi longa, por cerca de três horas eles andaram por curvas sinuosas e se desviando de estalactites e estalagmites que surgiam pelo caminho. Então no fim do corredor escuro viram uma luz vermelha, era fogo com certeza, seguiram até lá e sairam em uma sala ampla e circular com vários bancos de pedra diante de uma estátua enorme de mais de cinco metros de altura de Hades montado sobre o cão de três cabeças. A luz vermelha vinha realmente do fogo, , havia uma fogueira acesa bem diante da estátua, era uma fogueira onde se queimavam oferendas ao Deus.
Todos se sentaram para descansar e beber água, Doralice e Matiyah comeram barrinhas de cereal, meia hora depois ja estavam prontos para partir, mas ao analisar eles perceberam que não havia porta alguma, so havia a entrada por onde tinham vindo.

Uriel falou:
  - Esse é o fim da linha.

Doralice perguntou:
  - E a última parte no planeta Terra não é? daqui se liga realmente ao Hades.

Uriel disse:
  - Exatamente.

Ariana falou:
  - Mas por onde entramos? Onde está a passagem?

Matiyah disse:
  - Não entrar de graça, devemos fazer oferenda no fogo.

Uriel entendeu, então tirou a camisa Para assim invocar seu par de asas de penas vermelhas, arrancou quatro penas e as jogou no fogo dizendo:
  - Senhor do sub mundo, aceite nossa oferenda e nos deixe passar.

A princípio não aconteceu nada, mas então a sala inteira se moveu, todos viram sentados no chão e quanto a sala girou. A entrada do túnel por onde tinham vindo desapareceu, mas quando a sala parou de girar a mesma entrada reapareceu, porém agora o tunel era iluminado por tochas e as paredes de tijolos pretos. Eles se levantaram e caminharam até lá, entraram no túnel, e assim que tinham dado alguns passos a parede atrás se fechou, a sala tinha girado novamente, então a entrada estava bloqueada até que alguém do outro lado fizessem oferendas no fogo para entrar.
O único caminho era para frente.
Depois de vinte minutos andando eles chagaram em uma escadaria que ia para baixo, não conseguiam ver o fim, pareciam degraus infinitos.
Duas horas descendo a escada, os joelhos e as panturrilhas deles ardiam, mas o final chegou, eles sairam por um túnel e deram de cara com um lugar aberto, o céu noturno sem estrelas e nuvens avermelhadas, um ar frio como de uma geladeira os engoliu, diante deles um largo rio de águas negras que corria com velocidade em grandes correntes.
Doralice respirou fundo e falou:
  - Chegamos, estamos no inferno.

Ariana perguntou:
  - Mas não deveria estar cheio de gente aqui?

Matiyah respondeu:
  - Se o Templo de Hades Isódetes estava destruído como vimo, significa que está entarada no é mais usada. Com certeza há outra entarada, e lá deve estar cheio de gente morta ingressando no mundo dos mortos.

Uriel olhou para os lados e apontou para a direita:
  - Vejam, um porto, o barqueiro deve passar ali.

Eles caminharam até um deck de madeira que se erguia por vários metros sobre a água, havia pó sobre as tábuas sinalizando que fazia muito tempo que ninguém pisava ali. Eles se sentaram na beira das tábuas e ficaram esperando o barco passar.

Doralice perguntou:
  - Uriel, tem certeza que este é o Rio Estige?

Uriel assentiu:
  - Com toda a certeza.  

Doralice perguntou:
  - Tem certeza que o Caronte ainda passa aqui com o barco?

Uriel meneou a cabeça:
  - Não sei. Mas se ele não passar eu atravessou um a um de vocês, os levo voando para o outro lado do rio.

Assim que ele acabou de falar Matiyah disse:
  - Olhe lá, aquilo seria um barco?


Uriel olhou para o lado leste do rio e lá longe tinha um imenso barco roda-d'gua de quatro andares, parecia mais um transatlântico.
Eles ficaram em pé e começaram a acenar parar o barco e ele realmente se aproximou e parou. Do convés surgiu um uma mulher negra usando uma peruca de cabelos vermelhos berrantes e tanta Maquiagem que seu rosto estava laranja. Ela usava um casaco de pele de chinchilla e luvas de couro, parecia ser alta e muito magra com um pescoço comprido e... um pomo de Adão? Uriel olhou bem e teve certeza, era um homem. Bom estava vestido com roupas femininas então ele achou mais educado trata-la por "senhora".

Uriel berrou:
  - Por favor senhora, esse é o barco do Caronte?

A mulher gargalhou esganiçada e respondeu:
  - Não, esse é o meu barco.

Ela realmente pôs muita ênfase no "meu". Disse mais:
  - Minha mãe me disse que estariam aqui, eu serei seu guia, é minha missão lhes fazer companhia.

Uriel olhou parar cima encarando aquela travesti... ou seja transexual... de longe não dava pra saber, porém a condição sexual das pessoas é algo normal independente de qual seja, mas não é nada normal usar um casaco de chinchilla e uma peruca vermelha enquanto se navega em um barco no inferno.

Ariana falou rindo:
  - Lady Butterfly?

Uriel disse:
  - O que? Quem?

Ariana apontou para o casco do navio onde estava escrito em vermelho berrante contornado com glitter cintilante "LADY BUTTERFLY".

A mulher do convés gritou:
  - Sim Queridos sou Lady Butterfly, a mais bela filha de Iyansan. Venham, vou baixar a escada para vocês subirem, venham, vou levar você parar um passeio!

(Continua)











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