Médium Diva Belladonna Capítulo Nove parte 2





Médium Diva Belladonna




Capítulo Final
Segunda Parte

"Desmembramento"




Antes da história seguir outra história deve ser contada.
O passado explica o presente e justifica o futuro.
Os Deuses criaram tudo.
Não existe nada novo sobre a terra, todo ritual é repetido.



A Lenda de Manía nos revela isto.


Cerca de tres mil anos atrás o supremo Deus do Olímpo Zeus se apaixonou por uma mortal, Leda Rainha de Esparta.
Leda era a mais bela das mulheres, seus fartos cabelos castanhos encaracolados e sua pele cor de canela a fazia parecer uma divindade, mas era inquestionável humana.
Zeus sempre fez o que quis sem ligar para as consequências, e então engravidou Leda três vezes.
Dois semideuses brotaram do ventre da rainha, Helena de Tróia e Polux. Mas a terceira filha não era Semideusa, ela era uma deusa completa, Manía deusa na loucura.
Quando Manía nasceu desde pequena demonstrava poder extremo em manipular todos a sua volta.
Havia guerra em todo lugar que ela entrava, as pessoas e eram dominadas por repentinos surtos de violência e rasgavam uns aos outros com golpes de facas, espadas, lanças e dentes.
Zeus a principio se regozijava ao ver a extensão do poder da filha. Por todo o velho continente sete templos foram erguidos em honra de Manía e ela foi honrada e temida por quarto séculos.
Mas Manía cometeu um terrível erro, ela não se dobrou a autoridade do pai.
Zeus certa vez ordenou a ela que parasse de causar mortes e de enlouquecer os homens, pois a Devastação que ela causava estava a atingir devotos de outros deuses do Olímpo e a miséria que ela causava estava a desmoralizar as outras divindades do panteão.
Ares, Hestia, Hera, Athena e Diana formaram uma comissão para derrubar Manía no conselho divino, mas Manía se recusou a cessar com a barbárie, ela tinha sede de sangue.
Zeus fez vista grossa o máximo que pôde mas Manía afrontava cada vez mais os Deuses do Olímpo.
Então Zeus a confrontou diretamente e pela surpresa de todos ela o atacou.
Em uma batalha alucinada ele foi derrotado pelo filha.
Zeus se dobrou aos poderes alucinantes da deusa da loucura.
Humilhado, ele precisou tomar uma atitude: Destruir Manía.
Por ser demasiado poderosa Zeus não podia enfrentar a filha diretamente, não havia como destruí-la.
Por isso ele a atacou enquanto ela dormia e através de um ritual criado por Hades ele cortou a alma de Manía em sete partes.
Cada parte foi selada dentro de um bebê humano e até hoje Manía não pode renascer pois seus pedaços estarão para sempre separados.
Os bebês humanos que receberam os pedaços da alma da Deusa se tornaram sete entidades malignas, porém fáceis de controlar.
O rito empregado em Manía foi muitas vezes reproduzido para cortar e selar outros deuses afim de acabar com eles.
Este rito foi nomeado Aposynarmológisi-Manía, ou seja "O desmembramento de Manía".


Belladonna saltou para o nada, o vento pressionou as bochechas e fez o cabelo se esvoaçar como uma bandeira, mas após um repentino pavor ela sossegou ao perceber que ao contrário de cair flutuava. O feitiço havida dado certo, a ao dar certo era um atestado de competência, sinal que ela estava a aprender magia avançada com facilidade.
Ia caindo lentamente pelo tubo como se fosse uma bolha de sabão solta no ar. Sentiu prazer ao perceber seu real potência.
Assim que pôs os dois pés no chão olhou para cima e viu Ahiliel descendo com as asas abertas como uma daquelas Asa-delta que ela várias vezes tinha visto quanto ia para a praia. Logo ele pousou ao lado então ela observou onde estava, era um salão alto ladeado por dezenas de portas e entradas para corredores, seria fácil se perder ali. Ahiliel a guiou até uma das portas e abriu, para a surpresa de Belladonna eles entraram em um longo corredor cheiro de mais portas.
Ela perguntou:
- O subsolo é gigante, o que Samyaza guarda atrás dessas portas?

Ahiliel falou:
- De fato o subsolo é imenso. Ele serve de dormitório e deposito.

Belladonna questionou:
- Dormitório? Mas espíritos não dormem.


Ahiliel respondeu:
- Do modo natural eles não dormem, afinal não existe corpo de carne para ser reabastecido através de sono; mas minha Senhora Samyaza tem meios de fazer muitas coisas que contrariam a lógica do universo, então os espíritos daqui estão em um sono profundo.

Belladonna perguntou:
- Este sono seria para deixa-los paralisados enquanto não são úteis?

Ahiliel respondeu:
- Propositadamente isto.

Eram centenas de portas, algumas simples folhas de madeira, outras grandes chapas de aço com ferrolhos e correntes, e a infinidade de portas se espalhava por incontáveis passagens e corredores. Enquanto andavam ela conseguiu ver uma das salas abertas e de relance avistou o brilho dourado de uma lança e um homem nú de corpo musculoso sentado em um banco de madeira crua envelhecida com olhar fixo no nada. Então Belladonna se deu conta, aquele subsolo guardava o exército de espíritos de Samyaza.
Fingindo não ter visto nada ela continuou caminhando com Ahiliel até que sairam em um amplo corredor de paredes de pedra limosa que cheiravam a mofo, a casa dez passos haviam portas muito grandes, todas trancadas com pesados cadeados dourados, mas ao contrário das outras portas que de trás não se ouviu coisa alguma, de trás destas se podia ouvir a respiração forte e as vezes alguns gemidos de vários seres que com certeza não eram humanos.
Eles entraram em uma daquelas portas e desembocaram em uma grande sala de paredes de pedra escura que parecia ter sido recentemente limpa, no fundo preso a uma coluna havia um enorme espelho de mais de dois metros de altura que mostrava o reflexo de uma sala que não era aquela. Diante do espelho havia uma mesa de madeira com varios livros em cima e algumas outras pilhas de livros espalhadas pelo chão junto com pergaminhos e folhas soltas cheias de símbolos místicos. Por todo lado se viam grandes quartzos brancos presos as paredes e ao teto dos quais emanava uma tênue uma luminosidade.
Belladonna caminhou até o espelho e quando chegou bem perto conseguiu ver nitidamente a imagem de Doralice segurando um bebê embrulhado em uma manta.

- Enfim a encontrei.
Disse Samyaza ao entrar na sala.

Belladonna se virou para perguntar:
- Este é outro espelho da Rosa dos Ventos?

Samyaza anuiu, falou:
- Finalmente encontrei o bebê. Você tem de ir lá agora, tem matar a velha e pegar a criança. Aproveite que Uriel não está por perto.

Belladonna perguntou:
- Mas eu não verei a criança, o feitiço de Betânia...

Samyaza interrompeu:
- Sim, sim eu havia me esquecido. Eu não preparei nenhuma ferramenta para isso, não tenho nada no momento que possa te fazer burlar a maldição. Porém a chance é única, você tem que ir.

Belladonna rapidamente falou:
- Deixe Ahiliel ir comigo, ele vai me ajudar, ele pode ver a criança.

Samyaza ergueu uma sobrancelha em tom de deboche e falou:
- Ele? Este imprestável? Ele é um escravo de serviço doméstico.

Belladonna olhou para Ahiliel e viu que ele estava de cabeça baixa.
Ela disse:
- Ele tem me ajudado muito, aperfeiçoei muito de minha magia com ajuda dele.

Samyaza respondeu:
- Ahiliel tem uma excelente... Não, uma magnífica memória. O que ele fez foi repassar a você dados e informações que ele viu em algum lugar. Ele nunca lutou nas batalhas do céu ou do inferno, ele treme diante da luta, é covarde. Ele foi criado para ser um serviçal dos anjos superiores, não será de ajuda alguma.

Belladonna insistiu:
- Por favor, deixe que ele vá comigo, não dispostos de pessoas de confiança e ele é leal a ti.

Samyaza deu de ombros e respondeu:
- Você que sabe, leve ele, mas se ele te atrapalhar não o culpe, já está avisada da falta de aptidão.

Jacqueline estava temerosa, seu peito estava apertado pela sensação de medo. E se ela não conseguisse a criança? E se ela falhasse na missão? Azondató não teria clemência, e ela sabia ser cruel.
Jacqueline sacudiu a cabeça para desanuviar os pensamentos e ficou os olhos no céu, forçando a vista ela viu o pássaro de Mama Azòndató voando rumo ao sul, era naquela direção que a criança estava.
Uriel deu um passo a frente e so então ela se lembrou da presença dele. Olhou para Uriel e falou:
- Não tenho tempo para você agora, tenho uma tarefa a comprir.

Girou nos calcanhares fazendo um ruído estranho com os saltos da bota, deu meia volta e se pôs caminhar para o fim da rua onde a Harley Davidson estava estacionada entre as árvores.

Assim que virou, Uriel correu para o Mustang, abriu o porta malas e deu um forte murro na lateral interna esquerda, o forro rasgou e a armação de madeira se quebrou fazendo aparecer um cabo dourado. Ele puxou o cabo até que se revelasse dali uma longa espada de ouro.
Com a espada em punho ele foi em direção a Jacqueline e berrou:
- Mambo! Não vai sair daqui sem antes lutar comigo!

Jacqueline virou a cabeça lentamente com um sorriso, mas o sorriso desapareceu quando ela viu a espada, ela sabia o que era, aquele metal não era ouro e sim sangue de um Deus Supremo condensado. As Mambo usavam lâminas do mesmo material em seus rituais, o Sangue do grande casal de deuses supremos Mawu-Lisá também era dourado e com ele haviam sido forjados os punhais sagrados.

Uriel sorriu ao perceber a expressão de espanto dela e disse:
- Reconhece? É o mesmo metal das facas cerimoniais das Mambo não é?

Jacqueline olhou fixamente para a espada, um tempo depois desviou o olhar para encarar Uriel e falou séria:
- Anjo... Nos Mambo não lutamos com escravos criada pelo seu Deus Jeová. Os nossos Deuses Vodun nos aconselham a não atacar servos de outros deuses. Nós não lutamos com coisas como você. Mas não passe dos limites, se coloque no lugar que pertence seu mero escravo.

Uriel franziu a testa e disse:
- Não sou escravo de ninguém.

Jacqueline respondeu:
- Ora Ora... é um rebelado? Como um Anjo caído tem uma espada desta? Pelo que eu sei Jeová so criou duas destas, a primeira está desaparecida e a segunda é esta sob os cuidados do pária Miguel. Esta é a espada Nihaya não é? Ou é ela ou é uma copia bem convincente.

Uriel com feição de surpresa falou:
- Conhece a Nihaya e as histórias dos anjos?

Jacqueline respondeu:
- Eu sou uma Mambo, as Mambo sabem de tudo, temos muito tempo para aprender.

Uriel falou:
- E eu sou um Anjo, os Anjos sabem de tudo, temos muito tempo e para aprender, muito mais que vocês. Eu conheço sua casta imunda... Sei muit...

Jacqueline riu e interrompeu:
- Vai dizer que sabe coisas sobre as Mambo? Ninguém que não seja Mambo sabe dos nossos segredos.

Uriel falou:
- Vocês ganharam facas douradas feitas pelos seus deuses Vodun, e com essas facas que roubam os poderes de outras mulheres. As facas que seus deuses te deram são do mesmo material que esta espada. Isso significa que...

Jacqueline pasma interrompeu:
- Onde você aprendeu estas coisas? Sim rapaz, significa que se é com uma lâmina similar que eu consigo extrair vida, com esta sua que é então igual a minha você poderia tirar minha vida. Mas como sabe sobre as lâminas?

Uriel ignorou a pergunta, sorriu displicente:
- Lamento ter de fazer isso.

Com um repentino impulso ele agitou as asas e foi para frente, a espada apontada para ela.
Jacqueline de desviou, agachou e subiu de volta com o braço em riste e o punho fechado acertando um forte murro no queixo dele.

Uriel cambaleou dando passos para trás, sentiu os ossos de seu queixo racharem e seus olhos umidecerem pela dor mas sabia que iria se curar disto em segundos, então prosseguiu e com mais agilidade voltou a atacar girando a espada como uma hélice no ar, no primeiro golpe Jacqueline se desvio, mas no segundo ela tentou se safar novamente mas a espada atingiu seu ombro fazendo um corte pequeno mas suficiente para deixa-la muito aborrecida.

Ela deu alguns passos para trás, franziu a testa arqueando as sobrancelhas, passou a palma da mão no ombro ferido e olhou o sangue que ficou impregnado nela. Era muito raro algum tirar sangue de uma Mambo, e isso não poderia ser perdoado.
Ela falou:
  - Então é sério? Você realmente quer me desfiar?

Uriel anuiu.

Ela disse mais:
- Será que não compreende a gravidade dos seus atos? Eu terei agora de aniquilar você.

Uriel zombou:
- Não vai ser fugindo e se esquivando que ira conseguir me aniquilar.

Ela se fechou em uma expressão amarga, passou a perna direita para trás para conseguir impulso e então saltou para frente, antes que Uriel pudesse entrar em posição defensiva ela acertou um forte murro no peito dele o fazendo cair deitado. O baque surdo do golpe deixava claro que se Uriel fosse humano aquele soco o teria matado instantaneamente. Mas ele não era humano.
Com um gingar de pernas ele ficou em pé, apertou a mão no cabo da espada e bateu as asas com rápidez fazendo um alto som de farfalhar de penas, alçou vôo e foi para as alturas.

Jacqueline ergueu o queixo e ao ve-lo ja longe achou que havia desistido, deu novamente meia volta rumo a motocicleta, mas segundos depois ela sentiu uma brisa vindo de trás e por instinto se jogou para a direito caindo deitada, e então ouviu o estrondo da espada de Uriel batendo no solo e abrindo uma cratera, ele havia vindo em rasante atrás dela e por pouco não a acertou.
Em meio a nuvem de poeira ela observou o corpo magro e forte dele, entendeu que ele era realmente um oponente a sua altura então era hora de usar a magia negra na luta.
Ele olhou para ela caida ao lado e com furia nos olhos deu dois passos rápidos na direção em que ela estava, ergueu a espada segurando o cabo com ambas as mãos e cravou a lâmina no peito da Mambo, porém assim que a espada entrou no corpo ela explodiu em uma nuvem de mariposas pretas que voaram para o outro lado formando novamente o corpo dela. Era Magia de invurto, um truque simples mas eficaz.
Uriel dobrou os joelhos e deu impulso para cima batendo as asas rumo ao céu, planejava fazer o mesmo tipo de ataque que antes mas de repente sentiu uma dor aguda e ouviu o som de algo se rasgando, virou o pescoço e viu Jacqueline flutuando logo atrás dele agarrada em sua asa esquerda que ela pretendia quebrar, mas ele girou com força a fazendo soltar das penas, ela também foi rápida e se agarrou na coxa dele deslizando as unhas pontiagudas até abrir varios cortes dos quais jorrava líquido dourado como ouro derretido, sangue de Anjo.
Uriel bateu na tempora dela com o cabo da espada mas ela não se mexeu, era forte e resistente, as unhas pareciam se alongar entrando cada vez mais fundo na carne da coxa do anjo, e ele girou espada novamente para golpear Jacqueline mas ela ao pressentir que a lâmina dourada estava próxima soltou da perna dele e se deixou cair no chão.
Uriel tomou distância e planou até a copa de uma árvore, se sentou em um galho, os rasgos na coxa fumegavam soltando vapor pois era através do calor que os anjos se curam. Olhando em volta ele não viu Jacqueline em lugar algum, aguçou a visão mas não a viu, e temeu que ela tivesse ido embora. Então sentiu seu corpo ficar duro, seus membros se retorciam e era como se estivessem escurecendo. Foi então que ele ouviu a voz dela que cantarolava uma ladainha, um feitiço que tencionava transformar Uriel em parte da árvore, fazer dele madeira. Ele tentou se soltar e até cantarolou um contra feitiço mas não surtiu efeito, a magia dela era muito forte. Vendo que não poderia desfazer o feitiço ele decide fazer um para distrai-la, e com suas últimas forças ele invoca uma ilusão, Jacqueline sente a mão formigar e vê um escorpião sobre ela, por extinto ela para de cantar a ladainha e Uriel consegue se libertar da árvore ficando em pé sobre o galho e alçando vôo rapidamente tentando se afastar, bate as asas com força e consegue boa altura, porém ele ouve um estrondo e olha para trás e nisso vê Jacqueline abraçando o tronco da árvore e arrancando ela do solo pela raiz, era uma força assombrosa, ela gira a árvore três vezes fazendo ondas de vento balançarem a copa e a arremessa na direção de Uriel, ele estava atônito vendo a cena, desvia no céu mas a árvore estoura em uma nuvem de fogo amarelo que lhe chamuscou as asas e o cabelo.
A luta estava séria.

Ele plana até o meio de uma mata logo a diante e pousa em uma clareira, sente parte do corpo ardendo mas as partes mais chamuscadas como as costas e a coxa esquerda estavam dormentes. Ele fecha os olhos e sussura uma fórmula de cura na língua antiga dos anjos para acelerar a recuperação mas é interrompido ao ouvir o som das folhas secas rachando com os passos da Mambo. Ela estava próxima.

Ele aperta o punho no cabo da espada e corre para se esconder atras do tronco de uma árvore, e nisso ouve Jacqueline falar:
- Anjinho... Aposto que se arrependeu de me provocar não é? Eu posso te perdoar pela afronta. Se você me presentear com essa sua bela espada eu posso relevar sua audácia e até ser sua amiga. Vamos lá, saia de trás da moita, onde esta a sua dignidade?

Uriel não se move, prende a respiração para não fazer qualquer ruído.

Jacqueline ameaça:
- Se não quer sair por livre e espontânea vontade eu terei de te tirar da toca a força.

Uriel estava atento mas em um piscar de olhos sente um calor infernal, um calor que um segundo antes não sentia, e entendeu que era feitiçaria. Uma intensa luminosidade vermelho vinha por toda parte e logo ele viu o fogo se espalhando por todo lado, como se um incêndio houvesse se alastrado em um milésimo de segundo.
Ele respirou fundo e o ar quente queimou suas narinas, então com um baque surdo ele sentiu a pancada, Jacqueline com um murro arrebentou o tronco da árvore que ele estava escorado fazendo a madeira se estilhaçar e o corpo de Uriel ser lançando para o chão em meio a palha flamejante.
Ele tossiu e viu espirrar de sua boca gotículas douradas mostrando estar ferido internamente. O golpe que ela desferiu na árvore havia pego em cheio nas costas do anjo. Ele era experiente em batalha mas estava com medo, o ruido da copa da árvore caindo e se consumindo chamas soou como um lamento.

Jacqueline riu ao ver o anjo caído de bruços com as asas encolhidas, ele gemia com dor e tremia convulsivamente com um filete de líquido dourado escorrendo pela boca.

Jacqueline se aproximou e falou:
  - Ja está neste estado? Eu nem sequer comecei a brincadeira...

Uriel arfou, com dificuldade se ergueu e correu para a parte profunda da mata onde as chamas ainda não tinha alcançado.
Jacqueline zombava, não correu atrás dele, pelo contrário, ela caminhou ruidosamente assobiando de modo estridente um som que tinha um tom sádico.

Uriel se enfiou no meio de um bambuzal e se abaixou afim de se camuflar, estava muito ferido, mentalmente agradeceu ao bebê de Betânia por ter cedido a ele mais poder do que ele tinha anteriormente, foi graças a esse poder extra que ele não foi partido em dois pela Mambo.
Ele se mantinha abaixado olhando para os lados aflito, então ouviu passos vindo pela esquerda, apressado olhou mas nada encontrou, quando se virou para observar o lado oposto ele foi tomado de um terror inigualável, Jacqueline estava abaixada ao lado dele e o rosto dos dois se encontrava a menos de um palmo de modo que por alguns centímetros os narizes não se tocavam.
Ela sorriu, arreganhou os lábios mostrando todos os dentes. Uriel congelou, não sabia o que fazer então apenas ficou ali imóvel olhando para ela.

apos alguns segundos Jacqueline falou:
- Eu não sou um passarinho para ser morta por ti. Eu sou uma serpente.

Uriel estremeceu, segurou firme o cabo da espada e esperou pelo pior.
Jacqueline inflou os pulmões e encheu as bochechas de ar e então assoprou bem no rosto de dele, mas não foi ar que saiu de sua boca e sim uma densa névoa arroxeada, ácido puro. A pele do rosto de Uriel foi completamente dissolvida, se desprendia dos músculos e caia como pedaços de couro podre. Ele sentiu uma dor inigualável, se levantou mas logo cambaleou e caiu. Seus olhos estavam queimados e ele nao conseguia ver nada.

Ela riu ao ver o anjo no chão se retorcendo de dor, se inclinou sobre ele afim de escarnecer e disse:
- Por um segundo pensou que eu iria perder para você?

Uriel nada respondeu, apenas se virou de bruços gemendo.

Ela se curvou mais sobre ele e pisou sobre uma das asas, falou:
- A única coisa que mata uma Mambo é outra Mambo.

Ele ao ouvir isso teve uma idéia, pareceu absurda mas não havia nada mais a se fazer, então investiu.
Ainda deitado ele se virou com extrema agilidade com a espada em punho e cravou a lâmina no ventre dela a transpassando.
Sabia muito bem que mesmo aquilo não à mataria, então fez algo que nunca tinha feito antes, sua mente buscou apenas uma hipótese que era virar o feitiço contra o feiticeiro. Se o que mata uma Mambo é somente outra Mambo, então ele sabia o que fazer.

Uriel fez o rito de sucção Mambo.

Ele apenas havia ouvido falar de como era e certa havia visto alguém fazer, na verdade quando ouviu a respeito não deu muita credibilidade pois parecia impossível, absurdo demais, porém depois de presenciar ele soube que era real.

Jacqueline riu debochada e se afastou fazendo a espada sair de seu corpo com um som metalico mas mostrando a grande ferida que sagrava em abundância.
Uriel estava com a visão escurecida mas o cheiro do sangue o guiou, ele agiu, largou a espada e agora ajoelhado pôs as duas mãos sobre a ferida no ventre da mulher dizendo:
  - Je dois le savoir, on est deux, les jumeaux sont tout. Mawu embrasse la main de Lysa et l'a eu. Lysah Embrassez les lèvres de Mawu et prenez tout ce qui est. Les jumeaux sonor un cycle qui ne finit jamais. La lame d'or faite par un Dieu, c'est nous qui avons embrassé la chair tuée, et ensuite je prends tout ce qui est à toi. Comme les Mambo sont comme des filles de serpents, comme tous les Mambo. La magie est ici.
( Eu devo saber, somos dois, os gêmeos são tudo. Mawu beija a mão de Lisá e conseguiu. Lisá abraça os lábios de Mawu e leva tudo o que é. Os gêmeos tocam um ciclo que nunca termina. A lâmina dourada feita por um Deus, somos nós que beijamos a carne morta, e então eu pego tudo que é seu. Como as Mambo são como filhas das serpentes, como todas as Mambo. A magia está aqui.)

Enquanto ele recitava o feitiço Jacqueline se desesperou e tentou empurrar as mãos dele para longe, porém é impossível parar a magia depois que ela começa. O chão em torno deles se rachou como em um terremoto, o vento assobiou de modo gélido, e mesmo no meio do fogaréu um frio intenso se instaurou. Todos os poderes que Jacqueline tinha foram sendo sugados pelas palmas das mãos de Uriel que tocavam a ferida aberta.
Assim que o processo começou ele teve visões, viu rosto de meninas, muitas meninas negras, africanas, todas as meninas que Jacqueline havia sugados os dons de magia. Ele contou uma, duas, três, dez, cinquenta... Setenta e três meninas mortas por Jacqueline. Foi rápido, mas para ele pareceu uma eternidade, ouviu os gritos de dor e súplica de cada criança que ela matou e por fim sentiu toda a sujeira que havia dentro daquele bruxa.
Após recitar tudo, o fogo da mata apagou tão rápido quanto havia se alastrado e a Mambo caiu de joelhos com profundas olheiras, manchas pretas sob os olhos e as bochecha secas como uma caveira.

Com a voz fraca ela disse:
  - Vocês usou em mim a magia do meu povo... Impossível...

Uriel sentia um temor absurdo misto a um profundo orgulho de ter feito o que fez. Suas feridas se curaram de imediato e a pele de seu rosto e sua visão se reconstituiram em segundos. O poder dela o preencheu totalmente.
Ele falou com ela:
- Eu te disse, não queria fazer isso.

A vida de Jacqueline estava se apagando. Ela falou:
- Eu sou Mambo e você usou em mim a minha própria tradição... Seu desgraçado...

Ele respondeu:
  - Voce estava certa ao pensar que a única coisa que pode te matar é a sua própria magia. Mas para o seu azar eu conheço os segredos da sua estirpe.

Ela foi esmurecendo, respirando de vagar, os olhos sem brilho. Disse:
  - Inteligente... Minha mãe te ensinou isso? Ela te contou o feitiço?

Uriel respondeu:
  - Não, ela jamais me ensinaria. Era um tempo conturbado, e ela apenas se descuidou, eu ouvi ela recitar isso uma vez quando tomou os poderes de uma jovem. Eu tenho boa memória. Depois assuntei a respeito com uma grande amiga, e ela me deu algumas explicações que a princípio não dei crédito, mas vejo que eram bem fundamentadas.

Jacqueline tossiu, sangue espirrou da boca. Ela falou:
  - Sabe que as Mambo vão caçar você, elas vão saber o que aconteceu aqui... Inaceitável...

Uriel respondeu:
- Jacqueline não se preocupe com nada além de si mesma. É hora de descansar. Vá em paz.

Ela apertou os olhos mostrando que enxergava com dificuldade, falou:
- Anjo antes de ir eu devo te falar algo importante. Mate aquele criança. Os Deuses não são perfeitos e você mais que ninguém sabe... Mama Azondató soube pelo próprio Legbá que ele errou ao dar a vida aquele ser, ele não pode viver. Nós Mambo temos de destruir... Aniquilar aquela aberração...

Uriel fingiu crer no que ele dizia e somente repetiu:
- Não se preocupe mais com isso.

Ela esboçou um sorriso e falou:
- No fim das contas a verdade é que morrer é doce pra quem viveu o que eu vivi. Eu vou ver minha mãe agora...

Inerte, tombou de lado com os olhos vidrados, morta.

Uriel se aproximou do corpo dela e com um leve toque fechou as pálpebras da moça, disse:
  - Sim Mambo, matar você foi algo de extrema inteligência e ao mesmo tempo de extrema burrice. Mas eu vou dar um jeito nisso, eu sempre dou um jeito nas coisas. Aproveite sua estadia no Inferno.

Ele se pôs em pé, sentiu o poder que havia absorvido dela percorrer por seu próprio corpo, nisso suas feridas curaram com maior rapidez. Olhando em volta ele conseguiu se nortear e logo foi embora dali, precisava encontrar Doralice pois sabia que ela corria grande perigo.

Ahiliel e Belladonna recorream ao quarto de vestir nos aposentos de Samyaza e encontram lá todo tipo de vestimenta, inclusive as de época, então se vestiram com roupas comuns, ela com um colant preto de mangas longas e decote canoa, uma calça jeans justa e básica e sapatos de veludo negro com salto quadrado para dar estabilidade, com uma ousadia fora do comum ela caminhou até o outro lado da sala e tomou emprestado um par de brincos dourados em forma de sereias que encontrou em um enorme armário de prateleiras de vidro onde Samyaza guardava milhares de jóias fabricadas por humanos. Ahiliel se vestiu com uma camisa polo branca e uma calça preta, as asas foram escondidas por magia para que ele pudesse se passar por um ser humano, o longo cabelo havia sido preso em um coque alto e nos pés um par de mocacins pretos.
Assim que estavam pronto ele olhou para Belladonna a viu parada diante do armário de jóias, foi até ela e a viu parada ali se encarando no reflexo do espelho. Ele percebeu que a expressão dela era um tanto perturbada e perguntou o que estava acontecendo. Ela rependeu:
- eu fico um tanto confusa sabe confusa com o que eu quero. Na verdade o que eu realmente quero é nada eu sei que é difícil de entender mas o que eu queria era simplesmente nada, Permanecer do jeito que eu estou mas eu sei que não... Porque na verdade eu não estou assim. Eu sou uma mulher vivida demais e eu desejo ser jovem como eu fui com a experiência que eu tenho hoje mas a natureza não me permite. Então eu tenho que fazer todo o tipo de coisa horrenda para continuar viva com dignidade isso é horrível mas eu não tenho escolha minhas duas únicas opções são eu me tornar uma velha a caminho da Morte e acaba no inferno pela eternidade como uma alma torturada ou ser uma guerreira que Luta pelos próprios ideais mesmo que estes ideais pareçam egoístas, e de fato são. Eu só quero juventude e beleza.

Ahiliel nao compreendeu o que queria dever e de imediato percebeu que ela não passava de uma mulher confusa então com toda a paciência apoiou uma mão sobre o ombro dela e disse:
- Eu compreendo e não te julgo.

Belladonna então falou:
- Meu maior medo é que no futuro eu me arrependo de tudo isso que eu estou fazendo.

 Ahiliel perguntou:
- dentro do seu coração existe pelo menos uma fagulha de arrependimento?

Ela respondeu seca:
- Não.

Ele disse:
- Entao não se arrependerá. Prossiga a fazer o que crê ser o correto. Agora vamos logo cumprir nossa missao.

Ele levava um par de Sais, que são adagas de três dentes muito comuns entre os anjos.
Assim que estavam vestidos eles voltam a descer no subterrâneo para ir no quarto do espelho, pois para chegar no mundo dos humanos
Samyaza indicou que ambos deviam entrar no espelho e então sairiam na casa onde Doralice estava.
Diante do enorme vidro Belladonna pegou sua colher de pau se segurou firme, deu a outra mão para Ahiliel, ele segurou com força. Samyaza veio até espelho e passou de leve a unha do dedo indicador nele fazendo movimentos sinuosos para assim realizar o encanto, logo o vídro se ondulou como água e se tornou uma piscina vertical de prata líquida.
A dupla de uma so fez atravessou o espelho e do palácio de Samyaza sairam através de um outro espelho na porta de um guarda roupa no quarto de um casal que dormia tranquilamente.
Era sim a casa onde Doralice estava, aquele casal provavelmente eram os donos da casa.
Belladonna foi a primeira a sair do vidro, pisou com leveza e teve sorte do piso ser todo carpetado, Ahiliel veio logo atrás e diante da cama do casal ele sussurrou:
  - E agora?

Belladonna respondeu em voz normal:
  - E agora o que?

Ahiliel olhou para o ela e projetou o queixo na direção do casal.

Belladonna apontou a colher de Pau para os dois na cama e falou:
  - Alburd.

Da ponta da colher saiu uma fagulha azulada que atingiu o casal os matando imediatamente, ficaram gélidos de imediato.

Ahiliel arregalou os olhos e falou:
  - Alburd? O feitiço de congelamento?

Belladonna sorriu e disse:
  - Sim eu li em um dos livros que você me deu.

Ahiliel a fitou com reprovação e meneando a cabeça disse:
  - Você poderia ter feito eles ficarem inertes, não o havia a necessidade de matar. Mortes não trazem coisas boas.

O sorriso de Belladonna sumiu, ela olhou para o casal morto e percebeu que realmente não havia a menor necessidade de ter matado os dois, mas o que mais a impactou foi que havia sentido prazer em ter tirado a vida deles, se sentiu poderosa e voraz.

Doralice estava no quarto ao lado e sentiu a energia do feitiço de Belladonna, um "Alburd" era facilmente dectado afinal era magia negra, nisso ela soube de imediato que seria atacada, então pegou o cetro que trazia consigo e lançou um feitiço na menina que dormia na cama para controlar o corpo dela sem a despertar, a menina ainda de olhos fechados se levantou e então Doralice disse a ela:
  - Criança, me ajude. Pegue esse Bebê e se esconda em baixo da cama.

A menina ergueu os braços robóticamente, apanhou o bebê e se enfiou em baixo da cama com a agilidade que somente uma criança tem. Doralice ajeitou a colchão da cama para que cobrisse as laterais e o cultasse a menina, segurou firme o cetro e caminhou na ponta dos pés até a porta do quarto, encostou o ouvido na madeira e ouviu o ranger de uma dobradiça, há poucos metros dali estava Belladonna e mais um.
O som de passos ficou mais forte, o assoalho estralava, Doralice se encheu de coragem e de uma vez abriu a porta dando de cara com Belladonna e Ahiliel no corredor.

Belladonna deu um passo para trás surpresa, afinal ela estava indo emboscar a velha e não o contrário. Olhou para Doralice e falou:
  - Ah que alegria é encontrar a família... Saudades mata.

Ahiliel empunhou o par de Sais mostrando estar pronto para um combate.

Doralice olhou para os dois e disse:
- Dois contra uma? Onde está o senso de ética de vocês?

Belladonna sorriu escarnecedora e falou:
- Ninguém precisa sair machucado, é só cooperar.

Doralice respondeu:
  - O que querem?

Belladonna falou:
  - Vim ver meu neto, eu ainda não o conheço, tenho meus direitos de avó, até a lei estaria do meu lado.

Doralice gritou:
  - Tome aqui o que é seu de direito!
Ela vibrou o cetro fazendo um "Z" no ar e então berrou " neelee aag!" Fazendo um raio azulado sair do cetro, mas Ahiliel entrou na frente defendendo com as lâminas cruzadas, o impacto do raio repelido recocheteou no metal dourado e se espalhou pelas paredes do corredor fazendo os quadros e porta-retratos que estavam pendurados caírem ao chão.

Belladonna por cima do ombro do anjo apontou a colher de pau para Doralice e berrou " mudamir!", e um raio branco saiu da ponta da colher atingindo Doralice no peito a fazendo ser arremessada para trás e caindo deitada dentro do quarto da menina, o baque das costas no chão de laje quebrou uma das costelas e a dor foi imensa.

Belladonna entrou no quarto e encarando Doralice de cima ela indagou severa:
  - Diga onde escondeu a criança! Diga logo!

Doralice olhava para ela e via que fato havia se tornado igual ou pior que a mãe. Alias tudo era uma continuação, como se a perversidade da mãe fosse a semente que brotou no coração da filha.

Belladonna ao perceber o olhar de Doralice falou:
- Esta com medo? Medo de mim? Não foi você que a vida toda me desconsiderou? Sua maldita cadela! Porque me olha desse jeito?

Doralice arfou pela dor da costela partida, em meio a gemidos disse:
- Eu tenho nojo de você! Sua mãe matava crianças para se manter jovem mas ela teve a decência de poupar os dois filhos, ja você é uma desgraça pior que ela pois nem o sangue do seu sangue poupa!

Belladonna passou as mãos pelos cabelos mostrando uma grande impaciência:
- Não me faça perder tempo, vai querer contar como minha mãe morreu de novo? Quer que eu sente e escute toda a ladainha estúpida da "Roda das Princesas" de novo? Eu não tenho mais tempo para frivolidades bobas e suas opiniões não valhem de coisa alguma! Diga de uma vez onde está a criança!

Doralice sorriu e antes de Belladonna perceber ela pegou o cetro, apontiu para ela e gritou alto:
  - Mukhauta hataen!

Uma onda de choque correu pelo corpo de Belladonna, "mukhauta hataen" significa "remova a sua máscara" em hindu, feitiço que desfaz as magias de aparência. Belladonna ostentava a aparência bonita e jovem por conta de inúmeros feitiços acumulados e principalmente por conta do fio de cabelo de Samyaza que ela havia ganhado e absorvido, mas o contra feitiço fez tudo isto passar, foi revelada a real aparência de Belladonna. A pele dela se soltou como uma capa frouxa, ela era velha, grisalha com o cabelo ralo e cheia de profundas marcas de velhice, os seios já murchos deixaram os bojos do soutien vazios, a pele cheia de veias esverdeadas e moles no pescoço e as nádegas caidas a fizeram ridícula naquela roupa tão justa, e por conta dos joelhos fracos ela não suportou os sapatos de salto e caiu sentada no chão.
Ao cair ela olhou para as próprias mãos e não acreditou, nem ela mesma sabia como era de verdade e ao ver as manchas e as unhas que se esfarelavam sentiu nojo de si mesma. Não parecia simplesmente velha como uma idosa qualquer, não, e sua real forma era como de uma leprosa.
Ahiliel correu para ajudar ela a se levantar, e assim que a pôs em pé ela se mirou em um espelho preso a parede e o que viu a deixou alucinada, a velha decrépita e moribunda que era.
Ela fitou para Doralice com olhar inquisidor, mas Doralice respondeu:
  - Esta querendo se comparar comigo? Impossível! Eu tenho trinta anos a mais que você, mas eu nunca usei magia negra, eu sou uma idosa absolutamente normal e tenho orgulho das minhas rugas, já você é apodrecida pela sua própria maldade, bruxa das trevas! Puro cliché! Padrão de bruxa no fim de carreira, está idêntica a muitas que ja vi sendo comidas vivas pela iniquidade que transborda! Eu posso sentir o cheiro de carne putrefada que sai do seu corpo em frangalhos. Mumia nojenta, nojenta! Tire os olhos de mim! Olhe para o outro lado, esta revirando o meu estômago esses seus olhos amarelados doentes me encarando!

Belladonna apertou a mandíbula de ódio mas com a força um dos dentes quebrou caindo no chão aos pedaços.
Tentou falar alguma coisa mas o som que saiu de sua garganta foi rouco e fraco e instintivamente ela levou uma mãe a garganta, mas quando seu tato confirmou que a pele estava descolando da carne ela ficou furiosa. Cheia de ódio vibrou a colher de pau na direção de Doralice que ainda estava caída no chão e com esforço falou com a voz rouca e fraca as palavras "sikin 'aemaa", e então dois cortes se abriram nas coxas de Doralice amputando as duas pernas por completo.
Os sangue jorrou como uma cachoeira, os berros de agonia de Doralice davam prazer aos ouvidos de Belladonna que gargalhava.
Ahiliel olhou cena grotesca com espanto, puxou Belladonna pelo braço e falou:
  - O que é isso? Não era para ser assim, pare de exageros!

Belladonna puxou o braço de volta e disse:
  - Exagero? Olhe o que ela fez comigo! Eu vou arrancar pedaços dela a noite toda, ela merece.

Ahiliel eu disse:
- Pare com isso já! que coisa mais absurda! Olha a situação, você acha que isso não vai chamar a atenção?

Nesse instante a janela do quarto explodiu em mil estilhaços e Uriel entrou pousando sobre a cama no meio do aposento com as asas abertas e a espada na mão parecendo um tanto desmazelado.
Ahiliel olhou para ele com medo, não o reconhecendo perguntou:
  - Anjo? Não se meta, isto é assunto de Samyaza, não se...

Uriel respondeu:
  - Cale a boca sua andorinha burra.  

Ahiliel reconhece a espada que Uriel segurava:
  - Ni... Nihaya? É a Nihaya de Miguel?
 Uriel respondeu:
  - Quer Provar?

Belladonna de imediato o reconheceu, a aparência estava distinta mas a presença era a mesma. Ela disse:
  - Uriel... Como você está bonito...

Ele olhou para ela e mediu de cima abaixo, perguntou:
  - Mas quem é a senhora? Me parece familiar mas não me lembro de ter conhecido alguém tão... sofrido.

Belladonna apertou as mãos e disse:
  - Não se faça de tolo.

Uriel desceu da cama e foi até Doralice, pegou ela no colo mas quando a suspendeu as duas pernas rolaram pelo chão. Ele a colocou na cama, ela tremia e chorava, mas ainda assim ela se agarrou ao pescoço dele e cochichou no ouvido:
  - Em baixo da cama.

Uriel entendeu, soltou ela e pegando a espada com força apontou para Ahiliel e Belladonna dizendo:
  - Ou partem daqui agora ou eu terei de matar os dois.

Belladonna franziu a testa, pegou a colher de pau e lançou um feitiço, mas Uriel com um abano de mão cancelou a magia. Os poderes que ele tinha conseguido restaurar o deixaram muito forte, mas somado com os poderes que ele acabara de absorver de Jacqueline o deixaram imune a magia simples, Belladonna não lhe podia ferir.

Ahiliel puxou o braço de Belladonna e falou firme:
  - Vamos embora, já! Nós não temos mais nada para fazer aqui vamos embora de uma vez não vê que já é tudo perdido!

Beladona respondeu:
- Mas samyaza vai nos castigar se voltarmos de mãos vazias.

Ahiliel respondeu para ela compressa:
- Não interessa melhor irmos encarar uma punição do que ficarmos aqui e perdermos nossa vida! Não vê que ele não está brincando? Vamos já!

Belladonna deu dois passos para trás e falou:
  - Isso não acaba aqui! Eu vou ter o que eu quero custe o que custar!

 Uriel respondeu:
- Você não quer nada, você não passa de uma marionete nas mãos de Samyaza e eu não tenho tempo nem paciência para perder com você agora. Saia daqui imediatamente! Uriel bateu com o cabo da espada com força em uma escrivaninha ao lado e o som da madeira se quebrando deixou Belladonna temerosa. Ela foi andando para trás sem se virar ainda encarava Uriel quando conseguiu entrar dentro do quarto pelo qual tinha saído. Rapidamente voltou para dentro do espelho e desapareceu junto com Ahiliel. Uriel se voltou rapidamente para cama e viu Doralice já se esvaindo, ela não iria durar mais muito tempo, aliás a luz de seus olhos já estava a se apagar. Com pressa ele foi até ela e disse em voz plenamente audível:
- Ou você morre agora e eu fico sozinho com a criança ou você fica e me ajuda a proteger ela. Sozinho eu não consigo e o único jeito de você permanecer é eu te dando o mesmo que Samyaza deu para Belladonna.

Doralice assentiu anuindo, então Uriel arrancou da cabeleira ruiva um fio de cabelo e amarrou no pulso direito de Doralice em seguida pegou as duas pernas que jaziam frias no chão e encaixou novamente nos tocos de coxa que jorravam sangue. Arrancando mais três fios de cabelo ele amarrou um no outro pulso e uma em cada tornozelo dela então pegou a espada me Raia e com a ponta abriu um corte na própria mão fazendo um líquido viscoso dourado escorrer derramou este sangue sobre as feridas causadas pela amputação das pernas e de imediato as partes amputadas começaram a se integrar ao corpo.Doralice berrava era notório que aquele processo estava causando uma dor eo sofrimento gigantesco mas não havia nada que pudesse amenizar, não era simplesmente um ritual de rejuvenescimento, aquilo era uma restauração completa de vida já que Doralice não precisava de beleza, ela precisava de saúde e de resistência. Os fios de cabelo atados aos membros foram absorvidos pelo corpo então sua carne começou a tremer com espasmos violentos e tudo nela pareceu ficar vermelho pois a sua pele estava praticamente pegando fogo por dentro como se seus músculos fossem envoltos por lava. Uriel pegou novamente a espada e com cuidado fez duas incisões próximo as clavículas e ali dentro das feridas abertas verteu pouco mais de seu sangue Dourado para dentro do corpo dela foi então que o suplício pareceu piorar e ela levou as mãos a garganta apertando com força indicando que havia dor ali em seguida passou as unhas pelas bochechas arranhando a face criando vínculos e vergões, era uma cena pavorosa. Uriel não podia fazer nada além de observar esperar, apos alguns longos minutos todo tormento cessou a pele que antes estava totalmente avermelhada se clareou, as rugas foram sumindo tal como as estrias e manchas de idade, os dedos dos pés com unhas amareladas se renovarão mostrando Belas unhas rosadas sinal de saúde as costas das mãos que antes possuíam diversas manchas marrons ficaram de um tom pleno de pêssego e os dedos das mãos afinaram, o pescoço se enrijeceu e toda a pele que sobrava se esticou, o rosto ficou firme os lábios rachados e secos se inflaram de modo a criar volume, as bolsas embaixo dos olhos e as profundas olheiras também desapareceram, as Íris cansadas deram lugar grandes pupilas verdes e o cabelo curto e totalmente grisalho pareceu se alongar e se tornou do loiro escuro mais brilhoso que já se viu, a transformação durou cerca de um minuto e quando acabou ali na cama estava agora deitada uma Doralice que aparentava ter pouco mais de 20 anos de idade.
 Ela demonstrou dificuldade em se movimentar, ainda tremia. Uriel a ajudou a se sentar e disse para ela:
- Tenha calma, calma, você precisa se acostumar com o seu corpo.

Ela falou e a sua voz pareceu suave e intensa muito diferente da voz rouca de ancião que tinha a poucos instantes:
- Me acostumar com meu corpo novo? Me parece um tanto difícil.

Uriel respondeu:
- No caso se acostumar com o seu corpo velho, isso que aconteceu foi uma total regressão, você não foi transformada em alguém diferente Enem evoluiu para canto algum o que ocorreu foi que você voltou a ser quem era no passado, não é um corpo novo e sim o seu.

Doralice ficou de pé com dificuldade e se olhou no espelho avaliando cada centímetro do que via, passou a mão pelos longos cabelos examinou as orelhas com as pontas dos dedos olhou bem para as unhas chegou até mesmo a erguer a camisa para observar a pele da barriga, apalpou os flancos e observou as pernas que momentos antes haviam sido arrancadas dela mas agora pareciam firmes e saudáveis como a de uma atleta. Tudo parecia muito bem, tudo parecia perfeito e mesmo estando muito bonita e saudável Uriel percebeu que havia uma nota de reprovação em seu olhar.
Ele perguntou por que:
- Porque se Olha dessa maneira? Não gosto não gostou do que viu?

Ela respondeu com calma ainda se mirando no espelho:
- Não é questão de gostar ou não, a questão é das memórias que essa aparência traz, eu havia me esquecido de como sou parecida com as minhas primas.

Uriel perguntou:
- Primas? Mas que primas? Que assunto é esse justo agora?

Doralice rependeu:
  - Arlete e Sarana. Arlete foi minha melhor amiga, e Sarana você sabe quem é, foi minha prima mãe de Belladonna, pois é eu sou a cara dela e me olhar no espelho me traz péssimas recordações.

Uriel tocou no ombro dela e disse:
 - Não é porque se parece com ela que você é ela, não se culpe e nem tem de reviver o passado temos muito do que se ocupar agora aliás aonde está o bebê? Doralice olhou para ele falou:
- Nossa no meio de tanta confusão praticamente havia me esquecido eu coloquei embaixo da cama, se lembre que sussurrei no seu ouvido, ele está junto com uma menina.

Uriel perguntou:
- Que menina?

Doralice falou:
- Quando cheguei aqui ela estava dormindo na cama, deve ser filha do casal dono desta casa mas creio que não estão mais vivos. Eu senti Belladonna fazer um feitiço de morte no quarto ao lado e desde então mesmo com todo nosso alvoroço nenhum sinal de vida foi ouvido de lá.
Uriel olhou para o corredor, ficou um momento calado e então respondeu:
- Com certeza estão mortos.

Ele se abaixou e com a delicadeza de diminuir o volume da voz falou:
- Estou vendo os dois aqui, mas o que vamos fazer com essa menina?

Doralice diz:
- Não sei o que vamos fazer com ela no futuro mas por enquanto devemos levar conosco, não vai ser bom deixar ela aqui sozinha no meio de tanta desgraça.

Uriel puxou os dois de debaixo da cama a menina parecia dura como pedra pelo efeito do Feitiço de obediência. Ele disse:
- Sim sim, vamos levar ela, afinal se deixarmos ela aqui e Belladonna voltar com certeza ela será morta. Mas vamos nos apressar, nós temos que voltar para onde estávamos para sua casa lá devo realizar o feitiço de desmembramento e ele tem que ser feito o quanto antes pois eu não acredito que Belladonna e Samyaza irão sossegar, logo ela estará de volta e o meu maior medo é que não volte sozinha, sei que Samyaza anda sempre acompanhada do pior tipo de ser que existe por isso precisamos camuflar essa criança rápido.

Doralice caminhou pelo quarto e em uma pequena estante de brinquedos encontrou uma "lousa mágica" (brinquedo comum na decada de 1980) onde estavar escrito em letra cursiva torta o nome Ariana. Ela então saiu porta a fora e entrou no quarto do casal que jazia morto na cama, vasculhou alguns armários e encontrou os documentos da criança, certidão de nascimento e tudo mais, o nome da menina de fato era Ariana, apanhou tudo evolto para junto de Uriel.

Ele a olhou com os papéis nas mãos e disse:
  - Para que estes papéis? Tenciona ficar com a menina?

Doralice respondeu:
  - Você sabe o que vai acontecer, sei que sabe. Eu precisei enfeitiçar ela e os pais dela foram mortos por magia. A semente foi plantada.

Uriel olhou para a menina ali imóvel e falou como quem recitar um texto decorado:
  - Toda mulher que mesmo não tendo predisposições a Magia e Bruxaria, ao provar dela antes dos doze anos fermenta dentro de si o força tem grandes chances de se torna uma Bruxa.

Doralice arfou cansada. Respondeu:
  - Sim, não é uma regra Inviolável mas existe uma grande chance dessa criança ter sido estragada. Se um feitiço comum pode fazer dela uma bruxa, o fato de esta noite ela ter sido enfeitiçada, ter passado um bom tempo abraçada a um bebê de caráter sobrenatural, ter recebido a energia do feitiço que Belladonna usou para matar os pais dela e ter estado em baixo da cama onde houve o rito do meu rejuvenescimento...

Uriel disse:
  - Ela será bruxa sim, não ha dúvidas, é demais para uma criança.

Doralice falou:
  - Eu creio que é de minha responsabilidade dar assistência a ela. Pelo que percebo deve ter entre oito e nove anos de idade, então eu vou conversar com ela tentar explicar as coisas e ver como é que fica.

 Uriel falou:
- Entendo e não sou contra que fique com ela, mas a averigüe bem e por via das dúvidas eu acho melhor só libertar ela do feitiço de obediência mais ter de quando chegarmos na sua casa e finalizarmos o que temos fazer lá.

Doralice perguntou:
- Certo, mas como vamos fazer para chegar lá?

Uriel respondeu:
- Eu creio que nós estamos em São Paulo, pelo caminho que fiz parece aqui é meio zona norte meio zona oeste da capital.

Doralice fez uma expressão de desgosto e falou:
  - Quer dizer que eu quase morri em Pirituba?

Uriel riu e falou:
  - Quer dizer que Madre Doralice de Calcutá tem preconceito com o bairro? Nunca pensei.

Doralice abanou as mãos e falou:
  - Não, eu não tenho preconceito, eu ja morei aqui e o que tenho é más recordações. Quero logo ir embora, mas onde nós iremos arranjar um transporte eficiente?

Uriel deu de ombros, pegou as duas crianças no colo e saiu para o corredor raspando as asas nas paredes, Doralice foi logo atrás e eles desceram a escada, ao passar pela sala principal viram próximo à porta um grande porta chaves em forma de peixe onde a chave de um carro estava pendurada, Uriel apanhou rapidamente e saíram da casa. Na garagem encontraram um Opala vermelho, Uriel abriu a porta colocou as crianças no banco de trás Doralice sentou junto a elas, então naquele Opala foram embora rumo ao interior do Rio de Janeiro onde Doralice morava.

Durante a viagem ela perguntou:
- Não é muito arriscado nós estarmos usando o carro de um casal que acabou de ser assassinado?

Uriel falou:
- Não, não é nada arriscado Doralice, porque tudo vai sumir inclusive você, assim que nós acabarmos o que temos que fazer na sua casa nós devemos destruir a casa e usar de feitiços para que tudo desapareça e não exista nenhum rastro o traço que você esteve lá, em seguida nós devemos ir embora para longe.

Doralice Perguntou:
- Mas ir embora para onde? Para onde nós iremos?

Uriel respondeu:
- Nós temos que ir em muitos lugares Doralice, nós vamos rodar esse planeta inteiro temos muito a fazer você vai entender, logo você vai entender. E de todo modo temos de te arranjar um novo sobrenome, novos documentos, afinal você está jovem e ninguém irá acreditar que é uma idosa quase centenária.

A viagem foi rápida, cerca de uma hora e meia já que Uriel não tinham hábito de respeitar as leis de trânsito.
Chegando na casa eles desceram do carro e Doralice viu um pouco da destruição na rua e o cheiro de queimado era forte devido a luta que Uriel teve com Jaqueline.

 Doralice perguntou:
- O que aconteceu com a Mambo?

Uriel respondeu:
- Com muito custo eu consegui derrotar ela.

Doralice arregalou os olhos e perguntou:
- Você matou ela?

Uriel respondeu:
 - Não houve outra maneira, ou matava ou morria.

Doralice falou:
- A isso é mal isso é muito mal, eu nunca soube de nenhuma Mambo ter sido morta por ninguém que não fosse também Mambo. Elas vão retaliar.

Uriel respondeu:
- Vamos nos ocupar com um problema por vez.

Doralice parou de chofre e puxou o pulso dele, Uriel se virou e olhou para ela e perguntou:
- Oque foi? Algum problema?

Doralice respondeu:
- Eu acabei nem te agradecendo... Muito obrigado pelo que fez por mim.

Uriel respondeu:
- Não precisa agradecer, você irá me ajudar bastante, e outra coisa, não pense que você será Imortal pois a minha magia não é tão eficaz quanto parece. Eu não te concedi tempo além do natural, apenas renovei sua saúde.

Doralice anuiu, falou:
- Sim eu compreendo, eu não poderei ultrapassar os 120 anos não é? Pela lei da vida humana mas mesmo assim eu agradeço imensamente, significa que eu tenho pouco mais de vinte anos para ajudar você e este bebê e em vinte anos talvez eu possa fazer muita coisa.

Uriel Falou:
- Sim você vai sobreviver até a virada do milênio, isso é motivo de comemorar não é?


Doralice sorriu para ele e os dois entraram na casa. Ela conseguiu abrir a porta com a sua chave especial e os levou de volta para uma parte do passado naquela mesma residência de antes. Ali dentro Estavam todos os elementos químicos do qual o Ariel precisava e que havia recolhido durante os dias , sem pestanejar ele colocou as duas crianças deitada em uma cama enquanto Doralice fazia um feitiço para incinerar o cadáver do dono da casa que já estava putrefado e exalando um forte cheiro de carniça.
Uriel fez todos os preparativos, desenhou novamente símbolos no chão do quarto então dispôs todos os elementos em volta dos desenhos em seguida pôs cem velas dispostas em tordo de um pequeno círculo e colocou a criança filha de Betânia ali no meio delas ainda apagadas.

Assim que Doralice chegou Uriel falou:
- Vou começar esse pré ritual para descobrir em quantas partes eu posso dividir a alma desta criança.

Doralice perguntou:
- Existe um número certo de partes a serem separadas?

Uriel respondeu:
- não nunca se sabe por isso é preciso fazer o rito das velas para saber quantos elementos existem nessa criança, so assim saberei o que ela possui e então posso repartí-los separando cada pedaço e os isolando. Pegue ali a minha espada por favor.

Doralice pegou a espada que estava apoiada na parede e deu na mão de Uriel, e ele sentou de pernas cruzadas como um monge tibetano diante do círculo de velas onde o bebê estava. Com o cabo da espada fez fricção no piso de madeira até formar a escrita Nihaya em árabe ( نهاية), e com uma ladainha lenta começou uma reza na língua dos anjos. Após pronunciar poucas palavras imediata a criança que era tão calada desde seu nascimento começou a chorar, e o choro era como de um adulto. Uriel não parou a reza, e então a criança abriu os olhos mostrando grandes pupilas vermelhas que revelavam um um ar de malícia e maldade.

Doralice se aproximou tentando colocar uma mão sobre o peito do bebê para acalma-lo mas a criança virou os olhos na direção dela e Doralice sentiu um medo que nunca havia sentido em sua vida, e recolheu a mão. Ficou claro que aquela criança não era normal havia algo de muito errado com ela.


Uriel olhou para ele que parecia ao mesmo tempo pequeno e frágil mas também vil e diabólico, então falou para Doralice:
- É melhor não tocar nela, já que não sabemos qual é a sua real natureza.

Doralice abriu a boca para responder mas foi tomada de um grande terror quando ouviu a voz da criança que respondeu em uma voz limpa e clara com a dicção de um adulto:
- A minha natureza não é de sua conta afinal não foi do teu ventre que eu nasci, e mesmo se fosse a sua carne a minha origem eu creio que não poderia arcar com a minha real natureza.

Uriel virou a cabeça e olhou a criança incrédulo de que era ela que falava, tinha apenas dias de vida e até aquele momento nunca tinha esboçado som algum. Os olhos da criança piscaram lentamente e sua pele preta como carvão diamantado reluziu como se houvesse uma luz que vinha de dentro.

A criança contunou dizendo:
- Você me trata como se eu fosse qualquer coisa diferente do que realmente sou, pura tolice.

Uriel ainda incrédulo perguntou com a voz fraca e gaguejando:
- E o que você realmente é?

 A criança respondeu:
- Sou alguém que voltou após muito tempo ausente.

Uriel pegou a espada e na apontou a lâmina dourada no peito do bebê, perguntou com ferocidade:
  - Diga seu nome!

A criança levantou as bochechas em um sorriso pavoroso, haviam pequenos dentes pontiagudos encrustrados na gengiva arroxeada. Ela nada disse, mas ergueu a minúsculas mão e tocou na lâmina, de imediato a face espalhada do metal reluziu e a escrita árabe شرير ملعون ficou nítida.

Uriel leu e seus olhos se arregalaram, engoliu em seco e falou:
  - Você é Sharir...

O bebê falou se regozijando ao ouvir o próprio nome:
  - Sim sou eu Sharir Malaun, e após mais de dois milênios eu retornei.

Doralice soltou um grito de pavor, a criança virou o rosto para ela e disse:
- Não tenha medo mulher, não farei nada com você que você não mereça.

Uriel perguntou para ele:
- Se sabe falar porque só agora fala?

O bebê abaixou os olhos que faiscavam e encarando Uriel disse:
- Eu não devia estar falando pois devia crescer com este corpo passo a passo até estar forte. Meu corpo tem metade de carne humana pois esta minha encarnação é filho de uma mulher, nasceu de um útero como bem sabe ja que fez o parto. Então eu deveria crescer e só começar a balbuciar daqui a pelo menos um ano, e so realmente falar com perfeição daqui a cinco anos. Mas percebi o que tenciona fazer e não me agrada, por isso tive de usar meus poderes para acelerar o processo de comunicação.

Doralice olhava pasma para a criança recém nascida falando como um homem adulto. O bebê fitando Uriel continuou:
- O Deus que te criou foi quem me baniu juntamente com todos os outros iguais a ele. Todos os meus irmãos. Eu sou um Deus Supremo também e já fui lider do meu próprio panteão.

As mãos juriel tremiam e sem querer ele deixou a espada cair fazendo um ruído estrondoso no chão. Ele perguntou:
- Você é irmão de Elohim?

O bebê falou:
- Sim sou irmão dele, de Olodumare, de Odin, de Rá, de Brahma, de Mawu-Lisá, eu sou irmão de todos eles, poderia dizer que sou o caçula.

A criança riu mostrando pela primeira vez um tom infantil no som do riso.Uriel perguntou:
  - Mas como é possível? Se é um Deus Supremo, um maioral, como pode estar aqui diante de mim no corpo de uma criança?

O bebê falou:
- Eu sou o último, aquele que veio para acabar com tudo. O Universo é uma força que fez tudo, é a grande massa que gerou os deuses supremos e estes mesmos usaram o universo como massa de modelar para criar as coisas das quais se intitulam donos. Então o Universo, também chamado Caos, criou um último Deus que tinha a missão inversa, este não iria criar e sim destruir. Este fui eu.

Uriel perguntou:
  - Mas porque só veio agora?

O bebê respondeu:
  - Não tive opção. Quando eu fui banido eu so poderia voltar através de uma centelha divina, ou seja, sendo uma criação divina dos meus irmãos ou dos deuses menores criados por eles. Mas todos os deuses Supremos comandantes de seus panteões armaram todo o enredo que me impedia de existir já que eles sabem que eu sou o único que pode destruir tudo o que eles fizeram inclusive sou o único que pode destruí-los. Dois mil e quinhentos anos atrás todos os deuses foram removidos da terra em forma física, todos recolhidos ao céu, e até mesmo aqueles que eram inimigos dos Deuses como Samyaza foram impedidos de procriar, e tudo isso para impedir que eu voltasse.

Uriel falou:
- Mas não... Não é possível... Pelo que eu sei você é filho de Legbá com uma mulher mortal, mas...

O bebê riu e disse:
- Todos os deuses se recolheram e pararam de formar crianças, nunca mais houve semi-deuses desde o meu banimento pois aquela mulher maldita de nome Freya teve uma visão do que eu voltaria, de que viria novamente para realizar aquilo que eu fui destinado a ser, ela sabia que o meu retorno se daria a partir do corpo do filho de uma feiticeira estragada e um Deus. E foi exatamente o que ocorreu. devo admitir que com um certo atrasado, eu pretendia voltar muito antes porém meus irmãos somente relaxaram a vigilância agora.

Uriel falou:
- Eu não entendo. Não compreendo o que está acontecendo aqui.

Doralice disse:
- Ele é sharir... Não conhece a lenda Uriel?

Uriel respondeu:
- Conheço, todos, absolutamente todos os que estão envolvidos com o mundo espiritual conhecem a lenda do Deus Sharir pois ele é o Deus do fim, aquele que o universo criou para exterminar tudo e todos. Mas como você bem disse Doralice, é uma lenda, os Anjos não tem memória deste fato, pelo menos eu não.

O bebê respondeu:
- Exatamente, sou uma lenda porque os meus irmãos quiseram me apagar da história, e eliminaram qualquer menção ao meu ser. Como eu já disse, fui como eles e tinha meu próprio panteão de Deuses, Templos em minha adoração, uma religião em meu nome. Tudo foi destruído por eles no intuito de que os humanos nunca soubessem que eu existi.

Uriel então perguntou:
- Mas Samyaza, ela trouxe você a vida, o que levou o seu nascimento é partir de um plano dela e ela fez isso apenas para extrair a sua energia em prol de seus próprios planos e projetos. Ela não sabe o que fez...

O bebê respondeu:
- Aquele ser Samyaza me cultua em segredo há muito tempo, foi uma das únicas que guardou memória de mim. O que ela fez não foi para si mesma, o que ela planejou nunca foi ter mais filhos como se pensava e sim o desejo que ela tem é que eu volte e cumpra aquilo que eu devo fazer. E eu farei.

Uriel horrorizado falou:
- Não fará!

O bebê riu novamente debochado e disse:
- Ora essa, para começar, tudo que você fez não foi para me proteger? Não jurou aquela mulher que me deu à luz que iria garantir a minha sobrevivência? Iria me proteger da mãe dela aquela bruxa estúpida agora pretende fazer o quê? Mudou seus planos e em vez de me proteger me destruirá? Você é muito contraditório.

Uriel olhou para Doralice e perguntou:
- O que eu faço agora?

Doralice olhou para bebê por um momento e analisou com cautela, depois dirigiu o olhar a Uriel e falou:
- Prossiga. Você não iria dividir a alma dele para que fosse difícil de ser encontrado? Então faça isso e desta forma ele mesmo não poderá se encontrar. Fragmente a alma e ele ficará sem forças para agir e principalmente ficará inconsciente, nisso nós poderíamos ganhar tempo.

O bebê virou os olhos assustadores para Doralice, as pupilas vermelhas pareciam ainda maiores, ele estava com raiva. Falou:
- E você acha mesmo que um desmembramento na minha alma iria durar quanto tempo? Mesmo se vocês me separarem, mesmo se me retalharem e me dividirem como querem fazer, isso não impedirá nada pois só o fato da minha existência neste mundo já me torna forte e com isso as coisas que estão predestinados a acontecer acontecerão.

Doralice respondeu:
- Sim não tenho dúvida de tudo que a sua energia causa acontecerá, mas se você estiver repartido será em menor escala não é mesmo? Então Uriel, prossiga.

Uriel anuiu, se pôs em pé e pegou o cabo da espada, apontou novamente para criança e disse:
- É o que irei fazer.

O bebê suspirou com ar de aborrecimento e falou:
- Eu sou o que sou. Eu sou o grande Deus Supremo Sharir... Mas não serei hipócrita em dizer que posso impedir vocês de fazerem o que quiserem comigo. Quando eu fui exilado por meus irmãos eles tomaram providências eficazes de que minha força seria brutalmente reduzida, e de fato se eu continuar nessa forma meio humana que tenho agora ainda demoraria uma década para que todo o meu poder pudesse ser regenerado. Estou fraco, tenho em uma uma porcentagem inferior a metade de um porcento do que ja fui, mas mesmo fraco eu te devolvi os poderes que lhe foram tiradas Anjo e ainda acrescentei mais, com isso imagine quando eu estiver em cem por cento? Na minha atual condição ainda não tenho como te impedir Então se quer fazer faça. Eu já esperei milênios banido nos confins do nada agora que estou aqui não tenha pressa e se eu precisar reunir as partes do meu ser pouco a pouco novamente eu farei. Talvez seja até divertido afinal em tudo o que eu faço existe a destruição e se você for me dividir cada parte minha leva comigo a desgraça... então me espalhe pelo mundo e veja no que dá.

Doralice falou com Uriel:
- Não escute o que ele diz, faça o que tem de fazer.

Uriel vibrou a espada no ar e ao abaixar apontou no rosto da criança, começou a entoar uma ladainha na língua dos anjos que era algo como Uma cantiga trêmula, então as velas que estavam apagadas começaram a se acender uma a uma e toda vez que uma se Acendia bem aos pés dela uma pequena inscrição aparecia enegrecido como se houvesse queimado o assoalho arroba
Uriel leu cada uma:
  - Má-ân, Harikun, Ardí, Riahon, Shihaaon, Douon, Zala-amon, Ruhon, Saharon, Wakter, Syd, Aistebsorun, Shifaon, Darar, Inkaron, Hayará, Elmootul. Ao todo dezessete partes.

Doralice falou:
  - Esses nomes são elementos em Árabe não são?

Uriel disse:
  - Sim são.

- AAAAAAAAAAAAAA!

Uriel e Doralice rapidamente viraram o rosto para o fundo do quarto quando ouviram um berro em voz infantil, era a menina que acabara de se libertar do feitiço e estava ali diante do Anjo, da bruxa e do bebê receptáculo de Deus Sharir.

Doralice correu até ela e a abraçou dizendo:
- Ariana, se acalme, esta tudo bem.

A menina tinha o rosto lívido, aos berros ela falou:
- Onde está a minha mãe? Onde está meu pai? Quem é você? Que lugar é esse?

Doralice tentou explicar mas o bebê gritou de módulo estridente:
- Feiticeira não encoste nesta menina! Não use de sua magia porca nela!

Uriel olhou para o bebê sem entender e perguntou:
- O que tem com ela? O que tem com a menina?

O bebê disse agora com a voz comedida:
- Bem, eu vejo que o seu plano irá se cumprir e que você me retalhará. Porém como pode ver, tudo copera para o meu retorno.

Uriel perguntou:
- O que seu retorno tem haver com essa menina? Ela não é filha de feiticeira, e se viver a ter poderes serão fracos, ela não o ajudará em nada.

O bebê ergueu as bochechas em um sorriso exibido as gengivas onde dentinhos afiados ja eram bem visíveis:
- Eu ja disse Anjo, eu quando era um Deus Supremo possuia meu próprio panteão de Deuses. Como retornei, eu devo plantar novamente a semente para que meu panteão renasça.

O bebê levantou uma de suas mãozinhas e com um dedinho gordo apontou para a menina que estava sendo abraçada por Doralice, então com uma voz chiada como um grunido disse as seguintes palavras em árabe antigo:
- azarao fik albuzura. Hi satakun iilheat al'uwlaa lbanthiun almustaqbal , wa'ana 'ahasib lak aleatsh lildum. masas damma'! kahafaash!

A menina ficou branca, pálida como neve e seus lábios se tornaram vermelhos como se todo o sangue de seu corpo estivesse derretendo para lá, ela revirou os olhos e caiu desfalecida por um momento, mas rapidamente se recobrou berrando enlouquecida e tendo fortes espasmos como uma epilética.

Doralice gritou:
- O que fez com ela seu mostro?!

O bebê disse:
- A primeira das minhas esta criada. Esta sera uma valiosa arma. E não se faça de desentendida, você sabe muito bem o que kahafaash significa.

Doralice abraçou a menina tentado conter o ataque que ela sofria, disse:
- Não! Não é possível! Kahafaash é só uma lenda, até as Bruxas sabem que não existe! Kahafaash... Eu não creio nisso! Uriel faça logo! Antes que ele cause mais problemas!

Uriel fitava a menina se retorcendo como se estivesse a ponto de se quebrar, então se virou para encarar o bebê e perguntou:
- Kahafaash? kahafaash como uma Vampira?

O bebê falou:
- Mais ou menos, o que se conhece atualmente sobre kahafaash ou como você disse Vampiras é muito diferente do que realmente é, afinal tudo o que vocês sabem são lendas tolas ou casos onde se alimentar de sangue foi escolha e não necessidade. Esta menina sim é a minha primorosa recriação, será a minha kahafaash.

Uriel apertou a ponta da espada no queixo do bebê ate que um filete de sangue negro como petróleo escorreu pelo curto pescoço, entre os dentes disse:
- Desfaça.

O bebê respondeu:
- Não.

Doralice berrou novamente ao fundo do quarto:
- Rápido Uriel! Faça!

Uriel tomou fôlego e ergueu a espada para cima apontando para o teto e fechou os olhos, nisto os vários elementos químicos espalhados pelo quarto começaram a vazar das caixas e saco, as válvulas dos botijões e cilindros das substâncias gasosas arrebentaram e tudo fluía para o teto girando em espiral. Todas as substâncias juntas tomaram um brilho arroxeado que mais parecia uma constelação vista ao longe.

(Continua)


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