Médium Diva Belladonna Episódio 9 parte 1




Médium Diva Belladonna




Primeira Parte do Capítulo Final
"Desmembramento"





O hotel de beira de estrada era muito mais sujo do que Jacqueline estava acostumada.
Muita gente pensava que o Haiti era um país miserável, mas havia bons hotéis em Belle-Anse. Ao entrar no quarto ela logo procurou o banheiro e ficou mais decepcionada ainda o ver os rejuntes dos azulejos cafonas pretos de sujeira. Ela tomou um banho quente demorado, se recusou a usar as toalhas encardidas que estavam sobre a cama e se secou fazendo por meio de sua magia o corpo esquentar até as gotas de água ferverem e evaporarem sobre a pele. Um pouco mais descansada ela ligou para a recepção pedindo lençóis limpos, e mesmo que a recepcionista insistisse que os lençóis ja haviam sido trocados ela teve de mandar a arrumadeira troca-los de novo.
Jacqueline estava no rastro do Mustang preto que pertencia a Belladonna, ela sabia que aquele era o carro usado na fuga, mas não sabia quantas pessoas tinham fugido junto com Betânia. Toda a madrugada ela rodou com sua Harley Davidson cantando pneus pela estrada, acelerou a toda tentando. farejar o cheiro de magia no ar, mas seus poderes estavam ligeiramente enfraquecidos após causar a massiva destruição de uma mansão de quatro andares sozinha. A coluna de fogo que ela criou alcançou mais de quarenta metros de altura, foi poder demais, e ela estava preocupada se sua lider chamada Mama Azòndató a castigaria por ter sido tão desmedida.
Nenhum tipo de Bruxa gostava de estardalhaço, a existência de todas elas independente do tipo era secreta, e criar explosões de destruição em massa em um bairro residencial não era nada discreto.
Após rodar o máximo que pôde ela admitiu ter perdido o rastro. Decidiu parar no primeiro hotel que achou para dormir um pouco, comer e entrar em contato com sua lider.
De manhã quando acordou ela se vestiu com um macacão de couro brilhante preto inteiriço e uma jaqueta de motoqueiro de couro, nos pés um par de botas até os joelhos em couro de cobra escurecido com saltos quadrados e bicos redondos. Usou um lenço bem apertado sobre os seu Black Power para que as madeichas não fossem amassadas pelo uso do capacete de motocicleta. Sua pequena bolsa miraculosa fazia caber muito mais coisas que se poderia imaginar e assim ela levava muita trocas de roupas nela.

Assim que se levantou saiu do Hotel e foi até um telefone público na calçada da rodovia, então colocou uma ficha no aparelho telefônico e apertou o botão para falar com a telefonista.

A voz desanimada da telefonista falou do outro lado:
- Telesp bom dia, no que posso ajudar?

Jacqueline disse com seu forte sotaque francês:
- Por favor, preciso fazer uma ligação internacional, é para o Haiti.

A telefonista deu uma pausa demonstrando surpresa, então falou:
- Correto. haverá a necessidade de colocar novas fichas a cada um minuto.

Jacqueline respondeu educadamente:
- Tenho trinta fichas, não se preocupe.

A telefonista disse:
- Okay, então por favor digite o código do país e em seguida o número do telefone.

Jacqueline digitou 5-0-9 e depois 2-8-8-7-5-2-8 e enquanto estava apertando os botões suas longas unhas vermelhas faziam ruidosos "tec-tec" nas teclas de metal.

O som de chamada ecoou por alguns segundos até que uma moça com voz muito infantil atendeu dizendo:
- Bonjour, qui parle?
(Alô, quem fala?)

Jacqueline ia responder mas ouviu um som de batida do outro lado e em seguida a voz rouca de Mama Azòndató:
- Est-ce que Jacqueline va biem? J'avais envie de m'appeler.
(Esta tudo bem Jacqueline? Eu senti que iria me telefonar.)

Jacqueline limpou a garganta e respondeu:
- Mère, j'ai échoué. J'ai perdu la trace de la mère du bébé.
(Mãe eu falhei. Perdi o rastro da mãe do bebê.)

Mama Azòndató falou:
- Pour une femme déjà morte. L'enfant est déjà né.
(A mulher ja está morta. A criança nasceu.)

Jacqueline soltou um suspiro e perguntou:
- Comment dois-je procéder?
(Como devo prosseguir)

Mama respondeu:
- Cette vieille femme qui était enceinte d'elle, c'est une sorcière. Elle est faible mais habile à se cacher. J'ai envoyé mon oiseau pour vous aider à la projection. Attends-le. Bonne chance.
(Aquela velha que estava com a grávida, ela é uma bruxa. Ela é fraca, mas capaz de se esconder. Enviei meu pássaro para ajudá-la com a projeção. Espere por ele. Boa sorte.)

Jacqueline vendo quem Mama Azòndató iria desligar se apressou em perguntar:
- Suis-je autorisé à provoquer la destruction si nécessaire?
(Tenho sua permissão para causar destruição se necessário?)

Mama respondeu com a voz aguda:
-Si nécessaire, transformez le Brésil en un cratère, faites-le. N'y pense pas, j'ai .besoin de l'enfant. Quoi qu'il en soit, détruis-le et tue tout ce que tu veux, mais amène-moi l'enfant.
(Se necessário transformar o Brasil em uma cratera, faça. Não se pondere, eu preciso da criança. Faça o que for, destrua e mate o que quiser, mas me traga a criança.)

Jacqueline desligou o telefone se sentindo extremamente humilhada. Todas as trinta e duas Mambo se comunicavam através de telepatia, era muito simples conversar mentalmente, porém ela havia sido proibida de fazer tal coisa. Mama Azòndató havia deixado claro que ela era a mais fraca de todas e que por isso não deveria ficar na linha dos pensamentos das outras pois não era digna e assim devia enviar cartas ou dar telefonemas. A humilhação era ainda maior por ela mesma ter de informar ter perdido o rastro da mulher grávida. As Mambo se gabava se serem extremamente superiores as bruxas de pele branca, elas sempre diziam que este tipo de Bruxa era burra e fraca, elas não iriam gostar de saber que Jacqueline estava se portando como uma bruxa branca.

Ela deu meia volta e foi para o estacionamento no Hotel onde montou na moto e ficou sentada de braços cruzados por uma hora até avistar entre nuvens acinzentadas o abutre de Mama Azòndató voando em círculos sobre ela, então pôs o capacete, ligou a Harley e partiu no rumo que ele apontava.
Com certeza ela iria achar a criança.


No outro mundo o tempo passava de vagar demais.

Mas a regra já não era conhecida? Uma hora no mundo dos vivos equivalia a um dia no mundo dos mortos.
Samyaza andava pelo palácio imperdigada, gritando e açoitando os criados com um chicote de couro parecendo uma princesa mimada. De fato era mimada e arrogante ao extremo.
Dois dias se passaram, ou seriam duas horas? Era a mesma coisa.
Belladonna recebeu um quarto no último andar, o Oitavo pavimento cheio de aposentos grandes e luxuosos usados para visitas importantes, e Samyaza ficou muito contrariada em ter de por Belladonna no aposento principal mas não havia outra alternativa já que aquele quarto gigante e luxuoso era o único lugar do palácio onde havia um banheiro com privada. Anjos, deuses e espíritos não tem necessidades fisiologicas, quando se alimentam consumem tudo ate o fim sem desprezar nada, mas Belladonna estava viva e seu corpo de carne pelo menos uma vez ao dia carecia da Toilette.
O oitavo andar era o mais luxuoso, o próprio quarto de Samyaza ficava ali junto de tantos outros quartos enormes e os mais de quarenta cômodos completamente vazios.
Muito entediada após passar horas deitada olhando para o teto pintado de roxo escuro ela decidiu dar uma volta pelo palácio. Estava indo em direção a escada para descer quando viu no final do corredor algo estranho. Todo o palácio era impecável, era reluzente e tudo ali parecia novo e muito caro, porém havia uma única porta muito velha. a parede amarela dourada recentemente pintada parecia rejeitar aquela porta caindo aos pedaços.



Belladonna foi ate ela e viu uma escrita Runica em cima do portal, ficou irritada por nunca ter se dado ao trabalho de aprender essa linguagem.
Em pé diante da porta ela sentiu a curiosidade aflorar e pôs a mão na maçaneta, mas deu um pulo para trás quando ouviu um voz dizer "Saia já daí!".
Ela se virou e viu atrás dela no corredor o Anjo Ahiliel, pequeno serviçal de Samyaza.
Ela o olhou e um tanto constrangida disse:
- Me desculpe, eu...

Ele tinha um olhar calmo e complacente quando falou:
- Não querida, eu que peço desculpas por ter sido ríspido. É que se a Dona desta casa sonhar que qualquer pessoa entrou neste quarto... Há eu não quero nem pensar. Aconselho que não entre em nenhum cômodo a qual não for expressamente convidada, sobretudo neste.

Belladonna assentiu com cabeça e disse:
- Ah sim, eu entendo. Estes quartos devem estar cheios dos tesouros dela, novamente me perdoe.

Ele sorriu e disse:
- Todos os tesouros estão no primeiro pavimento do subsolo e no primeiro, segundo e terceiro piso. Nós não trariamos baús de ouro para o oitavo andar, seria um esforço desnecessário. Este andar, bom so tem dois quartos ocupados aqui, o da Dona da casa e o seu.

Belladonna curiosa perguntou:
- Mas então porque não posso entrar neste se não é ocupado?

Ahiliel falou em tom de voz baixo:
- Uriel nunca te contou?

Belladonna se sentiu um tanto mal ao ouvir o nome de Uriel, mas fingiu que estava bem. Ela perguntou:
- A que se refere?

Ahiliel apontou para as runa sobre a porta e disse:
- Sobre ele.

Belladonna falou:
- Eu não sei ler Runas.

Ahiliel sorriu e disse:
- Mesmo que soubesse não conseguiria. Nos anjos caídos há mais ou menos dois mil anos estamos usando as runas do nosso próprio modo, ou seja, damos outros significados a elas. A língua dos anjos não nos trás boas lembranças, por isso raramente falamos ou escrevemos nela, e preferimos as línguas humanas. O que está escrito ai é um nome, "Matiyah".

Belladonna se lembrou que uma única vez Uriel mencionara esse nome dizendo ter sido o amor de sua vida. Ela perguntou:
- Matiyah amante de Uriel?

Ahiliel balançou a cabeça e disse:
- Ele mesmo.

Belladonna perguntou:
- Mas ele morou aqui? Samyaza era amiga dele?

Ahiliel respondeu com surpresa:
- Você não sabia? Matiyah era filho da senhora Samyaza.

Belladonna se entristeceu. Entendeu que mesmo estando quatro décadas ao lado de Uriel ela não sabia quase nada sobre ele e que nunca quisera saber.
Ela respondeu:
- Nao sabia. Bom eu sei a história mas Uriel omitiu algumas partes.

Ahiliel disse:
- Faz muito tempo, nao sei quanto tempo mais, perdi a conta. Matiyah dormia neste quarto, e depois que ele morreu a Dona desta casa manteve o quarto trancado, só ela entra e quando os criados vem limpar ela supervisiona pessoalmente para que não adulterem nada. Esse quero virou algo como... Bom o rapaz morreu quando estava em forma desumana, o resto mortais dele não puderam ser preservados e ele não possuia alma então esse quarto se tornou o memorial dele. A Senhora Samyaza sempre diz que ele foi o filho perfeito e o que ela mais amou. Desde a morte dele ela vem tentando gerar novos filhos mas... meu Irmão Miguel a feriu usando a Espada matadora de Anjos e ela não conseguiu mais engravidar.

Belladonna perguntou:
- Porque chama Miguel de seu irmão e Samyaza chama de senhora? Miguel e Samyaza são ambos seus irmãos não são?

Ahiliel abaixou os olhos e disse:
- Senhora Samyaza diz que sou inferior a ela, me proibiu de chama-la de irmã. Eu sou escravo dela há muito tempo. Bom, mas deixe isso pra lá, eu vim te dizer que a Senhora Samyaza pede que fique em seu quarto e não saia por nada. Mais tarde uma comitiva de... Moças amigas daquela senhora Rosa dos Ventos virão até aqui e algumas você conhece, por isso não saia, elas muito provavelmente não vão sentir o seu cheiro se permanecer aqui em cima quieta.

Belladonna disse:
- Certo. Mas se eu te pedir um favor você poderia me fazer?

Ahiliel disse:
- Se estiver ao meu alcance, sim.

Ela pediu:
- Gostaria de ler, se puder me trazer alguns livros sobre magia antiga eu apreciaria muito e com eles me distrairia durante o tempo que eu precisaria ficar no quarto.

Ahiliel sorriu e disse:
- Sim claro. Sobre que quer ler? A senhora Samyaza tem uma gigantesca biblioteca no segundo andar, o último servo que fez a contagem disse que sao verdade quatrocentos mil livros e pergaminhos papiro, tem de tudo lá.

Belladonna disse:
- Quero ler sobre magia negra. Eu tenho alto potencial para isso mas nunca me dediquei, na minha casa haviam alguns livros que adquiri mas eu confesso que a maioria eu simplesmente acomodei na estante e nunca li.

Ahiliel perguntou:
- Mas você não é Bruxa?

Belladonna mordeu o lábio, depois respondeu:
- Bom, sim. Mas durante toda a minha vida me dediquei a entidades, espíritos desencarnados, feitiços de amor, expurgo, adivinhação por cartas e quiroman...

Ahiliel levantou a sobrancelha e disse meio espantado:
- Mas esse tipo de coisa qualquer humano com mediunidade pode fazer. Bruxas e Bruxos fazem coisas similares a nos que somos Demônios. Se lembrar do que significa a palavra Demônio?

Belladonna respondeu:
- Significa "Sábio" não é?

Ahiliel falou:
- Exato. O poder dos demônios está na sabedoria. Muitos pensam que nos somos apenas seres das trevas mas não. Seres das trevas existem de muitos tipos, ou seja, todo Demônio é um ser das trevas mas nem todo ser das trevas consegue o patamar de Demônio. Mesmo eu que sou servo da Senhora Samyaza estou em um nivel superior a maioria das criaturas do mundo espiritual.

Belladonna cruzou os braços e perguntou:
- Então isso também se aplica as bruxas e mediuns?

Ahiliel balançou a cabeça afirmativo:
- Isso. Toda bruxa é médium, mas nem toda médium é Bruxa. Alias se eu fosse dar um palpite eu diria que so cinco por cento das humanas mediuns conseguem ser realmente Bruxas. Mas se a senhora Samyaza viu talento em você, eu coperarei trazendo um bom material de leitura.

Pouco tempo depois Ahiliel entrou no quarto de Belladonna com uma pilha de livros que ultrapassava a sua cabeça, eram 16 livros antigos e um pergaminho.
Quando Belladonna os pegou e os folheou viu que nenhum era em português, então disse:
- Ai que burrice a minha. Por você e Belladonna falarem tão bem português comigo eu pensei que os livros também eram traduzidos.

Ahiliel riu, apontou para a colher de pau que estava em cima de uma mesinha perto da cama e falou:
- Use aquilo. É sua ferramenta não é? Vou te ensinar uma coisa, é um feitiço que foi criado em Alexandria, deve ser dito em grego, é o feitiço "visão límpida como a água". Você mentaliza a vontade de entender melhor, coloca sua ferramenta encostada na sua tempora direita e diz pausadamente "Órama katharó os neró".

Belladonna pegou a colher de pau e fez exatamente o que ele havia dito, então ao pegar um dos livros olhou para a capa e viu escrito em letras românicas e no mais claro português o título "Manual Pratico de Como Penetrar em Mentes Humanas, autor: Vossa Grandiosidade Hakim Azazael o Segundo na ordem celestial e zeloso pai dos Nefilin".

Belladonna sabia quem era Azazael, perguntou a Ahiliel:
- Azazael era um anjo como vocês, não?

Ahiliel contente por ver que ela conseguia ler o título escrito em Aramaico abriu um largo sorriso meigo e respondeu:
- Sim, é um Anjo muito importante. Ele é quem aconselhou nosso imperador Satanás em como proceder para conseguir vencer a nosso pai Jeová.

Belladonna perguntou:
- Mas Satanás o venceu?

Ahiliel disse:
- Meu bem, nos anjos caídos estamos todos vivos, nos traímos a nosso pai Deus criador, nos amotinamos e vivemos juntos aqui neste lugar a milhares de anos. O Deus criador tem imensurável poder, mas graças a perspicácia de nosso imperador e a gigantesca sabedoria de Azazael, nos ainda estamos vivos. Isso é a nossa vitória.

Belladonna entendeu e se calou, mas ao olhar todas as capas dos livros viu que todos foram escritos por Azazael, então perguntou:
- Porque todos os livros são dele?

Ahiliel falou como se dissesse a coisa mais óbvia do mundo:
- Porque o ofício que Azazael escolheu para si foi o de documentar toda a sabedoria que pudesse. O palácio dele é uma enorme biblioteca. Porém nem todos os livros que circulam por aqui são dele, mas eu pensei que estes te interessariam, principalmente aqueles de capa amarela.

Belladonna pegou o livro de capa amarela, era o mais fino de todos porém o título fez os olhos dela arregalaram pois estava escrito "A Descendência de Caim, Raça amaldiçoada, os primeiros feiticeiros humanos, Autor: Vossa Grandiosidade Hakim Azazael o Segundo na ordem celestial e zeloso pai dos Nefilin". Ela estremeceu. Uriel disse a ela anos atrás que sentia nela o sangue de Caim, e certa vez Doralice também havia mencionado isso de a família Salvaterra ser dessa descendência. Rápidamente ela abriu o livro, pulou uma dedicatória melosa direcionada a Samyaza e então na primeira página leu:

"Adão e Lilith não eram humanos e sim sub divindades como nos já bem sabemos pois a Senhora Lilith continua sendo, porém em seu divórcio de Adão, Deus retirou dele todo o poder sagrado e o deixou fraco, dando a ele Eva como esposa e escrava e os rebaixando então a condição humana. Porém Lilith fugiu para longe e manteve seus poderes, aliás como é de conhecimento geral mas importante frisar novamente a Senhora Lilith é a primeira esposa de nosso Imperador. Lilith tramou para que Eva caisse em desobediência naquela história que todos sabemos, e então Eva e Adão foram expulsos do Eden. Eva pariu diversas vezes mas as três primeiras crias traziam ainda poder divino, o poder que Adão perdera havia sido enviado aos três filhos Caim, Abel e Avan.
Foi então que a Senhora Lilith interveio novamente, vendo ela que os três eram imortais decidiu remover deles está dádiva e me perguntou como faria, e eu lhe disse "se são imortais, nenhum mal do mundo os afetará, porém um imortal pode aniquilar outro se acaso nossa Irmã Thanatael estiver seu lado e lançar sobre ele sua força findadora chamada Morte." A morte até aquele momento nada mais era do que o poder de nossa irmã Thanatael em destruir aquilo que era criado por Elohim Jeová, mas a destruição era algo bom, tudo que era destruído daria lugar a algo novo e melhor, mas nem mesmo eu sabia o efeito que a morte teria sobre os filhos de Adão.
Então Thanatael foi subornada por Lilith e enviada para atormentar Caim e coloca-lo contra Abel pois os dois eram muito semelhantes ao pai. Vulnerável a uma força que desconhecia, Caim cedeu e assassinou o irmão o espancando até que partes de sua estrutura física fossem extremamente danificadas. O que ocorreu após isso foi algo extremamente surpreendente, no ato da morte de Abel ele lançou fora de si todo o poder que tinha. Como é de conhecimento geral, Abel era detentor de muitas virtudes, e estas virtudes se perverteram em uma maldição que contaminou Caim dando a ele dons extraordinários, o fazendo um feiticeiro, o primeiro. Daí se originou o uso de sacrifícios humanos entre os Bruxos, pois há a crença que a morte de um inocente concederá força como a morte de Abel concedeu a Caim. Porém Caim se tornou perverso mesmo sem a presença de Thanatael, e a morte que nossa irmã fez nas mãos dele o impregnou na alma causando o efeito repetido, ou seja, Caim e seus descendentes seriam assolados por mortes a sua volta, onde um deles pisar tudo que é mortal morrerá.
Caim era tinha predileção por imundice, era sujo de coração. O senhor deus nosso pai já havia dito que daria a ele uma esposa criada do mesmo modo que Eva foi criada, mas ele não quis, preferiu estuprar Avan e a engravidar fazendo de sua própria irmã sua esposa. Notamos que o vício do incesto e dos desvios sexuais é ainda hoje presente em seus descendentes.
Após isto Adão e Eva desprezaram Caim e Avan. Adão e Eva tiveram um novo filho, Seth, e creram que ele sim daria continuidade a linhagem dos filhos puros de Adão, mas Seth de casou com a irmã Azura fazendo de seus filhos pecaminosos.
Caim ao descobrir o seus poderes se gabou por ter ainda em si a imortalidade. Ele gerou um filho, o profeta Enoque, e este nos deu muito trabalho ao escrever coisas sobre anjos e deixar que os humanos as lessem. Enoque contrariando o pai, se tornou servo de Deus. Mas o filho de Enoque saiu ao avó, este era Irad, um feiticeiro cheio de maldade. Irade gerou a Meujael, um homem dotado de vidência e covardia. Meujael gerou a Matusalém, que inexplicavelmente nasceu sem o dom da feitiçaria mas que ainda assim tinha a imortalidade. Matusalém gerou a dois filhos, Lameke e Lemeki.
Lameke excedeu todos os seus anteriores sendo dotado de tanta perfídia que nem as bestas do Inferno se equiparam.
Caim ainda gabava-se da imortalidade sua e de seus descendentes, mas não se lembrava de que um imortal pode derrubar o outro. Caim viveu pouco mais de mil anos até que a morte o alcançou e ele foi brutalmente assassinado por seu tataraneto Lameke.
O amaldiçoado Lameke era imundo como os porcos e então não satisfeito em fornicar com inúmeras mulheres, decidiu ele se casar com duas a o mesmo tempo dando origem a poligamia.
Lameke teve três filhos, Jabal, Jubal e Naamá, e como a traição nesta família vinha através dos parentes, Naamá se casou com Noé, que era seu primo filho de seu tio Lemeki.
Noé tal como seu antepassado Enoque foi um profeta e dedicou sua vida a servir a Jeová. Noé não gostava de habitar entre seus parentes imundos e mesmo tendo poderes assombrosos ele se recusava a fazer a feitiçaria.
Naamá ajudou Noé sobre tudo a quanto do dilúvio.
Sabemos que Deus nosso pai estava muito insatisfeito com os gigantes filhos de Nossa irmã Samyaza e meus filhos Nefilin habitando sobre a terra, e também tinha horror dos descendentes de Caim e nisto fez o dilúvio para aniquilar a todos através do afogamento.
Em cerne Naamá era uma mulher honesta. Após a humanidade e os híbridos de Anjos e humanos terem sidos quase todos aniquilados, Naamá teve filhos com Noé.
Do ventre de Naamá saíram Sem, Jafé e por último Cam.
Sem e Jafé eram humanos que nasceram como Jeová quis, sem poderes de Bruxaria, mas o sangue de Caim gritava nas veias de Cam e ele revelou ser tão feiticeiro quanto seus ancestrais mortos. Nesta época o senhor nosso deus estabeleceu o limites de existência humana para cento e vinte anos e criou a roda das encarnações fazendo os espíritos dos mortos vez ou outra voltarem a nascer.
Cam tinha poderes mas Noé e Naamá se recusaram a ensino-lo quanto a magia, nisto ele se associou a Thanatael e com ela fez um acordo vitalício, ela o ensinou tudo o que podia e queria e este acordo deu origem aos pactos que as feiticeiras fazem com Demônios até os dias de hoje.
Cam foi pai de quatro filhos, Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã.
Cuxe de todos era o mais poderoso, em sua família não houve feiticeiro como ele. Cuxe se associou a Deuses de pele escura e deu origem a ramificação Cuxita que por sua vez se tornou algo muito diferente do original de Caim ao se misturar com os humanos criados por deuses Africanos. Os Cuxitas por sua vez se mituraram a egípcios e milênios mais tarde se tortatam os sete povos fieis a Deuses Vodun, e dentro dessa concepção se originou a classe de Feiticeiras chamadas Mambo, e estas se recusam a ter qualquer contato ou amizade com os feiticeiros filhos de Mizraim e Pute ou com as sub ramificações de pele branca e amarela.
Canaã nasceu com poderes, mas sua descendência foi humana. Certa vez Noé estando bêbado por ter comemorado que sua arca realmente ter flutuado e os planos terem dado certo, e estando bêbado ficou nu, todos em volta acudiram o ancião mas Cam zombou dele. Noé pela primeira e única vez usou sua Bruxaria para amaldiçoar Cam condenando os descendentes de seu filho mais amado, Canaã a serem escravos, e de fato foram escravos de vários povos, o último foi o Egito vide a história de Moisés. Canaã teve filhos fracos, humanos.
Pute era feiticeiro mas sua preferência era a guerra. A descendência de Pute foram os Líbios de onde surgiu a família Puth, grande clã de Feiticeiros.
O último dos filhos de Cam foi Mizraim, famoso por ter se convertido a divindade Rá. Esta divindade não possuia humanoides como nosso pai Jeová, mas ao usar o sangue de Mizrain o povo de Rá foi criado fazendo de Mizrain o pai dos egípcios. Mizraim nunca foi o mais forte dos Bruxos mas quando se uniu a Rá ele foi tonificado e sua magia se tornou densa."

Apos ler isto tudo Belladonna ergueu os olhos e viu que Ahiliel ainda estava diante dela e perguntou:
- Li as primeiras páginas, mas sabe me dizer qual dos filhos de Cam que é meu ancestral?

Ahiliel perguntou:
- Qual é seu sobrenome?

Belladonna disse:
- Oficialmente eu sou Agrippa von Nettesheim, mas este nome ganhei por adoção, era de meu pai adotivo. O nome da minha família biológica é Salvaterra.

Ahiliel falou como se tivesse decorado:
- O sangue de Caim se transformou em coisas diferentes nos descendentes de Pute, Canaã e Cuxe, de tantas misturas com outros seres eles perderam a origem e se tornoram novas coisas. Se você tem em si a força de Caim preservada, com certeza é descendentes de Mizraim. No livro há este nome Salvaterra citado ha localização de uma feiticeira Rajasthani, ela deu origem a essa família, e ela era da linha de Mizraim sim. A morte assola você também não é? muitas mortes a sua volta.

Belladonna abaixou os olhos e respondeu:
- Sim. A morte tem sido minha mais fiel companheira.

Belladonna deu um pulo para trás ao ouvir o estrondoso berro de Samyaza vindo de algum lugar no andar de baixo, ela gritava o nome de Ahiliel.
Ele girou nos calcanhares e correu rumo a porta fazendo as suas asas sacolejarem graciosamente.

Belladonna ficou sozinha no quarto lendo os livros e tentando se distrair. Ela sabia que não tinha para onde correr, o lugar dela era ali agora. Por mais que na sua idade humana ela fosse velha (mesmo sua aparência dizendo o oposto) ali no Inferno ela era como uma criança que facilmente seria manipulada, e as cordas de marionnette que a prendiam estavam nas mãos de Samyaza.


Uriel se levantou com Bebê no colo girando e se balançando de vagar, virou o rosto e viu Doralice atrás dele com uma expressão desolada estampada no rosto, depois ergueu os olhos e viu o corpo pálido acinzentado de Betânia na cama, ela estava deitada mas com parte das costas elevada ao se encostar na cabeceira, a cabeça caida sobre o ombro. Lamentável aquilo, uma vítima.

Ele perguntou:
  - Eu enterro, jogo na água ou cremo?

Doralice olhou para Betânia e depois olhou para Uriel com uma forte expressão de desalento e o olhos marejados.

Ele viu que havia sido demasiado frio, então pigarreou e falou mudando para um tom de afeto e respeito:
- Digo, sei que bruxas tem alguns costumes e Betânia merece receber os ritos dignamente. Quais são os costumes fúnebres de sua família?

Doralice se virou para olhar o cadáver novamente e disse:
  - Temos de enterrar intacta. Não exumamos nem removemos os órgãos. Preciso antes vestir ela como uma rainha, as melhores roupas que puder e também deve ser enterrada com sapatos.

Uriel balançou a cabeça e disse:
  - Trarei roupas apropriadas para isso. Farei um bom enterro. Tratei tambem os elementos para... Para cortar a criança.

Doralice levantou uma sobrancelha e falou:
  - Cortar? Você vai... Matar o bebê?

Uriel disse:
  - Não, justamente o contrário. Se eu quisesse matar essa criança eu não teria ajudado na fuga ou feito o parto.

Doralice abaixou os olhos e perguntou:
- Mas então o que vai cortar?

Uriel explicou:
- Você é bruxa Doralice, mesmo uma bruxa sem formação sabe o que se faz com oxigênio, carbono, hidrogênio, nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, selênio, cobre, enxofre, sódio, ferro, magnésio, molibdênio, zinco, Iodo, cobalto, cromo e cloro somados a fogo e alguns sacrifícios, não?

Ela ficou pensativa por um instante mas logo o seu queixo caiu:
  - Essa lista é a... Ingredientes para se fabricar um corpo humano... mas isso é magia negra extremamente pesada. E outra, não se faz isso sem o auxílio de um... de um Demônio! E esse tipo de coisa é mais uma lenda do que um feitiço, sei de mitos a respeito mas nunca soube que tenha funcionado.

Uriel falou:
- Não é lenda, é fato. Séculos atrás uma feiticeira Mongol na região do Laos fez isto para dar um novo corpo a uma moça paraplégica. E deu certo.

Doralice disse:
- Mas mesmo com todos os ingredientes nos ainda iríamos precisar do Demônio para selar a magia.

Uriel ninando o bebê perguntou:
  - E eu sou o que? Recuperei meus poderes e sinto que agora além de toda força que tinha tenho muito mais. Se é um demônio que se precisa, eu mesmo assumo essa posição.

Doralice ficou calada, petrificada. Ela era uma Bruxa curandeira, amava herbolaria e a adoração pacífica de divindades e entidades, mas nunca, nunca em toda a sua longa vida ela imaginara se meter novamente em ritos de magia negra. A maldita Roda das Princesas com aquele final Trevoso não havia sido o suficiente? Parece que não.
Após minutos de Silêncio onde apenas o respirar assentuado do homem sangrando caido no chão era possível de se ouvir ela voltou a falar.
- Imagino que se você sair Samyaza vá te rastrear.

Uriel fechou os olhos e disse:
- Samyaza e Belladonna.

Doralice sem perceber aumentou o tom da voz e grasnou:
- Belladonna está viva?

Uriel se virou rápidamente fazendo vento com suas asas vermelhas, ficou frente a ela e abaixou os olhos indicando que ela fizesse silêncio, mostrou o bebê que dormir em seu colo. Ele respondeu em voz baixa:
- Não disse que meus poderes estão mais fortes do que antes? Eu sinto Belladonna, sinto o cheiro dela. Sei que está viva e sei onde está. Ela neste momento está no inferno junto com Samyaza. Bom, eu vou sair daqui, mas preciso que você fique. Trarei comida para você, fraldas descartáveis para o bebê. Você não deve sair em hipótese alguma até eu voltar.

Ele se aproximou e deu o bebê no colo dela.

Ela perguntou:
- Mas elas vão te rastrear se você sair.

Uriel abriu as asas as esticando imponente e então elas gradativamente foram ficando transparentes até desaparecerem. Ele rápidamente trançou o cabelo para trás e então ficou parecendo mais humano. Bom é verdade que um humano muito incomum, mas como o movimento punk estava no auge Doralice duvidou que alguém acharia estranho a aparência dele.
Ele disse:
- Não me rastrearão. A assinatura deixada por minha energia mudou completamente, elas não saberão quem sou. A força divina que eu absorvi dessa criança foi muita, e mesmo sendo muita ela continua se multiplicando dentro de mim, eu sinto. Eu não serei reconhecido por nenhuma Bruxaria de mapeio, ninguém me achará.

Doralice concordou com a cabeça.
Uriel foi em direção a porta de entrada e quando a abriu viu que havia uma grande diferença entre a casa que estavam ali no tempo passado com a realidade do presente porta a fora. Do lado de fora chovia e relampejava, mas dentro da casa nao se ouvia som de chuva. Passado e presente eram distintos.
Ele saiu, rápidamente voltou com mantimentos, depois novamente saiu e trouxe um vestido de baile cor de rosa, tiara, jóias e uma manta vermelho vivo para Betânia, Doralice a vestiu com primor e a enrolou na manta. Ela ficou no batente da porta observando Uriel sob a chuva do lado de fora cavar a cova no jardim da frente e enterrar a moça. Quando ele depositou o corpo na cova, Doralice olhou para a frente da casa e viu o vulto de uma moça ali bem perto de Uriel. A velha ergueu a mão acenando, Uriel se virou a fez uma reverência, o vulto ficou nítido, era o espírito de Betânia que estava partindo.

Doralice viu quando Uriel caminhou ate o vulto a disse algo, então por alguns minutos houve diálogo, era como se ele estivesse transmitindo algo a Betânia e ela claramente concordava e agradecia. Doralice sentiu vontade de ir até lá falar também mas logo o vulto desapareceu.

Pobre Betânia, que no outro mundo ela encontre paz.

Uriel saiu novamente a voltou com varios potes lacrados e alguns cilindros de gás, fez quatro viagens trazendo os potes para dentro da casa. Doralice leu em todos os potes o nome "Laboratório Morita para pesquisas avançadas", e ficou claro que era de lá que Uriel estava roubando os elementos químicos.
A última viagem de Uriel foi a mais demorada, quanto voltou já passava quatro da tarde do dia seguinte, trazia algo comprido embrulhado em um pano velho e branco que parecia querer se desfazer com o mais leve toque, e trouxe também um grosso livro de capa de couro cru, uma agenda gasta, duas jaulas com um pavão albino e um filhote de jaguar e por fim óleo e duas toras de lenha.

O homem dono da casa ja estava morto, o bebe drenou todo o sangue que ele possuia e o desgraçado não aguentou.
Quando anoiteceu Uriel ajeitou tudo no quarto, todos os dezenove elementos, o fogo aceso, um símbolo desenhado no chão, os dois bichos do lado e uma almofada para por criança.

Doralice foi ate ele e perguntou:
- Porque demorou tanto? Cheguei a pensar que nao ia voltar mais.

Ele apontou para a agenda e respondeu:
- Aquilo me prendeu. Fiz muitas coisas, mas ter de dar tantos telefonemas tomou muito do meu tempo.

Doralice perguntou mais:
- Ligou para quem?

Ele respondeu:
- Algumas dezenas de Famílias Bruxas. Antes de conhecer Belladonna eu cacei as descendentes de Caim por toda a parte, mas não as achei, porém conheci centenas de famílias e clãs de Feiticeiros. Sabe Doralice, não podemos ficar com a criança, não dá.

Doralice olhou para o bebê que dormia em um cesto de palha forrado com um travesseiro e disse:
- Eu sei. A Mambo e a Samyaza vão vir atrás dele. Sei que você está forte, mas não haverá paz se tivermos que lutar eternamente com elas, esse bebê não será feliz assim.

Uriel acenou com a cabeça e disse:
- Sim... Mas eu enviarei ele para longe onde será escondido e bem criado.

Doralice perguntou:
- Mas elas irão de encontrar ele.

Uriel disse:
- Não depois do que eu fizer. Mas antes eu preciso falar com você sobre algo.

Ela se aproximou e perguntou:
- O que é?

Com uma leve ruga se formando entre as rubias sobrancelhas Uriel disse:
- Estou surpreendentemente forte. Mas... Eu não sou omniprésente. Eu tomei como meta defender essa criança, mas sozinho não dá.

Doralice respondeu:
- Mas como pode estar sozinho? Eu estou aqui com você.

Uriel perguntou:
- Tem certeza que quer se meter nisso?

Doralice balançou a cabeça:
- Me meter? Ja me afundei até o pescoço nessa história. Além do que essa criança é sangue do meu sangue, eu não a abandonarei.

Uriel falou:
- Doralice você está podre.

Ela ergueu os cantos da boca mostrando estar ofendida mas ele levantou uma mão gesticulando que ainda tinha mais a dizer.

Uriel prosseguiu:
- Eu não sei que idade tem mas o fato é... Você não será de grande ajuda assim como está agora. Seu corpo frágil é um impecilho. Eu te pergunto algo agora sem rodeios, você está disposta a rejuvencer para então poder me ajudar a cuidar desta criança?

Doralice arregalou os olhos e perguntou:
- Rejuvencer como?

Ele encolheu os ombros e disse:
- Sei fazer aquilo que Samyaza realizou em Belladonna.

Doralice respondeu:
- Sim é notório que Belladonna não parece ter a idade que tem, aliás ela parecia mais jovem que a falecida filha. Mas eu não almejo beleza Uriel, nunca dei valor a isso.

Uriel respondeu:
- Beleza é nada além de consequência. O que importa é ter um corpo ágil e mais energia. Doralice é certeza que em breve vamos ter de lutar.


Belladonna havia lido bastante, os livros eram interessantes mesmo que alguns não fizessem muito sentido. Ela lutava contra o sono, havia muito barulho no Palácio e como Samyaza e os demais espíritos não possuiam a necessidade de dormir o local raramente acabava ficando quieto.
Porém uma hora os olhos de Belladonna falharam e ela adormeceu sentada na cama com um grosso livro sobre o colo.
Um som de pigarro a fez despertar, e quanto ela abriu os olhos ficou estarrecida. Ali no quarto poucos passos diante dela estavam uma adolescente vestida com calças jeans de cintura muito alta, camisa preta com os dizeres "Cherry Bomb" escritos em rosa choque, calçava um par de coturnos velhos de cano alto até o joelhos, o cabelo pintado de vermelho berrante extremamente artificial e despenteado, ela tinha um piercing de argola no nariz e o rosto fervilhando em acne.
Não foi difícil reconhecer e moça, a lembrança dela era vívida nas lembranças de Belladonna, e ela soube sem que ninguém precisasse lhe explicar que estava diante do espírito de Betânia, aquele era o visual que ela havia usado durante toda a juventude. Mas aquela aparição só poderia significar uma coisa, Betânia estava morta.

Belladonna a encarou em silêncio, não sabia o que falar. A figura ali era sem dúvida sua filha mas estava muito diferente da aparência de gestante sóbria que ela tinha dias atrás.

Com a voz um tanto aguda Betânia disse:
- Não vou te explicar o óbvio, você já deve deduzir o que aconteceu.

Se aprumando mais ereta Belladonna respondeu:
- Você morreu.

Betânia disse:
- Sim, desencarnei. Você não se assusta consigo mesma?

Belladonna olhou para ela com o rosto lívido em uma expressão de tristeza e respondeu com fraqueza:
- Sim me assusto. Essa pergunta é por eu estar diante de você sabendo que está morta e não derramar lágrimas não é?

Betânia cruzou os braços e disse:
- Foi um pergunta retórica. Fique tranquila, jamais tive a ilusão de que choraria a minha morte.

Belladonna balançou com a cabeça e disse:
- Onde está o seu corpo? Eu irei dar um final digno a ele.

Betânia respondeu seca:
- Não lhe direi. Você so quer saber onde morri pra ir atras do meu filho. Não se preocupe, meu corpo teve um fim digno e honrado, e meu bebê está seguro, Uriel e tia Doralice não o abandonarão.

Belladonna pensou em interrogar mais, porém isso parecia crueldade e seria desperdício de tempo.
Ela perguntou:
- Então a que veio?

Betânia falou:
- Meu corpo defeituoso me impedia de usar meus poderes de Feiticeira, mas agora meu corpo não me impede mais.

Belladonna arregalou os olhos e falou:
- Ah você não faria isso...

Betânia cerrou os olhos e ergueu as mãos para Belladonna e falou:
- Quase todo o poder que estava dentro de mim foi levado pelo meu bebê, mas sobrou o suficiente para fazer isto.

Belladonna falou temerosa:
- Não sabe o que esta prestes a fazer, você nunca praticou magia, não faça nenhuma tolice.

Ela olhou para Belladonna com firmeza e com as mãos estendidas disse com a voz sombria:
- Eu te cego para a alma daquele que saiu do meu ventre, mesmo diante dele não o verás, mesmo o tocando não perceberás, olhara para o teu neto e nunca, de modo algum o reconhecerá. Este é meu único feitiço, a maldição de uma mãe para proteger seu filho.

Um jato de luz esverdeada saiu da palma das mãos de Betânia e atingiu com impacto o rosto de Belladonna que caiu para o lado no chão berrando com as mãos sobre os olhos.

Samyaza estavam no saguão do térreo castigando com chibatadas um servo que havia cometido uma falta qualquer. Ao sentir a magia profunda sendo realizada ela correu para cima, bateu as asas e foi planando com as grandes penas brancas abertas pelos largos corredores e rápidamente entrou no quarto com um leque de ouro maciço aberto nas mãos. O leque de bordas laminadas, a arma dela. Os olhos ávidos tal qual os de uma coruja vasculharam cada canto mas não viu ninguém, porém via relances de magia esverdeada pairando no ar, então se apressou a ir socorrer Belladonna, a sentou na cama, examinou os olhos dela que estavam avermelhados e perguntou o que havia acontecido. Ao saber que Betânia havia estado ali e amaldiçoada a mãe, Samyaza mordeu os lábios e disse:
- Falha minha não ter previsto isso. Mas essa situação pode ser contornada, não se preocupe. O que a sua filha fez foi camuflar o bebê para você, de modo que se ele estivesse no meio de mil crianças você não conseguirá sentir qual delas ele é, a sua magia também não pode afetar a criança. Porém com alguns amuletos isso pode ser ajeitado.

Belladonna olhava para o teto com os olhos ainda ardendo, perguntou:
- Mas como isso pode ser ajeitado? Eu não alcançarei a criança de modo algum. Como posso caçar sem ver?

Samyaza disse em tom de quem não quer ser questionado:
- Pode. Te digo que pode, , então acredita.

Duas grandes lagrimas caíram pelos cantos dos olhos de Belladonna, ela disse ser pelo ardor da magia lançada mas Samyaza sabia que não era. Então Samyaza afagou as costas dela e falou:
- Belladonna se centre. Você está aqui e já sabe que está sob o meu domínio tal qual todas as bruxas que se entregam as forças obscuras tem de se deixar dominar por espíritos como eu. Mas não se vitimize. Tu chegou até este ponto com as próprias pernas, e agora não ha como voltar atrás. Te darei a vida eterna como prometido, mas até lá fará tudo o que eu mandar.

Belladonna enxugou os olhos e ficou impressionada por se sentir satisfeita que Samyaza estivesse falando claramente sobre a situação dela.
Falou:
- Sim, sei de tudo isso e não pense que voltarei atrás ou que irei me acovardar. Mas peço que de licença para ser de vez em quando... Humana.

Samyaza abaixou os olhos e falou:
- Todos sem exceção, todos me acham um mostro. Não sou a mais amável das criaturas realmente mas sei que perdeu sua filha. Você não pensava amar ela, e realmente acho que sabe que não a amava. O que te doi é saber que ela se foi e você não conseguiu dar a ela o amor que merecia. Eu te entendo, nunca amei nenhum dos meus filhos, nenhum deles. O que eu amava era a sensação de ser mãe, me sentia um pouco Deus por ser a criadora de um vida. Queria ser como as mulheres humanas, toda mulher é quase um Deus, procria, dá a vida a outro ser. Quando perdi meus filhos eu reparei que não havia sido boa mãe para nenhum, e então todo o meu poder de criar se tornou insignificante, pois havia criado e abandonado negando o amor. Belladonna a dor que você sente é a que eu sinto. Remorso.

Belladonna não queria falar sobre remorso, era por o dedo na ferida. Então perguntou:
- Para qual província do inferno Betânia foi enviada?

Samyaza suspirou fundo e falou:
- Minha amada, você nunca mais verá a sua filha.

Belladonna forçou os olhos para fitar Samyaza e perguntou:
- Mas ela foi confinada em uma província tão rígida assim?

Samyaza achou graça da ignorância de Belladonna e sorriu mas logo disfarçou e fez um ar sério. Disse:
- Se ela estivesse condenada ao inferno ou mesmo que tivesse condenada a ser um fantasma na terra dos viventes ela nunca poderia ter entrado no meu palácio, espíritos cativos não tem poder para entrar aqui. Sou um Demônio, pessoas mortas não sabem mais que eu, não podem quebrar meus encantos de proteção e aqui elas não põem o pé sem serem convidadas.

Belladonna sem entender perguntou:
- Então como Betânia entrou?

Samyaza disse:
- Porque te ver era a missão derradeira dela. Nem mesmo eu ou até mesmo o imperador poderia impedir que ela te encontrasse.

Belladonna meneou a cabeça e disse:
- Eu não compreendo, não faz sentido.

Samyaza falou:
- Ela não existe mais. Poucos os seres mortos escolhem fazer tal coisa. Sua filha usou toda a alma dela para fazer isto, te enfeitiçar e com certeza enfeitiçar o próprio filho afim de protege-lo. O grande Deus não gosta mas não tem como impedir o maior feitiço de todos.

Belladonna perguntou:
- Mas que feitiço é esse?

Samyaza se levantou e foi rumo a porta para ir embora, mas antes se virou e respondeu:
- O amor de uma mãe é um feitiço sem receitas mas que causa efeitos gigantescos. Tua filha não vai reencarnar, nem cairá no inferno ou irá para o céu. Tua filha converteu a si mesma em uma magia para defender a cria.


Samyaza saiu, Belladonna ficou ainda mais triste ao ver que mesmo morrendo no parto e nunca tendo a chance de conviver com o filho, Betânia tinha sido melhor mãe que ela.

A moto rodou por cerca de uma hora, o sol reluzia flamejante no tanque da Harley d Jacqueline sentia os quadris doerem com os solavancos causados pela estrada esburacada. Ela seguiu o pássaro no céu até que ele parasse de voar em uma única direção, quando a ave passou a planar em círculos Jacqueline soube que ali era o lugar. A rota tortuosa a fez chegar em uma rua isolada, só havia uma modesta casa e nenhum vizinho por quilômetros, tudo em volta era mata, mas o que fez ela ter certeza que ali era o local do esconderijo de Doralice e Uriel foi o Mustang preto estacionado bem em frente. O carro havia sido parado torto, revelava que o motorista tinha muita pressa, estava apressado demais para se importar com a baliza, uma das janelas do carro ainda estava aberta revelando o descuido.
Ela olhou para a casa mas não sentiu nada, porém além do carro ela também viu a terra do jardim da frente revolvida, entendeu que era uma cova. Ela deu mais uma volta pela rua e parou a moto um pouco longe entre algumas árvores, então voltou a pé até o local. Se esgueirando pela lateral da propriedade ela sentiu pode sentir a presença poderosa da criança oscilando, mas ao espiar por uma janela não viu ninguém, reparou que a casa parecia abandonada com pó acumulado sobre os moveis como se ninguém entrasse ali há algum tempo. Isso era estranho, a casa vazia mas a presença da criança... De repente ela ouviu um clique e se abaixou no meio de uma moita, em seguida ouviu vozes e rastejando para a frente viu Uriel saindo da casa e vislumbrou por um segundo Doralice com o bebê no colo. Uriel estava diferente, mais alto e musculoso, seu cabelo comprido e ruivo chamavam atenção, e ela sentiu poder emanando dele. Ela cogitou que as janelas haviam sido enfeitiçadas para não revelarem presença humana. Suspirou fundo e pensou em atacar, mas achou mais prudente esperar ele sair e entrar na casa de surpresa.
Assim que Uriel ja estava longe ela correu e abriu a porta da casa que curiosamente estava destrancada, entrou pronta para o ataque, mas não viu nada nem ninguém, confirmou que a desolação do lugar não era ilusionismo e sim real, ficou confusa. Andou pela casa sentindo como se houvesse gente ali dentro, investigou bastante mas não achou nada. Um tempo depois saiu e voltou a decidiu se esconder do outro lado da rua.
A tarde caia e uma garoa fina chegava. Jacqueline se sentou em uma pedra e fincou seu pensamento para criar um feitiço, o corpo dela se misturou a pedra e ambos se tornaram uma só rocha. Maravilhoso feitiço de camuflagem, seria impossível alguém ver que era uma mulher ali. Ela estava atenta, iria vigiar por quanto tempo precisasse até ter a oportunidade de atacar. Ela viu Uriel voltar, ele chegou caminhado pela rua trazendo bodes puxados por cordas, uma grande gaiola com galinhas e além de tudo uma sacola cheia de coisas como fraldas e xampu para cabelo.
Jacqueline teve o ímpeto de se levantar e atacar Uriel, mas quando estava prestes a se levantar e pular em cima dele ela parou e pensou que se fizesse isso eles iriam lutar e ela mesmo se o matasse não iria descobrir como chegar até o bebê. Mama Azòndató havia prevenido ela de que Uriel era um anjo e que deste modo os interrogatórios por meio de tortura e a leitura da mente não davam qualquer efeito se aplicados nele.
O jeito era esperar.
Com os olhos ávidos ela observou ele por a gaiola no chão da entrada da casa e retirar do bolso da calça um molho de chaves e inserir na fechadura uma chave velha.
Voilà! Ela entendeu, era um feitiço de regressão local, uma magia muito simples que dava acesso viajar no tempo para o passado, porém em um único local. Então estaca explicado porque Jacqueline sentia a presença do bebê mas não podia ve-lo, ele estava ali mas ao mesmo tempo não estava, quer dizer, estava ali no passado mas não no presente.
Ela ficou pensativa, sabia como desfazer aquela magia, era simples porém havia a necessidade de se conhecer a época exata do passado onde o feitiço fez a ponte, sem isso não era possível derrubar a magia.
Ela respirou fundo, usou seus próprios poderes para cuidar do corpo removendo o cansaço e ficou ali sentada, e ficaria ali por quanto tempo fosse preciso.


Uriel saiu novamente, disse a Doralice que demoraria cerca de uma semana para voltar. Antes de ir trouxe para ela um casal de cabras e oito galinhas em uma gaiola, ração para os bichos e comida e material de higiene pessoal para Doralice e o Bebê. Os bichos iriam fornecer sangue o suficiente para a criança mamar pelos dias que ele estivesse ausente.

Doralice estava vestindo uma camisola curta mostrando pernas idosas pálidas cheias de varizes azuladas. Antes dele partir ela perguntou:
- Porque vai demorar tanto?

Ele respondeu:
- Tenho de coletar amostras biológicas das pessoas que vão cuidar do bebê. Sangue e cabelos deles.

Doralice olhou para o bebê, estava acordado com uma chupeta na boca. Em poucos dias ele ja parecia ter seis meses de idade. Ela perguntou:
- Estas amostras biológicas são para alterar a aparência do bebê?

Uriel anuiu e respondeu:
- Olhe para ele, é preto! Não estou de raça e sim de cor, é preto denso e brilha como se a pele fosse um diamante. Alias a raçã dele pra mim é desconhecida, os traços, a aparência, ele nao se parece com nenhum tipo de ser humano.

Doralice sorriu de leve e disse:
- Acho que a porcentagem humana que ele herdou de Betânia não consegue aparecer, não sobrepuja o gene do pai.

Uriel deu uma olhada para o bebê e continuou:
- Mas Legbá não é assim. Legbá é um típico homem Fon. É um tanto mais bonito que os humanos mas ele se misturaria tranquilamente entre os moradores do Benin. Mas esse bebê não parece nem com a mãe nem com o pai, veja o cabelo dele está nascendo branco como algodão e os olhos sao vermelhos e grandes demais. Ninguém vai ter essa criança como normal, não conseguiria nem sequer se misturar com pessoas negras, nem na tribo mais retinha da África ele passaria despercebido, pessoas negras não são como ele, ele é muito diferente de um ser humano. Eu Trarei amostras biológicas e irei mudar radicalmente a aparência dele, de modo que não seja possível descobrir o que é por dentro. Isso é para a proteção dele.

Uriel se abriu a porta para sair, Doralice foi com ele até o batente. Então ela o puxou pela manga da camisa, ele se virou e perguntou se ela queria falar algo. Ela olhou através da porta aberta e viu a grande pedra do outro lado da rua, parecia muito maior que o costume.
Ela falou entre os dentes:
- Uriel aquela pedra não era daquele tamanho.

Uriel olhou para frente suas mãos tremeram. Disfarçadamente cochichou:
- Doralice entre e feche a porta, pegue a seu cetro e se ela entrar lute, não deixe ela pegar o bebê.

Doralice entendeu muito bem o que significa aquele "Ela", se fosse Belladonna não haveria tanto temor na voz dele, isso significa que "Ela" era a Mambo. Ela perguntou:
- Vai lutar com ela?

Uriel encarando a pedra falou:
- infelizmente não ha outra maneira. Agora vá para dentro, se prepare para o fugir. Há uma chave nova no chaveiro. Faça seu feitiço e fuja.

Doralice pegou das mãos de Uriel o molho de chaves e entrou batendo a porta atrás dele.
Uriel foi para o meio do jardim, tirou a camisa e os sapatos, deixou as grandes asas vermelhas aparecerem e as penas se materializaram saindo suavemente das omoplatas, flexionou o peitoral de modo imponente e alongou os dedos mostrando as unhas pontudas como garras de uma águia. Com a voz firme ele berrou:
- Mambo! Se é guerra que tu quer, porque se acovarda como uma mera espiã?

Jacqueline lentamente se levantou, seu corpo todo cinza da cor da rocha, aos poucos foi retomando a cor original e voltando a exibir exuberante beleza. Olhando para as asas abertas de Uriel ela falou:
- Me disseram que você era um anjo sem asas, que perdeu os poderes.

Uriel piscou para ela e disse:
- Um amiguinho meu me deu uma força.

Jacqueline estremeceu:
- Você drenou poder da criança?

Uriel respondeu:
- Pode se dizer que sim.

Ela franziu a testa furiosa:
- Maldita seja! Como teve coragem? Ele não te pertence! Esta criança é propriedade de Mama Azòndató! Papa Legbá deu o bebê para ela...

Uriel interrompeu:
- Ora Cale essa boca!

Jacqueline furiosa fechou os punhos com força até sentir as unhas fincarem nas mãos, ninguém mandava uma Mambo calar a boca.

Uriel prosseguiu:
- Eu não roubei nada do bebê, fui impactado pela energia dele quando fiz o parto. Uma pequena dose de energia divina bruta que continua se multiplicando dentro de mim. Este bebê não é um escravo, não pertence a ninguém. E eu sei exatamente o que vocês malditas Mambo vão fazer com ele se puderem captura-lo.

Jacqueline deu dois passos para frente e disse:
- Sabe? Ninguém sabe.

Uriel deu um passo pra frente:
- Eu sei de todos os segredos, todos eles. Uma de vocês me contou.

Jacqueline tremeu os ombros e sorriu?
- Uma de nós? Quem?

Uriel deu um passo para frente:
- Mama Majidenò.

O sorriso de Jacqueline sumiu e os lábios dela se entortatam para baixo.

Uriel sorriu:
- Conhece esse nome?

Jacqueline franziu a testa e falou:
- Talvez. Onde a conheceu?

Uriel deu mais um passo para frente:
- Uns cem anos atrás eu a conheci em Paris, ela estava fugindo... Trabalhei na Europa por um tempo enquanto estava sem meus poderes e sempre tive a habilidade de sentir bruxas poderosas, e ela sem dúvida era muitos poderosa. Ela pediu ajuda a uma conhecida minha, uma Bruxa branca chamada Vanessa...

Jacqueline completou:
- Lineanne. Vanessa Lineanne de Paris.

Uriel levantou uma sobrancelha:
- Ah... Você conhece a história? Então sabe do que Mama Majidenò estava fugindo, não sabe?

Jacqueline o encarou com os olhos semi fechados e disse:
- Sei.

Uriel falou:
- Mama Majidenò foi caçada por uma traidora sádica que roubou os poderes dela. Que coisa triste, a traidora era a própria filha.... e como era o nome dessa vadia sádica? Ah sim, Bianchi Azòndató, soube que depois que ela matou Majidenò ela foi consagrada a nova Mama não é? E no caso é para ela que você trabalha.

Jacqueline olhou para Uriel e falou:
- Nada disso é da sua conta.

Uriel disse:
- Tem razão, essas histórias não da minha conta mesmo. Porém eu prometi a mãe daquele Bebê que o protegeria.

Jacqueline falou:
- Nos é que vamos tomar conta da criança. Ela é da nossa família.

Uriel riu e disse:
- Mambo é uma classe de Feiticeiras superior as outras, as bruxas brancas não sabem o motivo mas eu sei. Vocês caçam bruxas jovens antes que elas despertem os poderes, bruxas fracas. Fazem um corte na palma da mão delas e outro na própria mão, unem as mãos e sugam os poderes das outras. A África é um continente enorme, mas tem poucas bruxas, pouquíssimas na verdade. Não é estranho que o berço da humanidade esteja sem magia? Ou será que as Mambo andam com tanta fome de poder que não permitem que as novas bruxas fiquem vivas?

Jacqueline praguejou algo em francês, depois disse:
- Mama Majidenò realmente te contou bastante. Sim nos somos vampiras, sugamos poderes de bruxas jovens que tenham sangue limpo. E sim, Mama Azòndató vai drenar os poderes do bebê, Papa Legbá já deu seu aval.

Uriel deu um passo para o lado na direção do carro, falou:
- Mama Majidenò drenava apenas bruxas que cometiam crimes. Pelo que sei a discordância entre ela e Azòndató veio justamente pq esta segunda queria drenar o poder de todas as bruxas africanas que não fossem do clã das Mambo. Com qual das duas vocês se identifica mais? Com sua mãe ou com sua irmã?

Jacqueline arregalou os olhos e mordeu o lábio inferior.

Uriel olhou para a expressão dela e falou:
- Eu me lembro de você Jacqueline, lembro que Majidenò te levou com ela para paris, você andou no meu táxi e eu as levei para a antiga sede da Strega. Sua mãe te ninou por toda a viagem. Você não poderia lembrar de mim, era um bebê de colo. Você é irmã de Mama Azòndató e a serve mesmo sabendo que ela matou sua mãe e seu pai. Porque?

Jacqueline respirou fundo e falou:
- Você fala como se tudo fosse simples, como se eu pudesse simplesmente dizer não a ela. Eu não posso fazer isso.

Uriel falou:
- Eu compreendo. Ela te mantem rebaixada não é? Não concede a chance de você ficar forte como as outras Mambo não é? Ela teme que você se vingue, então constantemente te inferioriza. Não seria mais pruden...

Jacqueline falou alto:
- Basta!

Uriel ficou imóvel olhando para ela.

Ela falou:
- Perfect. Estou agora ciente que conheceu minha mãe, que sabe muito sobre as Mambo, mas não significa que vai ficar ai falando da minha vida como se me conhecesse e pudesse me induzir a qualquer coisa.

Uriel olhou fixamente para ela e disse:
- Nunca quis induzir você a nada. As minhas palavras tinham uma meta apenas.

Jacqueline perguntou:
- E que meta?

Uriel respondeu:
- Tudo que eu disse é verdade, conhecido Mama Majidenò e te vi quando era um bebê, mas tudo isso nesse momento é irrelevante. Só fiquei aqui falando porque queria ganhar tempo.

Jacqueline piscou duas vezes lentamente e percebeu que não sentia mais a presença do Bebê vindo da casa. Então gritou:
- Fils de pute!

Enquanto Uriel falava com Jacqueline, Doralice pegou a chave nova que ele trouxe e percebeu que era pequena demais para ser a chave de uma porta de casa, então sua mente rápidamente procurou dentro da residência uma fechadura que coubesse e encontrou uma idêntica na porta do antigo guarda-roupa do capataz. O homem jazia morto ali ao lado mas a casa ainda era dele, ao abrir o guarda-roupa estava cheio de botinas mal cheirosas e camisas amareladas. Ela pegou o bebê o enrolou em uma manta, em seguida enfeitiçou a chave, encostou a porta e a girou na fechadura. Assim que a girou um cheiro de roupas limpas e perfumadas se espalhou, e quando ela abriu a porta viu que a madeira havia sido pintada de rosa e haviam vários vestidos infantis em cabides encapados com veludo branco. Era claro o plano de Uriel, ele havia encontrado um guarda-roupa igual e Doralice usando a chave poderia se deslocar para este outro guarda e ao sair dele ela estaria saindo dentro do quarto de uma outra casa, era uma fuga espetácular. Doralice tirou a chave do guarda roupa e entrou dentro dele, então puxou a porta e a esperou bater, contou até dez e abriu novamente, e quando olhou para fora viu uma cama pequena onde dormia uma menina que parecia ter oito ou nove anos de idade. A casa com certeza era outra. Doralice saiu lentamente com seu cetro a mão e então se aproximou da menina, apontou o cetro para ela e disse:
- Olá meu anjo, eu sou... sou uma fada.

A menina enfeitiçada ainda com os olhos fechados sorriu.

Doralice então falou:
- Você sabe me dizer em que cidade estamos?

A menina dormindo falou com a voz mole:
- hum... São Paulo...

Doralice olhou para uma escrivaninha e viu sobre ela um caderno de brochura encapado com um papel cheio de pequenas estrelas amarelas em um fundo rosa choque, era o caderno de lição de casa. Cuidadosa para nao fazer barulho e para não deixar o bebê chorar ela foi ate o caderno e o abriu, folheou até a última página escrita e leu no topo da folha escrito com uma letra adulta "Para ser entregue em Sete de Fevereiro", provavelmente era a letra da professora da menina, então Doralice concluiu que se a lição de casa era para o dia sete, dia seguinte, ainda era dia seis. Ela encontrou um relógio em uma moldura em formato de joaninha bem ao lado do caderno, nove e meia da noite, havia também um calendário de espiral ali onde se via os dias do mes de Fevereiro de 1989. Ela ficou grata por agora estar no tempo presente. Mas havia uma dúvida, pra onde ela iria agora? Ela sabia que sem a proteção temporal do seu esconderijo anterior Samyaza e Belladonna iriam rastrear o bebê em um estalar de dedos.

Ahiliel bateu na porta do quarto de Belladonna para avisar que ela estava sendo chamada com urgência em um quarto no último piso do subsolo do palácio de Samyaza.
Belladonna estava largada na cama como sempre, vestia uma túnica longa e acinturada de seda branca e sandálias de salto alto prateadas, havia um enorme decote nas costas e por isso estava mais que claro que eram roupas de anjo, era uma túnica que pertencia a Ahiliel, ele não se fez regado para emprestar roupas para ela, já as sandálias haviam sido doadas de muita má vontade pela própria Samyaza que as pegou em sua coleção pessoal.
Ahiliel explicou que a construção do palácio consistia no térreo mais sete andares para cima dando o total de um prédio de oito pisos a vista, mas que o subsolo possuia doze andares e que para circular o ar as câmaras haviam sido construídas com teto alto, isso significava que do oitavo andar onde Belladonna estava até o décimo segundo piso do subsolo era uma descida de mais de duzentos metros. Isso não era nada para os seres alados que simplesmente se atiravam pelo largo canal de ventilação e desciam planando, mas ela teria que ir pelas escadas. Ou não...  
O tempo no inferno passa muito devagar, o quase tres dias que haviam passado na terra davam no total sessenta e oito dias no Inferno, e Belladonna usou este tempo para ler, pedir ajuda para Ahiliel em algumas questões e então praticou magia negra. Era tudo muito novo para ela, o que havia feito durante a vida relacionado a este tipo de magia era voltado a exorcismos ou a realizar desejos de terceiros, coisas nitidamente pequenas, agora ela estava tentando por magia negra em si mesma, queria afetar o próprio corpo e modificar a própria energia.
Ela pegou a colher de Pau, olhou para Ahiliel e disse:
- Me leve ao duto de ventilação.

Ahiliel se surpreendeu:
- Mas pra quê? Vai pular?

Belladonna respondeu:
- Até minha velha tia Doralice faz esse tipo de coisa, se ela consegue eu também consigo.

Ele a guiou até uma dobra no corredor onde havia uma porta dourada, era sem dúvida de ouro maciço e Belladonna não teve dúvidas que aquele era o quarto de Samyaza.
Ele pôs a mão sobre a grande maçaneta em forma de cabeça de leão e disse:
- Este é o aposento da senhora Samyaza.

Belladonna estremeceu:
- Mas ela não vai se zangar se entrarmos no quarto dela?

Ahiliel abriu a porta e mostrou o interior, era amplo, havia quatro grandes sofás brancos em estilo colonial com grandes almofadadas brancas com detalhes dourados sobre os assentos e uma mesa de centro de tampo de vidro e barras douradas, uma lareira de mármore claro cor de osso totalmente limpa e sobre ela um castiçal de ouro maciço com espaço para treze velas, uma grandiosa mesa de reuniões em madeira clara com quatorze cadeiras estilo trono estofadas em cobertas com tecido branco, todo o ambiente tinha o piso forrado por um carpete felpudo vermelho vivo e nas paredes haviam grandes quadros, telas onde Samyaza havia sido retratada vestida com roupas de várias culturas e épocas.
Ahiliel entrou e apontou para uma porta idêntica a que ele acabara de abrir mas esta ficava do outro lado da sala atrás do maior dos sofás, ele disse:
- Aquela porta é a da alcova da Senhora Samyaza, este aqui é apenas um salão de reuniões privativo, faz parte do quarto dela tal qual a sala de banho, sala de vestir, sala de descanso, sala do cofre e a sala das armaduras, mas todas estas salas ficam depois daquela porta. Entrar aqui neste primeiro ambiente não fere a privacidade da dona da casa, não se preocupe de verdade. Ela mandou construir esse salão privativo dentro das dependências do quarto dela para poder ter reuniões mais sigilosas, afinal a sala de reuniões do quarto andar e muito mais espaçosa mas também muito exposta.

Belladonna entrou andando de vagar enquanto Ahiliel correu ate um quadro enorme onde Samyaza havia sido pintada com roupas matrimoniais indianas, ele puxou a moldura dourada e ela se abriu como uma porta revelando um vão na parede atras dela.
Belladonna se esgueirou pelo vão e viu largo cano de cobre que descia a perder de vista, olhando dentro dele ela assimilou com um poço sem fundo.
Ela disse:
- Este é o duto de ventilação?

Ahiliel entrou no vão raspando ruidosamente as asas nas paredes, fechou o quadro atrás dele e respondeu:
- Sim, alcança prédio todo e tem entradas em todos os andares. Nos que temos asas já planamos no espaço entre as escadarias mas esse tubo serve para a senhora Samyaza e eu circulamos com mais liberdade.

Belladonna se sentou na borda do rubo e apontou a colher de pau para baixo, porém a mão ligeiramente tremia.

Ahiliel perguntou:
- Está com medo?

Ela com os olhos fixos no poço não respondeu, projetou os quadris para frente e murmurou "TITALEE PANKH", dai saltou na escuridão.



(POR ESSE CAPÍTULO TER FICADO MUITO LONGO HOUVE A NECESSIDADE DE DIVIDIR EM DUAS PARTES, CLIQUE NO LINK ABAIXO PARA LER A CONTINUAÇÃO)

Segunda Parte Clique aqui: MDB09PT02



Comentários

  1. Irmão , creio que o link não foi adcionado

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  2. Boa noite.creio que o link não foi adicionado

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  3. Caro Felipe Caprini, vc pode me responder se vc ainda vai escrever o final da roda das princesas ? Tô ansiosa pra lê. Desde já agradeço!

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