Medium Diva Belladonna Ep. 8
Médium Diva Belladonna
Penúltimo episódio
8
"Voltará a ser aquilo que nunca foi"
Era um salão enorme, o teto pairava a mais de dez metros de altura sustentado por grossas pilastras de mármore claro ornadas com estátuas em seus pés, imagens de Anjos nas mais variadas posições. No teto se viam enormes pinturas coloridas de mulheres nuas muito belas dançando com bodes pretos, gatos e lobos em paisagens calmas de entardecer com céu alaranjado. Era praticamente uma piada, ja que no Inferno não existe amanhecer nem entardecer, lá é sempre noite. No centro do salão havia uma grande mesa de pedra branca reluzente em torno dela estavam sentados em grandes cadeiras de madeira de lei estofada com veludo prateado trinta e três pessoas. Aquele era um dos grandes salões do Palácio Geena. Este palácio era um tanto curioso, já que da superfície so se via uma enorme estátua e mais de dez metros de Satanás sentado sobre uma pedra com as asas abertas e a mão sob o queixo como quem está a pensar, porem na base da estátua havia uma grande porta de pedra escura que dava entrada para as escadarias. Geena era subterrâneo. Há quem diga que seus longínquos corredores se estendiam por todo o solo de todas as provincias do inferno.
Geena é o principal palácio onde Heylel, o mais conhecido como Diabo, Satã, Shaitaan, Lucifer e entre outros nomes mora. Ele possui mais alguns palácios mas é em Genna que ele passa a maior parte do tempo.
Geena fica no extremo sul da província de Gehinom, que é uma das províncias do Inferno. Este nome veio do termo "Geh Ben-Hinom" que significa "filho de Hinom". Esta é a casa oficial de Satanás.
Muitos pensam que o Inferno é habitat única e exclusivamente de Anjos Caídos, mas não, por mais que os primeiros ocupantes do grande continente Infernal foram sim anjos caídos, com o passar dos milênios muitas terras e reinos foram anexados fazendo daquele pequeno planeta um lugar extremamente agitado e habitado por mais de duas centenas de espécies ou tipos de seres das trevas incluindo espíritos humanos.
Ele, o poderoso Imperador do Inferno estava sentado na cabeceira da mesa e sentados a sua direta e esquerda estavam a rainha Lilith e o príncipe Kakuseisha. Estes dois eram a esposa e o marido de Satanás.
Os outros trinta alguns dos Lordes, Senhores e Senhoras governantes das dezessete províncias do Inferno e cidades importantes dentro delas.
Samyaza estavam a direta de Satanás bem ao lado de Lilith, ela ria com ele e com os demais Lordes. Ela era chefe regente da província de Sheol, a mais nobre e populosa. Por ela ser amiga íntima do Imperador tinha a rara liberdade de chama-lo por seu nome verdadeiro. Como devem saber os nomes Satanás, Diabo, Satã, Lúcifer e etc foram atribuidos com o passar do tempo, mas o real nome dele é Heylel.
Todos os Lordes e Madames sentados a mesa falavam agitados, tinham um tom festivo, mas Satanás não. Ele estava ali estado duro como se seu corpo fosse feito de pedra, e nossa como era belo! Naturalmente ele era havia sido o anjo mais belo que o Deus maior criou, mas ainda agora sendo imperador dos exilados ele estava ainda mais bonito. Tinha longos cabelos negros levemente encaracolados soltos e compridos até abaixo da cintura, na cabeça usava um delicado diadema com uma estrela de prata na testa. Seus olhos eram do mais ardente vermelho, sua pele era pálida como se fosse de mármore e seus lábios fartos como de uma criança eram rosados. Ele mantinha os cotovelos sobre a mesa arqueando as costas em contrapeso as enormes asas de plumas brancas que pendiam de suas costas, as mãos juntas com dedos entrelaçados bem diante do rosto. Se vestia de modo simples, apenas com um robe preto que deixava o pescoço e parte do peito a mostra. Era estonteante.
Samyaza após bebericar vinho de uma taça de ouro maciço se virou para ele e disse:
- Monseigneur, tem um minuto?
Ele lentamente virou os olhos na direção dela e respondeu com delicada voz de veludo:
- Quantos minutos quiser minha irmã.
Samyaza se aprumou na cadeira e disse:
- Quanto a sua resposta sobre o pedido de entrada dos Nórdicos?
Satanás olhou fixamente para ela por alguns segundos, então fechou os olhos e suspirou fundo. Em tom de desalento respondeu:
- De novo isso?
Samyaza abriu a boca para falar mas ele falou antes a fazendo se calar:
- Ora Samyaza eu ja estou saturado em saber que você não gosta de nenhuma criatura de natureza e origem diferente da nossa. Mas faz milênios que eu abri as portas do meu império para todos os que queiram se juntar a ele.
Samyaza disse:
- Então pretende liberar uma décima oitava província?
Satanás respondeu:
- Esta terra, este planeta que todos agora insistem em chamar de Inferno, não é totalmente físico. Eu posso expandilo como quiser e fazer novas faixas de terra para novas provincias. Se você está triste com o fato de uma décima oitavo província surgir eu lamento, e digo mais, esta não será a última.
Os labios de Samyaza se entortaram para baixo, ela não conseguiu desfazer a expressão de desgosto. Todos sabiam que ela era terminantemente contra outros seres que não fossem anjos caídos pudessem habitar o inferno, e ela protestou com veemência contra a entrada de divindades, seres de outros planos e espírito humanos. Mas Satanás não dava atenção a isso, ele sempre foi de uma política abrangente fazendo todos os tipos de seres bem vindos em seu domínio.
O ver a expressão de Samyaza, Lilith que estava ao lado dela falou em voz alta:
- Heylel, não tenho certeza mas Samyaza parece desaprovar suas atitudes. Talvez ela pense que seria mais competente se ela fosse a imperatriz.
Todos os que estavam sentados a mesa se calaram e olharam para a loiríssima Samyaza e para e bela morena Lilith.
Satanás olhou para as duas também e falou com a voz um pouco mais aguda que antes:
- Não faça intrigas Lilith. Samyaza não pensa em usurpar a minha coroa... Pensa irmã?
Samyaza sentiu a face arder, estava vermelha. Calmamente ela respondeu:
- Certamente que não, eu nunca tive tais pensamentos. Lilith pensa em coisas absurdas.
Lilith falou novamente em alto e bom som:
- Ah mas eu insisto neste assunto. Todos sabemos o profundo desprezo que a bela Samyaza tem por todos nos que não somos anjos. Ela não esconde que gostaria de escorraçar um a um de nós daqui.
Samyaza passou os olhos pelos rostos dos demais convidados e percebeu pela primeira vez que setenta por cento deles não era anjo, a maioria eram divindades mas também haviam criaturas das trevas, todos a olhavam com descarada desconfiança. Ela sorriu para eles com falsa simpatia e abanou com as mãos indicando que era um mal entendido.
Mas Lilith prosseguiu:
- Infelizmente para ela, eu estou em nível hierárquico superior. Caso meu marido viesse a se ausentar, eu e obviamente Kakuseisha iriamos assumir o governo. Imagino como nossa doce Samyaza se sentiria ao ter uma imperatriz como eu, humana.
Alguns risos de satisfação foram ouvidos.
Lilith ficou em pé e deu a volta por trás da cadeira se Satanás e se inclinou para beijar o bochecha ossuada dele.
Samyaza olhou para ela falou simulando paciência:
- Madame Lilith, eu nunca disse que queria ou desejava escorraçar ninguém. Apenas o que faço e aconselhar, e veja bem, quando digo aconselhar é apenas sugerir e não impor minhas opiniões sobre gestão a nosso amado Heylel.
Lilith inflou o peito e sacudiu os ombros e enquanto falou:
- Olhe só, ela esta em posição de sugerir melhoras na gestão do imperador Satanás! Ela é uma santa não é mesmo?
Altos risos foram ouvidos, até algumas gargalhadas.
Satanás ergueu a mão e disse:
- Basta. Não levem Lilith a sério, ela é por deveras ciumenta com Samyaza.
Samyaza falou:
- Monseigneur, o que temo é que essa terra que é originalmente nossa seja tomada por outros seres.
Satanás olhou para ela e com um sorriso doce disse:
- Essa terra é nossa? Não Samyaza, eu não sou um Deus Supremo, se lembre que apenas os deuses supremos, como nosso amado pai Jeová é que podem criar coisas. Nos habitamos esse lugar sim mas ele nunca foi de fato nosso. Devo-lhe lembrar que nos somos rebeldes, e rebeldes não tem lar. Habitamos aqui há muito tempo, desde que Adão se juntou a segunda esposa. Porém se um dia tivermos de sair e ir viver em outro lugar, sairemos. Sou imperador sim, mas meu império não é sobre terra nem sobre provincias, o meu império é dominar pessoas, sejam elas anjos caídos, divindades, o que for. Até espíritos humanos, sereianas e Elfos.
Ao ouvir a palavra "Elfo" Samyaza engasgou, tossiu com força várias vezes. Quando se recuperou ela respondeu em tom grosseiro:
- Elfos? Vai encher nossas casas com esses personagens de livros de humanos estúpidos?
Satanás olhou para ela com severidade, ela sentiu um forte arrepio por toda a pele o corpo. Rapidemente ela abaixou a cabeça em contrição.
Ele tamborilou os dedos na mesa sem fazer barulho, riu e disse:
- Se ser personagem de livros de humanos é um demérito, então eu estou muito encrencado afinal sou personagem do livro mais famoso deles não é?
Lilith falou:
- É um livro engraçado. Eu já li de capa a capa várias vezes, fico sempre aturdida por eles não me citarem. A breve menção que fazem minha sobre a Serpente que enganou Eva. Mas eles fazem parecer que a Serpente é Heylel quando claramente era eu.
Satanás riu e disse:
- Você sempre foi ótima em transformações, mas eu terminantemente digo que jamais me transformaria em serpente, não vejo beleza nas cobras.
Lilith riu e disse:
- Samyaza é hipócrita. Ela também não é personagem no livro de Enoque? "Shemihazá"! E ele ainda escreveu sobre ela como se ela fosse um macho.
Todos na sala riram inclusive Satanás com sua breve risada contida.
Samyaza falou:
- Me perdoem todos se minhas opiniões ofendem ou lhes parecem contraditórias, porém eu creio ser meu direito defende-las.
Lilith falou elevando a voz:
- Não se elas contrariam o imperad...
Satanás ergueu a voz e disse estridente:
- Já chega.
Lilith se sentou rapidemente de volta a sua cadeira.
Satanás prosseguiu dizendo:
- Samyaza minha irmã, com toda a intimidade eu te chamo pelo seu nome verdadeiro Urakabarameel, tal qual lhe permitiu me chamar de Heylel. Suas opiniões eu sempre irei ouvir, tens todo o direito de professa-las publicamente. Mas, eu escolho se irei segui-las ou ignora-las.
Samyaza satisfeita com as palavras de Satanás respondeu:
- Vida longa ao seu reinado!
A reunião seguiu tranquilamente após isso, assuntos triviais foram discutidos como por exemplo a questão dos espíritos infantizados estarem causando grande perturbação em muitas províncias. Após muitos formulários de novas leis serem devidamente preenchidos cada um tomou seu rumo.
Quando Samyaza chegou em seu palácio, assim que entrou voando pela grande varanda do salão de ensaio do Balé ouviu um tilintar agudo de sinos. Um dos servos veio até ela correndo e disse:
- Minha senhora! O som vem da sua sala intima senhora, mas a porta esta trancada.
Samyaza bateu as asas derrubando o servo de lado, vôou para lá em um segundo, atravessou os corredores largos com as asas abertas planando até chegar na porta do quarto, bateu com a unha do dedo indicador na grande porta de duas folhas e ela se abriu. Quando entrou rápidamente viu em um espelho enorme de cantos arredondados e ladeado de dezenas de sinetas a figura de uma Mambo, uma bruxa negra caminhando até o casarão de Belladonna.
Era um espelho perseguidor, uma ferramenta demoníaca que conseguia vigiar as pessoas das quais se tinha interesse.
Samyaza prevendo o perigo correu ate um grande e alto armário de madeira pintada de vermelho no canto do quarto, o abriu escancarando as portas e apanhou uma caixa pesada e um envelope. Da caixa ela retirou uma fina e longa corrente de ouro e um saco de couro, do envelope alguns fios de cabelo negro.
Ela abriu o saco e encheu a mão com uma areia fina e misturou aos cabelos que tinha na mão, então arremessou tudo para cima. A nuvem de areia não caiu, ficou flutuando e se tornou espessa girando como um redemoinho.
Samyaza pegou a corrente, segurou uma ponta e a outra arremessou para cima no meio da nuvem e berrou "Aiktishaf Belladonna!", ela atravessou. Dando dois toques para baixo ela sentiu que havia fisgado alto e com toda a força puxou, e em um segundo Belladonna caiu do meio da nuvem de areia com a corrente amarrada pela cintura e se estatelou no chão desacordada, mas Samyaza teve de se jogar por cima dela e abrir as asas fazendo um escudo para a grande língua de fogo que desceu pela nuvem, foi resquício da magia de fogo da Mambo, com o impacto da explosão da casa de Belladonna na terra o quarto de Samyaza no Inferno estremeceu tao bruscamente que parte do forro do teto caiuu e vários quadros se desprenderam das paredes, até um vaso rachou no meio espalhando agua pelo chão, mas o pior foi o grande espelho que se espatifou em vários cacos que caíram ruidosamente no chão se fragmentando ainda mais.
Samyaza olhou para cima enquanto a areia caia suavemente e vendo as marcas escuras de fogo no teto ela murmurou "essa foi por um triz".
Alguns servos vieram correndo, eram todos muito baixos como adolescentes humanos mas suas feições eram de idosos. Por ordem de Samyaza eles carregaram Bella para um salão no andar de cima, o salão música. Outra leva de servos entrou no quarto semi destruído afim de arrumar a bagunça.
Horas depois Belladonna abriu os olhos lentamente, se sentia muito dolorida. Um som suave de harpa sendo dedilhada a fazia ter sono. A voz melódica e suave de Samyaza ecoava cantando. Belladonna estava deitada em um tapete persa cercada de alfomadas de seda rosa clara. Ela acordou ali no meio do salão principal do grande palácio de Samyaza no inferno.
Samyaza estavam logo a diante sentada em uma banquinho de mogno trabalhado com arabescos em prata envelhecida e se vestida com um manto vermelho vivo, descalça mostrando pés pequenos com unhas naturalmente rosadas e com os cabelos extremamente compridos soltos caídos entre o vão que as duas enormes asas que pendiam das costas dela faziam.
A voz dela era belíssima, muito melancólica mas sem dúvida divina.
Ela cantava lentamente como se as palavras tivessem muito peso:
"Eu farejo algo no vento...
A tragédia é iminente...
E embora eu quisesse ser fiel a ele...
Eu não posso afastar esse sentimento que tenho...
O pior está por perto...
E será que ele percebe meus sentimentos por ele?
E ele verá o quanto ele significa para mim?
Acho que não é pra ser...
O que será do meu querido Deus?
Onde as ações dele vão nos levar?
O destino que ele escreveu...
Não serve para mim...
Embora eu queira me juntar...
A multidão que vive para o adorar...
Se isso eu fizesse...
Não iria durar...
E será que vamos terminar juntos?
Não, acho que não...
Nunca vai acontecer...
Por eu não sou a pessoa certa.
Todos os lados que eu olho...
Eu vejo a graça e a extrema força
Que se desprende de meu senhor...
Toque-me...
Eu não desprendo meus olhos de ti...
Esperando o dia...
Da tua queda..."
Samyaza virou a cabeça e olhou para ela dando um sorriso simpático. Disse:
- Que bom, que bom que acordou. Foi uma situação complicada agora pouco, não?
Belladonna voltou a si e se lembrou do fagaréu que a Bruxa Jacqueline tinha feito na mansão e perguntou:
- A minha casa! Ela está sendo incêndiada! Tem uma Mambo lá! E... e... Como eu vim parar aqui?
Samyaza ainda dedilhava suavemente a harpa. Ela respondeu:
- Eu te puxei para cá um milésimo de segundo antes daquela Mambo te transformar em carvão. Hum... Aquela mulher ia te tostar inteira, ela nao estava brincando. Não pense na sua casa, ela não existe mais. A Mambo fez da propriedade uma grande fornalha. Muito talentosa aquela Mambo... Jacqueline. Essas mulheres de pele escura, fantásticas... pena que não gostam de nós, senão seria magnífico trabalhar com elas.
Belladonna arregalou os olhos e perguntou:
- Me puxou? Fisicamente?
Samyaza respondeu:
- Foi o jeito. Tive que te trazer em carne e osso. Mas não se sinta especial, tem um bocado de humanos aqui no Inferno que não estão em forma espiritual, sao de carne e osso como você. Sua mãe por exemplo é uma que está aqui com o corpo todo.
Belladonna se levantou, entre gemidos ficou em pé pendendo um pouco para o lado. Caminhou ate se aproximar de Samyaza e falou:
- Não quero saber de minha mãe. Minha casa foi destruída... Betânia fugiu com Uriel e Doralice... Em meia hora eu perdi tudo.
Samyaza riu baixo e disse:
- Tudo o que? Você nunca teve nada. Não foi você que construiu aquela casa, mesmo morando lá durante algum tempo a casa sempre foi de Madame Quitéria. E a sua filha nunca foi realmente sua desde o dia em que você se recusou a ama-la. Você não perdeu nada, nada ali era seu de verdade.
Belladonna se sentiu profundamente impactada por aquelas palavras. Caminhou mais para frente e foi até uma enorme janela de vidro aberta por onde se via sob o céu escuro quase negro uma gigantesca plantação de rosas vermelhas, tentou ver ate onde as rosas iam mas o roseiral parecia não ter fim. Ela viu algumas petalas soltas flutuarem sendo levadas por uma brisa, olhando para as rosas ela perguntou:
- Vocês cultivam rosas aqui no inferno?
Samyaza se levantou, pôs a harpa no chão e foi até ela, olhou para o roseiral a perder de vista e disse:
- Não... cada rosa que você vê é um filho meu.
Belladonna olhou para o campo e perguntou:
- Como assim filho?
Samyaza ergueu os braços coçando a cabeça com a ponta dos dedos que passavam como dentes de um pente pelo cabelo louro claro. Ela respondeu:
- Desde que eu fui proibida de pisar na terra dos humanos eu tenho tentado ter filhos. Tentei de várias formas, mas eu aborto todas as vezes. Tem algo de errado comigo. Quando eu aborto... enterro meus bebês mortos ali. Já são centenas de milhares e todo ano eu tento novamente. Quando os enterro, do corpo deles surge a rosa. É muito triste, mas ao mesmo tempo lindo não é?
Belladonna olhou novamente mas não viu beleza, viu aquilo como algo mórbido. Porém para não contrariar sua salvadora ela concordou:
- Sim, lindo. Mas você ja pariu algumas vezes, algumas centenas de vezes... Porque não consegue mais?
Samyaza falou:
- Existe uma espada chamada Nihaya, a espada matadora de Anjos. Reza a lenda que o nosso poderosíssimo e supremo Deus criador dos céus e da terra assim como nós anjos também tem grandes asas, mas ele as mantém escondidas. A espada Nihaya foi feita com uma pena das asas dele. Miguel cravou a espada na minha barriga na última vez que ele tentou me destruir. Eu me recuperei por fora mas não por dentro, o útero humano que eu fiz para mim mesma se partiu ao meio e eu não pude concertar.
Belladonna falou:
- É seu sonho ser mãe? Digo, novamente?
Samyaza respondeu:
- Sim, e serei. Me lembro do rosto de cada um dos meus filhos, os amei muito.
Belladonna falou:
- E pelo visto eu contribui para te ajudar não é?
Samyaza girou rápidamente a encarando e voltou a falar:
- Você não é uma pessoa burra, ja deve ter entendido o que eu fiz, não?
Belladonna continuava olhando para frente, respondeu:
- Sim. Me usou, usou Betânia. So ainda não entendi como.
Samyaza falou:
- Um tempo atrás eu visitei as Moiras, elas agora vivem em uma província próximo. Conversa vai conversar vem eu soube que uma bruxa que nao podia manifestar poderes, se fosse forçada a parir um filho fruto de uma relação divina daria origem a um grande ser. Era como uma soma sabe, a força encubada da Bruxa seria um fator multiplicar para a força da divindade que a empenhasse, isso daria origem a uma criança muito poderosa, suficiente para ser usada de combustível para meus planos. Procurei bastante mas bruxas defeituosas são raras.
Belladonna falou:
- Então encontrou Betânia não é?
Samyaza respondeu:
- Exatamente, bem debaixo do meu nariz.
Belladonna perguntou:
- Como assim debaixo do seu nariz?
Samyaza respondeu:
- Meu amado irmão Uriel, eu sempre mantive um olho nele sabe, isso significa que recebi nas últimas décadas varios relatórios sobre ele com o seu nome incluído, eu ja te vigiava ha tempos.
Belladonna assentiu com a cabeça e falou:
- Por isso da primeira vez que te vi você me disse "desde de a época que permiti meu irmão ficar sob sua guarda"...
Samyaza falou:
- Creio que usei outras palavras... mas não importa. Eu fiquei sabendo da sua filha, Betânia... Betânia Salvaterra!
Belladonna corrigiu:
- Nem eu nem ela usamos este sobrenome.
Samyaza falou:
- Não me interessa o nome que vocês usam nos documentos humanos, papéis inúteis. Vocês têm sangue de Aiyra Salvaterra, sua ancestral! Vocês são Salvaterra! E por uma incrível coincidência a sua filha se interessou por Magia, e eu usei isso para ela ser atraída até aqui.
Belladonna perguntou:
- Quando ela foi na minha casa e roubou aquele livro...
Samyaza falou:
- Ah... O livro... Ela queria um livro de poções, estava apaixonada sabe, queria fazer uma amarração. Mas eu assoprei no ouvido dela para pegar o outro livro, o de invocações.
Belladonna disse:
- Então ela te invocou?
Samyaza riu alto jogando a cabeça para trás, disse:
- Me invocar? Eu já nao disse que ela é uma bruxa que não consegue usar os poderes? Ela nunca poderia. Eu a invoquei. Com aquele livro eu fiz ela repetir o mesmo feitiço que eu estava falando aqui e então se criou uma ponte e eu a puxei, trouxe a alma dela para cá. Aqui eu a enchi de magia negra, atrativa para uma divindade acasalar com ela. Porém eu não tinha poder suficiente para isso.
Belladonna suspirou fundo e falou:
- Então me mandou matar o profeta...
Samyaza estalou os dedos e falou:
- Bingo! Foi isso mesmo. Eu podia ter enviado outra pessoa, mas não achei seguro ficar enchendo de gente, quanto mais pessoas envolvidas mais chance de ser traída.
O que eu não pensava era que seria uma divindade Africana. Não estava nos meus planos que a menina fosse para a África. Isso foi muito bom e ao mesmo tempo muito ruim.
Belladonna falou:
- Vai sacrifícar a criança e com o poder que emanar dela vai restaurar seu útero?
Samyaza respondeu:
- É... Exatamente. Mas não pense que eu serei ingrata, eu só quero a alma da criança, a carne e o sangue são seus, se alimente deles e será imortal.
Belladonna perguntou:
- A pulseira que me deu, ela me fara mesmo chegar a cento e setenta anos de vida?
Samyaza perguntou:
- Sim. Mas é o suficiente?
Belladonna respondeu:
- Não.
Samyaza falou;
- Olhe meu bem, a criança deve nascer em poucos instantes. Você deve ir atrás dela, eu não tenho como enviar outra pessoa. Isso que estou fazendo é contra a lei, se meu imperador souber ele ira me punir.
Belladonna perguntou:
- Seu imperador? Satanás é contra?
Samyaza respondeu:
- Entenda... Além de simplesmente consertar o meu útero... A alma da criança me fará muito poderosa.
Belladonna olhou para Samyaza e perguntou:
- Mais poderosa que o próprio Satanás?
Samyaza disse:
- Eu creio que Sim. Eu serei maior que ele. Apenas você, eu e minha irmã Thanatael sabemos deste plano. Se tudo der certo eu serei a imperatriz deste mundo. Uma imperatriz para a todos governar.
Belladonna ficou temerosa, pensou estar se metendo em uma situação muito grave. A mãe de Belladonna havia sido crucificada de cabeça para baixo e condenada a um buraco escuro nas masmorras do Gehinom por ter desagradado Satanás, e ela estava se metendo com algo ainda mais grave, ela estava se metendo em um declarado golpe de estado contra Satanás.
Ela disse:
- Certo. Eu irei atrás da criança. Mas a Mambo está atrás dela também, e eu não tenho como enfrentar.
Samyaza ficou pensativa. Após algum tempo disse:
- Eu vou te dar um auxilio. Me dê aqui aquela sua colher de pau.
Belladonna olhou para trás, para o tapete no qual momentos antes estava deitada e viu ali em cima dele a colher de pau que havia pertencido a sua mãe. Ela foi ate lá a apanhou e deu para Samyaza.
Samyaza pegou na mão e chacoalhou a colher como se estivesse pesando. Perguntou:
- Sabe a quem pertenceu esta colher?
Belladonna respondeu:
- Sim, pertenceu a Sarana Salvaterra, minha mãe.
Samyaza sorriu e falou:
- Esta colher de pau pertenceu a Bruxa que deu origem a sua família. É a colher de pau da feiticeira Aiyra. Esta colher de pau foi o estopim da guerra entre suas antepassadas Helena e Beatrix. Onze Bruxos e Bruxas usaram esta colher, ela está impregnada da magia deles. Todos eles são seus parentes mortos.
Belladonna olhou para a colher muito surpresa e perguntou:
- Ela é então mais poderosa do que eu supunha. Mas é o suficiente para enfrentar uma Mambo?
Samyaza falou:
- Ora mas com certeza não. Por mais que esta ferramenta seja surpreendente, ela não esta no nível de uma Mambo. Mas eu posso ajudar.
Belladonna observou Samyaza arrancar com certa violência do pescoço um colar dourado que tinha um pingente em forma de duas asas e enrolar ele na colher, então assoprou e seu fôlego fez o ouro da jóia se fixar na colher formando um desenho em espiral por todo o cabo e deixando o pingente na concha. Ela falou:
- Olhe, esta jóia que eu embuti na sua colher tem muita força, ela ira somar com o poder que já tem e... Possivelmente você poderá lidar com a Mambo usando ela.
Belladonna repetiu pausadamente:
- Possivelmente...
De repente Samyaza fez uma expressão de aborrecimento no rosto e berrou com voz estridente:
- O que é?!
Belladonna deu um passo para trás, ela nunca havia ouvido Samyaza gritar antes. Ela sempre parecia ser dócil, mesmo quando era dura, mas obviamente que o comportamento simpático e amigável era uma máscara. A porta rangeu e Belladonna viu um outro anjo entrar na sala, ele era exatamente igual a Uriel exceto pelos cabelos compridos até abaixo da cintura e por ser um tanto baixo. Belladonna se sentiu aliviada por o berro de Samyaza ter sido com ele.
O anjo tinha uma voz infantil, parecia constrangido, disse:
- Senhora, Madame... Madame Nayara está aqui.
Samyaza franziu a testa e perguntou:
- Quem? Ora essa, despache, eu não conheço.
O anjo corou. Calmamente explicou:
- Madame Nayara, a humana. A que usa os... espelhos...
Samyaza revirou os olhos e disse:
- Ah sim... É Pombagira. Espíritos de mulheres Américo-latinas mortas atualmente se chama Pombagira. Grave esse nome Ahiliel, não chame elas como se fossem vivas, as anuncie por Pombagira.
O anjo muito constrangido respondeu:
- Correto. Me perdoe. A Pombagira chegou.
Samyaza falou ríspida:
- Mande ela entrar.
O anjo se retirou e instantes depois uma mulher morena usando um grande casaco sobretudo branco e um par de sandálias de tiras prateadas a saltos finos de quinze centímetros entrou na sala, ela era muito bonita, o cabelo estava solto e caia ondulado pelas costas em grades méchas negras. Belladonna a reconheceu, ja a tinha visto antes, ela era a Pombagira Rosa dos Ventos que também era conhecida por "Nayara Vidente".
Rosa dos Ventos se aproximou e ignorando totalmente Belladonna ela se dirigiu a Samyaza dizendo:
- Minha Senhora, há uma nova predição. Meus espelhos me revelaram.
Belladonna se sentiu confusa, com tantos demônios e divindades no inferno que tinham vidência, porque ela estava solicitando os serviços de Rosa dos Ventos? Não tinha sentido.
Samyaza olhou para Belladonna e pareceu adivinhar o que ela pensava. Falou:
- Está se perguntando porque eu estou me envolvendo com Pombagiras?
Belladonna não disse nada mas torceu os lábios mostrando que não compreendia.
Samyaza explicou:
- Tudo no Inferno é velho. Tudo com exceção delas. Eu tenho planos muito importantes, e não posso mais confiar em ninguém daqui. Por mais que este lugar esteja repleto de espíritos muito poderosos eu não posso me dispor deles, é certeza que iriam me trair. Desde que eu conheci aquela sua amiga Maria Mulambo eu tenho feito muitos negócios com Pombagiras. Não que elas sejam de confiança, porque não são. Mas é minha melhor alternativa agora.
Rosa dos Ventos ergueu a mão mostrando um pergaminho enrolado e disse:
- As informações estão aqui. Este é o seu provável futuro.
Samyaza apanhou o papel e falou para Rosa dos Ventos:
- Obrigada por vir tão rápido. Escute, não seria melhor você se mudar para cá? Eu soube que desde o ocorrido com sua amiga Rosa de Fogo, a sua falange anda em crise.
Rosa dos Ventos mantinha sempre uma expressão neutra no rosto como se não tivesse sentimentos. Ela olhou para Belladonna e depois para Samyaza e disse:
- Agradeço o convite, mas estou bem instalada.
Samyaza deu de ombros, abriu o pergaminho e leu rápidamente, depois o enrolou e devolveu a Rosa dos Ventos dizendo:
- Bom, muito bom. Fico mais tranquila.
Rosa dos Ventos perguntou:
- O espelho que lhe dei está sendo util?
Samyaza fez uma expressão de pena e falou com a voz fraca:
- Ah não... O espelho foi maravilhoso, mas devido a uma calamidade ele acabou se espatifando. Não existe mais. Teria como enfeitiçara outro espelho? Pago o dobro desta vez para compensar o transtorno.
Rosa dos Ventos balançou a cabeça em concordância, fez uma reverência rápida, se virou e saiu da sala.
Samyaza observou ela sair, esperou algum tempo e disse:
- Você viu que falta de modos? Saiu sem dizer nada. Esta esquisitona é assim, ignora os superiores como se ela fosse a tal. Detesto Pombagiras, mal saíram dos cuieros e se acham importantes como nós seres milenares...
Belladonna gemeu em concordância e falou:
- Hum... Pagamento? Que tipo de moeda circula aqui?
Samyaza com os olhos no pergaminho respondeu:
- Almas. Gente que a roda das encarnações despreza por serem... Almas malditas. Eles vagam por ai, o esquadrão de captores as trás para cá e as usamos como escravos.
Samyaza olhou para Belladonna e falou:
- Bom aconteceu um pequeno contratempo. Nada que seja preocupante. A criança desapareceu.
Belladonna franziu a testa e perguntou:
- Mas como assim? Não há modo de rastrear?
Samyaza suspirou fundo e falou:
- Não, aparentemente não. A velha, a sua filha e Uriel não estão presentes no planeta Terra. Isso é magia antiga, aquela sua tia velha não deve ser subestimada... Fez alguma coisa para se esconder.
Belladonna perguntou:
- Então eu vou procurar eles como?
Belladonna ia começar a falar mas do nada franziu a testa e escancarou a boca berrando:
- Que desgraça você quer agora Ahiliel?!
O anjo serviçal entrou na sala com o olhar baixo levando uma bandeja de prata nas mãos onde sobre ela se via um envelope preto com as iniciais "VN" em dourado. Ele não teve coragem de dizer nada, apenas se aproximou de Samyaza que pegou o envelope e depois abanou a mão no mesmo gesto que se faz para expulsar cães e o anjo rápidamente saiu.
Ela abriu o envelope e dele tirou uma carta escrita em italiano que leu em voz alta traduzido para o português para Belladonna compreender:
"A excelentíssima senhora Samyaza Rainha do Sheol, nós do Conselho Strega soubemos de um incidente, uma explosão Nível cinco em São Paulo, Brasil. Sabemos que a residência explodida era pertencente a Milena Diva Belladonna Agrippa Von Nettesheim, mas ela não foi encontrada. As causas da explosão são notoriamente sobrenaturais, e havia um pouco de pó de ligação e alguns elos de corrente no local que ao serem submetidos a avaliação deixaram claro pertencer a vossa senhoria. É fatídico que manifestações sobrenaturais nível cinco causadas por feiticeiras, principalmente por feiticeiras não registradas na nossa ordem, acarretam punição. Se souber do paradeiro de Milena Belladonna por favor responda esta carta o mais breve possível. Atenciosamente, Victoria Lineanne chefe do conselho Strega."
Belladonna arregalou os olhos, sentiu a carne do corpo tremer. Ela disse com a voz baixa fraca:
- Strega... Me procurando... Ah meu Jesus...
Samyaza dobrou a carta e a guardou novamente no envelope. Disse:
- Nao diga esse nome aqui. Sobre o Strega, não é tão preocupante.
Belladonna arregalou os olhos mais ainda e disse:
- Não é preocupante? Todo mundo sabe que o conselho Strega queima as bruxas. Bruxas caçando outras bruxas, elas não tem piedade.
Samyaza cansou, voltou para se sentar no banquinho onde antes estava tocando harpa. Ela se acomodou e falou:
- Eu tenho ouro, eu sou um anjo caído mas tenho conta em vários bancos de grande porte na terra, sei fazer magias maravilhosas, mas aprendi com os humanos que suborno é tão eficaz quanto. Tenho uma conta na Itália, alguns bilhões de liras italianas. Vou te dar a senha, raspe a conta e de o dinheiro a Victoria. Isso vai ajudar. Eu também farei uma carta de próprio punho justificando a demolição de sua casa e tudo ficará bem. Você conhece Victoria, é extremamente corrupta, exatamente como a mãe dela era.
Belladonna adentrou em pensamento aterrorizantes, ela algumas decadas atrás ela era uma médium apenas, agora estava fazendo negócios com Samyaza a anjo caído, também era caçada por uma Mambo e acabara de saber que o conselho das bruxas a estava procurando. Que diabo estava acontecendo? Ela sorriu sem graça e falou:
- Na verdade eu não conheço Victoria, eu não conheço ninguém do Strega. Na carta estava claro que eu não sou registrada, alias eu achava que elas não sabiam da minha existência. Eu nunca me vi como...
Samyaza completou:
- Nunca se viu como bruxa? Deixe de hipocrisia, olhe para a sua vida mulher! Você neste momento está no inferno falando com um dos anjos das trevas mais importantes desta Era, se isso não prova evidente de que você é uma baita de uma bruxa então nao sei o que é.
Belladonna olhou para fora pela sacada e viu as rodas se movendo com o vento coml uma tapete vermelho. Pensava muito, a cabeça fervendo. Ela se arrependeu de um dia ter aceitado trabalhar para Samyaza, se arrependeu de cada feitiço que fez e na verdade ela se arrependeu de ter nascido. Mas o que faria agora? Não havia como recuar, estava mais que claro que ou ela cooperava de bom grado com Samyaza ou iria sofrer a ira dela.
Respirou fundo e disse:
- Eu não sei se tenho coragem pra fazer isso, sabe, ir até Roma.
Samyaza passou a mão pelos cabelos novamente e falou em tom sereno:
- Se acalme. Não há motivo para ficar nervosa ou ansiosa. Eu cuidarei de tudo, a partir de agora você trabalha comigo, tem as costas quentes. Aliás... Analisando bem... Sua ida a Roma é algo que me agrada.
Ao ouvir aquele frase "você trabalha comigo" Belladonna ficou em choque. Ela percebeu a verdade. "Você trabalha comigo" na real significava "você trabalha pra mim". Durante toda a vida ela fora conhecida como a Médium Diva Belladonna, isso porque não queria usar a palavra bruxa pois bruxas são aliadas e servas de demônios. Samyaza era um anjo caído, ou seja um demônio. Belladonna trabalhava agora para ela. Ela se lembrou de seu pai adotivo, de sua mãe biológica, das histórias de bruxas que leu.
Um arrepio forte passou por sua espinha e ela reprimiu forte uma repentina vontade de chorar.
Belladonna agora era sem escapatória aquilo que ela nunca quis ser, uma bruxa de verdade.
Horas antes:
O motor do Mustang rugia a toda, Uriel pesava o pé sobre o pedal do acelerador como se fosse de chumbo.
Betânia no banco de trás respirava compassadamente, como se contasse as respirações. Ela observava a sombra dos braços de Uriel virando o volante a cada curva de modo as vezes brusco e as vezes suave. Doralice segurava a mão dela a orientando para ficar calma e sempre que Uriel pedia a velha murmurava encantos para tirar a atenção das pessoas que passavam do veículo de modo que o carro estava invisível aos olhos das pessoas comuns, o máximo que elas podiam sentir era o vento.
As luzes amarelas da estrada passavam voando como flashs.
Quarenta minutos de viagem e o Mustang parou, chegaram a casa de Doralice.
Uriel saiu do carro, abriu a porta de trás e apanhou Betânia no colo enquanto Doralice corria para a porta de entrada da casa.
Quando chegaram, Doralice tirou do bolso um molho de chaves, todas do mesmo tamanho mas cada uma demonstrando ter sido fabricada em épocas diferentes devido o design Vitoriano de algumas contrastando com o moderno simples de outras, e cada uma delas tinha uma letra diferentes gravada.
Ela pegou na mão uma chave prateada moderna e então disse para Uriel:
- Aguarde aqui fora um minuto.
Uriel não entendeu, Betânia estava gemendo de dor no colo dele e ainda assim Doralice o impediu de entrar. Ela virou a chave na fechadura e abriu a porta mostrando a sala de entrada de sua casa, Uriel ja havia estado ali. Ela entrou rápidamente e voltou correndo com um grande volume nos braços, eram toalhas limpas, uma vela, uma faca e uma tesoura, uma caixa de grampos de cabelo e duas tinas de alumínio vazias. Ela veio em direção a Uriel e saiu da casa, em seguida fechou a porta e a trancou.
Uriel cansado por ter Betânia no colo perguntou:
- Dona Doralice, o que está fazendo?
Doralice olhou para ele e deu uma piscada com um dos olhos, pegou o molho de chaves e escolheu uma antiga dourada mas com partes verdes de oxidação. Ela sorriu para Uriel, se virou e meteu a chave na fechadura, a girou fazendo um estralo alto mas quando abriu a porta Uriel viu que a sala não era a mesma, ali estava o interior de uma outra casa.
Doralice entrou e falou:
- Venha Uriel, ponha a menina na cama do quarto no fim do corredor.
Uriel entrou correndo mas não deixou de reparar na casa, era uma local escuro iluminado por velas apenas e com móveis de madeira e palha como uma casa do campo. A disposição dos cômodos era idêntica a da casa de Doralice mas o piso de cimento queimado vermelho armazém e as portas de carvalho em modelo colonial faziam o lugar parecer um cenário de filme de época. Estava frio como se fosse o interior de uma geladeira.
Uriel assim que deitou Betânia na cama estilo colonia perguntou para Doralice:
- Essas chaves, esse é um feitiço de chave mestra? Abriu uma porta e saímos em outra parte do mundo?
Doralice se ocupando em acender algumas velas para iluminar e um jarro fogareiro no canto do quarto para aquecer respondeu:
- Não, não é. Feitiço chave mestra realmente abre uma porta em um lugar e sai em outra em outro lugar, mas eu não sei fazer isso. Este feitiço que uso é o de regressão local.
Uriel perguntou:
- Quer dizer que estamos no mesmo lugar, na sua casa, mas no passado?
Doralice agora colocava sobre o fogareiro uma das tinas de alumínio e então apanhou de dentro de sua bolsa que estava ainda pendurada no ombro o cetro da Rainha. Ela apontou para a tina e murmurou algo, em seguida ela estava cheia de água.
Ela falou:
- Sim sim, estamos em 1867, ou em 1868... Há tanto faz, estamos fundo na marcha ré! A chave que usei me trouxe para o período que essa casa era a do capataz da fazenda da região, aqui era uma gigantesca fazenda de cebolas. Ele deve chegar a qualquer momento.
Mal ela acabou de falar isso e um homem barbudo e um tanto desarrumado entrou no quarto com um grande facão na mão, parecia furioso, mas quando viu Doralice ele berrou amedrontado:
- A Bruxa! Nossa Senhora me defenda! De novo não! De novo não!
Doralice apontou o cetro pra ele e falou:
- Vire do avesso!
Os olhos do homem giraram em sentidos opostos e ele caiu esborrachado no chão entre a soleira da porta e o corredor desmaiado.
Uriel fez menção de arrastar ele para fora mas Doralice fez um movimento com o cetro e o homem foi empurrado para trás dando espaço para a porta fechar sozinha.
Ela estava a ajeitar Betânia na cama e removendo as roupas da menina, mas quis enquanto isso se explicar para Uriel:
- Eu não sou uma bruxa ruim. Sou uma bruxa de magia branca. Mas, quando eu achei as chaves da casa e resolvi enfeitiçar elas para vir aqui eu acabei assustando esse homem.
Uriel em pé perto da porta disse:
- Você entrou pela porta vestida com roupas quase duzentos anos a frente e usando um cetro de bruxa?
Doralice respondeu:
- Na verdade foi isso ai.
Uriel riu e disse:
- Então ele teve razão em se assustar.
Doralice falou:
- Eu o enfeiticei para esquecer a minha presença, feitiço dormidor. Mas durante o sono induzido ele revelou segredos sobre si mesmo. É um estuprador. Contou sobre tres moças que estuprou e matou. Então eu decido enfeitiçara ele e o prender nessa casa, ele não pode se mudar, sempre tem que voltar para cá. Eu venho quando preciso usar o lugar. Ele me vê sempre mas tem medo de contar a outras pessoas porque acha que esta enlouquecendo. Não tenho dó, ele não merece consideração de ninguém.
Betânia já estava totalmente nua coberta com apenas um lençol, ela deu um urro de dor e em seguida berrou:
- Tia Doralice porque diabos me trouxe pra essa casa! Nem luz elétrica tem aqui!
Doralice pôs a mão na testa dela vendo a temperatura e falou:
- Meu bem, tinha uma Mambo na casa de sua mãe, e Sete Saias me disse que sua mãe está metida com a tal Sabrina. Elas com certeza iriam usar magia para rastreio, e em um segundo iam te achar e roubar o seu bebê.
Uriel ficou pensativo e perguntou:
- Quem é Sabrina?
Doralice falou:
- A sua irmã anja do inferno.
Uriel riu baixinho e corrigiu:
- O nome dela é Samyaza.
Doralice riu alto e falou:
- Nossa eu ja li e ja disse o nome dela umas mil vezes, não sei de onde que tirei Sabrina. Mas voltando ao assunto, mesmo que Samyaza, a Mambo, a Belladonna, o Diabo ou sei lá quem mais esteja atrás de você Betânia, eles não vão achar. Eu te trouxe para o passado.
Uriel completou:
- Isso significa que os feitiços de rastreio nao nos acham, porque efetivamente não estamos em lugar nenhum, vendo que os feitiços so lêem o presente. Então nós estamos completamente invisíveis.
Doralice disse:
- Sim estamos, mas tem o detalhe nada conveniente de que não podemos sair dessa casa. Ao abrir a porta voltamos ao presente. Eu nunca aprendi a viajar no tempo de verdade, esse feitiço de regressão local me da acesso a este local exato no passado mas me impede de sair daqui.
Betânia deu outro urro e falou séria:
- Foda-se o passado, o presente, o caralho! Eu to sendo rasgada ao meio porra!
Doralice olhou feio pra ela e disse:
- Menina você não tinha entrado pra igreja? Não era missionária?
Uriel comentou:
- Nessas horas que vemos a fé das pessoas. Ela nao disse o nome de Deus nem um vez.
Betânia falou áspera enquanto arfava:
- Deus não quer nada comigo, acha que ele vai me receber no céu após eu parir essa criança?
Uriel disse:
- Homem nenhum vai para o céu Betânia. Os humanos mortos que Deus classifica como bons vão para o "seio de Abraão", um lugar que Deus criou faz alguns milênios para entulhar as almas que ele ligeiramente aprova. O resto das pessoas ou fica por aqui mesmo e vira espírito ou fica nos lugares espirituais como o... Inferno.
Doralice se posicionou bem no meio das pernas aberta de Betânia, mas no momento que ela levantou o lençol e olhou para a vagina dela, tornou a abaixar o lençol e esfregou os dois olhos com as costas das mãos.
Uriel perguntou:
- Esta tudo bem Dona Doralice?
Ela respondeu com a voz trêmula:
- Hum... Sim. Acho que tive um devaneio.
Ela tornou a levantar o lençol e rápidamente o abaixou com as mãos tremendo. Disse:
- Vishnu! Eu não posso fazer isso!
Betânia falou nervosa:
- Como não? Tio Henrique me disse que a senhora ja fez muitos partos na vida! Esqueceu como se faz?
Uriel se aproximou e disse:
- Eu também sinto Doralice. É como estar diante do Sol, estar cara a cara com o grande Sol.
Doralice tornou a esfregar os olhos com as costas das mãos e disse com a voz agora bem fraca:
- Eu ja fiz uns cinquenta partos de crianças normais. Nada parecido com isso. Eu... Eu...
Sem conseguir terminar a frase ela caiu desmaiada de lado na cama.
Betânia gritou assustada e disse:
- Uriel ela ta morta! E agora?!
Uriel tirou Doralice dali, a colocou deitada no chão e disse:
- Eu pensei que isso ia acontecer. Sabe, o seu filho tem tanto poder que Doralice não aguentou. Ela ja tem uns noventa anos ou mais, não vai dar conta. Eu terei de fazer o parto.
Doralice retornou os sentidos e em um solavanco ela se sentou no chão e falou:
- Uriel! Não faça! Você não!
Uriel se sentou bem diante das pernas de Betânia e falou:
- Porque não?
Doralice tentou se levantar mas não pôde, tremia muito. Ela falou:
- Belladonna me contou que o motivo de você estar com ela, morando na casa dela essas últimas décadas é o poder dela, você absorvia o poder dela por ser uma bruxa da família Salvaterra, uma descendente de Caim. Sei que as décadas perto dela te fortaleceram muito mas não o suficiente para retomar sua forma original. Mas se fizer esse parto você... Esse bebê seja o que for Também é um Salvaterra. Você vai...
Uriel falou:
- Teme que eu recupe imediatamente meu poder e volte a ser um anjo?
Doralice falou:
- Seu tolo! Você não vai voltar a ser o que era, o poder que emana dessa criança vai impregnar tão forte em você que vai te tornar algo muito diferente do que era, não será mais anjo! Será algo que nunca foi!
Uriel parou um segundo, olhou para Betânia e perguntou:
- Betânia você bem sabe que não sobreviverá. Mas seu filho também pode não sobreviver se eu não fizer o parto.
Betânia berrou a plenos pulmões;
- Faça!
Y
Uriel se levantou e rápidamente lavou as maos na tina de água quente, depois pegou uma toalha que Doralice havia trazido e a molhou na água a torcendo, se sentou novamente diante das pernas abertas de Betânia e posicionou a toalha logo abaixo dela.
Betânia deu um grunhido alto quando as mãos de Uriel tocaram a abertura de sua vagina que ja estava totalmente dilatada e se esvaia em sangue, ele tentava ver o que fazia mas não era possível, tal como um farol, a luz que rajava da abertura era forte e turvava a visão, o calor ali era sufocante, era como enfiar as mãos em uma fogueira em brasa.
A grande verdade é que Uriel mesmo dentro de sua sabedoria milenar não fazia ideia do que estava fazendo, não era um parto normal, não era uma criança normal.
Doralice apanhou a mão de Betânia e disse:
- Respire rápidamente, não puxe o ar com força pois pode sugar a criança para cima, deixe ela descer!
Betânia murmurou entre os gemidos de sofrimento:
- Quero... que meu bebê... seja feliz...
Doralice apertou a mão dela e falou:
- Ele será. Provará de felicidade da qual nem eu nem você provamos, eu te juro que zelarei por ele.
Betânia gritou alto, e novamente berrou, e uma terceira vez, então com a mão livre ela esmurrou a cabeceira da cama. A dor era insuportável, ela jogava a cabeça para trás e berrava com todo o fôlego.
Uriel falou com calma e suavidade:
- Eu cuidarei dele. Farei o que for. Eu tenho muito dinheiro guardado, darei assistência a ele nisso também. Ele nunca estará sozinho.
Betânia murmurou um "Obrigada" fraco. O choro agudo se ouviu.
Nasceu.
Uriel tocou o corpo da criança a amparando, então algo fantástico aconteceu, o bebê deu a ele de uma vez toda a energia que ele necessitava para se restaurar e que só um feiticeiro descendente de Caim poderia lhe dar. Como uma onda que percorreu o corpo das mãos para o restante, tudo foi modificado, os membros foram alongados e fortalecidos, a unhas ganharam um formato pontiagudo e uma cor rosa natural, o cabelo cresceu e a cor mudou de loiro para ruivo alaranjado caindo em cachos das costas, brotatam um par de asas vermelhas e os olhos brilharam mais azuis que nunca e foram cercados por um traço de sombra que se assemelhava a olhos de coruja, leopardo ou serpente, a boca se avolumou e seus lábios se tornaram quase vermelhos, o queixo mais quadrao com maxilar marcado e nariz fino. Ele voltou a ser Anjo, mas um anjo diferente do que fora milênios atrás.
O bebê ali em suas mãos era negro, mas não da cor da pele de pessoas negras, não, a cor da pele dele não era natural, era preto como petróleo e brilhava como couro de serpente. Seus olhos do mais claro ambar e seus lábios marrom avermelhado o faziam extremamente belo.
Era um Deus que havia nascido ali.
Doralice apertou a mão de Betânia e disse:
- Olhe, olhe como é lindo o seu bebê!
Mas a mão estava gelada e dura. Ao olhar para o rosto da moça, Doralice a viu morta com os olhos vidrados no bebê e um leve sorriso no rosto.
Uriel olhou para ela e depois disse para Doralice:
- Ela conseguiu o filho antes de ir.
Doralice não costumava chorar, mas não aguentou, as lágrimas e os soluços romperam por seus olhos e boca, e ela se derreteu.
Uriel abraçou o bebê e o pôs junto ao peito. Ele sabia que o menino tinha fome, mas não era de leite. O homem dono da casa que Doralice havia a pouco enfeitiçado ainda estava desmaiado no corredor. Uriel abriu a porta do quarto, foi até o corpo do homem e com a unha pontiagudo abriu um corte no pulso dele fazendo o sangue jorrar. Uriel Rasgou um pedaço da camisa dele e molhou lo sangue, depois pôs aponta do pano empapado na boca do bebe que o sorveu com força.
Doralice com dificuldade se pôs de pé e seguiu Uriel, viu o que ele fez por de trás das grandes asas que ele agora tinha.
Ela perguntou:
- Como vamos proteger essa criança?
Uriel falou olhando para o rosto inocente do bebê:
- Temos de ocultar a alma dele. Só assim estará seguro.
Doralice perguntou:
- E como faremos isso?
Uriel empapou novamente o pedaço do pano em sangue e pôs na boca do bebê. Então respondeu:
- O único modo de se esconder uma alma é despedaçando ela.
(Continua...)
Nossa que capítulo extraordinário adorei.
ResponderExcluirBoa noite e o capítulo final das rodas das princesas ? Quando sai ? São muito boas as histórias parabéns
ResponderExcluirExtraordinário
ResponderExcluirEu não podia acreditar que eu voltaria a me reunir com meu marido, eu estava tão traumatizada por ficar sozinha sem ninguém para ficar comigo e para estar comigo, mas eu tive muita sorte um dia em encontrar este poderoso lançador de feitiços Dr. Azaka depois de contar a ele sobre minha situação ele fez todo o humanamente possível para que meu amante voltasse para mim, na verdade depois de lançar o feitiço meu marido voltou para mim em menos de 24 horas, meu marido voltou me implorando para nunca mais ir embora eu de novo, 1 meses depois ficamos noivos e nos casamos, se você está passando pela mesma situação é só entrar em contato com ele via: Azakaspelltemple4@gmail.com whatsapp: + 1 ( 3 1 5 ) 3 1 6 - 1 5 2 1 muito obrigado senhor por restaurar meu ex-amor
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