Médium Diva Belladonna Episódio 7
Médium Diva Belladonna
O antepenúltimo
Episódio
7
"A Fuga"
Dezembro de 1988
Dia 24 véspera de Natal.
Uriel passou toda a madrugada cozinhando, ele havia preparado uma bela ceia, e como ele sabia cozinhar pratos de várias partes do mundo a refeição seria bem refinada. O vapor das grandes caldeirões a cozinhar batatas e o chiado da panela de pressão amolecendo carne fazia a manhã já se iniciar com um clima muito agradável. As Dez horas o relógio que ficava logo acima da geladeira despertou fazendo um som alto de campainha, ele despertava para avisar que era hora de Betânia se alimentar. Ele pôs em uma bandeja um pão francês rechado com queijo branco e goiabada, um copo de suco de laranja e algumas rosquinhas de chocolate. Subiu até o segundo andar e entrou no quarto, mas para a surpresa Betânia não estava dormindo. Ela estava em pé na porta da varanja olhando para o jardim dos fundos, usava um vestido de festa em seda vernelha bordado com arabescos dourados e o Cabelo preso em um coque bagunçado na nuca.
Uriel olhou para ela e antes mesmo de dizer bom dia perguntou:
- Sua mãe sabe que você esta usando este vestido?
Betânia se virou mostrando a face inchada de quem acabara de acordar e respondeu:
- É o único que me cabe. Eu só tenho roupas justas e a Belladonna também, esse é o unico vestido que nao aperta a minha barriga.
Uriel andou ate a cama e pôs a bandeja sobre o criado mudo, então falou:
- É seda chinesa, esse vestido vale mais que um carro e você o usa como camisola de dormir...
Betânia se sentou na cama e deu um gole no suco, então falou:
- Foda-se. Eu já estou com vinte e seis semanas, daqui a três meses eu vou estar morta, não estou nem ai para a vaidade da velha.
Uriel se sentou ao lado e pôs uma mão sobre um das coxas dela dizendo em voz baixa:
- Tenha muita atenção nela, sua mãe não é a mesma.
Betânia ruidosamente mastigou uma rosquinha, depois respondeu:
- Eu já percebi. Me pergunto o que aconteceu com ela. Antes ela era o extremo da futilidade, vivendo para atender clientes e ganhar dinheiro para comprar roupas e jóias... Mas agora sinto ela muito sombria. Algumas vezes ela me olha de um modo que me arrepia as costas.
Uriel respondeu:
- Ela viu seu próprio futuro e não o compreendeu.
Betânia perguntou:
- Como assim?
Uriel explicou:
- Você sabe o quão velho eu sou, sabe também que andei por todo esse mundo. Quando eu morei no Sri Lanka havia uma lenda assim, um velho sábio tinha o dom de ver o futuro e toda aldeia ia atrás dele para se consultar. Porém este sábio não gostava de prever o futuro a ninguém, então decidiu fugir para o meio de uma floresta. Uma noite dois jovens se perderam na floresta e acabaram encontrando a casa do velho sábio e pediram ajuda, mas ao reconhecer o velho eles pediram que ele revelasse o futuro. Claro que o velho se recusou, mas os jovens insistiam. O velho os advertiu que saber o futuro era muito perigoso. Um dos jovens desistiu, mas o outro quis saber. O velho já cansado revelou que aquele rapaz seria o novo rei do Sri Lanka e que dentro de um ano seria coroado. Um ano se passou e nada, o rapaz não foi coroado rei, e na verdade caiu em miséria. Ele voltou até o sábio para perguntar o que tinha acontecido, e o velho disse que ao saber do seu futuro o jovem se tornou arrogante e presunçoso e não fez o deveria ter feito para alcançar o trono. Quando ele soube do futuro ele o perdeu. Sua mãe esta na terceira idade, mas ela fez de tudo para ser jovem, ela parece muito mais jovem que você. Belladonna olhou para o futuro e viu a inevitável natureza humana, morrer. Mas ela não aceita isso e ao olhar para o futuro ela se perdeu. Eu receio dizer que Belladonna ja não é a mesma mulher que nós conhecíamos.
Betânia olhou para Uriel e disse:
- Algo me diz que eu não estou segura aqui. Eu não sei explicar mas sinto isso.
Uriel respondeu:
- Você estaria mais segura na cova dos leões do que do lado da sua mãe. Mas hoje é véspera de Natal, vamos tentar nos alegrar okay? Nada de tristezas nem de pensamentos negativos.
No terceiro piso Belladonna dormia no quarto, esparramada na cama ela vestia uma camisola azul marinho com estampa de naipes de baralho. O sono foi interrompido por um arrepio, aquele costumeiro arrepio.
Ela abriu os olhos e viu Sete Saias próxima a penteadeira olhando para um livro que estava aberto sobre ela. Sete Saias estava usando um vestido preto de lantejoulas longo e justo, usava também luvas de tecido semi transparente negro ate acima dos cotovelos. O cabelo estava preso em um penteado no alto da cabeça e nas orelhas ela tinha dois grandes brinco de argola em ouro velho.
Belladonna ergueu a cabeça e disse:
- Você aqui essa hora? Em plena luz do dia? Que novidade é essa?
Sete Saias se virou mostrando uma face muito bem maquiada com lábios em um rosa claro. Ela respondeu séria:
- Situações drásticas exigem medidas drásticas.
Belladonna se sentou na cama e perguntou:
- Como assim?
Sete Saias respondeu:
- Você é idêntica a sua mãe. Acha que eu sou boba? Acha que eu não sei os seus planos para o seu netinho que ainda nem nasceu?
Belladonna suspirou fundo e falou:
- Quer saber, eu estou cansada de ficar negando ser igual a minha mãe. Sim eu sou igual a ela, talvez um pouco pior. Aceite isso.
Sete Saias respondeu:
- Sabe o que aconteceu com sua mãe e ainda quer tomar o mesmo rumo? Sua estúpida...
Belladonna respondeu:
- Isso aqui não é uma "Roda das Princesas", você e suas comparsas não tem base para me impedir. Sabe muito bem a aberração que vai nascer da barriga daquela menina, ela não conta como um ser humano. Chega a ser um bem para a humanidade eu dar cabo dela.
Sete Saias falou:
- Então vai fazer o que aquele livro diz? Vai comer a carne do bebê e absorver a alma?
Belladonna respondeu:
- Isso me dará a vida eterna. Parece um tanto indigesto mas não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos.
Sete Saias a encarou, falou:
- Você está mesmo decidida sobre isso?
Belladonna ficou em pé diante de Sete Saias e falou:
- Quando vi Isaura morta eu senti... Não, eu tive a certeza de que eu não iria acabar como ela. Depois quando Henrique morreu isso so fez reforçar a minha decisão. Eu vou fazer tudo o possível, e farei o impossível também para viver eternamente. Eu não serei devolvida a terra, eu não irei me tornar um fanstama.
Sete Saias suspirou alto e falou:
- Infelizmente eu terei de impedir isso.
Belladonna se aproximou mais dela e disse em voz alta:
- Você? E quem você pensa que é? Você só presta para fazer amarrações e feitiços que mais parecem piadas, o que fará para me impedir?
Sete Saias se aproximou e disse com um tom de voz sério:
- Quem eu penso que sou? Não, quem você pensa que é para usar esse tom comigo? Esta ficando louca?
Belladonna falou:
- Tente me impedir pra ver o que acontece.
Sete Saias ergueu a mão esquerda na altura do rosto de Belladonna, juntou o dedo indicador ao polegar formando um círculo entre eles e depois jogou os dedos para frente em um gesto de expurgo. Imediatamente Belladonna foi arremessada para o outro lado do quarto batendo o corpo com violência na parede fazendo um som abafado.
Quando ela caiu no chão, entre gemidos falou:
- O-o que... o que foi isso... hum... Como você ousa me bater?
Sete Saias disse:
- O chicote é para bater em cavalo, e a mão de uma Pombagira pesa sobre quem não a respeita. Belladonna, nem por um segundo pense que eu exitarei em matar você, não me de motivos para isso.
Belladonna se levantou lentamente e falou:
- Eu não serei intimidada por você, não mesmo. Você é minha guardiã e não minha juíza.
Sete Saias deu uma risada alta e disse:
- O jogo mudou Belladonna, eu não sou mais sua guardiã. Eu largo de mão. Eu protegerei e darei assistencia a outra pessoa, você não valhe mais a pena. Eu olho para você e so vejo uma casca vazia.
Belladonna falou:
- Se é assim, que vá! Vá embora! Não pense que eu preciso de você pra coisa alguma!
Sete Saias respondeu:
- Ah mas é claro que não, afinal você já tem em mente a quem recorrer. Escute Bem, eu não vou permitir que você toque um dedo na criança que vai nascer.
Belladonna gritou, berrou descontrolada a todo pulmão:
- Vai para o Inferno que é o teu lugar sua desgraçada!
Sete Saias sorriu e apontou o dedo indicador para um grande abajur de base de porcelana que ficava ao lado da cama e ele como puxado por uma corda veio em direção a Belladonna batendo com muita força na cabeça dela e estilhaçando em muitos pedaços. Imediatamente Belladonna caiu desacordada.
Uriel abriu lentamente a porta do quarto e viu a cena, então disse:
- É estranho tudo isso.
Sete Saias virou o rosto para olha-lo e disss:
- Estranho? O que tem de estranho em um ser humano enlouquecer? É parte da natureza. Já vi muitos ficarem assim.
Uriel caminhou até o corpo de Belladonna e com certa dificuldade a ergueu e deitou na cama. Então disse:
- É exasperante.
Sete Saias respondeu:
- Sim, exasperante... Mas a raiz, a natureza original do sangue dela não a permitia ser diferente. Ela já era predestinada a ser uma bruxa de merda.
Uriel se abaixou e passou a recolher os cacos do abajur quebrado no chão. Ele falou:
- Todos estes anos ela nunca desconfiou de você, sempre achou que você era a guardiã dela de verdade.
Sete Saias levantou uma sombrancelha mostrando surpresa e falou:
- Então você tinha consciência disso?
Uriel disse:
- Sim. A sua constante presença era nada mais que vigilância não é?
Sete Saias olhou para Belladonna desfalecida na cama, ficou em silêncio por um minuto e em seguida respondeu:
- No fim daquele dia, quando Sarana foi morta diante dos meus olhos eu gravei na minha memoria a energia que emanava da alma dela. Anos depois quando Belladonna veio até mim eu reconheci a mesma energia nela, a mesma índole. Conversei com Quitéria e ela me aconselhou a ficar ao lado de Belladonna, vigiar. Quando ela entrou em contato como Samyaza eu soube que não demoraria para ela se igualar a mãe.
Uriel se levantou com a mão cheia dos cacos, continuou a conversa:
- Samyaza... É ela que está por trás de toda essa situação odiosa.
Sete Saias pôs uma mão sob o queixo e perguntou:
- Também desconfia dela?
Uriel respondeu:
- Muitos anos atrás quando Betânia ainda era uma moça estúpida ela acabou se metendo em uma confusão e indo parar na casa de Samyaza. Eu aposto que ela meteu dentro de Betânia algum feitiço para atrair Legbá. Você sabe que ele não é chegado em mulheres brancas, mas engravidou Betânia mesmo que a pele dela parecesse um palmito em conserva.
Sete Saias falou:
- Mas um feitiço chamariz não seria suficiente para atrair Legbá, ele é um Deus e não uma deidade qualquer.
Uriel falou:
- Mas houve um fato envolvendo Samyaza que desencadeou muito poder, tanto poder quanto uma Bomba Atômica.
Sete Saias olhou confusa, ela não sabia o que era uma bomba atômica, não era da época dela. Passando por cima disso ela continuou:
- O fato a que se refere foi a morte do profeta?
Uriel falou:
- Sim. Belladonna me contou que no edifício onde ela matou o homem ela chegou a ver Thanatael, e eu aposto a maldita Thanatael estava lá para redirecionar a energia para Betânia.
Sete Saias disse:
- Faz sentido.
Uriel falou:
- Faz sentido também pensar que Belladonna sempre foi uma mulher sem muita bondade, mas que tudo se agravou nela depois que ganhou a pulseira de Samyaza. Após ela absorver a pulseira algo dentro dela mudou.
Sete Saias disse:
- Então está mais do que claro que a gravidez da menina foi algo construído por Samyaza, mas porque? O que ela quer?
Uriel disse:
- Não sei o que ela quer mas sei que é algo muito ruim. Ela vai querer a criança. Esta criança nascerá com tanto poder que eu imagino que seria comparada até mesmo ao Deus criador.
Belladonna gemeu mostrando que estava despertando.
Sete Saias falou:
- Vou enviar ajuda, vou trazer Doralice para cá. Ela vai te ajudar a evitar que o mal seja feito a menina gravida e ao bebê.
Sem se despedir, Girando rápidamente Sete Saias desapareceu no ar. Uriel voltou a recolher mais cacos no chão enquanto Belladonna retomava os sentidos.
Ela se sentiu na cama gemendo e com uma das mãos tocando a nuca. Ao ver Uriel ali ela correu os olhos pelo quarto e falou:
- A vagabunda! Aquela vagabunda ja foi?
Uriel não deu atenção, apenas respondeu:
- Se troque e desça para comer alguma coisa.
Em seguida saiu do quarto.
Belladonna suspirou fundo, estava um tanto desnorteada.
As seis da tarde em ponto a campainha tocou, Uriel foi atender a porta e lá estava Doralice vestida em uma camisa de cetim brilhante vermelha com estampas de renas verdes por todo lado e uma calça corsário marrom, na cabeça ela tinha um gorro de papai Noel vermelho. Uriel olhou para ela sem piscar, ele estava incrédulo que alguém tivesse a coragem de se vestir daquele modo.
Doralice o abraçou e disse:
- Feliz Natal meu lourinho! Você pode vir comigo até o taxi? Eu trouxe um pouco de comida.
Uriel sorriu e a seguiu para fora até o táxi e ficou estarrecido ao ver a enorme cesta que parecia pesar uns vinte quilos de tantos potes cheios de comidas variadas. Ele pegou a cesta enquanto ela pagava o taxista.
Quando entraram em casa Uriel perguntou:
- Dona Doralice a senhora não costuma comemorar o Natal não é?
Ela um tanto sem jeito respondeu:
- Ta tão na cara assim?
Uriel riu baixo e disse:
- Sim.
Doralice falou:
- Na religião natural de minha família não tem natal, não tem Jesus. Nos temos Krishna, Vishnu, Saraswati, Parvati e mais uns milhares de Deuses... Mas nenhum Jesus.
Uriel apontou para a porta do corredor que ficava no final do salão ao lado da escada e disse:
- Vamos para lá, Betânia está na cozinha. Eu estou arrumando uma mesa no jardim do fundo.
Doralice falou empolgada:
- A ceia vai ser ao ar livre? Eu gosto muito disso.
Ele respondeu:
- A casa é enorme mas não é arejada, todos os cômodos fedem a álcool e a cigarro. Vai ser melhor para Betânia ficar la fora, a noite está tão fresca.
Doralice tocou o ombro de Uriel e disse:
- Você é um bom rapaz. Vamos, melhor ja irmos ajeitando tudo.
Antes de entrarem corredor a campainha tocou novamente e Uriel deu meia volta para atender a porta. Quando ele abriu viu ali uma mulher negra de uma beleza que com certeza não era natural, ela era tão bonita que não parecia humana, estava mais para uma estátua esculpida em ébano. Ela usava o cabelo estilo Black Power muito armado e um vestido purpura com estampas verde escuro em desenhos e anagramas africanos. Nos pulsos ela tinha muitas pulseiras de ouro, pareciam muito pesadas. As unhas eram vermelho sangue e pontudas, nas orelhas um par de brincos de argola grandes que quase batiam nos ombros e era visível que entre os seios ela tinha uma tatuagem em forma de serpente.
Uriel perguntou:
- Posso ajudar em algo?
Ela com um forte sotaque francês falou:
- Eu preciso falar com Madame Diva Belladonna.
Uriel abriu mais a porta e fez um gesto dando passagem a moça, ele disse:
- Pode entrar, eu vou chamar ela.
A moça respondeu:
- Não. Eu espero aqui.
Uriel estranhou, mas pelo cheiro incomum que ela exala ele identificou que era uma Bruxa, e Bruxas não devem ser contrariadas. Ele perguntou:
- Eu devo anunciar quem?
Ela disse:
- Ah sim, me perdoe, eu não me apresentei. Meu nome é Jacqueline Justine Nicolette Odélio Doxwé, sou da Ako Mambo de Belle-Anse.
Uriel sentiu o corpo arrepiar ao ouvir aquilo. "Ako" significa clã e "Mambo" significa sacerdotiza em dialeto Fongbe e Crioulo, Belle-Anse é uma cidade do Haiti, isso significava que aquela mulher era uma Bruxa VUDU. Uriel sabia que as bruxas africanas eram infinitamente superiores as demais, nem os anjos do céu e nem os demônios do inferno ousavam lidar com elas, ja que no culto africano não havia nenhuma valorização dos anjos ou do diabo, isso para elas era o mesmo que nada. Uriel era um anjo de idade milenar, mas mesmo sendo um anjo ele sentiu medo daquela mulher.
Ele engoliu seco e ela percebeu, os olhos dela flamejavam parecendo os de um leão que farejava o medo.
Ela sorriu abrindo os lábios grossos pintados com batom vermelho e mostrou uma fileira de dentes brancos perfeitamente alinhados. Disse:
- Esteja em paz anjo, eu vim apenas para conversar.
Uriel sorriu e deixando a porta aberta se retirou, correu apressado pelo salão até chegar na escada e subiu pulando os degraus de dois em dois até chegar no terceiro piso. Ele entrou no quarto de Belladonna e a viu perto da sacada, ela vestia um macacão jeans com uma camiseta preta simples por baixo e um par de sandálias plataforma de cortiça que mais pareciam dois tijolos sob os pés. Ela passava os dedos pelo comprimento do cabelo, parecia pensativa.
Uriel entrou com pressa mas antes que pudesse falar ela disse:
- Sei que Doralice está ai embaixo, Sete Saias deve ter mandando ela aqui. Mas quem mais esta ai? Eu estou sentindo um cheiro de... Não sei de que, eu nunca senti um perfume assim antes.
Uriel tomou fôlego e disse:
- Uma Mambo.
Belladonna lentamente virou o pescoço quase como se não tivesse vértebras, com o queixo duro e os olhos arregalados ela perguntou pausadamente:
- O - que - vo - cê - dis - se?
Uriel falou:
- Está na porta principal Madame Jacqueline Justine Nicolette Odélio Doxwé da Ako Mambo de Belle-Anse. Ela pede para falar contigo.
Belladonna ficou com o rosto congelado, não disse nada.
Uriel falou:
- Não deixe ela esperando. Essa gente é o mais perigoso que se pode lidar.
Belladonna andou com passos duros parecendo um boneco de chumbo e desceu para ver e mulher. Quando chegou do lado de fora viu Jacqueline fumando um cigarro, e teve inveja da beleza dela.
Então ela se apresentou:
- Boa Noite, a senhora quer falar comigo?
Jacqueline olhou para Belladonna pelo canto dos olhos mostrando um certo desprezo e disse:
- Então é você a descendente de Caim e que ao mesmo tempo descende das bruxas Rajasthani e dos clãs Agrippa e Gilli?
Belladonna estufou o peito e falou:
- Vejo que minha reputação me precede.
Jacqueline falou:
- Sim, muito tem se falado a seu respeito por ai.
Belladonna convidou:
- Bem... Gostaria de jantar conosco hoje?
Jacqueline revirou os olhos e disse:
- Por Dambalah! Eu não comeria na mesma mesa que alguém da sua laia. Eu não achei minha boca no lixo.
Belladonna sentiu vontade de esbofetear ela, mas apenas disse:
- Então diga logo a que veio.
Jacqueline falou:
- Sua filha tem no ventre algo que pertence as nos Mambo.
Belladonna sentiu um arrepio falou correr pelas costas e falou:
- Se está no ventre dela pertence a ela.
Jacqueline disse:
- Não vim argumentar, vim apenas para dizer que nos Mambo reivindicamos a posse desta criança. Esta ciente disso?
Belladonna balançou a cabeça mostrando que havia entendido.
Jacqueline falou:
- Então logo nos encontraremos novamente. Logo eu e minhas irmãs viremos buscar o Le-Plus-Jeune. Au revoir...
Ela se virou e foi embora caminhando para a rua.
Belladonna entrou em casa e fechou a porta, murmurou "Le-Plus-Jeune", que significa "o mais novo". Ela respirou fundo e marchou rumo a cozinha e quando chegou lá encontrou Betânia e Doralice no fogão, a mesma forrada de comida e Uriel trepado em uma escada pegando a louça de festa que estava em caixas de madeira em cima do armário.
Betânia olhou para ela e disse:
- Está bonita.
Belladonna falou:
- Obrigada. O que estão fazendo?
Doralice sem se virar disse enquanto montava uma lasanha e uma forma para em seguida levar ao forno:
- Estamos fazendo a ceia de natal. Aliás eu preciso te informar que vou passar alguns dias hospedada aqui na sua casa.
Belladonna respondeu:
- Me informar? Não devia me pedir?
Doralice deu uma alta rizada e disse:
- Não, não devia.
Belladonna respondeu:
- Se não devia é porque não é visita, é bisbilhotagem.
Betânia cortou o assunto:
- Tia Doralice e Uriel, nos somos quatro pessoas, porque tem comida pra cinquenta aqui?
Doralice riu e falou:
- Vi na televisão um comercial de Cola-cola onde a mesa da ceia tinha muita comida, pensei ser tradição. De todo modo não somos quatro, deve contar seu bebe, seu pai que logo estará aqui, a esposa dele e Kainana que deve aparecer uma hora ou outra.
Betânia falou:
- Não, minha madrasta não vem, ela vai passar o natal com os irmãos dela em São Caetano do Sul.
Belladonna provocou:
- Ela não vem por minha causa. Se pela de medo de mim desde que eu fiz ela ficar careca com uma simpatia.
Betânia falou séria:
- Demorou cinco anos para o cabelo dela voltar ao normal.
Uriel atravessou o assunto:
- Este Kainana, o que é?
Doralice olhou para ele confusa:
- Como assim? Você o conhece faz tempo.
Uriel falou:
- Não, sim mas eu não entendi o que ele é. Chamam ele de Exu como os outros desencarnados mas ele come e bebe como um humano vivo. Aliás eu ja esbarrei nele e senti como se ele fosse vivo.
Doralice respondeu:
- E ele é vivo. Mas também é um espírito. Kainana é similar com este bebê que Betânia tem no ventre, a mãe dele era uma Índia humana e o pai uma divindade. Se eu não me engano o pai dele é Boiúna. A india pariu gêmeos, ele que é Norato Caninana e ela e Maria Caninana, mas costumam chamar eles de Kainana mesmo.
Os olhos de Betânia se iluminaram:
- A mãe deles sobreviveu?
Doralice se virou para ela e disse:
- Outra situação querida. A Índia era uma humana comum, e o pai de Kaianana é infinitamente inferior ao pai do seu filho. Aliás você sabe quem é Legbá?
Betânia respondeu:
- Um demônios qualquer, um Orixa, Santo de macumbeiro.
Uriel, Belladonna e Doralice deram uma alta gargalhada.
Belladonna explicou:
- Menina quando os o Orixas nem pensavam em existir, Ati-Gbon-Legbá já era velho. Não compare ele com Orixas nem com Demônios, Legbá é um Vodun. Ele comanda um exercíto de Lowas, espíritos que o servem. Legbá é muito forte e nos que somos ligada a... tradições celtas, europeias em geral, indígenas e orientais não compreendemos muito bem sobre Legbá e os deuses que são como ele, so temos informações básicas. Legbá só se deixa envolver por suas Mambos. Uma Mambo é uma feiticeira africana, e elas são muito perigosas. Por isso eu digo, isso ai que está na sua barriga é algo muito complicado, muito mesmo.
Doralice disse:
- Eu sei uma cantiga de adoração a Legbá, aprendi com minha tia Betina Salvaterra que afirmava ter conhecido a rainha das Mambos, uma feiticeira imortal chamada Mama Azòndató.
Betânia pediu:
- Cante! Cante por favor!
Doralice falou:
- Mas eu com certeza vou cantar errado, eu não sei a tradução, so me lembro dos sons.
Betânia insistiu:
- Por favor cante a sim mesmo.
Doralice aceitou. Ela pigarreou e em seguida cantou:
- Arroboboi... Arroboboi... Baba Legbá segu lowa... Se veve nasi soooô... Baba Legbá segu lowa... Se veve nasi bogan she me bae e nu lá... Baba Legbá segu lowa aeeeê...
Enquanto Doralice cantava Betânia se sentiu tonta, deu um passo para trás e e virou para procurar uma cadeira para se sentar, mas quando se virou ela não estava mais na cozinha e sim em uma clareira em uma floresta rodeada por mulheres negras africanas vestidas com trajes típicos e dançando freneticamente ao som de tambores. Havia uma grande árvore no centro da clareira, parecia uma sequóia de tão grande. Sentando em uma das raízes da árvore estava um homem, aquele homem que havia seduzido Betânia meses atrás no Benim. Ela estava diante de Papa Legbá. Ele se vestia com uma pano vermelho vivo enrolado na cintura e o corpo negro ornado com alguns símbolos pintados em branco.
Ele olhou para Betânia e moveu os lábios, porém o som só foi ouvido segundos depois, ele disse com uma voz grossa e galante a palavra "Agymah". Betânia após ouvir isso piscou os olhos e de repente se viu sentada em uma cadeira da cozinha com Uriel e Doralice a amparando.
Doralice segurava o pulso de Betânia, ela disse:
- O que aconteceu meu bem? Você está tonta?
Uriel falou:
- Por pouco não caiu de barriga no chão. Você quer ir ao médico?
Belladonna que nem se moveu de onde estava disse:
- Ela estava em transe. Diga lá, para onde você foi?
Betânia se sentia fraca, mas respondeu:
- Eu vi ele, vi Legbá.
Doralice acariciando a mão dela falou:
- É normal meu bem, esta tudo bem. Vamos comer um pouco, vamos lá pra fora e vai ficar tudo bem.
A noite seguiu, Eduardo chegou as dez e fez questão de ficar ao lado da filha todo o tempo. Eles jantaram no jardim, Uriel desistiu de por a mesa do lado de fora, no fim eles forraram a grama com alguns cobertores velhos e fizeram um grande piquenique, deitaram no jardim e ficaram a madrugada toda olhando para as estrelas.
Estava tudo aparentemente bem, mas como de costume nada acabava bem.
Belladonna estava bêbada, mal se aguentava. Quando era quatro da manhã Eduardo se despediu de todos, quando foi dar um abraço de despedida em Belladonna ela do nada deu um forte tapa no rosto dele e gritou com a voz embargada pelo álcool:
- Tudo culpa sua!
Ele recuou dando dois passos para trás e indignado perguntou:
- Do que é que está falando?
Ela moveu o queixo para Betânia e gritou:
- Seu desgraçado, é culpa sua ela existir! Não sabe como eu me arrependo de ter parido ela!
Betânia deveria ficar aborrecida, mas ela ja tinha ouvido tangas vezes aquilo que não se importou.
Doralice falou:
- Belladonna vá deitar, você está bêbada, ninguém aqui tem que ter paciência com bêbados. Vá se embora!
Belladonna soluçou, olhou para ela e falou:
- Embora? Quer me desafiar dentro da minha própria casa é?
Doralice falou alto:
- Não estou com paciência! Eu sei muito bem que seus escândalos causados por bebedeira acabam em desgraça! Vá dormir agora!
Belladonna virou as costas e marchou para dentro da casa, mas retornou em poucos minutos trazendo a colher de Pau de Charlotte na mão. Ela apontou a colher para o rosto de Doralice e falou:
- Sabe que eu ainda não usei essa colher... Me parece uma otima oportunidade usar ela para explodir essa sua cara de vaca velha!
Doralice ergueu a mão acima da cabeça a quando abaixou fez aparecer nela um cetro de ouro de cerca de trinta centímetros e que tinha a imagem de um Dragão o circundando.
Belladonna abaixou a colher de pau e pasma disse:
- Este é o cetro da Rainha Regina? A arma milenar da Pombagira Rainha do Inferno?!
Doralice respondeu:
- Como acha que eu subjulguei sua mãe? Não é novidade que ela era muito melhor que eu na Bruxaria, porém Sete Catacumbas e Figueira junto com Rainha me deram isso. Kainana foi até a Europa violar a tumba da Rainha afim de encontrar este cetro, e o poder dessa arma eu posso te mostrar agora se quiser.
Belladonna ainda bêbada deu um passo em falso e caiu sentada na grama do jardim.
Doralice disse:
- Você sempre teve uma péssima opinião sobre a minha pessoa, mas você não sabe nada a meu respeito. NADA!
Belladonna murmurou algum xingamento e miseravelmente se levantou e foi para dentro para se deitar.
Eduardo foi até Doralice e pediu:
- Seria Bom se ficasse perto de Betânia nesses últimos dias de gestação.
Doralice garantiu:
- Vou ficar aqui, não vou deixar ela sozinha nem um segundo.
O dia 25 passou
O dia 26 também.
O ano novo se foi.
Janeiro vôou.
O calor, as chuvas torrenciais
Tudo passou.
Quanto mais a barriga de Betânia crescia menos esperança ela tinha.
Nesse meio tempo ela decidiu chamar o bebê de Maria se fosse fosse menina ou de Vincenzo se fosse menino.
02 de fevereiro de 1989
Uriel acordou cedo, mas ele não precisara ir a padaria, Doralice estava morando com eles desde o natal e ela fazia pães caseiros como ninguém.
Betânia estava com oito meses de gestação.
Uriel decidiu comprar o enxoval do bebê, ninguém fazia idéia de como ele era rico, mas não é difícil ficar rico quando se acumula ouro durante milênios. Uriel pôs Doralice e Betânia no banco de trás do Mustang e foram os três para o Brás, rua Maria Marcolina, era a rua de lojas de roupas infantis mais completa e barata de São Paulo.
Doralice insistiu em comprar dez vezes mais roupas que o necessário, muitas mamadeira e muitas chupetas, Betânia e Uriel não entenderam o motivo mas não discutiram, o grande porta-malas do carro ficou tão abarrotado que algumas sacolas foram colocadas entre eles nos bancos.
Voltaram para casa, mas Doralice proibiu Uriel de tirar as sacolas do carro.
Logo após o almoço Betânia se sentiu mal, sentia dores na barriga e nas costas, eram contrações. Ela já sentia leves dores desde a madrugada mas não quis contar a ninguém ja que havia acabado de entrar no oitavo mês de gestação.
Doralice percebeu que ela se sentia mal e a levou para o segundo andar, para o quarto e já começou a preparar tudo para o parto, ela mesma traria a criança ao mundo. Ela deu um banho quante em Betânia e chá de ervas para fortalecer o corpo.
As sete horas da noite as contrações aumentaram, Betânia sentia muita dor, mas ainda não era hora.
Sete e meia em ponto Doralice estava esterilizando uma tesoura passando ela no álcool as a deixou cair no chão, ela se atrapalhou ao sentir uma forte sensação de perigo, como uma onda de choque que percorreu todo o corpo. Era uma espécie de zumbido no ouvido, um aperto no peito.
BAAAAM!
Um forte barulho foi ouvido no andar da baixo, toda a casa estremeceu. Belladonna desceu as escadas correndo para ver o que era aquele estrondo e ficou atônita ao encontrar um enorme rombo no lugar onde era antes a porta de entrada, as cortinas do salão pegando fogo e parte do piso destruído. Era como se um míssil tivesse caído bem ali.
Uriel veio correndo da cozinha onde esquentava água a pedido de Doralice, olhou o estrago e disse para Belladonna:
- Isso é... Nossa... Doralice fez um feitiço de proteção na casa, isso... Essa destruição...
Belladonna completou:
- Um contra feitiço fez isso, alguém invadiu a casa. Para quebrar o feitiço de Doralice a pessoa teve de fazer isso, explodir uma parte do lugar.
Uriel deu as costas e foi rumo ao jardim.
Belladonna correu para cima, voltou ao quarto e pegou a colher de pau que estava em cima de sua penteadeira. Ao sair do quarto ela se assustou ao ver a menos de três metros a frente aquela mulher, Jacqueline.
Jacqueline estava vestida com uma calça vermelha muito justa, um par de botas acima de cano alto acima dos joelhos com bico fino e salto agulha de doze centímetros, uma camisa de alças finas em tecido preto, na cabeça um turbante volumoso em tecido vermelho como o da calça e nas orelhas um par de brincos de rubis tão vermelhos e brilhantes que pareciam pedra quentes. Ela olhou para Belladonna, pôs as mãos na cintura e disse:
- Essa colher de Pau é uma "mattertua"? Uma varinha de condão? E sua cartola e seu baralho? Onde está? Adoraria ver você tirar um coelho da cartola, adoro truques circenses.
Belladonna assustada falou:
- O que você está fazendo aqui? Não é bem vinda na minha casa.
Jacqueline sorriu e disse:
- Sei que não sou, mas prometo não me demorar. E ai, vai me enfrentar usando esse graveto?
Belladonna respondeu:
- Não sabe o quanto poder tem nisso.
Jacqueline arregalou os olhos os deixando completamente brancos e então disse:
- Eu não preciso de armas mágicas. Observe...
Ela deu um grito estridente e do nada uma explosão de fogo saiu dela invadindo todo o terceiro andar, as línguas de fogo lambiam todas as paredes, os vidros das janelas estilhaçaram em milhares de pedaços, Jacqueline era uma fornalha viva.
Belladonna deveria estar morta, o poder de fogo de uma Mambo era praticamente irrebatível, mas quando o fogo tomou conta ela caiu e ao cair olhou para frente e viu Sete Saias em pé com um mão aberta estendida para onde Jacqueline estava, a mão de Sete Saias cortava o fogo como uma espada e o dividia fazendo um vão seguro para Belladonna, e só por isso ela sobreviveu.
Jacqueline cessou o fagaréu, o corredor e tudo Naquele andar ficou preto como carvão. Ela viu Sete Saias a defender Belladonna e disse com o forte sotaque francês:
- Um espírito defendendo uma bruxa? Mulher eu não sei quem você é mas aviso, não fique no meu caminho, mesmo você estando morta eu ainda posso te ferir um bocado.
Sete Saias ignorou as palavras dela e disse com a voz firme:
- Mambo! O que quer aqui? Você não pertence a esta terra, o que está fazendo aqui?
Jacqueline disse:
- Vim buscar o que pertence a minha família. Eu quero a criança.
Sete Saias respondeu:
- Não há nada aqui para vocês Mambo! Saia desta casa! A criança pertence a mãe!
Jacqueline respondeu:
- Que mãe? Sabe muito bem que a garota não vai sobreviver ao parto. Um filho de um Deus como meu Papa Legba corre muito perigo enquanto é criança, existem feiticeiro que vão querer comer a carne dele. Eu irei leva-lo para a rainha das Mambo para ser criado por ela.
Sete Saias respondeu:
- Vejo que suas intenções são boas, mas ainda assim insisto que vá embora.
Jacqueline piscou para ela e em seguida encheu os pulmões de ar colocando as mãos sobre os seios. Sete Saias prevendo o pior gritou para Belladonna:
- Corra para baixo agora!
Belladonna correu ao lado contrário, ja que Jacqueline estava bloqueando a passagem principal ela teve de ir para a segunda escada, uma usada na época que aquele casarão era um Cabaré para ser uma passagem de serviço, mas era uma passagem pequena Para o segundo andar.
Jacqueline fechou os punhos e deu dois fortes murros sobre os seios, a sua boca escancarou e uma lufada de vento saiu dela, o vento tão forte que Belladonna que ja estava na escada foi arremessada sobre os degraus caindo no corredor do segundos andar. No corredor do terceiro andar onde Jacqueline estava soprando houve uma profunda destruição, o forro do teto foi arrancado, a parede do fim do corredor foi totalmente destruída e o quarto de Belladonna ficou revirado, até a pesada cama foi jogada pela escada caindo no jardim.
Belladonna se levantou rápido e correu até o quarto de Betânia, entrou e viu ela em pé apoiada em Doralice que mantinha o cetro dourado na mão.
Belladonna perguntou:
- Vocês estão bem? Onde está Uriel?
Betânia gemia de dor, as contrações estavam piorando.
Doralice disse:
- Uriel está ligando o carro, vamos nos mandar daqui.
Antes que Belladonna pudesse falar mais algo, Doralice apontou o cetro para a sacada e gritou "shaitaan-ka-hathauda" e a sacada explodiu deixando o caminho livre. Belladonna reconheceu aquelas palavras, shaitaan ka hathauda era o feitiço "Martelo do Diabo" pronunciado em língua Hindu.
Segurando Betânia, Doralice se jogou do que restou da sacada mas um segundo antes de cair ela apontou o cetro para baixo e pronúnciou " titalee pankh", e as duas flutuaram lentamente até pisarem na grama do jardim, entraram no carro onde Uriel ja estava no volante e partiram a toda arrebentando o portão de madeira do jardim.
Belladonna estava paralisada, ela estava sozinha agora e tinha uma Mambo dentro da casa. E só foi pensar nela que ela apareceu.
Jacqueline abriu a porta do quarto e perguntou parecendo nervosa:
- Onde está a parturiente?
Belladonna se virou disse:
- Não é de sua conta sua vaca!
Em seguida ela com a mão esquerda ergueu a colher de pau na direção de Jacqueline, pôs a mao direita fechada sobre o coração e berrou "Agrippa-autem-shredder!"
BUUUM!
Uma onda de choque saiu da ponta da colher fazendo Jacqueline ser jogada para trás batendo na porta e caindo no corredor.
Aquele feitiço "Agrippa autem shredder" significa "O triturador de Agrippa" e era a magia espélica mais potente que a família Agrippa Von Nettesheim havia criado. Belladonna era filha adotiva de um Agrippa Von Nettesheim e tinha aprendido com ele.
Não demorou muito e Jacqueline voltou, estava inteira sem nenhum arranhão, mas parecia furiosa. Ao olhar para Belladonna ela falou:
- A menina gravida não está aqui? Diga!
Belladonna sorriu e falou:
- Ela está longe agora.
Jacqueline abriu os braços esticando bem os dedos das mãos, jogou a cabeça para trás e deu um grito de ódio agudo estridente, e o fogo saiu do corpo dela, tanto fogo que tudo que queimou. Era um fogo sobrenatural e avassalador.
Na estrada um grande clarão foi visto rompendo a escuridão da noite, Uriel olhou pelo espelho retrovisor do Mustang e viu o grande cogumelo de fogo que havia se transformado o casarão logo atrás. A casa tinha ido abaixo, a explosa era similar a uma mini Little-Boy. Ele agarrou firme o volante, estava meio trêmulo, respirou fundo e perguntou a Doralice:
- Será que Belladonna sobreviveu?
Doralice e Betânia estavam olhando através do vidro traseiro, a luz vermelha da explosão invadia o carro parecendo o sol do meio dia.
Doralice disse:
- Aquela Mambo... Eu nem cheguei a por os olhos nela. Ela fez a casa virar uma fogueira em menos de vinte minutos. Eu... Eu não acho que Belladonna esteja viva, é praticamente impossível.
Entre gemidos e arfadas Betânia perguntou:
- Para onde vamos agora?
Doralice agitando o cetro disse:
- Para a minha casa. Uriel, acelere a toda, a polícia não nos verá esta noite. Pise fundo.
Ele respondeu:
- Ótimo! Garanto que chego no Rio de Janeiro em menos de meia hora.
Continua...
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