Diário 5 - Vagabundo

Me perguntaram hoje como é ser artista.
As pessoas me perguntam muitas coisas
Quase sempre me pedem opiniões
Sobre elas mesmas
Ou me pedem para falar mal de alguém,
Coisa que eu faço com gosto.
Mas raramente perguntam sobre eu.
Pois bem, essa pergunta foi complicada.
Como é ser artista?
Primeiramente me senti um vagabundo.
Não importa se ficava o dia todo
Fazendo arte ou virava madrugadas
Pintando, desenhando e escrevendo,
Eu sempre me sentia um vagabundo.
Minha alma pedia para fazer arte,
Mas meu espírito entendia isso
Como algo que não era bom.
Sempre fiz arte
Desde que me entendo por gente.
Mas eu só me aceitei como artista
Quando ganhei dinheiro com isso.
É horrível como o dinheiro manda
Na vida da gente.
A primeira vez que recebi uma
Encomenda eu fiquei quase torto
De surpresa.
"É sério? " eu perguntei.
Me rendeu vinte reais uma gravuda.
A segunda encomenda foi ainda
Mais surpreendente, um desenho
Para ser transformado em tatuagem.
Quando eu vi que a pessoa ali
Além de pagar
Ainda tinha coragem de por
No próprio corpo a minha arte,
Ai sim eu me vi como artista.
Me se senti especial!
Um vagabundo muito especial.
Me via similar aos hippies que
Vendem brincos feitos de sementes
Na praça da República.
Eu de fato me acho igual aos hippies.
Isso não me incomoda,
Mas me incomoda como o mundo
Vê os hippies.
O mundo os ve como vagabundos.
Hoje eu sei que fiz mais de mil obras
De arte.
Isso demandou muito esforço,
Muito trabalho.
Tenho vinte e cinco anos agora
E tenho obras em vários estados
De meu país,
Bem como obras nos Estados Unidos
Portugal e Espanha.
Porém me perguntaram hoje como é ser artista
E eu respondi que é maravilhoso.
Mas na verdade ainda me sinto um vagabundo.
Tem coisa que ficam gravadas
Dentro da gente.
Eu devia ter me formado
Em alguma coisa burocrática
E trabalhar em um escritório.
Mas eu sou um artista.
Só sei ser artista.
Um artista que se sente vagabundo.

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