Diário 3 - Diego

Eu não amo.
Não tenho amores.
Amo sim minhas duas irmãs,
Meus dois sobrinhos
Minha prima
Minha tia
Minha mãe
E meu cunhado.
Mas de gente de fora eu não tenho amado.
Fico muito pensativo,
Muitas vezes eu fingi estar apaixonado.
Mas não era paixão
Era teatro.
Todos depois de duas horas
Ao meu lado vêem o quanto sou dissimulado.
Eu fingia para me convencer que amava
Pois se deve amar.
É parte do currículo da vida adulta
Amar alguém de fora.
Mas eu não amo.
Que coisa feia é isso de não amar.
Tenho muitos colegas e conhecidos
Mas amigos só quatro.
Mesmo que eu chame vinte e cinco
Pessoas de meus grandes amigos
Eu só tenho amizade por quatro.
Que coisa feia é isso de não dar amizade a todos que pedem.
Mas eu sou assim.
Que coisa feia é ser assim.
Uma vez quando eu era criança
Eu tive um amigo, Diego.
Eu era malvado com ele,
Mas ele era doce e meigo.
Eu ria de Diego e sua pele pálida.
Ele não ria de nenhum defeito meu.
Toda vez que era necessário estar
Em dupla ele não dizia nada
Mas olhava na minha direção
Esperando o convite.
E eu o convidava.
Quando tive de me mudar
Nem adeus eu lhe disse.
Talvez eu não ame ninguém
Porque todo espaço por dentro
Que deveria ser cheio de amor
Esta ocupado de remorso e saudades
De Diego e sua franja cobrindo a testa.
Me desculpe se você que lê
Já ouviu da minha boca um
"Eu te amo"
Pois era falso.
Eu tinha doze anos quando
Sumi da vista de Diego.
Não tenho nenhuma foto
Mas lembro dele com tanta riqueza
De detalhes que sei
Eu o amo.