Médium Diva Belladonna Episódio 5 Parte 2
Médium Diva Belladonna
Episódio V
"Anjo Desprezado"
Parte 2
Ano 2868 antes de Cristo.
Uriel e Matiyah vão para a terra e na região da Mesopotâmia firmam morada junto aos outros homens, eles escolheram um pequena aldeia para viverem em paz.
Eram tempos difíceis, costumes atuais comk ética e respeito não existiam, tal como o rei Hamurabi dizia era "olho por olho e dente por dente".
Uriel e Matiyah so queriam paz.
Mas algo horrível aconteceu, mesmo com a guerra aos gigantes ter sido vencida e eles irradicados, uma coisa inesperada ocorreu, antes de ser morta uma gigante filha de Samyaza chamada Sasakhan havia em rituais de luxúria e depravação feito sexo com homens antes de devora-los. Sasakhan pariu Dezessete filhos, que eram ainda gigantes mas em uma escala menor tendo entre tres e quatro metros de altura. Estes se multiplicaram na região da arábia de modo a dominar o povo. Os novos "quase gigantes" eram tantos que não havia como mata-los em uma guerra. Deus vendo que eles eram grande parte da população árabe e que fora eles os humanos dali também eram cheios de iniquidade decidiu fazer uma limpeza, matar absolutamente todos que viviam ali através de uma grande inundação.
O dilúvio era fato.
Foi então que a bondosa Arcanjo Baraquiel veio a terra, foi ate Uriel e o avisou com antecedência dizendo que se ele e Matiyah quisessem se salvar deviam ir para o monte Horeb, pois lá era um local sagrado e Deus não o castigaria com as águas. Uriel e Matiyah foram para lá, o grande monte Horeb ficava nas terras egípcias e por isso o Egito foi o único lugar da região onde a enchente não chegou.
O dilúvio aconteceu, milhões de humanos e gigantes morreram, mas Uriel e Matiyah ficaram a Salvo.
Após isto eles se mudaram para Nabta-Playa na Nubia, onde trabalharam por muitos séculos como auxiliares dos astrônomos e astrologos que se concentravam ali.
1112 Antes de Cristo
Uriel e Matiyah se mudam para Sídon, uma grande cidade do Líbano. Lá Uriel era vendedor de tecidos, tinha uma grande loja no centro, tudo que ele e Matiyah conseguiram foi financiado por Samyaza que sempre mandava ouro para o filho. Uriel e Matiyah se amavam muito, viveram juntos, vidas como a dos homens, cheios de altos e baixos mas isso os fazia cada vez mais felizes.
Tanto Uriel quanto Matiyah não envelheciam, eram eternos, o povo de Sídon começou a desconfiar pois eles estavam com a mesma aparecia há mais de duas décadas, por isso em 1137a.c. eles decidiram se mudar para Polis Athenas, que era uma nova cidade do recente império Grego.
Em Athenas tudo era difícil, os costumes gregos eram mais amplos mas a cidade era extremamente agitada e os impostos altíssimos. Eles moravam em uma pequena aldeia bem próxima a acrópole, lá eram modestas casas feitas de barro e pedra, modelos comuns na periferia grega.
Ainda assim para Uriel viver na terra era um paraíso.
Uma Noite Matiyah foi comprar vinho na feira pública, ele queria fazer uma surpresa para Uriel, havia preparado um grande jantar.
Uriel fechou a loja de tecidos e foi para casa, havia um bilhete de Matiyah dizendo onde tinha ido.
Mas ele demorou.
A cidade foi se acalmando, mas Uriel sozinho em casa estava se agitando.
Passava da meia noite e Matiyah ainda não havia retornado. Uriel ficou preocupado e foi atrás dele. Quando chegou na feira ela já estava fechada.
Uriel passou procurar por toda parte, perguntava a todos na vizinhança se tinham visto Matiyah em algum lugar mas ninguém sabia de nada. Ele andou belos becos e pelos morros, pelos templos e até nos centros de banho público ele procurou, mas não encontrou.
Quando Uriel voltou para casa havia uma carta, um pequeno rolo de papel sobre a mesa da entrada, e quando abriu ele reconheceu a língua e a forma de escrita, era o dialeto dos anjos. A carta falava o seguinte:
"Querido irmão Uriel
Imagino que seja do seu interesse saber que seu amigo veio brincar conosco na grande floresta, siga ao norte da acrópole até uma pequena planície no meio das árvores, nos estamos lá com ele, venha matar a saudade de seus irmãos."
Uriel entrou em pânico, ele releu muitas vezes a carta com a esperança de não ter entendido direito, mas estava tudo muito claro. Ele correu para a praça e roubou um cavalo que estava amarrado em um dos postes, galopou alucinado até chegar no local exato.
A noite estava escura, as sombras das árvores enganavam os olhos. Uriel adentrou na mata e quando chegou na planície viu Matiyah sentado no chão com as mãos amarradas e em volta dele os arcanjos Samael, Miguel e Lelahel, os três ali com suas asas enormes e longos cabelos loiros. O rosto de Matiyah estava machucado, ela parecia ter sido espancado.
Uriel desceu do cavalo, foi ate eles, tentou esconder que tremia de nervoso. Ele perguntou:
- O que está acontecendo? O que significa isso?
Miguel falou cheio de orgulho:
- Ora Arcanjo Uriel, chegou o dia do seu castigo. A justiça tarda, mas não falha.
Uriel disse:
- Eu não estou entendendo, como assim? Castigo?
Samael estava em pé, ele coçava o queixo impaciente. Falou:
- Ora ora... Seu parvo, achou mesmo que Deus ia deixar barato a sua traição? Justo ele? Acabou pra você meu irmão, acabou.
Uriel disse:
- Entendi. Mas depois de décadas? Eu confesso que no primeiro ano esperei a retaliação mas agora não esperava mais.
Miguel falou:
- O tempo de espera também foi ordem de Deus.
Uriel perguntou:
- Porque um tempo de espera?
Lelahel respondeu:
- Para que você tivesse lembranças. As lembranças desses anos vão ser como pregos na sua carne para sempre.
Uriel estufou o peito e falou:
- Bom eu ja estou aqui. Agora deixem Matiyah ir e façam o que tem que fazer com comigo.
Miguel riu e falou:
- Uriel... Se pensa que vamos bater em você ou te prender, não, nos não faremos isso. O seu castigo é perder o que mais ama.
Uriel sentiu um calafrio percorrer a espinha. Ele então com a voz embargada perguntou:
- Eu não entendi. O que voces realmente vieram fazer?
Lelahel gritou sadicamente:
- Ha! Não entendeu ainda! Estúpido! Nos viemos matar o seu namoradinho!
Uriel arregalou os olhos e berrou:
- Não! Não! Deixem Matiyah em paz!
Miguel deu um forte chute nas costas de Matiyah fazendo um som oco segundo do grunhido de dor do rapaz que caiu no chão expelindo sangue pela boca.
Uriel correu para defender o amado mas Lelahel apontou o dedo indicador para ele e disse:
- Parado ai.
Uriel ficou imóvel, congelado, o poder de Lelahel era grande, ele tinha prática em paralisar os oponentes, e agora Uriel ja não tinha como revidar.
Lelahel zombou:
- Ande! Onde está o famoso Arcanjo Uriel? Me queime com o seu fogo sagrado! Ou melhor, me retalhe com sua espada! Seu fracote, não consegue fazer mais nada.
Uriel entre grunhidos de dor causados pela paralisia falou com odio:
- Desgraçado! Desgraçado! Eu juro que se machucarem ele eu...
Lelahel o interrompeu:
- Você vai fazer o que? O que você poderia fazer Uriel? Bom essa pergunta eu mesmo respondo, você não vai fazer nada. Você meu rapaz pode até querer, mas não tem como peitar nenhum de nós.
Miguel falou:
- Samael faça logo.
Samael pegou uma pequena garrafa que trazia dentro de uma bolsa de pano e a abriu, Miguel puxou Matiyah pelos cabelos o fazendo sentar novamente e então apertou o pescoço dele até o pobre arfar sem ar e abrir a boca como um instinto para respirar. Samael derramou o liquido da garrafa na boca de Matiyah, era um líquido espesso, vermelho. Após Matiyah engolir aquilo eles o desamarraram e se afastaram.
Uriel chorava compulsivamente, ele perguntou em meio as lágrimas e soluços:
- Droga... Não... Isso é... sangue humano?
Miguel disse:
- Sim, é sangue humano.
Uriel berrou alto:
- NÃO! NÃO! NÃO!
Miguel indiferente disse:
- Já foi Uriel. Já era.
Uriel respondeu desesperado:
- Você não sabe de nada!
Miguel disse:
- Na verdade eu sei sim. E você também sabe o que acontece agora não é?
Matiyah se tremia, parecia perder o controle sobre o próprio corpo, ele rastejou até onde Uriel estava mas o corpo dele estava duro, ele não podia se abaixar.
Uriel falou com Lelahel:
- Me deixe falar com ele! Me libere! Por favor!
Lelahel com um sorriso nos lábios ordenou:
- Implore!
Uriel mordeu o lábio inferior por um segundo, e então teve de implorar. Ele disse:
- Eu Imploro! Eu imploro por tudo que é mais sagrado! Por favor! Por favor!
Lelahel revirou os olhos e estalou os dedos libertando Uriel do poder paralisador. Uriel se abaixou e abraçou Matiyah.
Matiyah estava fraco, os lábios estavam roxos. Ele sussurrou no ouvido de Uriel:
- Meu amor... Obrigado por tudo.. obrigado... Você... Você fez a minha existência ter sentido...
Uriel apenas chorava beijava as bochechas de Matiyah sem parar.
Matiyah disse mais:
- Me prometa... prometa que vai viver em paz... Que vai ser feliz e não... Não deixar que esse dia estrague todos os outros que ainda virão. Você tem muito para viver meu... amor...
Uriel o abraçou com força, as lágrimas dele caim sobre o rosto do outro.
Miguel se dirigiu a Matiyah:
- Ei aberração, vai demorar muito pra virar bicho? Eu não tenho muita paciência.
Lelahel zombou:
- Alguem tem um lenço? Eu estou a ponto de chorar com essa situação... Estou tocado.
Os tres anjos deram risada.
Uriel falou no ouvido de Matiyah:
- Eu te amo, e eu sempre vou te amar. E eu juro, eu vou vingar você.
Matiyah começou a respirar rápido, movia o torax de um jeito anormal. Uriel tentou acalma-lo mas de repente ele deu um urro grave e empurrou Uriel com força o afastando.
Uriel caiu e a visão que teve foi a mais terrível e a mais marcante de que ele jamais veria, ele viu Matiyah ficar em pé, as veias no pescoço dele estavam muito saltadas e ele urrava como um animal olhando para o céu enquanto faiscas percorriam a pele. As veias do corpo ficaram azuladas, e os membros começaram a inchar.
Samael perguntou para Miguel?
- Matamos ele agora?
Miguel respondeu:
- Não, temos de esperar ele virar um gigante, so podemos atacar quando ele virar aquela monstruosidade, ai sim despedaçamos.
O corpo de Matiyah foi aumentando, crescendo, as roupas foram rasgando enquanto ele berrava e se debatia, um cheiro de carne podre emanava dele.
Ao final da transformação ele tinha doze metros de altura. O rosto de estava desfigurado, a boca tomava conta da maior parte da face com dentes pontiagudos e lábios arroxeado, e ele mantinha um assustador sorriso e os olhos vidrados.
Ele após toda a agitação ficou imóvel por um bom tempo. Matiyah agora era um gigante.
Lelahel olhou para o gigante e falou:
- Que coisa horrível.
O vento soprava, as folhas das arvores se moviam fazendo aqueles ruídos que somente se ouve dentro de uma floresta. Os cabelos de Matiyah agora eram muitos desgrenhados, os fios eram grossos como cordas e por isso se moviam muito pouco mesmo quando o vento soprava forte.
Samael disse:
- Fizemos tudo o que foi ordenado, Uriel ja viu toda essa cena, o drama ja está completo. Podemos matar o gigan...
Antes que ele completasse a frase o gigante deu um tranco e com estrema velocidade correu para o meio da floresta derrubando varias árvores, os passos dele faziam a terra tremer.
Miguel foi até o Uriel e o pegou no colo, o corpo de Uriel realmente não se comparava mais a grandeza dos anjos e por isso foi facilmente carregado. Miguel falou:
- Eu imagino onde ele deve ter ido, ele está com fome. Uriel você tem que ver isso.
Miguel bateu as asas e alçou voou junto com os outros dois, Uriel foi levado por ele. Eles não tiveram que procurar muito, o gigante estava perto, estava agaixado em uma clareira ao sul.
Miguel pousou ao lado e solto Uriel dizendo:
- Veja, veja o que o seu amorzinho está a fazer, é o jantar dele! Que apetitoso não acha?
Uriel olhou e viu o gigante mastigado um corpo humano, o homem que estava sendo devorado ainda estava vivo e soltava gemidos cada vez que Matiyah moia os os ossos do corpo dele com as dentadas.
Uriel gritou:
- Não! Não faça isso Matiyah!
O gigante virou a cabeça para onde estava Uriel, olhou para ele mas logo voltou a mastigar e arrancou as duas pernas do homem em uma so bocada. Matiyah já não existia mais, aquele gigante era acéfalo.
Uriel se aproximou e tocou em uma das pernas enormes dele. Ao sentir o toque o gigante parou de mastigar e olhou para Uriel que gritou:
- Ana Behibak! Ana Behibak!
O gigante arregalou os olhos e arfou de repulsa ao perceber que estava comendo um homem. Matiyah havia recuperado a sua consciência. Ele olhou em volta e viu os três anjos ali rindo da situação. Desesperado ele agarrou Uriel o pondo na palma da mão e dando um solavanco correu, uma nuvem de poeira se formou no salto que ele deu para ficar em pé. As longas pernas do corpo gigante davam uma extrema velocidade se vendo que em cada passo ele cobria mais de cinqüenta metros.
Miguel assombrado o viu correr para longe e disse para os companheiros:
- Esse bicho ainda está consciente! Mas que droga!
Os três abriram as asas a alçaram vôos a toda velocidade perseguido Matiyah, mas ele estava em uma velocidade muito grande e mesmo as asas velozes estavam com dificuldade em alcança-lo.
Mas em um determinado momento Matiyah tropeçou e caiu no meio de floresta fazendo um grande estrondo e soltando Uriel que rolou na terra.
Os tres anjos viram Matiyah caído e sem exitar o atacaram, Lelahel desembainhou a espada seguido por Samael e Miguel e os três juntos cravaram as lâminas nas costas do gigante que berrou de dor. Com as grandes mãos ele tentava afastar os anjos mas não conseguia.
Quando o gigante Matiyah ficou em pé Miguel saltou e cortou a garganta dele com um golpe certeiro. O enorme corpo caiu no chão sem vida.
Uriel estava bem adiantae e olhava aquilo tudo com olhos vidrados, parecia não crer que aquela cena era real. Mas era.
Após se certificar que Matiyah estava morto, Miguel se aproximou e falou para Uriel:
- Nossa missão foi cumprida. Você fez tudo para ficar com essa aberração, mas nós tiramos ele de você. Aproveite sua imortalidade sem o seu amado.
Os tres anjos deram gargalhadas e voaram alto indo embora céu adentro até desaparecerem entre as nuvens.
Uriel se aproximou do corpo do gigante mas não teve coragem de toca-lo, aquilo não era Matiyah, não havia sobrado nada de Matiyah. Uriel estava vazio por dentro, o amor havia se tornado solidão. O cadáver enorme sangrava pelos cortes que os anjos haviam lhe feito, os olhos abertos estavam fitando o além.
Um som de palmas foi ouvido, alguém aplaudia. Uriel se virou para ver quem era e viu Samyaza ali olhando o filho morto. Samyaza se vestia como uma nobre grega, um manto branco preso ao ombro e solto corpo abaixo. As grandes asas dela arrastavam no chão. Ela se aproximou e falou:
- Então finalmente aconteceu.
Uriel tinha os olhos muito vermelhos, ele enxugou o rosto com as costas das mãos e disse:
- Finalmente? Você já esperava por isso?
Samyaza respondeu:
- Ingênuo. Uriel nos somos os seres mais velhos do universo, nos fomos os primeiros a sermos criados, somos testemunhas de tudo. Porém você passou por tudo avulso, não aprendeu nada. Você viveu os milênios de tão tolo que ainda se manteve... Ingênuo.
Uriel rebateu:
- Não sou ingênuo, eu sou esperançoso.
Samyaza disse:
- A pior mentira é aquela que contamos para nos mesmos. Você é ingênuo sim. Eu e todos os anjos e demônios do céu e do inferno estavamos só aguardando isso ai acontecer. Era óbvio. Deus não perdoa ninguém. Você entende agora porque eu tenho que me sujeitar a Satanás? Ao lado dele estou segura. Se eu me afastar dele Deus me esmagará como um inseto. Isso é óbvio.
Uriel falou:
- Se é tão óbvio porque não me disse? Porque não disse isso para Matiyah? Podia ter salvado ele.
Samyaza respondeu:
- Eu tentei. Eu contei para Matiyah, eu alertei ele sobre isso.
Uriel disse:
- Então ele também era ingênuo.
Samyaza falou:
- Não, ele não era. Ele sabia disso tudo, ele sabia que iria morrer. Quando você foi para o céu e então voltou sem as asas Matiyah viu que o seu amor por ele era verdade, nisso ele decidiu se por em risco para ficar ao seu lado. Ele não era bobo nem ingênuo, ele simplesmente aceitou a morte, ele aceitou isso tudo para ficar alguns anos ao seu lado.
Uriel respirou fundo e perguntou:
- Samyaza, o que eu faço da minha vida agora?
Samyaza disse:
- Vingue Matiyah.
Uriel respondeu:
- Impossível, eu não sou pariu para arcanjos, eu sou só um homem agora.
Samyaza disse:
- Viva Uriel. E deixe de ser ingênuo, deixe de ser fraco.
Uriel falou:
- Eu não sou fraco, não é questão de ser...
Samyaza interrompeu dando um forte murro no peito dele. Uriel caiu com muita dor no torax. Ele tossiu muito, em seguida ainda caido no chão disse:
- Porque me bateu?
Samyaza disse:
- Eu queria testar uma coisa.
Uriel tossiu mais um pouco, cuspiu sangue e disse:
- Testar o que?
Ela disse:
- Se você sobreviveria a isso. Eu ainda sou um Arcanjo, coloquei toda a minha força nesse golpe, qualquer humano teria morrido imediatamente, mas você nem sequer desmaiou. Sabe o que significa?
Uriel se sentou no chão e falou:
- Que eu aguento apanhar?
Samyaza respondeu:
- Nao Uriel, significa que você ainda é um Arcanjo.
Uriel olhou para ela confuso e perguntou:
- Como assim?
Samyaza falou:
- Quando arrancaram as suas asas o seu poder foi drenado, mas não eliminado. Você não é um homem, nunca será. O que você é uma versão pequena do que ja foi um dia. Isso significa que pode voltar a ser o que era, ou ser melhor do que era.
Uriel perguntou:
- Então você pensa que eu posso voltar a ser um Arcanjo?
Samyaza disse:
- Sem sombra de dúvida. Mas isso so acontecerá se você tiver pelo menos uma pena das suas antigas asas, se você enxertar uma pena em si mesmo vai reproduzir as asas novamente. Por sorte sua eu tenho uma pena das suas asas.
Uriel se levantou e falou:
- Me dê Samyaza! Eu preciso dela!
Samyaza sorriu e disse:
- Não sou uma caridosa para fazer coisas de graça, além do mais conseguir uma pena sua não foi fácil. Se quiser ela terá de fazer alguns favores para mim.
Uriel respondeu:
- Certo, eu farei.
Samyaza falou:
- Eu não sou um passarinho para ser enganada por ti.
Ela arrancou um fio de cabelo da cabeça e disse:
- Jure que ira me servir por duzentos anos e ao final deste tempo eu lhe dou a pena.
Uriel estendeu o pulso e disse:
- Eu juro.
Samyaza enrolou o fio de cabelo no pulso dele e se transformou em uma pulseira de ouro. Ela disse:
- Com isso esta selado o nosso acordo, nem eu nem você poderemos voltar atrás. Você será meu braço na terra, e fará aqui o que eu desejar.
Uriel foi embora de Athenas, apenas um desejo o movia agora, o de se vingar de Miguel, Samael e Lelahel.
Foram duzentos anos servindo a Samyaza. Uriel fez coisas horrendas a mando dela, não houve um dia de descanso. Ao final deste tempo ela realmente cumpriu a palavra e deu uma pena da Asas que um dia havia sido de Uriel, e ele a engoliu fazendo aquela pequena fagulha acender dentro dele a força de um Arcanjo.
Porém demoraria muito, muito tempo para que os poderes fossem restaurados por completo.
Mas ele estava impaciente.
Decidiu então se tornar um guerreiro, desejou aprender todas as artes de guerra que pudesse.
432 a.c.
Uriel retorna a Athenas e então luta a favor dela na guerra do Peloponeso.
Ano 397 a.c.
Uriel se muda para Cartago onde fez parte do exercíto.
Ano 264 a.c.
Uriel luta na primeira guerra Punica.
Ano 283 a.c.
Uriel passa a servir Asdrubal de Cartago.
Ano 294 a.c.
Uriel entra para um seleto grupo de soldados servindo a Aníbal de Cartago.
Ano 211 a.c.
Uriel vai para Siracusa lutar contra a invasão Romana.
Ano 186 a.c.
Uriel se muda para Lanka (Isri Lanka) e serve o grande Demônio Ravana em troca de treinamento e aprendizado.
Ano 145 a.c.
Uriel deixa Ravana e passa a servir Varuna sendo seu representante em Isri Lanka.
Ano 30 d.c.
Sendo informado por Baraquiel que Emanuel havia encarnado em um homem chamado Yeshua Ramashia (Jesus Cristo) e faria uma renovação na religião, Uriel temendo a grande movimentação de anjos na terra se muda para a ilha submersa de Shambala.
Ano 37 d.c.
Uriel lidera a construção da grande biblioteca de Varuna em Shambala.
Ano 52 d.c.
Varuna descobre a real origem de Uriel o dispensa. Uriel volta para a superfície e firma residência novamente em Isri Lanka.
Ano 54 d.c.
Uriel conhece a princesa Chang Jin da China e se torna amante dela.
Ano 55 d.c.
Uriel se muda para China sendo parte do séquito do imperador Jìn Míngdì.
Ano 57 d.c.
Uriel e todo o sequito são expulsos da china com a coroação do novo imperador Liu Zhuang. Uriel se muda para Madurai na Índia onde se torna tradutor.
Madurai era uma grande cidade, ela mantinha comércio com Roma e nisto Uriel Também se envolveu com a rota comercial viajando esporadicamente para cidades do continente europeu.
Um dia ele estava em um navio indo para Roma, dormia em uma cabine quando sentiu um toque suave no ombro e despertou. Era Baraquiel, ela estava ferida, haviam grandes hematomas em seu rosto e na mão direita vários dedos estavam faltando. Uriel se assustou ao ver ela naquele estado, ele se levantou apressado e perguntou:
- Baraquiel o que aconteceu? Quem fez isso com você?
Ela se sentou no colchão de palha que ele antes dormia e respondeu:
- Ora quem mais além de Miguel?
Uriel falou:
- Aquele porco miserável! Mas por que ele fez isso?
Ela sorriu para Uriel e disse:
- Porque tecnicamente eu sou um demônio agora, e ele tinha a missão de me matar.
Uriel pasmo sentou ao lado dela, ele ao encostar em uma das asas dela a fez gemer de dor. Ele disse:
- Me desculpe.
Ela respondeu:
- Tudo bem. Você sabe, em uma semana no máximo estarei nova em folha.
Ele perguntou:
- Mas porque se tornou um demônio?
Ela explicou:
- Na verdade é modo de dizer, eu não me aliei a Satanás nem nada do tipo, eu apenas vou me casar e isso é inadmissível para Deus. Então fui expulsa.
Uriel perginou mais:
- Vai se casar com quem?
Ela respondeu:
- Com um Deus. Vou me casar com Arpachad.
Uriel animado perguntou:
- Arpachad Deus dos Babilônios? O famoso Enki Sumerio?
Baraquiel respondeu orgulhosa:
- Ele mesmo. Mas não foi para fofocar que eu vim aqui, eu te trouxe algo, veja.
Baraquiel apontou para um embrulho grande e fino, era algo dentro de um manto azul claro.
Uriel apanhou o embrulho e o abriu tirando de lá uma espada dourada. Ele olhou para a espada incredulo do que estava vendo e disse:
- Baraquiel essa é aquela espada?
Ela respondeu:
- Sim essa é Nihaya, a espada matadora de anjos. Foi com ela que Miguel arrancou meus dedos. Na hora da luta o meu amado Arpachad estava comigo e tomou a espada das mãos dele. Eu não quero ela, mas sei que pra você ela será muito útil.
Uriel encheu os olhos de lágrimas e respondeu:
- Sem sombra de dúvida.
Baraquiel falou:
- Meu irmão eu e Arpachad vamos morar em Agarta, um dos bairros de Shambala, eu não pretendo voltar aqui na terra por um longo período. Nisto eu devo lhe dar conselhos antes de partir, e é melhor que ouça e siga.
Uriel falou:
- Diga Baraquiel, cada palavra sua e como ouro.
Ela falou:
- Então escute, você lutou em muitas guerras desde que Matiyah se foi, mas todas guerras humanas. Você para os humanos é forte, mas não está preparado para enfrentar Miguel. Uriel suas asas estão crescendo, mas demorará ainda mais de três mil anos para que sejam como eram.
Uriel suspirou fundo e disse:
- três mil anos? Eu não creio que falta tudo isso.
Baraquiel continuou:
- Mas há um jeito de apressar as coisas. Você deve aprender a manejar a espada.
Uriel falou:
- Mas eu sou excelente espadachim.
Baraquiel respondeu:
- Não você não é, sua técnica é pobre, você não chega aos pés de Miguel. Se acha que tudo que aprendeu nas batalhas que lutou aqui na terra te serviram de algo você está enganado. Você precisa de um mestre.
Uriel falou:
- Mas que homem poderia me ensinar algo que supere a Miguel?
Baraquiel respondeu:
- Homem nenhum. Mas há um ser que é muito maior que Miguel e saberá te ensinar.
Uriel perguntou:
- E quem é esse ?
Ela respondeu:
- Botis.
Uriel riu e disse:
- Botis? Você acha mesmo que ele vai me treinar? Botis é irmão de Belzebu, eles se acham melhores que tudo no mundo, eles desprezam os anjos e os homens, eu estou bem no meio entre esses dois, é claro que ele não me aceitará como aluno.
Baraquiel falou:
- Ele te aceitará se der algo em troca.
Uriel perguntou:
- Mas o que eu teria para dar?
Baraquiel disse:
- Um desafio equivalente. Botis se queixa de não ter ninguém no universo que possa desafiar ele e aquela espada Setembrina. Mas esta espada que eu te dei hoje pode desafiar a dele.
Uriel disse:
- Mas e se ao invés ele quiser tomar a espada de mim?
Baraquiel respondeu:
- Ele tentará, mas o ouro do qual é feito essa espada não funciona nas mãos de seres como Botis. Ele não tomará quando ver que não pode usar.
Uriel perguntou:
- Certo eu vou até ele. Mas onde ele mora?
Baraquiel disse:
- Botis mora em Shambala, e eu te levo até ele. Mas antes ouça meu segundo conselho, assim que seu treinamento com Botis acabar você deve encontrar uma feiticeira, uma que seja descendente de Caim. Elas são raríssimas, você saberá reconhecer uma quando encontra-la, elas tem uma anergia forte, densa.
Uriel perguntou:
- Mas porque eu preciso de uma feiticeira? O que ela poderia fazer por mim?
Baraquiel falou:
- Se você ficar próximo a uma feiticeira a energia que emana dela vai ser absorvida, você se fortalecerá a partir dela.
As ondas faziam o barco sacolejar, o som do mar era alto. Uriel ficou calado pensando, após alguns minutos ele respondeu:
- Como se a energia da feiticeira fosse lenha, lenha que serviria para alimentar a minha energia como se fosse lenha seca para o fogo.
Baraquiel falou:
- Bem isso.
Uriel falou:
- Minha irmã eu não como lhe agradecer. Me leve para Botis, me leve ate ele.
Baraquiel deu um beijo na testa de Uriel, sentiu como se caísse em um grande vácuo, fechou os olhos por um segundo então sentiu um forte impacto nas costas, abriu os olhos e ao olhar para o alto viu a grande massa de água marinha no céu, ele estava em Shambala, e esta era uma ilha sagrada que ficava em uma redoma de ar no fundo do oceano.
O impacto que ele sentiu foi de cair na terra, bater o corpo no solo. Ao olhar em volta ele se viu em uma encruzilhada de paralelepípedos em frente a uma pequena vila de casas de barro. Baraquiel estava ao lado com a espada Nihaya nas mãos.
Ele se levantou, olhou para ela e disse:
- como chegamos tão rápido aqui?
Ela respondeu:
- Bom, eu aprendi truques novos.
Uriel se endireitou, inclinou o corpo para trás esticando as costas e disse:
- Em que parte de Shambala estamos?
Baraquiel disse:
- no meio do caminho entre Agarta e Ratnasanu. É em Ratnasanu que Botis mora, mais ou menos uma hora de caminhada daqui.
Uriel perguntou:
- Pode fazer o teletransporte para lá?
Baraquiel disse:
- Sim, mas não quero. Meu irmão, se Botis te aceitará como aluno voce passará muito tempo com ele, e neste tempo não poderá me ver. Então vamos caminhando juntos até lá, assim colocamos a conversa em dia.
Baraquiel levou Uriel até Botis, ele era uma dívindade muito antiga. Após muito implorar, ele aceitou ser mestre de Uriel.
O treinamento de Uriel durou setenta anos, e neste tempo ele se tornou um estupendo espadachim. A história que Uriel viveu com Botis foi muito significativa. Mais para frente em outro momento ela será contada em detalhes.
No termino do treinamento Uriel voltou para a terra, foi morar em Roma.
Ano 131 d.c.
Roma estava agitada como sempre. Agora os Cristãos estavam por todo lado pregando suas religião repleta de odio a tudo que era diferente. Por mais que as tradições das religiões greco-romanas fossem fortes elas estavam cada vez mais abaladas pelo cristianismo, e uma grande guerra espíritual começou, os Anjos de Deus lutaram contra os Deuses do Olimpo, foi uma guerra feroz acontecendo por todo lado sem que os humanos se dessem conta. Uriel temeu que algum anjo o encontrasse e visse a espada Nihaya, então achou melhor fugir dali e ir para a região de Cartago.
Quando ele chegou la descobriu que Cartago não existia mais, era apenas uma lenda, no lugar havia um novo reino, mas que os antigos cartagineses que sobreviveram haviam migrado para a Iberia.
Uriel cruzou o oceano e foi para lá, na região Ibérica que atualmente se chama "Espanha".
Uriel fazia viagens a cada duas décadas para procurar uma feiticeira descendente de Caim tal como Baraquiel havia dito. Ele encontrou muitas, muitas feiticeiras, mas nenhuma era forte como uma filha de Caim. O continente mudou muito, guerras em cima de guerras, doenças contagiosas, reinos nascendo e caindo. Tudo mudou até que a Espanha realmente surgiu.
Em 1478 a inquisição espanhola começou e Uriel temeu muito ficar na Europa, ja que ele não envelhecia e poderia ser acusado de ser um bruxo. Os católicos da época eram terroristas, malignos ao extremo e Uriel mesmo sendo capaz de se defender temeu.
Em 1480 Uriel chegou ao Japão onde esperava fazer conexões comerciais tal como havia feito na Índia, China e Isri Lanka mas os Japoneses não eram abertos a contato com estrangeiros e Uriel foi praticamente isolado, o que forçou sua retirada de volta para a Europa.
O tempo voou.
O tempo passou.
Muita coisa aconteceu.
A tecnologia avançava e a humanidade estava avançando.
O homem mudou.
Novas nações surgiram enquanto outras cairam.
Guerras, genocídios, holocaustos.
Nenhum demônio no inferno ou divindade maligna fez tanto mal ao espécie humana quanto próprios humanos.
O tempo passava, as gerações vinham renovando o ciclo.
1957 d.c.
Uriel trabalhava como taxista em Lisboa Portugal, a década de cinqüenta trazia um frescor novo para o mundo, a segunda gerra mundial tinha realmente acabado e movimentos artísticos estavam crescendo novamente, o cinema e o teatro em Portugal finalmente estavam crescendo.
Ele nunca almejou ser taxista, mas todo ser precisa de uma ocupação e Uriel estava cansado da vida escusa.
O táxi era lucrativo e uma ótima distração.
Assim que ele passava pela praça do Rossio uma moça alta e magra vestida com um casaco branco, calças vermelhas e uma boina da mesma cor fez sinal para ele parar, e ele parou. Ela entrou no táxi e assim que se sentou Uriel sentiu um arrepio na nunca, a energia que vinha dela era muito forte, era como se ele estivesse próximo de uma fogueira, próximo o suficiente para sentir as chamas.
Ele perguntou:
- Bom dia moça, onde tu vais?
Ela respondeu:
- Quero encher a cara, me leve em qualquer lugar que uma mulher possa beber em paz.
Ele perguntou:
- Pelo teu sotaque tu não es de Portugal, de onde vens?
Ela respondeu:
- Brasil, sou brasileira.
Ele disse:
- Em Portugal não é comum um moça beber assim tão cedo.
Ela respondeu:
- Esse país nem parece que é na Europa, as pessoas me olhavam torto só porque eu estou de calças, e agora vão dizer que eu não posso molhar o bico? Credo!
Uriel respondeu:
- Isso aqui não é Paris moça, lá sim as mulheres usam calcas normalmente desde a década de vinte quando Coco Chanel fez calças para mulheres. Aqui em Portugal as coisas ainda são retrógradas.
A moça falou:
- Bem vi.
Uriel disse:
- Onde quer ir?
Ela repetiu:
- Quero beber. Me leve para um bar onde eu possa beber, hoje eu vou mamar no litro.
Uriel disse:
- Não querendo ser rude mas não acho uma boa ideia, aliás eu não sei se esta hora os bares estão abertos, é muito cedo.
Ela olhou para ele através do espelho retrovisor e com as sobrancelhas baixas em uma expressão seria ela disse:
- Me leve em algum puteiro que funcione vinte e quatro horas, com certeza lá ninguém vai ligar se eu beber.
Uriel deu rizada, ligou o carro e perguntou:
- Aconteceu alguma coisa? Esta querendo afogar as mágoas?
Ela respondeu:
- Na verdade estou comemorando. Me divorciei.
Ele guiou o carro ate o subúrbio e foram ate uma rua estreita onde havia um bar aberto, um local de aspecto imundo. A rua era de paralelepípedos e as calçadas fediam a urina.
A moça pagou a corrida e abriu a porta para descer do carro mas antes Uriel falou:
- Senhora, se importa se eu te acompanhar? Eu também preciso beber um pouco.
Ela olhou para ele e disse:
- Se isso for acabar em um estupro, eu te corto inteiro, tenho uma Navalha na bolsa e não tenho medo de usar.
Uriel respondeu risonho:
- Não se preocupe, não sou do tipo delinquente e nem vejo graça em moças.
Ela falou séria:
- Então venha.
Eles desceram do carro e entraram no bar, se sentaram em uma mesinha de madeira perto da porta. O bar era pequeno, o piso era de uma cerâmica muito velha preta e branca simulando um tabuleiro de xadrez, haviam altas prateleiras com garrafas de bebidas caras e troféus de campeonatos de futebol, atrás do balcão estava um simpático senhor usando suspensórios, ele tinha um chamativo bigode.
Uriel foi até a mesa, puxou a cadeira para a moça se sentar e também se sentou. Ele então perguntou:
- Qual é a sua graça?
Ela respondeu:
- Milena, Mas todos me chamam pelo meu terceiro nome Que é Belladonna.
Uriel perguntou:
- Terceiro nome? Quantos nomes você tem?
Ela ergueu a mão chamando o dono do bar, pediu a ele duas canecas de cerveja. O dono do bar estranhou muito uma mulher bebendo mas percebeu ser uma estrangeira e a serviu. Após dar um gole na bebida ela olhou para Uriel e respondeu:
- Quer mesmo saber?
Ele disse:
- Com certeza que sim.
Ela deu outro gole na bebida e disse:
- Milena Diva Belladonna di Gilli e Agrippa von Nettesheim.
Uriel riu e disse:
- Isso é tudo um nome? Não ouço um nome assim faz uns cem anos. Não tem um "Bragança de Orleans" no seu nome não?
Belladonna acendeu um cigarro, tragou e então disse:
- "Bragança de Orleans"? Conhece a história do meu país não é? Bela história. Mas meu nome não vem da realeza, meu pai era um homem que não gostava de abrir mão dos sobrenomes de família, ele era bem tradicional. Mas me diga logo o que você quer, eu não sou boba. Eu não sinto alma humana dentro de você, o que você é? O que quer comigo?
Ele perguntou:
- O que acha que eu sou?
Ela deu um gole na cerveja e respondeu:
- Uma porra de um homúnculo.
Ele disse:
- Não, não sou isso. Eu não fui criado por homens, eu fui criado por Deus.
Belladonna falou em tom de sátira:
- Ah filho de Deus... Você Jesus Cristo? Porque eu conheço meia dúzia de malucos que se dizem encarnação de Jesus.
Uriel olhou para ela incredulo por ela estar sendo tão direta e disse:
- Bem... Eu sou um Anjo.
Ela tragou o cigarro e respondeu:
- Nossa como você é humilde... Sim você é um rapaz de boa aparência, mas não fique se auto intitulando ser um anjo, é feio, isso é ser prepotente.
Ele falou:
- Eu não estou brincando, sou um anjo sem asas. E eu preciso achar uma bruxa filha de Caim.
Belladonna ergueu as sobrancelhas e disse:
- Que papo mais doido. Você é um Anjo e eu sou a filha de Caim? Então aquele garçom bigodudo ali é Moisés ou Abraão? Há!
Uriel fechou a cara e disse:
- Eu não estou brincando.
Ela disse:
- Nossa você é bem convicto nisso heim? Me de a sua mão, quero ler ela.
Uriel esticou a mão sobre a mesa e mostrou a palma da mão direita. Belladonna tocou a pele da mão dele com a ponta da unha do dedo indicador e foi seguindo cada linha com muita atenção. Após alguns momento nosso ela parou e disse:
- Estranho, eu não vejo nada. É uma página em branco.
Uriel recolheu a mão e disse:
- Quiromancia só da certo com humanos.
Belladonna falou:
- Entendi. Então você não é mesmo Humano.
Uriel disse:
- Eu não quero te assustar, apenas estou sendo franco. Eu sou um anjo.
Belladonna falou:
- Bom pra você. E você acha que eu sou uma filha de Caim?
Uriel disse:
- Sim. Faz dois mil anos que procuro e nunca achei anergia como a sua, uma energia muito forte e muito similar a minha.
Ela falou:
- Obrigada. Mas... Ninguém nunca me disse que eu era uma filha de Caim. Isso é uma coisa boa ou ruim?
Uriel respondeu:
- E algo bom sim, significa que você é uma bruxa poderosa.
Belladonna falou:
- Mas Caim não foi amaldiçoado por ser o grande filho da puta invejoso matador de irmão?
Uriel disse:
- Não creia em tudo que está na Bíblia, as histórias lá foram muito deturpadas.
Belladonna falou:
- E o que você quer comigo?
Uriel disse:
- Preciso ficar perto de você o máximo possível para restaurar a minhas energias.
Belladonna disse:
- A minha energia faz a sua aumentar?
Uriel falou:
- Exatamente.
Belladonna falou:
- Está propondo me vampirizar? E espera que eu aceite?
Uriel disse:
- Mais ou menos isso. Mas não será nada desconfortável. E eu posso fazer algo em troca, você como uma bruxa deve precisar de um ajudante e eu tenho muita experiência com coisas espirituais. Eu posso contribuir.
Belladonna falou:
- Eu não preciso de um ajudante, eu me basto. E não me chame de Bruxa, eu não gosto dessa palavra.
Uriel perguntou:
- Como eu devo te chamar então?
Ela respondeu:
- Médium. Eu sou a Medium Diva Belladonna.
Uriel falou:
- Certo, Médium. O que posso fazer para você pelo menos me dar uma chance?
Belladonna disse:
- Essa sua última frase me lembrou meu ex marido. Credo.
Uriel disse:
- Eu estou falando sério.
Belladonna deu o último gole na cerveja e falou:
- Antes eu preciso fazer algumas perguntas, afinal você está se candidatando a ser meu ajudante, então eu farei algumas perguntas pra ver se você pode me acompanhar.
Uriel disse:
- Sim sim, pode fazer.
Belladonna perguntou:
- Sabemos que existem quase três bilhões de pessoas neste planeta segundo o senso de mil novecentos e noventa e cinco, e que fora os humanos existem mais duzentos bilhões de seres de outras linhagens espalhados pelo universo, incluindo os anjos, demônios, titãs, quimeras e etc. Mas qual é o número de Deuses que governam isso tudo?
Uriel respondeu rápido:
- São cerca de oito milhões de deuses no geral e cerca de quatrocentos Deuses supremos.
Belladonna bateu a palma da mão na mesa fazendo um forte estralo e disse:
- Correto! Segunda pergunta, e essa é difícil. Tudo nesse universo, desde os Deuses até os insetos e microorganismos se originaram a partir da força de um ser supremo. Quem é ele?
Uriel disse:
- Bom quando eu era ainda um anjo esse tipo de pergunta não poderia ser feita porque o Deus que me criou se auto intitulava o ser supremo, mas sabiamos que não era já que haviam todos os demais deuses e criações que não foram criadas por ele. Essa força a que você se refere eu não sei um nome comum, mas eu lembro muito bem quando estiver em Delfos e o Oráculo mencionava isso como "Caos", que era a força da qual se originou Chronos e os titãs.
Belladonna novamente bateu na mesa e disse:
- Correto! Agora a última pergunta!
Uriel disse:
- Vão ser só três perguntas?
Ela respondeu:
- Sim, eu não tenho o dia todo.
Uriel falou:
- Faça.
Belladonna disse:
- Porque um anjo perderia sua asas? Por acaso seu sonho era trabalhar como taxista e no céu não tinham passageiros nem carros a gasolina?
Uriel riu da pergunta mas respondeu:
- Eu não escolhi ser taxista, não foi uma coisa que eu almejei pra mim mas apareceu. Eu desisti da minhas asas para poder viver com uma pessoa que eu amava.
Belladonna disse:
- E cadê essa pessoa?
Uriel repondeu:
- Ele ja se foi faz muito tempo.
Belladonna perguntou:
- E valeu a pena?
Uriel olhou para fora, o céu estava nublado e o dia frio. Ele passou a mão pelo cabelo e disse:
- Sim valeu. O amor é algo que faz qualquer sacrifício valer a pena.
Belladonna falou:
- Então qual é o propósito em recuperar os seus poderes?
Uriel disse:
- Quero me vingar dos que mataram o meu amor, e pra isso preciso estar forte.
Belladonna viu que Uriel não havia bebido nada da cerveja dele e então esticou o braço e pegou a caneca, deu um gole na bebida, suspirou fundo e disse:
- Que horror, sua cerveja já está quente. Vamos fazer assim, um teste. Eu estou aqui de férias mas no navio que eu vim havia uma senhora que é brasileira como eu, ela tem uma pensão. Ela se queixou de problemas, ela diz que o lugar é mal assombrado e por isso ela esta perdendo clientes. Eu disse a ela que por um pagamento generoso eu daria um jeito nisso. Se for comigo e realmente me ajudar, dez por cento do valor que ela me pagar será seu e eu te levo para o Brasil comigo.
Os olhos de Uriel brilharam, animado ele respondeu:
- Sim! Sim eu aceito!
No dia seguinte Uriel buscou Belladonna as cinco da tarde no hotel em que ela estava hospedada e eles foram para a pensão indicada.
Era uma casa térrea mas com cerca de vinte quartos pequenos e dois grandes, fora o alojamento de funcionários. a pensão era toda ornada com peças de madeira, parecia ser uma casa muito antiga. A dona do lugar se chamava Hortênsia, era uma mulher que aparentava sessenta anos de idade, ela estava vestida com uma camisa pólo cor de rosa, calça reta preta e sapatilhas pretas, era um roupa de trabalho. Assim que Belladonna chegou ela foi bem recebida por ela.
Após os devidos comprimentos e apresentações Belladonna perguntou:
- Dona Hortênsia, a senhora pode me mostrar todos os quartos e dependências da casa?
Hortênsia com os lábios franzidos pela idade avançada disse com simpatia:
- Sim com certeza, vamos, vamos que vou mostrar tudo. Todos os quartos estão vazios, os negócios vão mal, a falta de paz afasta os hóspedes.
Hortênsia guiou Belladonna e Uriel por toda a casa, mostrou todos os quartos, salas, banheiros, cozinha, alojamentos e area de serviço, foi aproximadamente meia hora visitando tudo.
Eles passavam pelo corredor principal quando Belladonna ouviu o choro de um bebê.
Quando eles passaram pelo alojamento dos funcionários, no último quarto que era usado como deposito de toalhas, lençóis, vassouras e produtos de limpeza. Ali dentro Belladonna ouviu novamente um choro abafado de criança e disse:
- Uriel?
Ele respondeu:
- Sim ouvi.
Hortênsia perguntou:
- O que? Ouviram o que?
Uriel sorriu para ela e disse:
- Não, nada. Existe mais algum cômodo nesta casa?
Hortênsia respondeu:
- Não, somente estes que te mostrei.
Belladonna perguntou:
- Alguma criança está hospedada aqui? Tem crianças na sua pensão?
Hortênsia pareceu chocada quando ouviu a palavra "criança", ela cruzou os braços e olhou para baixo, e com um tom de voz mais sério ela disse:
- Não, eu não hospedo crianças, minha pensão é somente para adultos. Podemos sair daqui? Eu vou servir chá para vocês na sala de lanches.
Belladonna sorriu e disse:
- Espere só um segundo sim.
Uriel perguntou:
- Desde quando essa casa é uma pensão?
Hortênsia respondeu:
- Desde 1935, são vinte e dois anos nesse ramo.
Belladonna perguntou:
- E antes de ser uma pensão, o que era essa casa?
Grosseiramente Hortênsia respondeu:
- E como diabos eu vou saber?
Rapidamente Belladonna deu um forte tapa no rosto dela a fazendo desequilíbrar a ponto de ter que se escorar na parede. Ela ergueu o rosto mostrando a bochecha avermelhada pela bofetada e disse:
- Mas o que significa isso?
Uriel surpreso com a atitude de Belladonna deu dois passos para trás.
Belladonna disse para a senhora:
- Você acha que eu sou idiota?
Hortênsia gritou:
- Eu tenho o triplo da sua idade! Me respeite!
Belladonna respondeu:
- O ser humano é o mesmo independente da idade. Muitas pessoas quando vão em asilos ficam morrendo de pena dos idosos sem levar em conta que eles ja foram jovens e a maioria não era nada santo. Mas parece que quando as pessoas ficam velhas os pecados são esquecidos e todos os malditos velhos passam a ser vistos como vítimas, mas a alma dentro daquele corpo velho é a mesma alma de quando eram jovens. Resumindo, eu não tenho pena de você, e eu tenho a sensação que a situação espíritual dessa casa é culpa sua.
Hortênsia murmurou:
- Puta louca, não sabe do que fala.
Uriel ouviu vozes de mulheres vindo de fora, ele se aproximou de Belladonna e a pegou pelo braço dizendo:
- Há uma manifestação do lado de fora.
Belladonna olhou para ele, se virou e pôs apenas o rosto para fora do quarto vendo o corredor, o que ela viu foi muitas mulheres vestidas com roupas antiquadas, elas fumavam e bebiam, eram nitidamente prostitutas. O corredor estava decorado com papel de parede vermelho em arabescos dourados, e todas as mulheres tinham sangue escorrendo penas pernas formando poças no chão abaixo delas. Belladonna olhou avidamente mas assim que ela piscou os olhos tudo sumiu, o corredor estava vazio novamente com as paredes brancas. Ela voltou para o quarto, se aproximou de Hortênsia e disse:
- Essa casa era um bordel?
Hortênsia berrou:
- Bordel? Você é louca! Louca! Eu sou uma mulher de respeito, eu não preciso ouvir esse tipo de coisa!
Belladonna olhou para Uriel e disse:
- Sabe como revelar o passado de um ambiente?
Ele respondeu:
- Sim sei, mas é necessário fogo e cinzas de madeira virgem.
Belladonna abriu a bolsa de couro marrom que trazia ao ombro e dela tirou uma vela e um pote. Ela pegou a vela sobre o pavio estalou os dedos, imediatamente a vela se acendeu. O pote ela entregou a Uriel, ele abriu e viu as cinzas dentro.
Belladonna falou com Hortênsia:
- desde quando os hospedes relatam aparições de espíritos aqui?
Hortênsia suspirou fundo como quem está cansado e disse:
- Nunca relataram aparições de espíritos, apenas ouviram ruídos estranhos.
PA!
Belladonna bateu novamente no rosto de Hortênsia e falou:
- Não minta!
Hortênsia cobriu o rosto com as mãos e disse:
- dois anos depois que eu abri a pensão os hóspedes começaram a falar de vultos e de... de...
Belladonna falou:
- Fala mulher! Se você me trouxe aqui apenas para fazer simpatias e encobrir as coisas se enganou, eu não sou uma benzedeira. Fale agora! Os clientes viam vultos e o que mais?
Hortênsia disse:
- Crianças de colo em cima das camas. Muitas vezes diziam ver bebês em cima das camas chorando, vinham correndo para a recepção me contar mas quando eu ia até o quarto deles não tinha nada lá.
Belladonna perguntou:
- Quantas vezes isso aconteceu?
Hortênsia disse:
- Mais de cem.
Belladonna foi até a porta do quarto e a fechou, então se virou para onde Uriel estava e disse:
- Faça agora!
Uriel encheu uma mão com as cinzas e assoprou com todo o ar que tinha dos pulmões formando uma nuvem escura. Belladonna deu para ele a vela acesa e então ele começou a girar com a vela nas mãos e a rezar dizendo repetidamente:
- Main vaapas dekho! Nujhe ateet dikhao! Main vaapas dekho! Nujhe ateet dikhao!
Belladonna tirou da bolsa um batom vermelho, se ajoelhou no chão, quebrou o batom ponto o produto inteiro na mão esquerda a o amassando ate se tornar uma massa e então esfregou a mão no assoalho de madeira formando um círculo vermelho.
Hortênsia gritou:
- Você está manchando o meu assoalho! Pare já com isso!
Belladonna não deu atenção e continuou, com a ponta do dedo ela escreveu em sânscrito a oração que Uriel rezava.
Quando se levantou ela disse:
- Uriel pode realizar.
Uriel juntou os pés, erguei o braço direito para cima e com os dedos médio e indicador erguidos ele berrou com toda a potência de sua voz:
- KAARY!
As cinzas que ele havia soprado no ar tomaram uma cor avermelhada e se tornaram densas como neblina. Em instantes a sala começou a mudar, como se tudo se refizesse, as prateleiras com toalhas sumiram, a parede cinza do quarto se tornou azul clara com muitos quadros na parede, o assoalho foi coberto por um tapete vermelho com pequenas sereias verdes bordadas, no fundo do quarto apareceu uma cama de casal em mogno antigo com cabeceira estofada e os lençóis manchados de sangue.
Belladona olhou para Hortênsia e disse se acalme, tudo que ver agora é o passado, será so uma visão.
De repente uma mulher entrou no quarto, quando Hortênsia olhou para ela não aguentou o susto e caiu de joelhos.
Belladona olhou para esta mulher que entrou e percebeu que ela era Hortênsia, so que muito mais jovem, ela vestia um vestido longo dd alças finas feito em veludo vermelho com um espartilho muito apertado da mesma cor e tecido, o decote cavado e a máquiagem carregada com o rosto praticamente branco de tanto pó de arroz revelavam que Hortênsia havia sido uma prostituta, ja que se a pensão existia a vinte a dois anos o periodo em que ali foi um bordel foi na décadas de mil novecentos e vinte e neste periodo mulheres honestas não se vestiam daquela maneira.
Esta Hortênsia jovem foi até a cama e removeu os lençóis sujos de sangue, os embolou e chutou para de baixo da cama, depois saiu.
Uriel foi até a velha Hortênsia que ainda estava ajoelhada no chão e a ajudou a ficar em pé. Ele sussurrou no ouvido dela:
- O passado te dá medo?
A Hortênsia jovem entrou no quarto novamente, ela trazia um lenço limpo, uma chaleira e uma caneca, seguindo ela veio uma moça vestida de modo similar e usando um corte de cabelo Chanel muito antiquado. A Hortênsia jovem esticou o lençol na cama e serviu o chá para esta moça. A jovem bebeu o chá, desamarrou o espartilho e deitou na cama erguendo a saia, com as pernas abertas e a vagina exposta tal como uma mulher fica em uma consulta ginecológica.
A jovem Hortênsia apanhou no criado muito um agulha de tricô de madeira muito comprida e na ponta dela enrolou um algodão o amarrando com linha fina de modo que ele não soltasse. Ela molhou este algodão no mesmo chá que a moça bebeu e lentamente introduziu a agulha na vagina dela. A moça mordia os lábios a gemia de dor. a jovem Hortênsia repetiu o processo, retirou a agulha da vagina da moça, molhou a agulha no chã novamente e de novo a introduziu.
Belladonna olhava com muita atenção sem dizer nada.
Na quarta vez que a jovem Hortênsia retirou a agulha da vagina da moça um jato forte de sangue saiu da vagina e a moça apertou os dedos no colchão enquanto respirava ofegante.
Foi então que a jovem Hortênsia olhou para ela e disse:
- Em dois dias você já poderá voltar ao trabalho. Somos mulheres da noite, imagine se alguém cliente ia te querer se você estivesse com uma criança no colo? Filhos de prostituição não são diferentes de excrementos.
Belladonna disse:
- Uriel já chega.
Uriel assoprou a vela que tinha nas mãos, e a visão do passado se encerrou, quanso eles olharam novamente para o quarto ele era um simples deposito de toalhas novamente.
Belladonna foi até a velha Hortênsia e disse:
- Conte tudo.
A velha Hortênsia apenas olhava para o chão com uma expressão de consternação. Ela falou:
- Isso que aconteceu aqui... O que foi isso?
Uriel explicou:
- Usei de magia para ver uma cena importante que aconteceu neste comodo.
Hortênsia ainda olhando para o chão respondeu:
- Magia. Entendi.
Belladonna falou:
- Vimos essa cena do passado, mas ela não explica tudo. Você sabe muito bem a raiz dos problemas espirtuais desta casa. Pode me contar?
Um longo silêncio se seguiu, o som do tic tac do relogio do corredor marcava o tempo. Hortênsia olhava para o chão com os olhos estatelados.
Belladonna acendeu um cigarro e se encostou no batente da porta. Ela teve tempo de fumar metade do cigarro até Hortênsia começar a falar.
Mas ela começou:
- Eu vim do Brasil fugida, eu fugi com um português. Eu tinha quatorze anos, era tola, ingênua. Quando cheguei aqui ele me enfiou nessa casa. Ele era um cafetão. Eu fui forçada a ser prostituta. Mas... Eu não fui ingênua por muito mais tempo, eu... eu... Eu consegui fazer o impossível, eu o seduzi. Ele se apaixonou por mim e se casou comigo. Eu matei ele com um tiro na nuca. Por ele ser um conhecido cafetão a Polícia pensou que ele foi assassinado por algum inimigo ou por algum meliante similar, eu nem sequer fui interrogada. A casa e todo o dinheiro era meu, eu era a herdeira. Eu tinha dinheiro, e... Nossa... Como era bom ter dinheiro. Eu devia ter ateado fogo a essa casa, mas não. Não. Não. Não. Eu matei o cafetão para me libertar da prostituição e então... Me tornei cafetina para aprisionar outras moças. Eu era cafetina, nessa casa trabalharam muitas meninas. Os métodos anticoncepcionais da época falhavam muito, todo mês... todo mês uma delas aparecia grávida. Prostitutas não podem ser mães, elas trabalham com o corpo. Eu ajudava. Eu ajudava. Eu obrigava. Eu matava os fetos. O chá... Eu aprendi a fazer o chá com o cafetão que eu matei. O chá... o chá era feito com ervas simples... Puejo com raiz, Azedaraque, Lagrima-de-Nossa-Senhora, Losna, Mata-Pasto, Jarrinha, Samambaia Tanasia, Beldroega, Salsaparrilha, arruda, Cinamomo, Guaco, Peonia... Essas ervas são todas comuns, usadas para curar doenças comuns como diarréia ou resfriado mas se elas são fervidas todas juntas...
Belladonna falou:
- Todas essas ervas que você citou tem toxinas em níveis muito baixos. Mas se fervidas juntas as combinações tóxicas de todas se acumulam e se multiplicam formando uma infusão extremamente tóxica. Não chega a matar uma ser humano mas pode sim fazer uma mulher grávida nos primeiros meses de gestação abortar, ainda mais se essa infusão além de ingerida for colocada direto no colo do útero.
Hortênsia ainda olhava para o chão sem piscar, os olhos ja estavam vermelhos e lacrimejando. Ela continuou a falar:
- Sim esse chá sozinho aborta nos primeiros meses de gestação. Mas algumas meninas escondiam a gravidez, iludidas... achavam que iriam criar os filhos, mas na minha casa não. Quanto completavam quatro meses elas não podiam esconder a barriga, e eu via. Eu levava elas, as trazia para cá e elas tomavam muito chá. Eu batia, esmurrava as elas. Muitos pensam que se bater na barriga da grávida o bebe se fere, mas a barriga tem músculos protegendo, mas se bater nas costas... e eu esmurrava as costas delas, o dia inteiro se precisasse. Então depois de algumas hora de muito chá e muita surra o sangue descia. De quatro pra cinco meses... malditas...Eu tinha que chamar o médico para ele fazer a limpeza no útero delas e tirar o feto, os pedaços que sobravam de feto. Duas meninas morreram aqui nessa cama, mentiram pra mim, elas ja tinham seis meses de gravidez mas como eram muito mirradas eu não percebi que era tanto, a criança morreu dentro da barriga delas e não dava pra tirar. Elas morreram de infecção.
Belladonna bateu palmas bem perto do rosto de Hortênsia e disse:
- Acorda! Você tá falando de um modo estranho. Tá surtando?
Uriel disse:
- Espíritos que morrem antes de nascer, ou seja antes do parto, voltam para a roda das encarnações. Então não é nenhum espírito de aborto que esta assombradando a casa.
Belladonna disse:
- Não, de fato esse espírito que assombra a casa não é humano, ele é um Mononoke.
Uriel perguntou:
- Mononoke? Eu nunca ouvi falar.
Belladonna explicou:
- Mononoke é uma palavra japonesa que denomina espíritos que tem forma animal. Eles são espíritos comuns, espíritos que vagam por ai, mas quando eles encontram lugares impregnados com energia emocional humana eles se alimentam dela tomando a forma dela. Tem um Mononoke nesta casa se portando segundo a energia maligna que ficou aqui quando os abortos foram feitos.
Hortênsia disse:
- Um gato? Você disse que esse espírito toma a forma animal não é? Eu ja vi um gato alaranjado aqui várias vezes, mas ele não deixa rastros. Eu sempre fico perturbada quando o vejo.
Belladonna falou:
- provavelmente esse gato que você vê é o Mononoke.
Uriel perguntou:
- E como se expulsa ele?
Belladonna falou:
- Eu quero que vocês saiam, vão para a recepção. Eu vou falar com o Mononoke aqui sozinha. Ele com certeza vai aparecer pra mim. Há, Hortênsia por obséquio já separe o pagamento.
Hortênsia perguntou:
- O valor é o mesmo?
Belladonna respondeu:
- Sim.
Uriel acompanhou Hortênsia para fora do cômodo e com ela foi para a recepção onde aguardaram.
Belladonna sozinha no comodo fechou a porta e se sentou no chão, ela estava sentada sobre as panturrilhas. Por alguns minutos ela ficou em silêncio respirando devagar. Quando sentiu que estava em paz ela fechou os olhos e invocou o espírito dizendo:
- Watashi ni kite kudasai... Mononoke.
Quando ela abriu os olhos diante dela estavam dois rapazes nus com cabelos negros lisos e compridos jogados para trás, e o que chamava atenção era que cobrindo o rosto eles usava máscaras em forma de rosto de gato. Um usava uma máscara branca e o outro uma máscara preta. Ambos tinham a pele muito pálida.
Belladonna olhou para ele e disse:
- Arigatō. Hum... watashi Belladonna...
O espírito que usava a máscara branca riu, o som da risada era abafado pela máscara. Ele disse:
- Seu Japonês é horrível. Eu sou sim um Mononoke, e enquanto espírito nós falamos todas as línguas. E não sei se reparou mas estamos em Portugal, não se fala japonês aqui.
Belladonna respondeu:
- Nossa! Desculpem é que eu li em um livro que todos os Mononoke eram japoneses.
O espírito disse:
- Os Japoneses descobriram o que nos somos e decidiram nos chamar de Mononoke, mas não somos japoneses, aliás nos somos muito mais velho que aquele povo.
Belladonna sorriu e disse:
- Bom saber. Como falam português isso facilitará muito as coisas. Qual o seu nome?
Ele respondeu:
- Arashi. E o meu irmão se chama Jigoku. Você esta aqui para nos expulsar?
Belladonna falou:
- Eu não sou do tipo que expulsa. Sou uma pessoa paz e amor. O que eu quero é compreender porque estão aqui?
Arashi disse:
- Para Mononoke não existem fronteiras. Eu e meu irmão somos Mononoke desde que o mundo é mundo. Passávamos por aqui quando a escuridão dessa casa nos puxou. Nos somos muito sábios, mas a escuridão engana até os sábios. Muitos Mononoke ficam presos em cemitérios, hospitais, locais onde a morte impera.
Belladonna perguntou:
- Então vocês não queriam estar aqui?
Arashi disse:
- Não. De modo algum. Porque iríamos querer ficar aqui?
Belladonna disse:
- Porque assombram a casa? Porque projetam as imagens de crianças nos quartos dos hóspedes?
Arashi respondeu:
- Não é de propósito. A memória do lugar se sobressai.
Belladonna falou:
- Querem ajuda para sair daqui?
Arashi respondeu:
- Sim.
Belladonna perguntou:
- O que é preciso para que deixem o lugar?
Arashi respondeu:
- Para sairmos é necessário um sacrifício para apaziguar o lugar.
Belladonna falou:
- Um sacrifício animal?
Jigoku que estava todo o tempo calado falou, ele tinha uma voz muito grossa, disse:
- Não. Sacrifício humano.
Belladonna mordeu os lábios e pensou por um momento. Então disse:
- Como se faz isso?
Arashi respondeu:
- Uma pessoa deve oferecer outra e assim se responsabilizar pela morte. Somos Mononoke, nos podemos influenciar algo mas não podemos efetivamente realizar algo. Podemos pedir a morte mas não podemos matar de modo deliberado.
Belladonna sorriu e disse:
- O que devo fazer para que esse sacrifício ocorra?
Arashi disse:
- Deve simplesmente dizer quem recomenda para ser o sacrifício.
Belladonna se levantou e disse firmemente:
- Eu recomendo que a vida de Hortênsia seja dada em sacrifício.
Jigoku somente respondeu:
- Feito.
Belladonna piscou os olhos e do nada os dois espíritos sumiram deixando o cômodo vazio. Em seguida ela ouviu um grito agudo vindo de fora. Ela saiu do cômodo e foi andando até a recepção, Uriel estava abaixado no chão diante de Hortênsia que estava caida.
Ele disse:
- Ela está morta.
Belladonna falou:
- Ela chegou a te pagar antes? O dinheiro está com você?
Uriel apontou para o balcão da recepção onde estava um envelope branco.
Belladonna pegou, abriu e viu que o dinheiro estava todo lá. Então ela disse:
- Nosso trabalho acabou aqui. Vamos.
Uriel falou:
- A morte dessa senhora, você foi a causadora não foi?
Belladonna respondeu:
- Isso não vem ao caso.
Uriel falou:
- Me disseram uma vez, Filhas de Caim são circundadas pela morte.
Belladonna respondeu:
- Sim meu querido, na maioria dos meus atendimentos alguém fatidicamente perde a vida. Mas eu so queimo madeira podre, não mexo com almas inocentes.
Uriel disse:
- Então que assim seja.
Eles saíram da pensão e foram até o carro de Uriel que estava estacionado bem em frente, entraram e Belladonna disse:
- Gostei de você. Ainda não estou pondo fé nesse seu papo de ser anjo, mas tenho muita tolerância com lunáticos. Faça suas malas, venda esse carro, deixe tudo pronto. Você vai para o Brasil comigo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAmei! Cheio de detalhes .. to vidrada na história!
ResponderExcluirMaravilhoso,chorei pelos bebes q morreram.
ResponderExcluirMas a vida foi, é,e sera assim.